Destaques

27 de maio de 2014

O artesanal na Moda Alternativa: o trabalho de Karen de Souza

A moda alternativa sempre teve elementos artesanais, pois durante um bom período, não existiam lojas especializadas e quando passaram a ser criadas cobravam-se altos valores para um consumidor que em sua maioria vinha de classe operária, realidade até não muito distante de agora.

Foi então que, pelo difícil acesso, seja de preço ou da não existência, se tornou normal alternativos confeccionarem ou customizarem suas próprias peças. Isso também ampliou outra forte característica do segmento: mesmo fazendo parte de uma subcultura, criando suas roupas você pode se diferenciar do grupo, tendo assim uma moda individual.
Esse tipo de pensamento se aflorou nos anos 1970 com o movimento punk. Além da atitude, a ideia de transmitir o sentimento de revolta também passou para a estética, foi quando surgiu o “Do it yorself” (Faça você mesmo), onde os próprios aplicavam patches, zíperes, alfinetes, tachas e o que mais adquiriam de aviamentos para incrementar as peças. Aliás, até hoje, tem muito punk que implica ao saber que a roupa foi comprada pronta. Provavelmente por serem do anti-establishment.

No Brasil, nem se fala. O nicho sempre foi muito atrasado aqui, então quem não tinha condições de comprar fora, era obrigado a criar o que gostaria de vestir. Para se ter uma simples estampa de caveira, tinha que se pintar o desenho à mão. O estilista Alexandre Herchcovitch confidenciaria numa entrevista: “A primeira peça que fiz de roupa, eu tinha um pouco menos de 15 anos, era uma camiseta com caveira estampada. Eu queria muito uma camiseta de caveira na época, não encontrava onde comprar, então eu mesmo fiz”.  

Em recente visita ao Brasil, Suzy Menkes, a maior jornalista de moda em atividade, declarou: "Um dos grandes luxos do século 21 é ter artigos que foram tocados por mãos humanas, algo feito com cuidado e amor que virou um produto bonito”.

Apesar do crescente desenvolvimento de marcas alternativas no país e no mundo, ainda há pessoas que apreciam o artesanal na moda. Ao contrário do que se possa pensar, consumir roupa ou acessório confeccionado manualmente nem sempre custa tão caro, há muitos criadores pequenos da qual se encontram peças incomuns e com valores bem acessíveis. 
 
É o caso da nossa entrevistada, Karen de Souza, que tem uma marca de camisetas onde ela própria desenha e pinta todas as estampas à mão a escolha do cliente. Fomos bater um papo com essa empreendedora de 25 anos para saber sua visão de mercado no meio alternativo.

Quando e como começou a sua imersão pela cultura alternativa? Tem preferência(s) por qual estilo musical? 
Karen: No inicio da minha adolescência, quando comecei a ter contato com diferentes “tribos urbanas”, principalmente do rock (e suas diversas vertentes). Gosto de Rock, Pop e Eletrônica.

Qual sua formação?
K: Minha formação artística é pela faculdade de Belas Artes na UFRJ, estou no ultimo ano de licenciatura em Artes Plásticas e também fiz curso de Visual Merchandising e acabei de terminar um curso no Museu Nacional de Belas Artes.

Como surgiu a ideia de criar estampas e pintá-las artesanalmente em camisetas? Já tinha vontade de vender ou isso veio depois?
K: Inicialmente eu fazia retratos em papel, também trabalhava dando aula de pintura e produzia artigos para “moda casa”. Foi a partir do último que comecei a ter contato com a técnica de pintar em tecidos, mudar para a camiseta foi uma questão de tempo e de percepção do mercado, meu sócio e namorado me ajudou nesta questão e me ajuda em outras. Ele fez network em 2011, com uma loja chamada Estação do Rock e eu passei a ser uma fornecedora da loja. Somente no início desse ano, passei a ter minha própria clientela a partir da minha fan page, estendendo a venda para todo o Brasil ganhando visualização internacional.


