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5 de outubro de 2015

A falta de diversidade de modelos alternativas


Li este artigo um tempo atrás e achei que deveria ser traduzido, é um depoimento escrito por Janine James para o site Ravishly sobre a falta de diversidade de modelos alternativas. Tem tudo a ver com um post recente nosso e é a visão de uma modelo alternativa negra (falamos sobre a ausência de representatividade negra na mídia alternativa).  
O tema já tinha sido observado por mim - modelos alternativas de maior destaque na cena tem beleza padronizada, como as do mainstream - mas é bom quando vemos que esse questionamento também rola no exterior. Quem tem vivência e conhecimento de causa tá mais do que certo em expor seu ponto de vista.
Para ler o artigo original é só clicar aqui

"A comunidade de modelos alternativas pode ser descrita pelos adjetivos: "edgy", vibrante, limítrofe, excêntrica, fantástica, e sempre, sempre não convencional. No entanto, há uma palavra que você não vai ver descrevendo-a: diversa.

Janine James

O que é uma "modelo alternativa", você pergunta? Enquanto as modelos tradicionais têm uma tendência a ser imponentes telas em branco, as modelos alternativas, ou "alt models", têm muito mais auto-expressão: elas geralmente já têm um certo look próprio, como os estilos pinup, látex, gótico ou estilo burlesco. São muitas vezes tatuadas, visivelmente perfurados ou tem cabelos tingidos de uma, duas ou cinco cores ultrajantes. Ter uma aparência incomum é às vezes desaprovado no mundo das modelos, mas é celebrado na comunidade de modelos alternativas.

Estive envolvida com "modelagem" alternativa um pouco mais de quatro anos. Inicialmente comecei a modelar para ajudar alguns amigos fotógrafos com projetos criativos, mas eu sempre fui atraída por estilos e tendências que são um pouco fora da norma. Sou tatuada, normalmente uso o estilo dos anos 1950, e coleciono sapatos extravagantes que de perto se assemelham mais a obras de arte do que de calçados práticos. Tenho um arsenal de sites para compras on-line para saciar minhas necessidades de moda alternativa. Mas mesmo que eu ame o trabalho, descobri que o mundo da moda alt não está isenta de problemas que afligem a indústria da moda em geral - ou seja, o racismo subjacente e o fat-shaming.

Acho ser modelo um meio artístico intrigante, e desde os meus primeiros dias como uma, tenho trabalhado com alguns fotógrafos bastante impressionantes. No entanto, houve algumas ocasiões em que estendi a mão para os fotógrafos cujo trabalho admiro na esperança de colaborar, apenas para receber nenhuma resposta deles. A coisa educada a fazer como fotógrafo profissional seria passar seus valores ou dizer que você está sobrecarregado. Mas não simplesmente não dizer nada. Eu entendo se você não gosta de minha aparência, e eu entendo que se conformar com alguns estilos ou ter "musas" é comum no mundo da fotografia, mas como você espera ter êxito num negócio quando só foca num tipo de mulher?

Isto não é limitado à fotógrafos independentes. Existem inúmeras empresas de vestuário alternativo que só parecem trabalhar com tamanho 36 e modelos brancas. Claro, elas são tatuadas, tem estilo e cores de cabelo não convencionais, mas ainda é uma gama limitada de beleza. Se você tem uma empresa de roupas que oferece tamanhos P à XL+, por que não contratar uma modelo que reflete a extremidade superior dessa faixa?

Pode-se argumentar que com a diversidade sendo um tópico no mundo da moda como um todo, as empresas e os fotógrafos não tem um conjunto diversificado para escolher. No entanto, muitas marcas de roupa vão atrás de modelos de outras cidades e Estados. Muitos fotógrafos profissionais alternativos viajam com frequência para colaborar com modelos, sem mencionar o fato de que com esta pequena coisa chamada Internet, há muitas maneiras de encontrar novos talentos desde em comunidades on-line alternativas aos canais de mídia social como o Instagram. É por isso que não faz sentido para mim. Não há nenhuma desculpa para o mundo das modelos alts permanecer tão fino e tão branco.

Claro que, quando todas suas modelos são finas e claras, não é uma surpresa que a apropriação cultural também entre no caminho do mundo alt, como aconteceu na indústria da moda mainstream. Uma conhecida empresa alternativa de cosméticos teve a audácia de fazer uma campanha publicitária alguns anos atrás com uma modelo branca no vestuário tradicional chinês, com a frase "China Doll". Eu mesma ouvi falar de empresas pagando modelo brancas para fazer tranças (ambas as empresas estão nas grandes áreas metropolitanas da Califórnia, onde eles não teriam tido nenhum problema de encontrar modelos de diferentes origens étnicas). Não só isto é ofensivo, parece ser um aborrecimento total. Porque não contratar um modelo que já tem os atributos que você está procurando, em vez de alguém que veste um estereótipo?

