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2 de maio de 2013

A Modernização das Lojas Alternativas Estrangeiras

Quando falamos de lojas alternativas, o que costuma nos vir à mente são lojas escuras, com de roupas pretas e enfiadas em algum beco, rua ou galeria de "segunda classe" das cidades. Este estilo ainda prevalece em muitas lojas no Brasil. Porém no exterior, isso mudou desde aproximadamente meados da década de 2000. Diversas marcas alternativas mudaram o layout de suas lojas físicas para uma estética menos trevosa e mais interessante ao olhar de possíveis clientes sem perder suas personalidades. O mesmo aconteceu com seus sites que, embora ainda mantenham o preto com referencia obscura, suavizaram as cores nas páginas de destaque dos produtos.

Uma das maiores redes de lojas alternativas dos EUA, a Hot Topic, fez isso em 2007. Segundo o diretor financeiro da empresa, foram sugestões dos clientes e mudanças na indústria (do vestuário) que fizeram com que eles mudassem o visual de todas as lojas, palavras dele:
 
"As pessoas estavam dizendo que as lojas estavam muito escuras, góticas e intimidantes para os clientes". 

As lojas da empresa agora tem paredes em cores claras, quiosques de mercadorias e se livraram da "escuridão" que para alguns passava a impressão de mau presságio e afastavam possíveis compradores. Esta marca oferecia aos compradores um conceito original quando foi criada, mas ao longo do tempo sua mercadoria acabou focada no nicho de mercado dos adolescentes inconstantes. 

Como a moda alternativa mudou na década de 2000 devido à influência forte da estética do street style de Harajuku e da onda retrô, as roupas acabaram ficando mais leves e coloridas e assim, houve a necessidade de  mudar a estética das lojas físicas. A idade dos clientes da marca não mudou, mas sim, suas preferências pela estética alternativa. A moça gótica de hoje não é apenas gótica. Ela é influenciada por tudo o que é alternativo. A empresa também é proprietária da Torrid, apresentada aqui no blog no post de Moda Alternativa Plus Size e gigante, investe em mais lojas físicas, já tendo 700 pontos de venda nos EUA.

HT: Visual mais clean para atrair novos clientes
Claro que não dá pra comparar uma loja gringa e uma nacional, são esquemas completamente diferentes tanto na quantidade de público (é bem maior no exterior, ou ao menos aparenta ser) quanto na questão administrativa (nossos impostos pra abrir loja e nossos insumos são caros demais). Mas dá pra se inspirar no método de comercio delas.

É absolutamente normal que nossas referencias de estilo venham do exterior porque em Moda (tanto normal quanto alternativa) eles estão ao menos 2 estações antes de nós, ou seja, os gringos ditam as tendências. Só que, quando falamos de moda alternativa nacional, são poucas as lojas daqui que seguem as tendências alternativas do mercado, o que faz com que o público brasileiro veja fotos de gringas, queiram as roupas, mas não encontrem semelhantes disponíveis nas lojas daqui e acabam importando peças (o que as vezes sai bem carinho). 

Seguir tendências não significa necessariamente criar cópias, embora as tendências sejam isso mesmo: variações do mesmo tema, sem culpa nem mágoas, é a democratização de vários estilos de moda. E seguir tendências também não significa não poder criar e adaptar ao clima e público de cada país, região. Isso é questão de criatividade. 

A influência de Harajuku trouxe cor à moda alternativa ocidental

No Brasil, acontece com frequência de que o/a dono da loja alternativa ser quem cria as peças majoritariamente de acordo com seu gosto pessoal. E assim, consegue como público clientes que tem o mesmo gosto pessoal que eles. Outra coisa que acontece é o dono da loja insistir em fazer "a peça do momento" mesmo que essa não seja sua real habilidade, como por exemplo: corsets. O problema de se criar peças baseando-se apenas em seu gosto pessoal é perder de ter outro público como cliente, um público maior ou diversificado. Insistir em fazer "a peça do momento" e não seguir sua habilidade natural, que pode ser outra, como por exemplo, criar saias incríveis ou estampas (se você desenha bem) faz você desvalorizar o que faz bem.
Não incluo nesta  categoria as lojas com criação autoral. Normalmente em Moda,  as marcas que fazem criação autoral tem o nome pessoal do dono/designer como nome da marca, mas curiosamente, no Brasil, ao contrário do que manda o figurino, não é assim. Posso citar como excessão a Rose Sathler que tem sua linha de criação de corsets autorais separada de sua linha de corsets da moda.

