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1 de dezembro de 2014

O Preconceito com as Estéticas Alternativas


 "As pessoas vão te encarar - faça valer a pena!

O preconceito estético de "pessoas normais" para com quem tem um visual diferente costuma ser diário.
Como eu lido com isso? 

Não tô nem aí!


"Não se preocupe com o que os outros pensam de você"

Mas sim, eu já me importei quando era novinha. Até que um belo dia me dei conta de que é impossível querer se vestir diferente, sair na rua e ninguém reparar. 
O conceito do que é "visualmente adequado" é uma convenção social. Se você sai do padrão, com certeza será julgado de alguma forma.

Penso que o Brasil é bastante conservador em temos de moda e estilo apesar de existirem grupos de pessoas com ideias e projetos avançados aqui e ali. Pessoas conservadoras querem tudo do jeito que elas consideram correto e respeitável. E eu sou o contrário: uma pessoa de mente muito aberta para o diferente e incomum,
sou a favor da livre expressão estética! O que seria "se vestir de forma respeitável" numa sociedade em que os maiores ladrões usam terno e gravata?
Mas aí você me diz que nunca viu tanta gente alternativa pela rua, tantos cabelos coloridos... mas isso não significa que os outros estejam aceitando mais. Podem tolerar, aceitar ou compreender é diferente.

Nos meus anos de estética alternativa, não enfrentei violência física, mas olhares diários com assédios e violências verbais ocasionais.

Quando minha personalidade "diferente" começou a se revelar, eu não percebia que eu era "diferente", pra mim, eu era absolutamente normal! Talvez eu fosse muito nova pra entender as nuances de personalidade e simbolismos estéticos... Eram os outros que enxergavam o incomum e que me enquadravam. Mas um dia percebi que aquilo era preconceito e intolerância, e me senti muito mal, a autoestima foi lá embaixo! Depois, entendi que existiam pessoas de mente fechada e decidi chutar o balde. Na época, construí um muro pra me defender e achava as pessoas normais repugnantes! Às vezes, quando jovens e com personalidade em formação, a gente precisa da fuga pra sobreviver.

Pouco depois, com mais autoestima, quebrei o muro e passei a encarar o preconceito de frente. Não vejo mais as pessoas normais como "repugnantes" e sim, com direito à escolha de serem como elas são: diferentes de mim. Eu as respeito, mas não significa que eu concorde com elas! Hoje, eu digo que tenho uma espécie de alma punk: eu aperto o ‘foda-se’ e sigo em frente.



"Eu não dou a mínima pro que os outros pensam de mim", Brody Dale

Desde que assumi a estética alternativa full-time, não me lembro de um dia na minha vida ter ligado pro que pensavam sobre mim. Por incrível que pareça, eu me importava mais com o julgamento alheio quando eu me vestia mais normal. Talvez porque minha esquisitice não batesse de jeito nenhum com a normalidade tornando-me uma pessoa "realmente estranha"...



"A pior coisa de ser gótica não são os olhares, os julgamentos ou as coisas maldosas que as pessoas dizem, é ter um guarda roupas todo preto e um gato branco peludo"

Houve um tempo que eu estourava mesmo meu visual, hoje, mais velha, estou bem mais contida. Não porque encaretei, continuo bem fora do padrão, mas por causa da praticidade necessária para realizar as tarefas da vida adulta. É complicado ir no supermercado cheia de spikes - então os deixo pros momentos de lazer.

Acho que atualmente muitos não assumem seus visuais por medo de não serem aceitos. Medo de rejeição.
Ninguém quer sofrer preconceito, ser hostilizado... ninguém quer sofrer a dor de ser o que se é.
Sabe aquela coisa de querer ter o visual mas não querer arcar com as consequências?


Mas e o emprego?
Todas as vezes que tentei me encaixar, algo deu errado. Incluindo na hora de procurar emprego.
Uns anos atrás, parte de se assumir alternativo era ser autônomo ou trabalhar no meio alternativo ou underground e desejar pra sua vida a grande liberdade de ser quem se é.

Agora, a amenização se torna necessária para os que almejam um bom cargo  numa empresa.

Com o aumento da classe média brasileira, muitos alternativos vem dessa classe social e cá entre nós: quem quer perder seus privilégios??
Você tá aí, na sua casa com TV a cabo, acesso à internet, celular da moda, podendo comprar roupas legais de grifes e de lojas alternativas e vai querer cair de classe social ou no máximo se manter na mesma classe a vida inteira por fazer questão de manter sua estética alternativa tão rejeitada pelo outros?
E se o alternativo vem de uma classe baixa, você acha que ele não vai querer ter a chance de melhorar a vida?
Reflita sobre isso. Como ser parte de dois mundos opostos?




Legenda: "Às vezes não sei o que fazer comigo mesma" 
Ilustração de Anna Grrl

 
Escolhas...

