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26 de agosto de 2012

História da Moda: Visuais que Chocaram Épocas

Por séculos as roupas distinguiram as classes sociais e era praticamente impossível usar algo diferente do pré-estabelecido. As "bizarrices" da moda atual são leves comparadas com alguns dos estilos mais chocantes do passado - tendências que causaram clamor público, foram consideradas indecentes, decadentes e até mesmo antipatrióticas.
A moda algumas vezes se choca com a moral social prevalecente. Atualmente as mudanças de estilo acontecem tão rapidamente em nosso mundo moderno, que não paramos pra pensar duas vezes sobre elas. Assim, uma tendência de moda nova e radical atual, provavelmente não tem o mesmo valor de choque que teria tido há 100 anos atrás.

Macaronis
Eles ririam da cara do metrossexual atual e o que eles consideram cuidar da aparência. Um grupo de jovens aristocratas britânicos liderou o estilo em meados de 1700. Os Macaronis chocaram e escandalizaram - e se divertiam com isso.

Macaroni: Caricarura
Tudo começou com um grupo de jovens ricos que fizeram a Grand Tour pela Europa depois de terminarem a educação formal. Eles adotaram estilos extravagantes dos franceses e italianos, mas levando todos os detalhes para o extremo. Supostamente, o nome Macaroni surgiu porque eles tomaram gosto pelo macarrão, uma comida italiana pouco conhecido na Inglaterra até então, e eles diziam pertencer ao "Macaroni Club".

Altas, caras e de decoração elaborada, as perucas eram usadas com chapéus minúsculos empoleirados no topo que só podiam ser retirados com a ponta de uma espada. Casacos usados apertados e decorados com rendas, fitas e botões muito grandes. Coletes em estampas berrantes confrontavam meias brilhantemente coloridas. Sapatos estreitos e com exageradas fivelas decorativas. Os Macaronis desenvolveram sua própria forma de linguagem para impressionar, misturando estrangeirismos em francês, italiano, latim, inglês e usando uma pronúncia diferente para o horror de seus pais.
Eles eram um contraste com a moda masculina da época. A moda inglesa havia se suavizado desde o início do século XVIII, era uma alfaiataria simples que se desenvolveu a partir das roupas de campo. Casacos de seda pesadamente bordados e jóias não eram nada práticos para cuidar de uma propriedade rural.


Mas o que também escandalizou foi o fato de que os Macaronis eram obcecados pela moda em primeiro lugar. O século XVIII foi o período em que a moda se tornou de gênero e eles estavam destruindo esta regra. Por uma variedade de razões, naquela época, a palavra "Moda" se tornou um assunto de mulher. Um homem se envolver com tantos enfeites era visto como bobo e efeminado. Ao se envolver com  a alta moda, eles estavam tomando o lugar da mulher, o que foi muito escandaloso.
Mas foi uma moda passageira, a moda masculina rapidamente passou para estilos mais simples defendidas por Beau Brummell - o estilo dândi - que foi uma reação masculinizada ao excesso efeminado da moda Macaroni. Brummell acreditava que vestir-se bem vinha de detalhes impecáveis e da exibição sem ostentação. 


Chemise à la reine de Marie-Antoinette 
O retrato ao lado chocou uma nação. Maria Antonieta, a rainha da França, já havia indignado os franceses em 1783 com sua opulência; agora ela escandalizava a todos com uma abordagem de roupas mais simples. Tão simples que a nação achava que ela havia posado para o retrato em sua roupa de baixo. A rainha adotou um novo modelo de vestido para combinar com o estilo de vida que ela estava levando em seu retiro privado no campo. O Petit Trianon era situado num recinto do Palácio de Versalhes e lá, várias cerimônias elaboradas da corte francesa foi abandonadas, incluindo a moda.