Eu espero que isso sirva como uma chamada para acordar. É hora de abordar a  questão que assola o mundo da moda e beleza por décadas, e para lembrar as pessoas que, embora o mundo da "modelagem" alternativa se orgulha de aceitar as diferenças, esses problemas existem lá também. A comunidade alternativa é sempre conhecida por empurrar as fronteiras - vamos dar o exemplo para o resto da indústria da moda. Talvez um dia será uma verdadeira alternativa para a indústria de modelos e um reflexo do que as mulheres no mundo real se parecem."

Achamos super pertinentes os questionamentos levantados por Janine James. As subculturas são diversas assim como seus seguidores e admiradores. Se a cena alternativa é "alternativa" ao mainstream, porque estamos reproduzindo seus padrões de beleza e comportamento?

Você é modelo alternativa e tem algum depoimento? Aproveite os comentários pra dar sua opinião!
E para as meninas que são ou querem se tornar modelos alternativas vamos continuar abordando esse assunto nas próximas semanas aqui no blog. ;)



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Comentários via Facebook

16 comentários:

  1. (É meio difícil fazer isso do celular,mas vamos lá!)
    Olá!
    Já fui chamada para ensaios e até participei de poucos clicados por outras pessoas,mas além dessa falta de diversidade (já que prezo por esta, e adoro capturar isso),há um receio por parte das garotas de outras etnias e até mesmo dos profissionais que clicam.Eu parei de frequentar as festas góticas fazem uns anos,a montanha de discriminação velada é grande, e me dava um certo incomodo ver as poucas garotas negras que frequentavam a cena,tentando se encaixar em um padrão estético que não é o delas.Me incomodava o fato também de presenciar certa discriminação no que diz respeito a outros estilos, e até mesmo uma certa elitização do grupo.Cansei de ver em ensaios coletivos garotas brancas com seus cabelos ruivos,com tantas outras meninas diferentes tão interessantes quanto estas...meninas com vários tamanhos e formas inclusive.

    Já vi meninas deixarem de frequentar a cena por conta da discriminação, que não se sentem seguras de si por conta dessa exclusão desnecessária,que vai do biotipo até a roupa que a pessoa usa.Hoje em dia vejo mais garotas negras na cena,mas antigamente (acredite) eu era a única muitas vezes.Ainda me deixa triste ver pessoas sendo excluídas de certos grupos,por não se encaixarem no padrão imposto...e eu me incluo nisso,pois fui excluída,ser excluído por fatores tão descartáveis como uma roupa e essa uniformização toda me deixa triste.Afinal se fazemos parte de um mundo Alternativo,porque somos excluídos por não aderir a certos clichês e não se encaixar em padrões fabricados?É algo contraditório.

    Gosto do movimento gótico/darkwave?Claro,pois estas vertentes construíram a minha personalidade através dos anos, mas não dá pra se sujeitar a ir num local com as roupas que fogem do padrão ''clichê'', e ser medida de cima abaixo por não estar uniformizada e muito menos fazer parte da estética.Sinto falta de modelar?Sim,mas não tem como fazer isso,se de fato não sou aceita como sou.E acredito que como eu,há várias outras garotas que sentem a mesma insatisfação!

    Ótimo texto !



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    1. Oi Marcela! Gostei do seu depoimento. E aqui no Br a gente tem um caso super peculiar que é nossa miscigenação né? Ok que nossas referências vem de fora, mas é meio absurdo os próprios brasileiros se discriminarem entre si por cor de pele. E as vestimentas passam mensagens, é meio complicado quando essa comunicação não verbal provoca desentendimentos. Quando puder, volte a modelar e/ou fotografar! E se fizer algum ensaio mostra pra gente ;)

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  2. Por incrivel que pareça a cena alt no Brasil parece mais um clubinho elitista branco para reacinhas. :(

    Mikaela Silva

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  3. Poxa.. eu concordo plenamente com esse texto.
    E olha que eu não sou negra, e mesmo assim vejo como mesmo nesse cenário alternativo existe um padrão ainda altamente e subjetivamente imposto. Imagino para as moças negras como deve ser ainda mais difícil.
    E engraçado que eu tenho pensado de mais nessa questão ultimamente. Sempre que vejo essas páginas de revistas e lojas alternativas, as modelos são sempre iguais: super magras, brancas e a maioria das vezes bem tatuadas.
    Por que não basta você ser alternativo. Não basta você ter algumas tatuagens. Não basta você não ser gorda. Aliás, se você for plus size tipo EXG, ainda tem algum espaço, pequeno, mas tem, porque agora estão começando a investir nesse meio de tanto as pessoas pedirem e reclamarem. Mas se você não for nem magra de mais, nem plus size de mais, você também não serve.
    Principalmente no Brasil. Não posso nem dizer que no Brasil existe de fato um mercado de modelo alternativa de verdade, porque as lojas daqui não investem muito nisso. Elas preferem chamar as amigas pra ganhar umas fotos de graça. E, quando chamam as amigas, são sempre aquele mesmo padrão de pessoa magra, cabelo bem comprido (a maioria das vezes) e bem branquinha. Algumas vezes bem tatuadas também.
    Sei lá, é tanta coisa que tem me incomodado e me chateado nesse meio que tenho pensado seriamente em desistir de tudo. Chega uma hora que a gente cansa. E mesmo com uma tristeza enorme no coração por gostar de fazer aquilo, a gente acaba desistindo.
    Enfim.. é só o que vejo por aí desde que comecei a me interessar pelo meio em 2011 e fazer alguns ensaios.
    bjin