Talvez eu tenha perdido coisas na minha vida por insistir em manter minha estética mais alternativa. Poderia estar num lugar "superior" se eu me amenizasse, me adequasse... Será???
Ou será que sendo normal, eu estaria no mesmo nível de hoje, mesmo eu sendo "adequada"?
Não há nada que nos comprove que nossa vida seria diferente se fôssemos diferentes.

O fato é que todas as vezes que eu me anulei demais por causa de um emprego, me senti uma impostora. Me senti falsa, “mentindo” pros outros sobre meu verdadeiro eu, me senti muito angustiada.

Ah, mas você mesma fala desde o começo deste blog que as pessoas normais também têm as roupas de trabalho e de lazer, por que os alternativos não teriam?
Sim, é verdade! Falo direto disso! Se você é um "alternativo-amenizado" você precisa ter 2 guarda roupas.
Mas creio que a diferença principal entre os alternativos e as pessoas normais é que estas não sentem angústia de disfarçar quem são nos empregos, pois pra eles são apenas 2 guarda roupas diferentes (moda) e pra nós, são 2 mundos diferentes (estilo de vida)!

Eu mesma tenho minhas roupas de trabalho (mais caretinhas) e as de lazer. Só que as minhas roupas de trabalho ainda são consideradas “diferentes” entre os colegas. Considero isso um elogio!

Os cabelos também tem uma importância incrível no visual! Eu fui ruiva (alaranjada) por muito tempo por puro amor à cor. Mas de repente descobriram que ser ruiva laranja era ser um “diferente aceitável” e eu odiei esse novo conceito! Embora pelo que observo, ele esteja correto. Daí pintei o cabelo de rosa. Desde então passaram a me olhar muuuuito, muuuuito mais do que o habitual. E o assédio verbal aumentou! Não tem como esconder sua alternatividade com um cabelo em cor fantasia. Não existe mais um "acobreado" pra me servir de muleta.

O outro lado
Bom, eu sou empática apesar de tudo. E nestes anos todos, percebi que as pessoas às vezes te olham não porque te julgam negativamente, mas porque acham curioso, diferente (nem sempre pela visão ruim), interessante e até corajoso. Como todo preconceito, só acaba com conhecimento, compreensão e respeito pelo próximo.

Finalizo dizendo que se você for "normal", vai sofrer preconceito visual do mesmo jeito. 

A diferença é que nem sempre vão apontar na sua cara ou te xingar, mas te julgarão igualmente de forma feroz. Seja pela sua roupa, seu corpo, suas posses... No fim, todos nós temos alguma diferença.

Percebem como nunca estamos adequados?

Então, porque não aproveitar e se libertar dos padrões exigidos socialmente?


"As pessoas deveriam realmente parar de esperar o normal de mim. 
Todos sabemos que isso não vai acontecer!"
 


Tem muito mais sobre preconceito e 
autoestima aqui no blog essa semana!
Fiquem ligados e deem suas opiniões, contem suas experiências!
Sana

Comentários via Facebook

8 comentários:

  1. Adorei o texto (conta uma novidade) ! Confesso que lendo o texto,parei para pensar quando foi a fase da vida na qual dei mais importância para a opinião dos outros, e foi a fase onde decidi qual faculdade ia cursar e acabei meio que surtando,depois pensei "o que estou fazendo comigo mesma?"-sempre fui adaptável aos ambientes de trabalho e dentro deles nunca liguei em ceder,afinal como o texto diz devemos alcançar nosso lugar ao sol na profissão.Admito que como autônoma tenho mais liberdade,mas a escolha em ter tal profissão foi porque trabalhando para alguém,eu estava excedendo meus limites e acabei por acabar com a minha saúde,mas ainda conheço muita gente que tem um trabalho +/-,reclama mas não abre mão do visual só um pouquinho em prol de si mesmo ou até mesmo a família,por medo de achar que a galera do "rolê" vai excluí-lo e/ou o mesmo vai deixar de ser quem é.E realmente depois que passei de uma certa idade,ando mais comedida por causa da praticidade,mas por incrível que pareça por ter essa versatilidade em moldar meu visual mais do que quando eu era adolescente,me sinto mais segura e pouco me importando com olhares e comentários que desaprovam minha forma de vestir.Acho que se eu tivesse sofrido violência física,teria doído bem menos do que as agressões verbais gratuitas que ouvi durante a vida.

    Depois do surto que tive,vi que eu poderia ter um guarda-roupas adaptável sem soar careta,pois nessa época eu tinha conseguido um emprego melhor, e poderia me desfazer daquela faceta adolescente.E sou da mesma ideia que você,por mais "normais" que estejamos,vamos sofrer algum tipo de preconceito que vai muito além da estética.Depois que parei de ficar encanada com o julgamento alheio,presto mais atenção em quem admira o diferente mesmo não fazendo parte desse mundo,semana passada mesmo uma mãe juntamente com a filha dela me abordaram na Marisa para me elogiar!

