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27 de outubro de 2014

Entrevista com Litha Bacchi, modelo alternativa plus size internacional

Como blogueiras, acompanhamos a evolução do mercado plus size nos últimos anos no Brasil. Foi diante de leituras desse universo que chegamos à entrevistada de hoje, Litha Bacchi, uma gaúcha de 25 anos que há dois trocou Porto Alegre por Londres. Num desabafo sobre "ser gorda" no blog Mulherão, além de suas palavras chamarem nossa atenção, a imagem escolhida para ilustrar o post era uma linda foto sua posando como modelo da Hell Bunny*, marca que amamos e volta e meia aparece aqui. Na hora, sabíamos que precisávamos entrevistá-la, não só pelo fato dela conseguir trabalhar dentro do mercado alternativo londrino, mas também por ser plus size, ocorrendo assim a união de dois nichos, algo raro de ser investido por empresários brasileiros.

Sabendo dessa carência no país, Litha agora é empresária e tem uma loja online, a The Pin-Up Store, onde revende roupas de marcas britânicas em estilo retrô, oferecendo uma variedade de tamanhos às consumidoras, que vão do PP ao 4G. Portanto, meninas que têm dificuldade de achar peças acima do 44/46, aí está mais uma opção para vocês! Fiquem com as informações que a Litha compartilhou conosco nessa entrevista exclusiva.



Além da moda e música das décadas de 40 e 50, você segue alguma subcultura?
Hoje em dia não sigo nenhuma subcultura, apesar de ouvir música grunge e punk e às vezes me vestir próximo ao rocker. Mas eu gosto de misturar tudo e manter um estilo pessoal, usar vestido de pin-up anos 40 com casaco de couro, etc. Quando eu era adolescente eu seguia mais, mas eu era bem maluca e misturava tudo também.

A modelo usando victorian rolls, típico penteado retrô:
Foto: Retro Photostudio

Você conseguia comprar roupa alternativa plus size no Brasil em lojas para esse nicho? Caso não, como fazia?
Não, nunca consegui encontrar esse tipo de roupa em lojas do nicho. Às vezes eu dava sorte e encontrava algo inexplicável na Riachuelo ou na Renner, mas era bem difícil, tinha que garimpar muito. Aí eu sempre apostei mais em acessórios, que servem em todo mundo.

Quando seguiu com a carreira de modelo em Londres, você percebeu diferença nas ofertas de trabalho?
No Reino Unido tem mais marcas alternativas e ter uma linha plus size já é muito comum. Até a numeração normal vai até um tamanho bem maior do que a nossa numeração normal. A Hell Bunny já possuía uma linha plus size mas não tinha fotos com modelos maiores e me chamou para o primeiro photoshoot das peças. Eles me contaram que as vendas de tamanhos maiores aumentaram muito depois que passaram a disponibilizar fotos com modelos plus size. Apesar de tudo isso, o alternativo plus size ainda é um nicho muito específico e não rolam tantos trabalhos assim. Fora a Hell Bunny e a Spin Doctor, o único trabalho do gênero que fiz foi um desfile no London Edge onde eu era a única modelo plus size na passarela. Das outras marcas eu só percebi a Collectif com uma modelo plus size no stand, sendo que eles raramente fotografam suas coleções com modelos maiores (mesmo os tamanhos deles indo até um 4G).

Em recente campanha Inverno 2014 da Hell Bunny:
Foto: Retro Photostudio

Depois que se interessou pela profissão, você já tinha intenção em trabalhar com marcas alternativas? Conhecia a Hell Bunny e a Spin Doctor antes de ir à Inglaterra?
Na verdade eu nunca tinha realmente me interessado na profissão. Ser modelo foi uma coisa que aconteceu. Começou com meus amigos que estudavam fotografia me pedindo pra ser modelo pra eles poderem praticar, depois teve a oferta da Chica Bolacha. Eu fazia porque as pessoas me chamavam. Hoje em dia já é bem diferente, é algo que eu descobri que adoro fazer, então eu procuro mais. A tendência de trabalhar com marcas alternativas é natural, já que eu tenho bastante tatuagem e as marcas tradicionais não costumam gostar. Eu nunca fui ligada em marcas alternativas e só conheci a Hell Bunny e Spin Doctor quando pisei no prédio da PopSoda. Nem sabia que era uma marca grande quando me chamaram pro casting. Aí chegando lá, vendo aquela quantidade ridiculamente grande de vestidos, eu percebi que eles eram bem maiores do que eu pensava.

Campanha Outono/Inverno 2013 da Spin Doctor. Abaixo, coleção Inverno 2014 da mesma marca.
Fotos: Terry Mendoza

Como foi trabalhar com a Popsoda e agora com a Spirit Models? Qual sua posição sobre o profissionalismo das empresas desse ramo (alternativo)?
Trabalhar com a PopSoda é muito legal. O pessoal é muito apaixonado pelo que faz e muito gente boa. Eu até saio de vez em quando com as designers! Já a Spirit Models infelizmente fechou as portas pouco depois de eu entrar. Eles me indicaram para o trabalho no London Edge, que foi o meu trabalho mais bem pago até hoje. Essas duas empresas especificamente eram extremamente profissionais, mas não tenho uma vasta experiência então não sei dizer se as empresas do ramo, no geral, são igualmente profissionais.