Retrato Original


Maria Antonieta começou a usar um vestido leve, sem forma, chamado de gaulle. Ele era feito de camadas simples musselina, folgado e moldado por um cinto amarrado na cintura. Ele também não tinha os panniers habituais sob a saia, que eram muitas vezes tão extremos que os batentes das portas tiveram que ser ampliados para acomodar os vestidos. De tão leve, o vestido poderia se moldar em torno das pernas, o que era chocante no momento. Ele foi um contraste direto com a moda da corte, que era incrivelmente elaborada e exagerada de luxo. Quando Elisabeth Vigee Lebrun pintou a rainha em seu vestido novo e a obra foi exibida ao público, houve um grande escândalo. A simplicidade e leveza do vestido parecia muito com a chemise, que era uma peça básica usada por todos. Como resultado, o gaulle ganhou o apelido de "chemise à la reine".
Retrato refeito

Mesmo quando foi esclarecido que ela estava usando um novo estilo de se vestir, o furor público não diminuiu, a simplicidade da roupa era vista como um insulto à glória da monarquia, e rainhas francesas deveriam ser um reflexo da grandeza do rei. O retrato teve de ser refeito, desta vez sem o gaulle mas com um vestido azul. Ela também foi acusada de tentar boicotar os comerciantes de seda franceses. Na época, eles eram uma parte vital da economia do país e, usando tecido importado, a rainha foi acusada de apoiar uma indústria têxtil rival.
Mas, apesar de inicialmente ser acusado de indecente, lá por 1790 as mulheres francesas e britânicas começaram a adotar os vestidos chemise de musselina. Ele foi o precursor dos estilos de moda do início do século XIX, bem conhecidos através das personagens das obras literárias de Jane Austen. 


Terno Bloomer
Ai de uma mulher que mostrasse o tornozelo em meados de 1800! Em boa parte do mundo as saias eram longas para proteger a modéstia de uma mulher, corsets eram apertados e restritivos e usar qualquer coisa remotamente masculina elevaria sobrancelha coletiva da nação - para dizer o mínimo. 
Daí a indignação causada pelo terno bloomer, mesmo que as estas calças compridas fossem amarradas no tornozelo e usadas sob saias longas. A menor aparicão dos bloomers sob a saia era suficiente para deixar as pessoas em um frenesi de desgosto. 
Desenhado por Elizabeth Smith Miller em Nova York em 1851 e defendido pela ativista dos direitos das mulheres Amelia Bloomer, o pequeno grupo de mulheres que os vestia o considerava uma alternativa saudável e racional para as pesadas saias da época. Os bloomers tornavam o andar de bicicleta e outras tarefas da vida diária muito mais fáceis.

Mas a sociedade não estava preparada para mulheres usando calças, mesmo que estas fossem quase totalmente escondidas sob uma saia. A peça se tornou uma declaração política e as usuárias foram atacadsas publicamente. "Bloomer" tornou-se um termo depreciativo, um nome lançado contra as que estavam envolvidas nos direitos das mulheres. As sátiras da época as desmoralizavam e ridicularizavam, caricaturas ilustravam mulheres usando calções e agindo como homens. A sociedade conservadora venceu e o terno bloomer voltou ao guarda roupa. Quando retornou décadas depois, não perdeu seu poder de escandalizar.
A maioria das pessoas ainda achava que estas calças roubavam das mulheres a feminilidade. No início de 1900, eles começaram a ser usados novamente, desta vez sem uma saia por cima. Foram adotadas pelas primeiras estudantes universitárias americanas, mas restrições ditavam onde e quando eles eram autorizados a serem vestidos: basicamente apenas no campo esportivo. 
Apenas na década de 1930 foi que as calças passaram e ser aceitas em outros lugares, mas ainda não eram aceitas na sociedade em geral. O impacto do bloomer foi um legado para que as mulheres pudessem usar roupas que melhor se adaptem às rotinas de sua vida sua diária.


Assim como com os Macaronis, a indefinição do estilo tradicional de gênero foi o que chocou as pessoas. Quando as mulheres adotaram uma peça mais masculina (os bloomers) elas eram vistas como querer ser como os homens, o que significava serem associadas com o gênero de mais poder. Quando os homens queriam se parecer mais com as mulheres - como os hippies da década de 1960 - as pessoas entenderam que eles estavam querendo descer na escala de poder. 


O New Look
Hoje em dia é usando pouca roupa que muitas vezes se cria um furor, mas não foi o que aconteceu com Christian Dior em 1947 quando ele apresentou sua primeira coleção após a 2º Guerra Mundial em Paris. Chocadas e indignadas, as pessoas o consideraram antipatriótico simplesmente por causa da quantidade abundante de tecido usado para fazer saias longas e volumosas.

