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21 de março de 2013

As Mulheres no Heavy Metal – Parte 2 (Década de 1970, 1980 e 1990)

Na sociedade, atributos femininos são rotulados como: "suave ou fraco", introvertido, carinhoso, misterioso, emocional, dependente, romântico... enquanto atributos rotulados como masculino são: "forte", ativo, extrovertido, rápido, funcional, racional, enérgico, independente, agressivo e assim por diante. A verdade é que cada um de nós, independente ser homem ou mulher tem uma mistura destes atributos. Um homem ainda é um homem se ele for introvertido ou romântico, uma mulher ainda é uma mulher se ela é extrovertida ou enérgica. No Heavy Metal, uma subcultura criada por homens jovens de classe trabalhadora, o machismo sempre foi uma forte característica. E o machismo acredita piamente no separação de gênero dos atributos citados acima. A misoginia é recorrente em capas de álbuns, letras de música ou fotos promocionais do HM. Em muitas letras, as mulheres não tem um nome próprio; entretanto, as groupies são comemoradas em letras e vídeos, suas imagens são o modelo padrão para as mulheres dentro da subcultura, uma mulher idealizada no imaginário masculino: sensual, receptiva e fisicamente perfeita.
Por conta de todo estes históricos, as mulheres da cena tem às vezes a árdua tarefa de tentar provar que são "sérias" e sabem tocar pra ganhar respeito entre os homens.

Veja também: As Mulheres no Heavy Metal – Parte 1 (Visão Geral)


Década de 1970 - 1980
Girlschool (1980) foi durante alguns anos a única banda de metal só de mulheres, elas estão na ativa até hoje e viram uma quantidade forte de preconceito ao longo da carreira. Outra banda injustamente esquecida é a Rock Goddess. As meninas  tinham 16 anos quando lançaram o primeiro álbum em 1983, mas tiveram diversos problemas e a banda se desfez em 1988. A Rock Goddess foi uma banda revolucionária para sua época, já que além de tocarem com energia e paixão juvenil, inseriram elementos românticos nas letras, algo novo no heavy metal naquele momento.

Rock Goddess e Girlschool (foto atual):



Leather Leone, do Chastain tinha um vozeirão forte e agressivo, perfeito para o estilo Trad Metal. Ela e Doro Pesch do Warlock foram as mulheres mais bem sucedidas na cena Metal da época. Doro relata que em diversas sessões de fotos foi orientada pelo empresário a expor mais seu decote. Já Leather Leone diz sempre ficava sabendo pelos colegas de sua banda o que se comentava nos bastidores sobre ela ser mulher. Anne Boleyn da Hellion e Betsy Bitch também tinham vozes marcantes e um estilo sexy agressivo e Sabina Classen do Holy Moses, uma das primeiras a cantar gutural, tinham um visual mais tradicional e thrash.

Betsy e Sabina em fotos recentes:



A cena Hard/Glam Metal foi mais favorável às mulheres no estilo, nas cores, na ênfase na moda, nos penteados... As integrantes da banda Vixen, visualmente eram quase indistinguiveis das bandas masculinas tamanha a androginia. Elas foram alvo de desconfiança e tiveram dificuldade de arranjar contrato com gravadora, fizeram diversos showcases para provar que sabiam tocar ao vivo. 


Lita Ford (ex-Runaway) foi a mulher que teve o maior sucesso mainstream da década. Assim como muitas das mulheres na cena hard, ela explorava bastante a sensualidade no estilo e nas letras. Mas ela foi das poucas que soube ser sexy e ter controle sobre sua carreira. Um dos vídeos que mostra bem o estilo dela:



A guitarrista de Speed Metal The Great Kat e seus biquínis de couro e tachas tem uma das mais raras imagens vistas na cena metal em seu portifólio: uma contracapa de álbum em que domina dois homens ao mesmo tempo. Kat, sempre procura músicos pra tocar com ela: "Eu lhes dou partituras, eles devem estar preparados para lê-las. Se eles não sabem, eu dispenso.” Ela, aparentemente não se importa com o pouco caso que os metallers  fazem dela: "Quem se importa com o que os idiotas pensam?". Kat é uma mulher que tem aqueles atributos que citei no primeiro parágrafo do texto: ela é forte, ativa, extrovertida, rápida, enérgica, independente, atributos geralmente direcionados aos homens, talvez por isso ela assuste e seja criticada por alguns deles...