    Falo que me mudar para uma cidade maior me fez liberar as amarras,lá em Curitiba ouvi muito mais grosserias do que aqui,mas ver tanta gente usando o que quer lá sendo alternativo e trabalhando em lojas normais,empresas e escritórios me fez criar uma paz com quem eu sou e não me achar errada por causa disso.

    PS:Eu te desenhei,mas ainda não tomei coragem nessa vida pra publicar o desenho >.<

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    1. Marcela, eu adoro seus comentários não apenas porque conta sua experiência como porque complementa a postagem!

      Acho legal que depois de uma idade a gente consiga ser mais versátil ou se livrar de facetas mais adolescentes, faz parte da nossa evolução! Mas se essas facetas (mais teens) fazem parte da personalidade de alguém, a gente não pode podar né? Deixa eles!
      Mas assim... ao mesmo tempo percebo que é um perigo estagnar! Sabe aquela coisa de pensar que está mais velha e não pode usar x coisa mesmo ficando bem em você?
      Eu sinceramente adoro quando pessoas estranhas me elogiam, mães ou vovós costuma ocorrer em supermercados por causa daquela espera da fila kkkkkk

      Como assiiimmmm vc me desenhou? Ninguém nunca me desenhou! (tirando minha mãe, mas ela não conta né? kkk) Ai quero ver!!! :D

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  2. Nossa Sana,me vi em muitas situações neste post.Quando sou obrigada a amenizar o visu,realmente me sinto incomodada,frustrada,revoltada,em fingir ser o que não sou...no meu antigo emprego eu ia simples de jeans camiseta preta de banda,um cordão no pescoço e o meu inseparável allstar, e mesmo assim era alvo de olhares reprovadores no ônibus,com certeza era devido as estampas da camiseta ou ao pingente do cordão,pois,curto metal extremo,onde as imagens de algumas camisetas de determinada banda costumam ser "agressivas"então as pessoas ficavam olhando,rs........mas quando chegava no trabalho eu vestia o uniforme e me tornava "aceitável"....Infelizmente na sociedade em que estamos inseridos,de pessoas conservadoras e principalmente aqui onde moro,religiosos fundamentalistas,a vida se torna uma batalha que se vence a cada anoitecer......










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    1. Sara, deve ser porque jeans, camiseta, tênis é um visual com conceito juvenil e as pessoas associam juventude com imaturidade, isso é preconceito também!
      É absurdo, não deveria ser assim, te julgam se você é velha, te julgam se você é jovem e daí julgam seu estilo.
      Religiosos mais conservadores eu nem comento eles tem se proliferado numa velocidade impressionante, é triste que as pessoas se prendam à pensamentos ultrapassados! :(
      Bjs!

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  3. É engraçado, pois adolescente eu era totalmente dentro dos padroões. Minto, inventava nos cabelos, mas nada excepcional. Hoje é que as pessoas me vêm como "alternativa", por causa dos cabelos coloridos, tatuagens, alargador e quando usava piercings. Mas como fui muito certinha, estudiosa, trabalhadora, nunca fui questionada diretamente. Minha vó adora quando pinto os cabelos de azul, as amigas dela da igreja todas me conhecem desde criança e, com isso, acho que ajudei de alguma forma a diminuir o preconceito desse grupo de senhores e senhoras em relação a um visual "um pouco diferente". Depois daquela novela que a Globo passou com a menina de cabelos rosas, principalmente, notei uma maior receptividade em relação a quem é mais alternativo, independente do grupo social e estético. E sou do Rio de Janeiro, cidade cheia de preconceitos nesse quesito! Por fim acho que a sociedade está evoluindo (Aleluia!) e com o tempo as coisas vão melhorar. Só espero que seja rápido, porque tô desempregada e não quero continuar assim só porque tenho sidecut e cabelo rosa HAHAHA
    Beijinho, adorei o post!
    www.dicasdamag.com.br

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    1. Que interessante Mag! As pessoas conhecem seu caráter e por isso mesmo não importa o que você escolheu como estética!!
      Pôxa tem que mudar mesmo! Tô querendo mudar de emprego mas queria manter meu cabelo rosa! É uma luta que não podemos desistir!!
      Bjs!!

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  4. Se eu me identificar mais, viro uma de você! Me arrepiei toda quando você fala da diferença dos "normais" e nós... porque sim, eu me sinto muito angustiada e mentindo para mim mesma e para os outros quando uso algo que se encaixe mais no padrão deles. É complicado, o preconceito existe, mas não adianta... prefiro ser fiel à quem eu sou! Ótimo texto, parabéns :)

    www.escolhasalternativas.com.br

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  5. M-O-R-R-I-D-A! Impossível não me identificar com o que você escreveu... Tenho 15 anos, sigo a estética rockabilly e tento não ligar mto para o que falam de mim rs... Muita gente me encara na rua e outros me acham parecida com uma "boneca de porcelana"... Na escola, acho que onde mais sofri preconceito... Enfim, devemos fazer os olhares valerem a pena, como você disse :)... XOXO Bettie Kelly

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