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22 de setembro de 2014

Tatuadores, Tatuados: "Nós fazemos dinheiro e não arte"

Está em cartaz em Paris, no Musée du Quai Branly, aquela que está sendo considerada a mais completa exposição já feita sobre tatuagens. “Tattooists, Tattooed” mostra a extensão da tatuagem da antiguidade até os dias de hoje. Dentre os 300 artefatos expostos, mostra-se que a arte está em constante evolução e atravessa todos os continentes, mesmo que em sua essência, a aceitação e a finalidade diferem de uma cultura para outra. Enquanto nas sociedades orientais, africanas e da oceania, a tatuagem teve um papel social, religioso e místico, o ocidente as via como um sinal de vergonha. No passado, apenas os criminosos, prostitutas, marinheiros, aberrações de circo e outros marginais teriam uma tattoo.

A partir de meados do século XX, o status da tatuagem começou a mudar. Se até os anos 1960 ter uma tatuagem era ser anti social, isso muda em 1970 com a adoção das mesmas pelos Rockstars. Mas é no final da década de 1980 que as tattoos passam a ser aceitas por segmentos mais amplos da sociedade e na década de 1990, elas se tornam uma declaração de moda. Nos últimos 15 anos dois tipos de negócios de tatuagens surgiram: o "estúdio de tatuagem" que mantém uma atmosfera e atitude de uma cultura underground. E o segundo tipo é o "estúdio de arte de tatuagens" que é localizado num bairro ou numa rua legal, tem aparência de um salão de beleza, preços destinados à classe média alta e classe B e presta serviços apenas com hora marcada. Nestes estúdios, o cliente não se limita a escolher um desenho na parede, ele chega com uma ideia e depois discute com o tatuador, assim como um patrono da arte encomenda uma obra de arte. E justamente, o tatuador não é chamado de "tatuador", mas de "tattoo artist". Há toda uma atmosfera de compra de um produto de luxo.

O nome do estúdio de artes de tatuagens de Ami James, na imagem,
 com a tattoo artist Megan Massacre posando numa cadeira, tem um design curioso: 
a letra "s" é um sinal de cifrão.


E este é um dos pontos que a exposição “Tattooists, Tattooed” também aborda, já que o slogan da mesma é: "Nós fazemos dinheiro e não arte". Sendo assim, entende-se que hoje existe um novo tipo de tatuagem: a tatuagem de grife que leva a assinatura de algum tattoo artist que por motivos diversos adquiriu status na cena. Anne, curadora da exposição disse numa entrevista para o programa GNT Fashion que hoje muitas pessoas vão "comprar" uma tatuagem e não, "fazer" uma tatuagem. Ela também disse que ter uma tatuagem não significa fazer parte do grupo dos tatuados.

É muito fácil entender essa frase da curadoria, afinal, tatuagens foram muito associadas à cena alternativa e à subculturas. Há as pessoas que compram a grife, a tatuagem assinada. E há os que fazem tatuagens porque as amam. E estes dois tipos de pessoas vivem em mundos distintos. 

Nosso artigo sobre Alternativos na TV Mainstream abordou os reality shows sobre tatuagens. Inclusive, vários tatuadores destes programas hoje tem status de artistas-celebridades.

E você: concorda que hoje em dia se compram tatuagens como objetos de grife?

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8 comentários:

  1. Eita que discussão complicada né?
    Com o status de arte, a tatuagem ficou mais popular e arrisco dizer mais aceita. E com isso criam-se lendas, que aproveitam e fazem seu nome e se tornam referências. Os programas de TV ajudam ainda mais a criar esta atmosfera pop.
    Quando fiz minha primeira tatoo, fui em um tatuador famoso em Curitiba na época. Ele fez um trabalho ruim, me causou muita dor e me ofendeu durante o feitio da tatuagem. Ir pela fama me fez perceber que muitos esquecem a arte e focam na lenda que geram em torno de si próprios.
    Quando fiz as outras, fui em um estúdio não conhecido e o tatuador fez um trabalho impecável, aproveitou minha ideia super bem e fez uma tatuagem que chama a atenção por ser original. Pretendo voltar nele porque justamente ele rejeita a fama, não fica se promovendo e continua defendo tatuagem como arte. Cobra o preço justo. Isso sim para mim é tatuador.

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    1. Sim, uma discussão muito interessante e questionadora!! Lançada pelos próprios estudiosos e curadores na exposição! Nos faz refletir sobre toda a cultura "pop" que se criou em torno desta arte nas últimas décadas.
      Muito legal seu depoimento Vívien! Obrigada por compartilhar sua opinião/vivência! =)

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  2. Sana, *---*, que legal, queria tanto ir pra essa exposição! Meu marido é tatuador, e convivo muito com essa arte. Por enquanto, tenho apenas 1 tattoo, mas por alguns motivos... quando fiz minha primeira tattoo, um pouco depois fiquei grávida, e até agora não posso fazer mais porque amamento... Pense na aflição pra poder fazer outras logo! hahhaha
    Mas enquanto não faço, pelo menos posso ir tendo mais ideias para outras tattoos. Como só tenho uma, não me considero ou faço parte dos 'tatuados'. Muito interessante esse ponto dentro do texto. Hoje em dia, uma pessoa põe uma estrela no dedo, e acha que é tatuado, e que está 'afrontando' sociedade. Acho que as cantoras pops que fazem essas tattoos pequenas espalhadas pelo corpo, meio aqui e ali, acabaram difundindo isso pra massa. Um exemplo que me lembro foi a Miley Cyrus, que foi tatuada pela Kat Von. Não sei se foi por questão de status, mas podemos colocar dentro desse contexto que eles abordam que não fazer 'arte e sim dinheiro'. Mas, nada contra, quem quer ter uma tatuagem, que tenha, ora! :)
    A Megan Massacre é muito linda *--*
    Virei fã depois que vi ela no NY Ink, na TLC! Não só por ela ser linda, alternativa e tatuada, mas pelo seu talento. Eu adoro o modo como ela pega sua ideia, e traduz no estilo de desenhar dela. Com certeza eu ia querer ser tatuada pela Megan! *---* Eu até fiz um post sobre ela no meu blog, e frequentemente abordo o tema tatuagem lá.
    Adorei o post!
    Beijão, Sana :*

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    1. Imagino o desespero!!! =D
      É, as tatuagens hoje tomaram conta dos artistas pop que, claro, querem se tatuar com artistas de "nome" na cena, faz parte de todo um cenário cool e comercial.
      Também adoro a Megan! É muito talentosa!!
      bjs!!

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  3. muito interessante!
    minha melhor amiga é tatuadora de um dos maiores estúdios aqui da minha cidade e por lá de certa forma realmente vai pessoas interessadas no status do estúdio e não apenas na arte dos tatuadores
    mas pra mim essas pessoas são de um universo distante que não me atinge, no sentido de que não convivo com ninguém assim, e que todos a minha volta realmente amam suas tattoos asism como eu :P
    bjo!!!
    http://hippiegrungerajneesh.blogspot.com.br/

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    1. Então está de acordo com o que a curadora da exposição levantou como questionamento!! =D
      Muito interessante, obrigada!

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  4. Não. Acho que é exatamente o contrário... a arte (e a tatuagem entra nisso) está sendo valorizada e "consumida" como tal. Os objetos de grife é que tem sido erroneamente consumidos como arte...

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    1. Flávia, uma pena que o GNT não disponibilizou o vídeo da exposição. É interessante a curadora explicando a visão explicada no post, acho que você ia gostar! ;)

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