Muitas lojas estrangeiras investem na profissionalização da equipe. No Brasil, exceto por lojas em que os donos são dois ou três sócios- cada um cuidando de um departamento, existe um medo absurdo de contratar estudantes de moda ou mesmo pessoas já formadas em moda como funcionários. Esqueçam aqui a questão $$ pra pagar um funcionário, vamos focar no medo dos donos de lojas: cópias e roubos de ideias.
Muitas lojas tem medo de contratar pessoas por medo que elas copiem ou roubem suas ideias. E assim, todo o trabalho fica sobrecarregado no dono da loja que trabalha praticamente sozinho fazendo tudo. Eu concordo que SE o dono da loja tem uma técnica ou método ou uma criação autoral, ele pode sim manter isso longe dos olhos de um funcionário mas ao mesmo tempo, há o lado negativo disso:
- Todos os anos se formam em moda ou já se formaram pessoas com a MESMA ideia que a sua, querem criar o mesmo tipo de produto que você cria. Porque então não trazer pra perto estas pessoas com idéias semelhantes para crescerem juntos ao invés de se repelirem?
- Estas pessoas acabam criado lojas que se tornam suas concorrentes e vocês fazem produtos tão semelhantes que pode criar atrito entre proprietários, pensando que um copiou o outro. Pode ser, mas às vezes, vocês apenas tem as mesmas referências e as mesmas visões, coisa que, se trabalhassem juntos ou em parceria, seriam amigos. Aquilo de "a união faz a força", não parece ter o mínimo de fundamento na moda alternativa nacional.
É isso que as lojas gringas fazem, aos poucos foram agregando pro time pessoas com pensamentos e ideias semelhantes e até mesmo bem diferentes para que a criação das peças se tornasse mais abrangente e se conseguisse mais clientes. Acredito que o medo da cópia e a não contração (ou sociedade ou parceria) de pessoas formadas em moda com ideias semelhantes atrasa sim o desenvolvimento da moda alternativa nacional. 


Outro aspecto importantíssimo que vale a pena considerar com muita atenção: 
A mudança de comportamento de cada geração!
Amigo, a  geração que tá com 17, 20 anos agora pensa completamente diferente da sua, que tem 27 ou 33 anos! Hoje em dia, os jovens são muito antenados com o que rola no exterior, individualistas e, lembram de minha sequência de três posts sobre a monocultura?
Sim, são poucos os jovens de hoje que de fato fazem parte de uma subcultura; agora eles fazem parte de tribos urbanas pós-modernas e mudam de estilo com muita facilidade. Então se antes, por exemplo, sua intenção era pegar apenas o público gótico, saiba que hoje, o público gótico de 17, 20 anos também usa peças do heavy metal e até o estilo mais retrô pin-up. E as lojas alternativas gringas perceberam isso há tempos e se adequaram ao estilo de consumo dessa nova geração que não se prende em subculturas mas em estilos diferenciados embora possam sim, ter um gosto musical rock ou punk mas que não precisam necessariamente e obrigatoriamente mais se expressarem visualmente como os estereótipos das subculturas que admiram.

Não adianta dizer: "ah mas na minha época era diferente, a gente prezava pelos valores e pela moda do grupo subcultural em que estávamos inseridos". Sua época é agora! Se seus clientes "de sua época" cresceram e abandonaram o estilo, pra quem você vai vender? A nova geração de consumo está aí e é preciso conquistá-la sem preconceitos.

Trevosidade amenizada: no século XXI o alternativo ganha ares de glamour!

Claro que muitas lojas vão dizer que falta $ pra fazer tudo isso, é tudo muito caro aqui e eu concordo!! Sei como é difícil, estou sempre em contato com lojas nacionais, sou estilista e sei disso, mas a minha intenção com esse post é abrir a mente dos futuros lojistas de  moda alternativa pra quem sabe, arriscarem algo diferente e verem se dá certo. Afinal, se não houver risco ou tentativas, tudo continuará na mesma.

