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17 de setembro de 2014

Uma reflexão sobre a moda fast-fashion e a importância do consumo consciente

Todos nós sabemos que preço baixo pode significar qualidade ou durabilidade baixa. Comprar estas peças é uma escolha individual. Mas preço baixo em alguns casos também pode significar procedência duvidosa, vinda de trabalho escravo ou outras formas de condições exploratórias do trabalhador. Sites muito visados pelos brasileiros como aqueles de compras diretas da China, tem um possibilidade muito alta de oferecer esse tipo de serviço. A grande questão é: você realmente se importa com isso? Você deixa de consumir um produto quando desconfia da procedência? Ou simplesmente compra e segue em frente?
É esse o questionamento que queremos levantar com esse post, que o leitor tire alguns minutos e reflita sobre a forma que consome produtos de moda.

*"compre menos, escolha bem" - Vivienne Westwood

Apesar de nós, autoras do blog termos estudado Moda, nós nunca fomos "AS" fashionistas consumidoras fervorosas de tendências. Sempre vimos a moda com um outro olhar, já éramos alternativas quando entramos na faculdade. Ser alternativa em si já direcionava nosso consumo pra algo mais duradouro (peça de um estilo determinado que não sai de moda) e para a compra em lojas de produtos feitos em pequena escala. Consumo consciente não é "saber que uma roupa pode ter vindo de um trabalho escravo". Consumo consciente trata-se de se reeducar comprando peças mais duradouras, comprando menos, comprando usados, produtos artesanais, de designers independentes e comprando o que realmente tem a ver com seu estilo. Não precisa ser necessariamente produtos caros,  podem ser baratos, com preço acessível, mas que você saiba a procedência e tenha certeza de seu pleno usufruto.

Tentamos nos manter informadas também sobre o lado negro da Moda. Afinal, somos questionadoras, não aceitamos o que é imposto pra gente como método de consumo com tanta facilidade.Vocês já pararam pra refletir o quanto nossa sociedade capitalista de "descarte de moda" produz lixo? O quanto de tecidos e roupas são jogadas fora todo o ano? O quanto a indústria polui pra fabricar estas roupas? Por isso se reeducar é importante, porque se mudamos nossos hábitos e demonstramos desinteresse por esse consumismo exacerbado, a indústria acaba com o tempo, se adaptando ao novo perfil consumidor.

Dois artigos caíram em nossas mãos em tempos recentes e tomamos a decisão de traduzir um deles (o outro é em português) pra que mais gente tente ver a moda com outros olhos, e consumir melhor. É importante sim saber a procedência das roupas que você compra e é aí que a moda alternativa entra como opção, afinal, a maioria das marcas alternativas ainda é artesanal ou feita em pequena escala através de costureiras domiciliares e sem trabalho explorador - não entram na listagem lojas alternativas que somente importam produtos da Ásia, pois não sabemos a procedência dos mesmos. Mas é importante frisar que nem todo produto vindo da Ásia é produto de trabalho escravo! Por isso deixamos essas lojas com o benefício da dúvida, cada uma sabe de seus fornecedores.

O artigo que apresentaremos trechos agora, é americano. Fast-fashion naquele país vende roupas realmente baratas, ao contrário de aqui no Brasil que elas não são tão baratas assim comparadas com os custos para fazê-las.
1) A indústria da moda é projetada para fazer você se sentir "fora da tendência" após uma semana.
Antes havia duas temporadas de moda: Primavera/Verão e Outono/Inverno. Em 2014 a indústria da moda está produzindo 52 coleções "micro-estações". Com as novas tendências que saem a cada semana, o objetivo do fast fashion é os consumidores comprarem tantas roupas quanto possível, o mais rápido possível. A mercadoria fast-fashion opera em um modelo de negócios de baixa qualidade/alto volume.
A varejista espanhola Zara recebe novas entregas para as lojas duas vezes por semana. H&M e Forever21 tem  novos estilos diários, enquanto Topshop apresenta 400 estilos por semana em seu site.
Com muitas roupas novas numa semana, o calendário de moda para essas empresas está configurado para fazer deliberadamente o cliente se sentir fora de tendência, após o primeiro uso de uma peça.