O mercado alternativo inglês já oferece uma boa estrutura, com semana de moda, revistas e marcas especializadas. O que acha que esse nicho no Brasil precisa aprender para chegar ao mesmo nível? 
No Brasil é complicado porque no fim do dia não temos tantas pessoas alternativas como lá. É um mercado em crescimento no Brasil, mas o Reino Unido inventou a cena alternativa, portanto ela é maior. Dito isso eu não sou familiarizada o suficiente com o mercado alternativo nacional pra ter uma opinião mais profunda sobre o assunto. Até lá, no Reino Unido, eu só conheço as marcas com uma pegada mais pin-up porque essa é mais a minha praia (tanto que resolvi abrir uma loja no Brasil com o tema, a The Pin-up Store).

Posando para sua multimarca, The Pin-Up Store:
 Fotos: Juliana Medaglia

Além das opções de tamanhos, a moda inglesa alternativa é também acessível no valor?
Roupas em geral são bem mais baratas no Reino Unido. O Brasil tem taxas altíssimas, o que acaba por elevar os preços. Em comparação com roupas normais, a roupa alternativa é mais cara mesmo lá, por eles não venderem na mesma quantidade que a moda normal, eles atendem a um nicho. Por exemplo, uma vestido na Primark nunca passa de 15 libras. Uma marca mais legal, como a Dorothy Perkins, cobra entre 25 e 35. Um vestido da Hell Bunny custa em torno de 50.

Você acredita que na Inglaterra pode-se seguir numa carreira de modelo alternativa e se sustentar sozinha?

Isso é muito raro, eu nunca cheguei a testemunhar. Todas as modelos que conheço, inclusive as magras, e inclusive as que fazem trabalhos de moda não alternativa, têm um emprego diferente durante o dia ou também atuam como dançarinas, atrizes e musicistas. Acabei conhecendo várias modelos incríveis no meio e a única que não tem um emprego comum durante o dia é a Betsy Rose, porque ela é também atriz e dançarina burlesca. Mas ela tem cabelo preto e nenhuma tatuagem também. As pessoas glamourizam muito o Reino Unido, acham que é a terra das oportunidades, mas não é bem assim. É um mar de gente talentosa, gente demais pra nem tanta oferta de trabalho assim.

Na campanha 2013 da Hell Bunny:
Fotos: Terry Mendoza

Sobre mercado alternativo mainstream, marcas como Vivienne Westwood e Alexander McQueen, revistas do tipo Dazed and Confused e Love, já teve algum contato mesmo que não seja por trabalho?
Não muito, com a Vivienne Westwood sim por causa da Melissa no Brasil. Tenho vários modelos de Melissa assinados por ela.

Já teve alguma barreira, preconceito que tenha observado ou sentido? Observou alguma panelinha?
Não sou inserida no meio o suficiente pra dizer. Eu nunca presenciei. Talvez se eu tivesse um QI eu tivesse mais trabalhos, mas a verdade é que não tenho muitos.

Bastidores das campanhas:

Para finalizar, pode passar suas impressões de como é morar em Londres?
Em termos de liberdade pra se vestir, é ótimo, porque ninguém se importa com o que você está vestindo. Mesmo. Eles não estão nem aí. Mas morar em Londres é muito difícil. No momento ela é considerada a cidade mais cara de se viver no mundo. A gente acaba tendo que viver em quarto, em casas com outras 6, 7 pessoas (já ouvi de gente que mora com 12...). Alugar um apê só pra gente é lenda. Ninguém faz isso. As leis trabalhistas são piores que as brasileiras. Me senti muito explorada na maior parte dos empregos que tive, e é o tipo de coisa que não melhora porque sempre tem alguém desesperado pra pegar a tua vaga e trabalhar nas condições que tu tá trabalhando. No fim do dia, o que a gente menos se importa é se estão olhando pras nossas roupas ou não. A concorrência no mercado de trabalho, especialmente o criativo, é insana, as pessoas com talento todas vêm pra cá. Mas é legal como experiência, acho que todo mundo que pode vir deveria viver uns 6 meses em Londres, até pra mudar suas perspectivas.


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* A marca Hell Bunny tem escritório no Reino Unido e ficou famosa por criar estampas fofas e kitschs em roupas de modelagem clássica e retrô. Mas a marca também tem uma linha com referências alternativas num geral, em mini vestidos, saias ou conjuntos de top e bottom combinando, também com as já características estampas irreverentes. Abaixo, imagens do mais recente catálogo da marca (Autumn-Winter 2014/15), que entre as modelos, está Litha Bacchi. Clique pra aumentar a imagem.

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11 comentários:

  1. Muito legal, eu não a conhecia, mas adoro as roupas da HellBunny. Parabéns pela entrevista, ficou muito boa e muito bem encaminhada.

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  2. Encantada *.*
    E bacana saber esses detalhes sobre a dureza de viver na terra da rainha, afinal todos que conheço que já foram lá só curtiram férias e não sabem como é a realidade :O hahahaha!

    Hell

    www.faroestemanolo.com.br

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    Respostas
    1. Que bom que gostou Hell! =D
      Pois é, ser turista é beeem diferente de morar num local, né??
      Bjs

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  3. Essa mulher é um pedaço de mau caminho! hehehehe
    Linda demais!
    Conheci ela pelo blog da Tamy (o De Repente Tamy) e já admirava as dicas super legais, o cabelo e as tattoos!
    Matéria excelente!

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  4. Puxa, eu acompanho a Litha desde a epoca em que ela escrevia o blog Manual da Gordinha! Muito boa a matéria, e a retórica ela é exemplar pois desmistifica aquele glamour de se morar em Londres... Parabéns.

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    Respostas
    1. Oi Katyanne! Puxa que legal que conhece ela desde O Manual, bastante coisa mudou de lá pra cá né? Ela recebia muitas críticas por ser plus e ousar sair do comum, maaas o mundo dá voltas né? rsrs! Hoje ela tá aí lindona modelando no exterior :D
      Obrigada!!
      Bjss

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