Karen executando seu trabalho artesanal

Você tem alguma influência de desenhos, de algum artista ou escolhe o tema de acordo com o gosto do cliente? 
K: Determinados produtos têm referência da Disney e personagens de filmes (geralmente clássicos), mas em outros modelos não tenho nenhuma influência clara, sempre me atualizo quanto aos produtos do mercado, como também pela produção artística e isso influência o meu trabalho de alguma forma, mas procuro trabalhar com um mercado personalizado, logo utilizo o tema escolhido pelo cliente, sempre deixando o meu estilo expresso em cada estampa, muitas vezes descaracterizando personagens até de temática retrô, como Marilyn Monroe e Audrey em bonequinha de luxo, que ganharam um estilo mais moderno com modificações corporais.



Já tem planos futuros para sua marca? Pretende vender só para o nicho alternativo ou quer atingir um público maior?
K: Atualmente vejo um aumento e valorização do mercado alternativo, um exemplo claro eram as caveiras que estavam em alta em 2012, tornando-se tendência na moda atingindo diferentes nichos e “tribos” da sociedade.
Esse crescimento já acontecia antes, mas eu não estava inserida no mercado ainda, creio que eu atinja outros públicos, seja pela “popularização” do alternativo como citado acima ou por meu diferencial com a personalização da estampa a partir do desejo do cliente.



O que acha do mercado alternativo, tanto como consumidora e empresária?
K: Como consumidora, vejo a possibilidade de encontrar diversidade e facilidade na compra de produtos nesse estilo, tendo em vista a acessibilidade de preços e variedades de lojas disponibilizando esse tipo de produto no mercado.
Como empresária, observamos (falo por mim e meu sócio) que com a valorização desse segmento houve o aparecimento de muitas lojas no mercado tendo esse público como alvo o que é positivo, já que tempos atrás não se tinha um investimento nessa área, facilitando então a minha inserção e permanência no mercado, criando algo personalizado em pouco tempo e de qualidade com um valor acessível à maioria do publico.

No exterior, é comum que desenhistas e artistas plásticos criem estampas para grandes marcas alternativas. A empresa entra com as peças prontas e o artista cria estampas adaptadas para roupas e acessórios. Você já fez esse tipo de trabalho para alguma loja? Se não, gostaria de fazer?
K: Já recebemos propostas para a revenda das peças, assim como para compra de minha Arte, mas as empresas não puderam arcar com os custos.
Hoje não investimos intensivamente no mercado atacado, procuramos atender o varejo, até porque a produção é artesanal, o que requer tempo e esforço. 
Voltando na questão da venda da Arte, poderá ser possível desde que o contrato não seja prejudicial, mas por hora esta não é a nossa prioridade, estaremos abertos a uma proposta interessante.




Além de designer, você trabalha também como modelo alternativa. O que acha dessa profissão no Brasil?
K: Hoje a modelo com um estilo mais alternativo vem ganhando espaço no mercado, as empresas estão em busca de modelos que fujam dos padrões de beleza impostos, que trazem uma atitude em seu estilo e aparência que converse com o público alvo.

Recentemente, foi lançado fotos de sua campanha. Foi interessante notar que não foram escolhidas somente meninas de corpos mainstream para posar. Qual sua visão sobre o meio alternativo que vem padronizando a beleza feminina em vez de aceitar o diferente?
K: Querendo ou não, com a massificação do alternativo, o mercado acabou padronizando esse "estilo", já que ainda é perceptível o uso de modelos com padrões inatingíveis, só que agora com uma imagem alternativa. Mas percebemos que as modelos plus size, entre outras, estão ganhando destaque na mídia e isso é bastante positivo, mas creio que o preconceito ainda exista e ele deve ser quebrado.  


Para os leitores que quiserem comprar seus produtos, qual forma de contato? Aceita encomendas fora do Rio de Janeiro?
K: Atualmente só estou trabalhando com a fanpage no facebook (https://www.facebook.com/karensouzart). E sim, aceito encomendas de todo o Brasil.

Entrevista por Lauren Scheffel.

