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7 de outubro de 2014

As ligações estéticas de Pulp Fiction, O Profissional e Geração Maldita

Três filmes que muito alternativo venera estão completando num curto espaço de tempo 20 anos! São eles: Pulp Fiction, O Profissional e Geração Maldita. O que mais impressiona é o quanto possuem fortes ligações estéticas entre as personagens principais. Assim, a gente aproveita a data para fazer uma análise dessas misturas.


Sendo o foco nas protagonistas, vamos falar de Mia Wallace, Mathilda e Amy Blue, interpretadas respectivamente por Uma Thurman, Natalie Portman e Rose McGowan. Elas possuem um reflexo bem evidente da década em que foram feitas as filmagens. Adivinha qual era? Anos 90! Sim, o próprio. Fora o estilo grunge, o auge do período eram as roupas minimalistas, com predominância de cores neutras, pouquíssimas estampas e quando se tinha, no máximo listras, floral, xadrez. Se prestarem atenção no figurino, vão reparar que ele era básico, com peças que a moda curte definir como "clássicas". Vestidos em linha A, short jeans, jaquetas e roupas de alfaiataria.

A clássica camisa branca de Mia Wallace:

O visual de Mathilda também flerta com o Grunge:

O minimalismo alternativo de Amy Blue:

Casacos usados pelas personagens. De início, Mathilda usa um cardigã de crochê branco, mas quando começa a por em prática seu plano de vingança, troca por um modelo militar:

Também são pinçados modismos da época, como as gargantilhas, ou chockers, sendo uma tira de veludo ou uma tira de nylon com pingente. Mas a maior interação mesmo entre ambas é o cabelo! O corte Bob usado pelas estrelas, nasceu nos anos 20 e foi eternizado por grandes nomes da época. Além dos fios, era acrescentado olhos pretos e lábios avermelhados formando assim o visual Vamp, utilizados por Mia Wallace e Amy Blue. Mas como a estética de períodos tão distintos se uniram? Porque a década de 90 teve o seu olhar nos anos 60 e esta última, referências dos 20.

Gargantilhas com pingente. Mathilda e sua versão de veludo que está super em alta! 
Um grande acerto da figurinista Magali Guidasci:

O famoso corte "Bob" das protagonistas:

O papel de Maria de Medeiros em Pulp Fiction, também usa corte parecido, que lembra os da década de 1960:

Make vamp e unhas vermelhas de Mia e Amy. Seria mera coincidência? Talvez não. Pulp Fiction teve enorme repercussão na época, conseguindo alavancar até a carreira dos atores, a exemplo de John Travolta que andava esquecido. Portanto, é provável sim a influência.

Um dos quartos ambientados por Geração Maldita possui decoração Optical Art, movimento criado nos anos 60:

O que pontuava a diferença delas era o assunto abordado em cada longa, que ainda assim, não se distanciavam muito. Mia Wallace é esposa de um chefão mafioso que num erro, tem uma overdose inesperada e por pouco fatal. Mathilda, uma menina de onze anos que viu sua família sendo morta, é acolhida por uma matador profissional onde passa a alimentar o desejo de vingança aos assassinos de seus parentes. E Amy Blue, que foge de situações extremamente bizarras depois que ela, seu namorado e um rapaz que conhecem, se envolvem numa confusão quando matam o dono de um estabelecimento.

No caso de Mia Wallace, o figurino tinha como referência o visual dos mafiosos italianos. Como revelou a figurinista Betsy Heimann em entrevista à Elle, "Mia Wallace é uma versão feminina de Cães de Aluguel (filme anterior de Quentin Tarantino)". Já Mathilda, refletia uma menina pobre pré-adolescente com gosto por acessórios irreverentes. Das três, era a que mais usava cor e misturava estilos. Amy Blue se interligava as subculturas, com um forte pé no grunge, provavelmente por ser uma jovem cansada do mundo. Ela também tinha uma queda por peças excêntricas, como os óculos brancos de gatinho e um isqueiro de caveira. Podemos dizer que Mia era um reflexo dos anos 90 mais chique, a la Calvin Klein, enquanto Mathilda e Amy tinham a vibe alternativa/underground. 

O visual minimalista de Mia Wallace:

O mix de irreverência noventista de Mathilda:

E o Grunge de Amy Blue. Reparem que tanto ela como Mathilda, usam bota e meia:

Os óculos e o bafônico isqueiro de caveira:

Ou seja, o que unia todas essas personagens era a influência da época em que se passavam as filmagens, assuntos abordados que se entrelaçavam aos mesmos universos (sexo, drogas, violência), classificação de gênero (drama, policial, trash) e mulheres que não temiam ir além, com falas sarcásticas (Mia e Amy) ou que estava na transição ao perder a força sua inocência (Mathilda).

O lado sarcástico de Mia Wallace: "Quando você puder calar a p***a da boca por um minuto e compartilhar um silêncio confortavelmente".

Amy Blue tinha uma postura mais dark, suas citações eram provocativas e aborrecidas, um reflexo da juventude noventista e desiludida com a vida: "O mundo é um saco", "Eu acho que às vezes essa cidade está sugando minha alma".

