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25 de junho de 2014

Entrevista com Angélica Burns, vocalista das bandas Scatha e Diva

Nós amamos mulheres na cena rock e metal! Embora cada vez mais nós tenhamos representantes femininas nestes gêneros musicais, elas ainda não tem um espaço igualitário comparado com as bandas masculinas na mídia especializada. Mas sempre há aquelas que amam música, lutam por espaço, se profissionalizam e ganham destaque na cena underground e alternativa nacional.
O post de hoje é uma entrevista com uma de nossas garotas do metal, Angélica Bruns, vocalista das bandas Scatha (thrash metal feminino) e Diva (Death Metal). 
Angélica vem se destacando pelo seu vocal gutural e sua dedicação ao metal extremo e no dia 06 de julho tocará no evento Metal Jam no Circo Voador (RJ).
Nesta entrevista ela fala de música, mulheres na cena, de como é viver numa cidade como o Rio de Janeiro e de como é ter morado na cidade mais gótica da Alemanha e até mesmo seus perrengues pra encontrar roupas que gosta dentro de nossas (ainda) limitativas modas mainstream e alternativa, acompanhem:


A Scatha vai completar dez anos na ativa. Quais são as maiores dificuldade da indústria para a cena thrash? Já passaram por frustrações de pensar em desistir?
Primeiramente pessoal gostaria de agradecer pela oportunidade e dizer que é uma honra participar do blog de vocês. Mas então vamos lá, vocês quase acertaram o tempo da Scatha. Completamos ano que vêm 10 anos. A banda foi formada em meados de 2005. Eu entrei apenas em 2007 e estamos na luta desde então. A cena underground carioca é muito gratificante, mas ao mesmo tempo você sempre fica pensando que falta algo. Pra gente é sempre um prazer fazer shows aqui no Rio de Janeiro, o público sempre é muito receptivo e apoia a gente de várias maneiras, desde simplesmente ir ao show, até comprar cd e camisa nosso. Mas ao mesmo tempo, temos a impressão que não saímos do lugar. Ao longo desses anos, fomos destaques em várias revistas do gênero, fomos selecionadas pela Roadie Crew para participar do Metal Battle em 2007, enfim muita coisa legal aconteceu pra gente. Mas ainda não conseguimos chegar aonde queremos. E acho que o Rio de Janeiro carece de muitas oportunidades pra nós ou qualquer outra banda sair do lugar. Acredito que as bandas de São Paulo têm muito mais chances de ganhar destaque nacional devido ao suporte que é possível ter lá. Lá existe uma verdadeira cena do Rock e do Heavy Metal, uma galeria inteira comercial com produtos do gênero, inúmeras revistas, rádios, estúdios, gravadoras, shows internacionais quase que diários, locais para tocar com maior estrutura e etc. Pra vocês terem noção nem a maior revista de metal do Brasil é mais vendida aqui, a Roadie Crew. Por esses motivos, muitas vezes é frustrante mesmo para as bandas aqui do Rio de Janeiro, mas nunca pensamos em desistir não. Já tornou parte de nossas vidas tocar na Scatha.

Sabemos que falar de machismo no heavy metal é um tabu, é raro este assunto ser abordado no Brasil. Você sente diferenças no tratamento para bandas de homens e bandas de mulheres? 
Quando o público não conhece a banda feminina que vai subir no palco, ainda existe sim algumas pessoas com aquele preconceito enrustido de achar que não vai ser boa. No entanto, eu tenho visto isso com menor frequência na cena. Já não é uma visão da maioria das pessoas, justamente devido às inúmeras bandas femininas competentes que vem aparecendo na cena tanto brasileira quanto mundial.


Nós sentimos uma carência de “mulheres do rock” no país, podemos citar apenas Rita Lee e Pitty como representantes pra um público mais “popular”, enquanto que no exterior há mulheres (Doro, Lita Ford) ou bandas de mulheres (Crucified Barbara) com algum destaque na mídia especializada em rock/metal. Alguma ideia de por que aqui, no Brasil, mulher no rock só se destaca se amenizar seu som pra um lado mais pop e as bandas de metal femininas ficam muito restritas ao underground ganhando pouco espaço em publicações?
Pois é, não sei dizer por que aqui no Brasil temos menos representantes. Talvez porque as oportunidades tanto para bandas masculinas como femininas sejam menores, portanto, as mulheres, que infelizmente estão em menor número, saem perdendo. Mas como eu já disse, pelo menos na cena underground, tenho visto cada vez mais mulheres se destacando. O que falta para elas despontarem é oportunidade mesmo. A cena Rock e Metal do Brasil anda muito fraca mesmo, fica complicado. 