2) "Descontos" não são realmente descontos.
Os fashionistas amam a ideia de entrar em uma loja de ponta de estoque e sair de lá com roupa de grife por uma fração do preço. Apesar da crença comum, as roupas de outlet nunca entraram nas lojas das grifes. O mais provável é que eles tenham sido produzidos em uma fábrica totalmente diferente, escreve Jay Hallstein em "O Mito do Maxxinista." A realidade é que outlets negociam com as grifes/estilistas para que eles possam colocar as etiquetas nas roupas baratas fabricadas em suas próprias fábricas de baixa qualidade. 

3) Há chumbo e perigosos produtos químicos sobre sua roupa.
De acordo com o Center for Environmental Health, cadeias de fast-fashion ainda vendem produtos contaminados por chumbo em doses acima do legalizado em bolsas, cintos e sapatos, anos depois de assinar um acordo que limita o uso de pesados metais nos produtos.
Um artigo no The New York Times diz que produtos comercializados para as mulheres jovens, podem ser perigosos porque a acumulação de chumbo nos ossos pode ser liberado durante a gravidez, prejudicando mãe e feto. A exposição ao chumbo também tem sido associada à maiores taxas de infertilidade e aumentam os riscos de ataques cardíacos, derrames e pressão alta. Muitos cientistas concordam que não existe um nível "seguro" de exposição ao chumbo para os seres humanos. Além dos pesticidas, inseticidas, formaldeído, retardadores de chama e outros agentes cancerígenos conhecidos que residem nas roupas que vestimos.

4) A roupa é projetada para desmoronar.
Gigantes da fast fashion, como H&M, Zara e Forever21, tem seus meus modelos de negócios dependentes do desejo dos consumidores por roupa nova para vestir - o que é instintivo, já que a roupa se desmorona em algumas lavagens. Um americano médio joga fora mais de 68 quilos de tecidos por ano. Nós não estamos falando sobre a roupa que está sendo doada para lojas de caridade ou vendidos para lojas de remessa, os 68 quilos de roupa vão diretamente para aterros sanitários. A maioria das nossas roupas hoje é feita com fibras sintéticas, à base de petróleo, e vai demorar décadas para estas peças de vestuário se decomponham.




5) Pérolas e lantejoulas são uma indicação de trabalho infantil.
Estimativas do setor indicam que 20 a 60% da produção de vestuário é costurado em casa por trabalhadores informais, segundo autor Lucy Siegle em seu livro "To Die for: Is Fashion Wearing Out the World?"
Existem máquinas que podem aplicar lantejoulas e pérolas que parecem trabalhos manuais, mas elas são muito caras e devem ser adquiridas pela fábrica de roupas. De acordo com Siegle, é altamente improvável que uma fábrica no exterior investiria no equipamento, principalmente se a roupa que está sendo feita é para uma marca de  fast-fashion baseada em vendas. Ao realizar sua própria investigação, Siegle descobriu que existem milhões de trabalhadores em algumas das regiões mais pobres do mundo, curvados, a bordar... muitas vezes com a ajuda de seus filhos, os trabalhadores costuram o mais rápido que podem e enquanto a luz do dia permite. Siegle continua a dizer, "Eles vivem presididos por intermediários tirânicos que pagam alguns dos mais baixos salários da indústria do vestuário."

Outra matéria que sugerimos a leitura é "Escravos da moda. Quem se importa com a procedência?". A matéria também explica o que define um trabalho escravo: http://www.brasildefato.com.br/node/29539


São dados assustadores e por isso mesmo salientamos da importância de se reeducar como consumidor e apoiar lojas alternativas, artesanais, comprar peças usadas, de designers independentes ou pesquisar pra saber a procedência do produto que você consome!