 
New Look Dior
A guerra tinha acabado, mas vários países europeus ainda estavam passando por racionamentos. No Reino Unido, o governo fez uma ordem de restrição das roupas civis, proibindo o corte desnecessário de pano. Também definiu uma lista de restrições que alfaiates e costureiras tinham que trabalhar, ditando o número de botões, bolsos e da quantidade de guarnição que uma roupa poderia ter. Na época, a moda feminina havia se tornado muito estruturada e masculina, com ombros pontiagudos e influência de cortes militares, o que era um reflexo do trabalho que as mulheres vinham fazendo durante a guerra nas fábricas e nos campos na década de 1940.

Em contraste com tudo isso, o New Look de Dior tinha barras longas e saias rodadas acinturadas. Ele criou a silhueta ampulheta perfeita. Os tecidos usados por ele eram caros demais: cetins, lãs finas e tafetá. Com muitas pessoas ainda lutando bravamente pra sobreviver, o estilo luxuoso era considerado um insulto. Mas o estilista  foi apoiado por fabricantes têxteis que viram o estilo como uma forma de aumentar seus lucros. O New Look foi também considerado um regresso à silhueta vitoriana, com a cintura fina e ombros suaves,  o que foi interpretado como o envio de uma mensagem para as mulheres: de "retorno ao lar", que muitos governos tentavam impor desde o fim da guerra, e aos poucos estas começaram a abraçar o novo estilo que influenciou a moda da década seguinte, como vocês puderam ler na postagem sobre a moda feminina de 1950



Estilistas atuais ainda citam o New Look Dior, como parte seminal da história da moda. E tanto na moda mainstream como na moda alternativa atual, o estilo retrô que imita o New Look está muito em voga, assim como o estilo de Moda Lolita carrega fortes referências do New Look também.


*Esta postagem foi baseada num artigo do site BBC News - Magazine, chamado "Fashion: History's shocking styles" escrito por Denise Winterman. Traduzi o texto e refomulei os parágrafos com alguns acréscimos escritos por mim.


Comentários via Facebook

6 comentários:

  1. que post mais interessante! Muitos detalhes interessantes no meio do texto, coisas que eu nem imaginava, como o terno bloomer, que eu nem sabia que existia, pra mim bloomer eram só aquelas calçolas. Gostei demais! Porque voce não faz mais um sobre o assunto? Ia ser legal. Curto muito pesquisar esse tipo de coisa. Me lembrei de um blog de moda histórica que uma moça posta uns quadros e faz uma análise das roupas e ainda faz tipo uma enquete com os comentaristas. ´E muito interessante e ela é bem engraçada também, vc ia gostar, pena que eu não lembro mais o nome e não tenho como ver nos favoritos pq meu pc morreu. Vou ver se eu acho de novo

    (ah, eu sou a anonima do vintage)

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    1. Ah que bom que gostou! Eu sei que o texto é grande e muitas pessoas não os leem todo, fico feliz que tenha lido e apreciado os detalhes!
      Obrigada, me passe o endereço do blog sim, adoraria conhecê-lo! Eu conheço um em que a moça posta fotos de trajes, os descreve e os leitores dão nota ;)

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  2. Adorei o texto, sempre bom achar uma ou outra coisa que não se aprende na faculdade hehehe.

    Gostei principalmente da história dos bloomers, por ser uma peça de Lolita que, apesar de não se encaixar com a parte histórica da coisa, nunca havia entendido o pq do nome ^^'

    Tenha uma ótima semana!

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    1. Que bom que gostou Tati!!
      Pois é, Amelia Bloomer se empenhou tanto em defender a peça que acabou nomeando-a! =)
      Ótima semana pra você também ^^

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  3. Waw, Sana! Que texto mais interessantíssimo o:
    O único termo que eu conhecia era o la reine da Maria Antonieta. Estou lendo o livro dela e realmente ela foi um escândalo só para a sociedade nessa época. Coitada! Como sofreu.
    Enfim, muito obrigada pela postagem. Adorei.

    Xoxos, Wonka.

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    1. Gabriela, sobre Antonieta: pobre menina rica! Subiu ao trono muito jovem, cercada de futilidades, sofreu com certeza, mas não mais que o povo francês. Não é à toa que até hoje os franceses não querem nem ouvir falar da palavra "monarquia" tão cedo novamente.

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