Você passou por uma experiência sonhada por muito alternativos que é morar na Europa, no caso na Alemanha. Pensou em ficar definitivamente? Percebeu que poderia ter mais possibilidades no seu trabalho vivendo por lá do que aqui?
Eu fui morar lá porque tive a oportunidade de ganhar uma bolsa do governo alemão para estudar. Engraçado vocês perguntarem sobre isso porque na época eu tinha a opção de escolher dentre 5 cidades. Não me lembro quais eram as outras cidades, mas escolhi Leipzig. Essa escolha foi baseada justamente no meu estilo de vida. Fui pesquisar sobre a cidade e além dela ser perto de Berlim, cidade considerada centro cultural da Europa, ela era a cidade com a cena gótica mais forte de toda a Alemanha. E isso me chamou atenção. Depois descobri que o vocalista do Rammstein também tinha nascido lá. E isso foi o suficiente para eu escolher a cidade. Curto muita coisa do gênero gótico e foi uma experiência muito legal estudar em Leipzig. Lá tinha muitas e muitas lojas com moda gótica, vocês não tem noção da quantidade e tamanho das lojas. E é muito interessante porque lá eles vivem 24 horas no estilo gótico. Lembro de nos primeiros dias lá eu indo estudar de manhã e ver vários góticos de sobretudo, maquiagem pesada, cabelos verdes, rosas, azuis, 8h da manhã completamente montados. Achei muito louco. Também passei por Hamburgo, uma das cidades mais headbangers do país devido ao Wacken. Lá tem uma cena bem legal, várias lojas de metal e até uma loja só de coisas vikings. Óbvio que já pensei em morar lá, penso constantemente sobre o assunto. Embora eu fosse sentir uma falta absurda dos brasileiros calorosos [risos]. Assim eu tenho certeza que se eu tivesse nascido lá, eu teria mais oportunidades na cena metal e poderia até, quem sabe, viver da minha música por lá. Mas a ideia de sair daqui e recomeçar tudo lá sozinha não me anima muito. Já tenho 24 anos, estou velha pra começar tudo do zero na cena alemã [risos].


Sobre o Rio, você sente diferença do público alternativo por regiões (zona sul, zona norte, baixada,...)? Inclusive, já teve oportunidade de conhecer outros públicos do país?
Olha não vejo grandes diferenças comportamentais, já fiz shows em vários locais do Rio de Janeiro e quando falamos de receptividade todos são ótimos. Consigo notar talvez uma diferença de estilos. Na baixada tem mais uma galera gótica, na zona norte o metal extremo é muito valorizado e várias bandas muito talentosas surgiram dali e na zona sul acho que a galera é mais heterogênea tendo gente que curte de tudo um pouco. Mas é só uma impressão superficial minha, posso estar enganada. Fora do Rio, já tocamos em Brasília, abrindo para banda alemã Rage, em Belo Horizonte e em São Paulo. Mas a maioria dos nossos shows são no Estado mesmo do Rio de Janeiro, cidades como Macaé, Volta Redonda, Campos, Barra do Piraí, entre outras. Nós adoramos essas cidades porque a galera agita demais. Eles ficam loucos, é muito legal.

Banda Scatha
 Quais locais você indica para os amantes do rock frequentarem no Rio? 
Bom, acho que o lugar que eu mais frequento é o Calabouço Rock Bar na Tijuca. É um bar superlegal e sempre tem shows maneiros rolando. Outro lugar que também frequento é o Heavy Duty também na Tijuca. São os dois lugares que tem constantemente programação do estilo. Fora isso, também frequento os shows da cena que acontecem no Teatro Odisséia ou também no Planet Music em Cascadura. Super indico todos os lugares.

Sobre Moda: O que você gosta de comprar? São de marcas brasileiras ou estrangeiras? Consegue achar aqui o que quer vestir?
Então, super adoro moda. Mas é muito exaustivo conseguir achar coisas que eu gosto. Fora isso, não ligo muito pra marca de loja, minha estratégia é sempre entrar em toda e qualquer loja e procurar algo que eu possa gostar. Já achei umas peças superincríveis em lojas inesperadas. Mas é bem difícil mesmo pra eu achar coisas legais por aí. 


Observamos em fotos a predominância da cor preta nos seus looks. Você é só assim no palco ou no dia a dia? Como se vira para se vestir no calor de 40 graus? Aliás, se sente deslocada por não pertencer ao típico lifestyle carioca?
As roupas que uso nos palcos não são as que eu uso no dia a dia. No cotidiano me visto bem informal mesmo e casual. Trabalho na área de comunicação e felizmente não tenho que trabalhar com look social. Uso um visual que eu goste uma calça jeans ou legging e uma camisa simples ou t-shirt descolada. Além desse visual básico, sempre tento usar algo que indique meu estilo. Num dia chuvoso, ao invés de usar uma bota mais tradicional, uso um coturno e por aí vai. Comprar roupa pra mim é uma tarefa bem difícil aqui no Rio de Janeiro, é bem cansativo. Acho que ou meu gosto é muito difícil ou eu estou morando no lugar errado. Pra vocês terem uma ideia, existe uma época do ano que eu quase não consigo comprar nada, é a época que chega às coleções primavera verão. Não consigo comprar roupas de tons pastel, claros ou roupas com padrões estampados muito marcantes ou coisas florais. De forma geral, gosto de vestir coisas de cores mais frias como preto, branco, azul, cinza, verde. Às vezes opto por vermelho ou amarelo, mas bem menos. Assim, de acordo com meu gosto, as roupas de inverno e outono se encaixam mais no meu estilo e essa é a única época que eu saio pra fazer compras.