“O consumo consciente requer educação e informação que nem todo brasileiro tem. Quando todos tiverem, vão cobrar e pressionar mais. A questão é como assegurar preço para produto com atributo de sustentabilidade ambiental, social e trabalhista que o mantenha competitivo em relação aos outros.” Frase de Dalberto Adulis do Instituto Akatu, associação que defende consumo consciente para a sustentabilidade.



Na matéria acima é citado o aplicativo para celular Moda Livre, iniciativa da organização Repórter Brasil, trás avaliações de 22 marcas a partir de questionários respondidos pelas próprias empresas. Nós baixamos o aplicativo  e vamos falar pra vocês quais as marcas avaliadas no quesito trabalho escravo.
Estão com sinal verde (demonstram ter mecanismos de acompanhamento sobre sua cadeia produtiva e possuem histórico favorável em relação ao tema): C&A, Malwee, Scene.
Estão com sinal amarelo (possuem histórico desfavorável em caso de trabalho escravo e/ou precisam aprimorar seus mecanismos): Americanas, Bob Store, Cori, Crawford, Dzarm, Ellus, Emme, Herchcovitch, Hering, Luigi, Mandi, Marisa, Memove, Pernambucanas, PUC, Renner, Riachuelo, Richards, Salinas, Siberian, VR, Zara.
Estão com sinal vermelho (não demonstram ter mecanismos de acompanhamento e tem histórico desfavorável em relação ao tema ou não responderam o questionário): 775, Bo.Bô, Colcci, Collins, Forum, Fenomenal, Gangster, Gregory, Havan, John John, Leader, Le Lis, Lilica & Tiger, Marisol, M. Officer, Talita, Triton, Tufi Duek, Unique.

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3 comentários:

  1. Você tocou em um ponto onde ultimamente eu bato na mesma tecla,quando é uma peça mais elaborada prefiro comprar de lojas nacionais,essas lojas nas quais eu sei que a pessoa dedicou seu tempo criando.Penso na satisfação que a mesma vai ter ,quando mais uma pessoa compra e fala sobre o seu trabalho.Sou o tipo de consumidora que olha os detalhes da peça,o capricho da mesma e faço questão de passar pra frente e incentivar a compra...seu guardaroupas vai ficar mais enxuto,mas pelo menos com peças originais e feitas por uma pessoa dedicada.Aqui eu conheço poucos brechós,achei um recentemente no qual vou doar algumas peças como já fiz antes,mas as peças que mais gosto foram compradas de segunda mão...são baratas e com qualidade boa na minha opinião,fora que você ajuda mais alguém que vive disso!Acredito que cada um sabe o que faz com seu dinheiro,mas acredito que nesses últimos anos o consumo anda muito acelerado,frenético e desnecessário...as pessoas compram porque realmente precisam,ou porque acham que precisam?Claro,você não deve deixar de comprar algo que quer,mas mesmo que seja um "mimo" comprar com consciência é algo que faz tremenda diferença no futuro depois!

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    1. Acho que não tem problema comprarmos "mimos" porque a gente não pode fazer da moda uma coisa chata. É bom se divertir com ela e se presentear com ela. A moda, as roupas, tem sua importância.
      Mas essa ideia de consumir fazendo melhores escolhas e de tempos em tempos doar roupas, vender ou frequentar brechós é um hábito que a gente precisa adotar urgente! Fora que como você disse, ajuda uma pessoa. =)
      A indústria da moda reage ao mercado consumidor cada vez mais rápido, se este consumidor frear seus impulsos consumistas, a indústria vai ter que se adaptar. O que me preocupa mais mesmo mesmo é o lixo e a poluição advindas deste excesso =/

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  2. Ótimo texto! Eu acabei de abrir um tópico sobre o assunto no grupo moda lolita brasil e veio bem a calhar. Obg pelas informações :D

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