1920, 1960, 1990: Décadas de feminismo e modas interligadas.
Uma coisa interessante é que na década de 90 aconteceu a terceira onda do feminismo. Não à toa, as mulheres da época no cinema e na música tinham uma certa ousadia e atrevimento como nos filmes citados na postagem.
Mas o que pouca gente sabe é que a moda noventista é releitura de 1960 e esta, releitura da moda de 1920, todas, décadas em que as mulheres romperam com padrões vigentes. Todo mundo já ouviu falar da revolução sexual de 1960, da segunda onda do feminismo e da criação da mini saia. Nos anos 1920, existiam as melindrosas, jovens sexualmente liberais que usavam saias curtas, cabelos na altura das orelhas e eram independentes. Além disso, usavam uma maquiagem "pesada", vamp: olhos e boca em tons escuros.

Comparação do corte "bob" nas três décadas:

A semelhança dos vestidos nas décadas: Em 1920 surgiram as regatas, a cintura era baixa e as saias na altura dos joelhos. Em 1960, as mangas regatas voltam e dependendo do ano, a cintura era baixa ou logo abaixo do busto, a bainha ia do joelho à super curta mini-saia. E finalmente na década de 1990, vemos mangas regatas novamente e cinturas abaixo do busto ou um pouco acima da cintura, as bainhas eram curtas.


A foto de uma de nossas Divas 90s, Gwen Stefani, liga a moda dos anos 1990 (vinil, gargantilha de spikes) diretamente com um vestido de corte anos 1920 (regata, cintura baixa com pregas), mas com mini saia (referência anos 60). Repare na semelhança do corte do vestido da década de 1920 com o de Stefani.


Na Moda Mainstream:
A década de 1990 foi minimalista, sem excessos, peças clássicas, básicas... mas nessa fase, as subculturas ganharam um certo poder e notoriedade dentro da moda mainstream, seja através do grunge, do kinderwhore e do movimento Riot Grrrl. Os estilistas, é claro, queriam aproveitar essa onda de rebeldia juvenil e "vender" essa imagem à seu público. 

Abaixo, desfile D&G de 1995, observe como as peças são simples (baby look, saias) mas os looks carregam referências subculturais com acessórios em vinil, cabelos coloridos, marias chiquinhas e maquiagem de olho e batom escuro que se associam com ao kinderwhore.


Aqui, temos o desfile de Betsey Johnson de 1996. Betsey é uma estilista de background punk e que desfila no mainstream. Digamos que ela faz uma moda alternativa um pouco mais cara, mas ainda assim, acessível. A referência punk no desfile a seguir é muito forte, nos faz associar com a estética e principalmente com a atitude de Amy Blue. Essa mesma estética acabou se tornando bem comum entre as meninas que curtiam rock em 1990.


Impressionante como tudo na moda se interliga e como ela consegue traduzir o comportamento de uma época específica. 

Qual desses filmes é o seu favorito?



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* Artigo original do Moda de Subculturas. Se quiserem usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, achamos gentil linkar o artigo do blog como respeito ao nosso trabalho. Tentamos trazer o máximo de informações inéditas em português para os leitores até a presente data da publicação.
Todas as montagens de imagens foram feitas por nós.
Fotos: Google.

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15 comentários:

  1. Cara, este post caiu como uma bomba no meu colo! Adorei as referências!
    A primeira vez que implorei por uma gargantilha de veludo foi por ver Mathilda em ação e depois, por ver em Buffy a Caça Vampiros!
    Os 3 filmes são sensacionais! A cena de Mathilda dançando "Like a virgin" foi uma das melhores!
    Adoro posts como estes! Referencias com cinema sempre são ótimas!

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    1. Que ótimo!!!
      Muito legal seu depoimento sobre Mathilda, como o filme e a moda te influenciaram!
      :)
      Bjss

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  2. sério! vocês mereciam prêmio do ano por publicar um post desses! <3
    mto af****!!!!
    mathilda é sempre a melhor :P e por incrível que pareça nunca vi esse geração perdida,
    já tenho o que procurar pra hj kkk
    muito obrigada mesmo!
    bjo!
    http://hippiegrungerajneesh.blogspot.com.br/

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  3. Que matéria linda e cheia de dedicação *--* Totalmente inspirador!!
    Vida longa ao blog ;)

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  4. Seu artigo ficou realmente muito bom! Amei as ligações que você fez da moda com a ideologia da época!

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  5. Muito rico este post! Parabéns! Como sou grande fã do Tarantino, gostaria de saber onde você tirou estas referências da Mia Wallace, e se tem de outras personagens dos filmes dele. Acho que elas têm algo peculiar no estilo. Parabéns novamente!

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    1. Obrigada! Então, as referência da Mia são as que estão no post: a entrevista da Betsy Heimann onde descreve o figurino, a história do filme em si e os anos 90. Daí foi feito uma análise com base nesses temas.

      Não tem mais sobre outras personagens do Tarantino pq o foco era na Mia Wallace, mas se vc quiser estender a pesquisa, é só procurar pelas figurinistas de cada longa q provavelmente encontrará mais infos. Espero q tenha ajudado!

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  6. alguém sabe me dizer onde encontro esse modelo de óculos q matilda usa no filme?

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  7. Eu amei ver a ligação das 3 personagens e a ligação da moda dos anos 20, 60 e 90. Otima matéria, Parabéns pela pesquisa por tras da matéria.

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  8. Que matéria maravilhosa! Ficou bem rica, com várias informações e ligações. Amei a forma como vc nos mostrou. Parabéns! Arrasou. <3

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  9. E agora temos a Tokyo de La Casa de Papel.

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