Já as garotas do Meanstreak, que foram provavelmente a primeira banda de Thrash feminina, nunca tiveram uma promoção decente de seu único álbum  e duraram apenas de 1988 a 1992 sem nunca terem saído do underground. O mais curioso sobre a banda é que três integrantes são casadas com três membros da banda Dream Theater. 

Impossível não citar também o vozeirão de Gigi Hangach da Phantom Blue. O apelo estético delas era menos sensual e mais glam, mas infelizmente lançaram apenas dois álbuns.




Muito couro, botas de cano longo, meias arrastão, studs... esses eram elementos muito usados pelas cantoras de Hard and Heavy Metal da época.  A cantora Steffanie que depois de sua carreira solo substituiu por um tempo a cantora Keiko Terada na banda Show-Ya, tem um clipe que mostra bem isso: Hideaway 



Citando apenas mais algumas bandas e vocalistas femininas da época: Debbie Gun (Sentinel Beast); Biró Ika (Metal Lady);  Yvonne Durand (Zed Yago), Jutta Weinhold (Zed Yago), Femme Fatale, Ice Age, Oral...

Durante a década de 1980, o que vimos foi isso: muitas mulheres na cena hard e no HM tradicional, mas à medida que a década chegava ao fim, não houve  grandes avanços em termos de participação feminina. 


Década de 1990
No começo dos anos 1990, muitas bandas femininas ou com mulheres no vocal tiveram uma decadência. Lita Ford lançou discos sem sucesso e Doro Pesch migrou pra um Hard and Heavy e se manteve no mercado underground com uma boa base de fãs. Com o Heavy Metal tradicional em baixa, nenhuma gravadora apostava mais no estilo. O Death e o Thrash ainda conseguiam se manter no mainstream através de bandas como Metallica e Slayer, mas nenhuma banda com mulheres se destacava neste meio sonoro.

Naquela época, as Riot Grrrls, cujo uma das líderes era Kathleen Hanna da banda Bikini Kill, ajudou a mudar a imagem da mulher no rock. Apesar das Riot terem surgido na cena punk, a terceira onda do feminismo acabou se espalhando pelo rock em geral. Se no Heavy Metal, as mulheres precisavam ter atributos masculinos ou um apelo sexy, na cena Riot, a mulher podia ser feminina, expressar-se livremente e ter opinião própria. 
Seattle tinha uma cena underground muito desenvolvida, as meninas aproveitaram  pra se organizar e colocar seus desejos e pensamentos feministas em fanzines punk rock e formando bandas de garagem. O lema era: “se os homens podem, eu também posso!”. E assim, amparadas por mulheres de personalidade e alguns rockstars homens, a partir de 1995, começou um aumento no número de mulheres na cena rock e heavy metal tanto nos EUA quanto na Europa, mas de formas diferentes... 

Mais especificamente a partit de 1996 aconteceu um aumento repentino e maciço de artistas mulheres em bandas. 
Num dado momento daquele ano, Karyn Crisis (banda Crisis) era a "única mulher em turnê em qualquer lugar do mundo do metal”. Karyn realmente quebrou barreiras para as mulheres com vocal extremo no sexista e misógino início dos anos 90 nos EUA. Quando concordou em fazer parte da banda que iria se tornar a Crisis, o baixista original pediu demissão ao saber que uma mulher seria parte do grupo, “Ele queria estar em uma banda de rock 'n' roll com, você sabe, sexo, drogas e rock 'n' roll". Ela conta também que naquela época, a idéia de ter uma mulher em um grupo de metal era tão radical que os proprietários dos clubes se recusavam a aceitar a banda ou dar a eles um cachê. A platéia também era hostil, muitos viravam as costas quando ela se apresentava alegando que mulheres não deveriam cantar gutural. 