Sente falta como consumidora de um mercado alternativo brasileiro mais amplo e profissional? (Lá fora já existem Semanas de Moda, revistas especializadas, marcas para todos os tipos de subculturas e tamanhos, etc...)
Pois é isso é um problema constante pra mim. Não existem lojas especializadas no Rio de Janeiro do estilo alternativo e por isso você tem que fazer uma peregrinação em todas as lojas pra achar alguma coisa legal. Conheço várias marcas tanto dos EUA, como da Europa e fico aqui olhando os sites e babando. O que eu tento fazer é caçar em lojas e quando a situação fica muito difícil ou tenho algum evento importante pra fazer e preciso de roupa, compro uma passagem e vou pra São Paulo na galeria do Rock. Fora isso tem lojas de outros estados que vocês até já divulgam aqui no site, Black Frost e Dark Fashion, são duas lojas que também compro. Pra mim, a Black Frost é a que melhor atente ao meu gosto de roupas alternativas. Outra loja que também conheci há pouco tempo e também tenho comprado é a Sweet Sam Moda Alternativa, lá tem roupas de todos os estilos e é perfeito pra quem gosta de roupas personalizadas e customizadas.


Uma questão que abordamos com frequência no blog, é o fato do meio alternativo estar se abrindo para padronizações. A cena que deveria ter pessoas com cabeças mais abertas, aceitar as diferenças, no entanto parece estar retrocedendo. Um exemplo é a ditadura da beleza. Você já sentiu alguma pressão pela estética, principalmente por ser vocalista? Qual sua opinião sobre o assunto em geral?
Existe sim uma pressão estética. Se vou subir no palco tenho que estar sempre linda e alinhada e uma coisa que me preocupa muito é aquela coisa de não poder repetir roupa [risos]. Isso coloca uma pressão bizarra em mim de ter que achar mais e mais roupas, porque a cada show eu tenho que ter um visual diferente, hoje em dia todo mundo tira foto dos shows, fica feio repetir uma peça várias vezes. Assim eu fico que nem uma louca pra achar roupas novas e às vezes não consigo achar, é uma loucura. Mas acho que é uma pressão mais minha do que do público em si. De qualquer maneira, a gente sabe que não pode subir no palco de qualquer jeito porque a atenção vai estar todas em nós. Mas no fundo eu adoro. Na Scatha acho que sou uma das meninas que mais invisto nessa coisa do visual, justamente por ser frontwoman. É até engraçado porque eu gosto de usar corset né, curto algumas coisas de uma pegada mais gótica e sexy e as meninas são mais tradicionais, ai pedem pra eu pegar leve. Não faz muito sentido uma vocalista de Thrash Metal cantar com um corset no palco, né? Então eu tenho que me policiar com isso também, mas à minha maneira tento colocar uma pitada do meu gosto no visual de palco. 





Deixe um recado pras meninas do rock que querem montar bandas, como elas podem começar e alguns conselhos.
Então meninas se vocês sonham em ter uma banda à primeira coisa que vocês têm que fazer é investir no seu talento. Se você gosta de cantar ou tocar um instrumento, invista em aulas com profissionais, não há nada melhor que ter o conselho deles pra ajudar a gente no começo da carreira. Usem a internet, colégio, faculdade, até as nights pra encontrar gente com o mesmo gosto musical que o seu e montar a banda dos seus sonhos. Depois disso, usem a internet, muito e muito em todo seu potencial pra divulgar o trabalho de vocês. E depois é só aproveitar tudo que uma banda pode trazer e proporcionar pra gente. O caminho não é fácil, mas ao mesmo tempo é muito gratificante. Não desistam e vão atrás do sonho de vocês! Um beijo pra todas e todos que tiveram a paciência de ler essa entrevista! Quem quiser conhecer mais meu trabalho, basta me procurar no Facebook. Tenho perfil e página com alguns dos meus trabalhos. Espero que tenham gostado! Mil Beijos

Links da Angélica:


Entrevista por Lauren Scheffel

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4 comentários:

  1. Nossa que mulher linda, e fiquei muito apaixonada por esse cabelo.
    Adorei a entrevista, ficou muito boa.
    Beijos, fica com Deus!!!

    www.simplesmenteabia.blogspot.com

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  2. Gostei bastante da entrevista! É sempre bom conhecer essas mulheres que fazem parte do metal, principalmente o brasileiro, é uma ótima inspiração :D

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  3. Gostei muito da entrevista e já estou procurando as músicas!

    meu blog ♥

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