Se o mercado alternativo nacional fosse profissionalizado, minha consultoria seria contatada por lojas e eu seria paga fosse como estilista, fosse como historiadora da moda das subculturas, assim como existem consultores de moda para empresas mainstream que são pagos. E eu poderia tecer aqui várias reclamações sobre isso, mas não farei porque evito cair no mesmo círculo vicioso de muitas lojas: apenas reclamar. O público é exigente. Mas como conquistá-lo? Esse é o desafio!

Se não crescemos juntos, no futuro ninguém vai poder se profissionalizar e viver da moda alternativa? E muitos dos que se formam em Moda perderão seus sonhos por falta de oportunidade de trabalhar e ganhar experiência em lojas de nome já fixadas no mercado.

Como já fiz outras vezes no blog, a seguir publicarei várias postagens sobre Tendências da Moda Alternativa atual para termos idéia do que anda rolando no mercado deste segmento no exterior e quem sabe, nos inspirar!


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9 comentários:

  1. Pra loja alternativa que eu sonho, eu pagaria o que desse pra vc ser consultora...Oh menina de ideias boas, viu? Me inspiro muito aqui para o pouco que faço.

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    1. hahaha! Obrigada! ^^
      Mas na verdade, esse foi só um exemplo que dei pra ilustrar como a profissionalização provoca uma reação em cadeia dentro do segmento.
      Quanto todo mundo se profissionaliza, todo mundo consegue pagar um o trabalho do outro assim gerando um círculo de contatos, clientes e fortalecendo o mercado ;)

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  2. Ao escolher estudar Moda, tinha em mente justamente isso, profissionalizar o que eu gosto, o meu estilo e o que eu percebo que muita gente sente falta: uma moda alternativa profissional e que anda junto com a moda "mainstream". Acho válido que isso esteja crescendo no Brasil, mesmo que a passos lentos. =)

    Beijos!
    http://pinupinsana.blogspot.com.br

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    1. Eu acho que essa geração que se forma em moda agora tem essa visão da profissionalização mais definida. Minha geração, ainda via a moda alternativa como algo MUITO underground e com o público idem, mas hoje em dia não é mais assim, a moda alternativa em alguns países está disputando público frente e frente com lojas mainstream...

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  3. eu não acho ruim a popularização da moda underground...nem acho estranho uma loja que seja um mix de estilos...pelo contrário, ficaria bem feliz de ter uma grande loja de departamentos alternativa *__* (sonho de consumo). Mas o que me incomoda é que, ao menos na minha cidade, existem lojas alternativas que agora vendem vestidos do tipo "La Bela Mafia"(roupa de Panicat) como se fosse para a gente...aí também já é jogar merda no ventilador, pow!
    O mais chocante??? TEM público pra isso...só que acredito que assim como eu, outros se assustaram com a "inovação" e se afastaram...

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    1. Laura, parece que em Harajuku (ou outro bairro, não lembro exatamente), existem lojas de departamento de roupas alternativas!! Tipo, tem loja com 4, 5 andares só de moda lolita! Então, isso é possível, mas claro, tem que ter uma mega grana por trás =)
      Mas que isso, roupa de Panicat?? hahahahaa!!! Apelaram!! É, acho que aí eles foram pra um lado muito extremo...não souberam mudar amenizadamente.

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  4. Adorei a matéria, é um pouco assim o que penso. Moda de subculturas no Brasil é sempre um desafio, mas nem por isso impossível. Acho que deveríamos fazer encontros, reuniões e talvez até algum evento onde possamos fazer uma troca criadores-lojistas-consumidores para ter um vínculo maior, debater propostas, fazer parcerias e fortalecer e aumentar esse mercado no país (não sei se deu pra me fazer entender). Eu vejo no blog várias pessoas com boas ideias, visões, e tudo muito pequeno, separado e cheio de dúvidas. Acho que deveríamos nos juntar para fazer alguma coisa, e, quem sabe, num futuro, não tenhamos nossas próprias "lojas de departamento alternativas" ? ^^

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  5. Sana vc fez mais um brilhante observação HOJE EM DIA QUE CONSOME MODA ALTERNATIVA NÃO SÃO APENAS OS ADEPTOS DO ESTILO “GOTICO”, e mudar pode sim alavancar o comercio, isso serio ótimo pra todos.

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  6. Acho que faltou falar da loja Cyber Dog que existe na Inglaterra, quando falam de loja física alternativa ela é a primeira que me vem à cabeça, e a loja mais incrível que eu já conheci =]

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