Karyn Crisis

A banda Kittie, uma das únicas bandas ativas formada apenas por mulheres nos anos 90, também passou por sufocos. As quatro adolescentes eram "crias" da cena Riot, tinham letras feministas, compunham as próprias músicas e foram habilmente comercializadas pela gravadora como “the next big thing”. A idéia de quatro garotas rebeldes em uma banda era tudo que a mídia precisava naquele momento. As meninas fizeram um grande sucesso em 1999  que as levou a participar de duas edições do Ozzfest nos anos seguintes. A vocalista Morgan Lander diz:


"Quando formamos a banda em 1996, nós não tínhamos idéia sobre as implicações de ser uma "banda só de garotas", nem entendíamos o peso e a responsabilidade que carregávamos. Não tínhamos idéia de que haveria um grande debate na mídia em torno do que era ser uma mulher no Metal, tomando posse sobre o que é percebido como papel masculino. 
Nós éramos apenas um grupo de amigas que queriam se divertir fazendo música. Era tudo muito inocente. Nós fomos acusadas​ de não escrever nossas próprias canções e sentimos a pressão de ter de atingir um certo tipo de estética física, que eu rapidamente descobri que era quase impossível. Como uma mulher na cena Metal, eu achei perturbador que estávamos sendo julgadas não por nosso mérito musical, mas pela nossa aparência, o modo como nos vestimos, nosso peso. Fomos rotuladas de "a mais bonita", "a feia", "a exótica" etc. Rótulos que foram todos feitos para nos envergonhar ou nos separar. Me sentia reduzida à peitos e bunda, percebi que se quiséssemos ser levadas à sério, tínhamos que andar uma linha tênue entre feminino e masculino. 
Eu estava muito preocupada com a nossa música e credibilidade, e por alguns anos, fiz questão de vestir mais "masculina" para que minha feminilidade não se destacasse. Eu raspei minha cabeça e não usava maquiagem como uma espécie de ato de rebelião. Eu não queria ser vista como um objeto e estava irritada em como a banda era apresentada negativamente nas notícias. 
Tem sido uma luta enorme superar a forma como fomos retratadas ao longo de nossa carreira e ter de "provar" sermos uma banda digna de louvor dentro da comunidade Metal. Não é o gênero que importa. O melhor conselho que posso dar é ser bom no que faz, pratique e aprimore seu ofício. O clichê "não leve desaforo de ninguém" é muito importante quando se lida com esta indústria. As pessoas vão te perguntar: "você é namorada de quem?", ignore, porque a melhor vingança é subir ao palco e ser ótima no que faz."


Marta do Bleeding Through, Tairrie B. do My Ruin, Nadja Peulen e Rayna Foss (ambas ex-Coal Chamber) também eram garotas na cena HM dos anos noventa.



Ainda em meados dos anos 90 bandas de Gothic e Black Metal, inseriram mulheres como coadjuvantes, fazendo backing vocals e não contribuindo nas composições. Kimberly Goss (Ancient, Therion, Dimmu Borgir) e Sarah Jezebel Deva (com o Craddle of Filth a partir de 1996) foram das primeiras a  participar desse novo movimento. 


Sarah, uma das primeiras backing vocals da cena HM européia
Bandas lideradas por mulheres ou formada apenas por mulheres não estavam em voga na Europa como estavam nos EUA e na Inglaterra. Lá a tendência era ter mulheres em bandas fazendo vocais semi operísticos e visualmente etéreas e distantes: Theatre of Tragedy (1995); Theatres des Vampires (1996), Tristania (1998), Lacuna Coil (1999) são alguns exemplos. Mas banda que mais ganhou destaque foi Nighwish (1997).



Surgiram consequências negativas devido a essa tendência européia de vocalistas mulheres em bandas de Metal. Grandes gravadoras perceberam o sucesso de bandas como Theatre of Tragedy, Tristania e Nightwish e começaram a assinar contratos com toda banda que tivesse uma garota. Surgiram então, bandas feitas especialmente pra atrair o publico masculino (vocalistas bonitas) e o feminino (a vocalista também era estilosa) algo percebível que tanto a gravadora quanto os músicos estavam conscientes da conexão histórica entre sexo e rock'n'roll e estas vocalistas raramente tinham poder de decisão ou de composição dentro das bandas (continua na parte 3).

As Mulheres no Heavy Metal – Parte 3 (Década de 2000) 





Veja também: 
Documentário: Mulheres no Metal


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1 comentários:

  1. Gostei muito do artigo ^^ eu nem sabia que havia mulheres no metal antes das bandas de gothic metal XD
    Para a continuação fala sobre a Macha do Arkona <3

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