- - -  - - -


Você gostou deste post ou de alguma outra postagem do blog? Pode divulgar =D
O Moda de Subculturas não tem fins lucrativos, dedicamos horas de pesquisas para oferecer conteúdo autoral. Sempre tentamos trazer assuntos inéditos e interessantes para os leitores! Sua ajuda na divulgação de artigos que gostou pode fortalecer a moda alternativa, já que informação acaba com a ignorância. Nós lutamos para que ela seja levada à sério e tratada com o devido respeito! 
Ah, curtam também nossa página no Facebook (https://www.facebook.com/pages/Moda-de-Subculturas/207882219254621), todos os dias postamos coisinhas lá! =D

Comentários via Facebook

11 comentários:

  1. Muito boa a entrevista. Adoro os desenhos da Karen, ela de fato é uma ótima artista e tem uma visão boa do mercado alternativo.

    ResponderExcluir
  2. Amei, excelente entrevista, a menina é talentosa e é do mudo da arte, demais!!! Excelente ´deia a que ela teve, amo camisetas personalizadas pintadas à mão!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pelo talento!A customização no meio alternativo já é tradição,o artesanal é muito valorizado em nossa subcultura.O Brasil está repleto de talentos como a Karen!

    ResponderExcluir
  4. Eita que camisetas lindas! Cada detalhe!!! <3 Ela vai longe!

    ResponderExcluir
  5. é muitoo lindooo eu faço camisetas personalizadas também só que na serigrafia!!!! se eu pudesse comprar só a estampa seria ótimo!!!! parabéns!! beijos

    http://cliquesdaany.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Adorei a entrevista. Realmente é difícil achar roupas alternativas e nada melhor do que fazer a própria roupa, né?
    Já até curti a fan page dela :)

    Beijos,
    Jiglay

    ResponderExcluir
  7. Olá, já conhecia o trabalho da Karen, não profundamente quanto agora ,após ler o post, mas acho muito lindo!
    É muito interessante o quanto as pessoas da subcultura alternativa são criativas! Há alguns meses, antes de ter minha filha, ganhei de presente uma blusinha pintada à mão, com a estampa do Jack e da Sally como crianças, tão lindo! E o trabalho, além de agradar aos que se familiarizam com os temas, ainda consegue ser mais especiais por serem únicos. Tenho toda a certeza, que mesmo ela fazendo algumas estampas iguais, nunca uma blusa vai sair completamente igual à outra.
    Falando sobre valorização de trabalho, posso falar o quanto também é difícil pra quem faz arte viver dela. Mesmo tendo quem os valoriza, sempre tem os que acham bonito, mas que só adquiririam alguma peça se fosse de graça. Tem os que gostam mas não tem vontade de dar o valor que a peça merece, mesmo sabendo o quão talentoso e dedicado o artista é. É bem complicado. Há algum tempo também o meu marido estava fazendo algumas peças pintadas à mão com temas obscuros e místicos. Cheguei a divulgar no facebook e tudo, nos grupos de compra e venda alternativos. Mas mesmo sabendo da nossa proposta, de que nenhuma estampa sairia igual a outra, mesmo assim tinha gente que pedia:"ah pinta isso, ah pinta aquilo". Mesmo quando eu dizia que aquela peça não estava mais disponível, sempre tinha alguém que pedia pra que fizesse igual... Como ele é tatuador, foi deixando pra lá e nunca mais fez uma, mas estou com uma loja virtual agora e vamos adicionar de novo as peças na loja.
    É complicado, mas a arte tem sim seus fieis admiradores!
    beijão!
    lilithstyleandbeauty.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  8. Achei mto legal o trabalho! Preciso voltar a trabalhar logo pra voltar a comprar coisas legais :~ hehhehe


    tenha uma boa semana! ^^

    ResponderExcluir
  9. Conheci a página dela no face não tem muito tempo, e achei o máximo o trabalho dela.

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar! As respostas serão dadas aqui mesmo, então não esquece de clicar no botão "notifique-me" pra ser informada.

© .Moda de Subculturas - Moda e Cultura Alternativa. – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in