    http://monevenzel.blogspot.com.br/

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    1. A questão das modelos é importantíssima porque elas refletem o que uma loja/fotógrafo quer passar, e hoje as meninas estão cobrando mais representatividade. Acabou se criando um certo tipo de estereótipo do que uma modelo alt deve ser, como você bem exemplificou e as pessoas que não são magras nem gordas e nem tem tatuagem ficam meio que num limbo.

      Bom, eu acho que o mercado de modelos alts no Brasil é muito pequeno, pouquíssimas tem trabalhos publicados (que é o que as faz profissinais). Mas é um reflexo da falta de mídia que temos nesta cena e do não enxergarem essas meninas como profissionais, afinal, não dá pra trabalhar de graça sempre.

      Mas não sei se compensa você desistir porque uma das características/vantagens de ser modelo alternativa é criar seus próprios editoriais, uma liberdade que as modelos tradicionais não tem ;)
      Bjs

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  4. Outra coisa triste é ver que isso infelizmente não se resume apenas à publicidade. Me dói um pouco ver garotas aparecendo em grupos, vídeos do YouTube, blogs, asks e outros dizendo: "Eu sou negra/morena/gorda, posso ser (insira qualquer estilo alternativo aqui)?" ou lamentando que gostariam de fazer parte de determinado grupo, mas acreditam que não se encaixam no que é "esperado" dele.

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    1. Anônimo, triste ver que essas meninas fazem esse tipo de pergunta, pois indica que elas estão com falta de referências de pessoas semelhantes ao que elas são. É chato ver como o meio alternativo "se perdeu", afinal a cena alternativa era mais aberta a abraçar pessoas que não se encaixavam em padrões...

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  5. Caramba tava refletindo sobre algo parecido só que em relação ao Suicide Girls: tenho a impressão que as garotas agora são idênticas (e nem to falando em relação a tatuagem ou cabelos coloridos) mas corpos perfeitos, magros, etc. Lembro de ver algumas meninas lindas com corpos normais (mais baixas, com barriga "positiva" rs, seios pequenos, grandes, etc.) e achar o máximo. Sana porque será que ando tendo essa impressão? Você também percebeu algo parecido quanto ao Suicide? Ótimo post como sempre. Bjs

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    1. É verdade Amanda, eu já notei isso das Suicide, particularmente antes eu as achava bem mais diversas e muitas meninas não tinham nem o corpo nem o rosto "padrões mainstream". É como se a rebeldia (ousar ser diferente), contestação de regras tivessem dado lugar à imitação e aceitação da estética da cultura dominante. Como se nosso olhar agora ache belo o que é padrão. Outra questão que também é a do machismo e da objetificação feminina, que parece ter se adentrado com força nesse meio. Já vi outras meninas comentando que também notaram isso, então tem algo acontecendo que temos que ficar de olho.
      Bjs!

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  6. Estava lendo sobre normose, e pensei como acontece isso no meio das modelos.
    O que é o normal e desejável? É perigoso como temos modelos alternativas - o que já é uma vitória - mas dentre elas pouca diversidade.
    No entanto, prefiro ver como um sinal do avanço dos tempos termos esta discussão e termos modelos alternativas. Quem sabe logo veremos mais corpos diferentes? É questão de tempo, creio eu.
    Mas não podemos recuar na discussão. Manter ativa é fundamental.

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    1. Tenho a impressão que há uns 7 anos atrás tinha um pouco mais de diversidade e que de uns anos pra cá "padronizou"... tomara mesmo que surjam discussões e que a diversidade apareça de fato na cena. Claro que existem exceções especialmente no underground, mas como as modelos "tops" alternativas influenciam muito a cena, tem que ficar de olho. ;)

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  7. Nuss, q post maravilhoso!
    N sou modelo, mas é evidente essa padronizaçao das modelos alterrnativas e msm das meninas famosas no meio. Quando mais nova isso me incomodava demais. Imagina pra quem ta no meio termo? Sem duvida existe essa uniformizaçao das aparencias alternativas e claro, sempre relacionado as mulheres. É uma luta constante, uma dia de cada vez na aceitaçao da propria aparencia. E o q deveria ser referencia, acaba destruiindo mais ainda.

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    1. Então, é uma faca de dois gumes, elas são lindas e maravilhosas mas sem dúvida influenciam as meninas mais novas e os fotógrafos também precisam ajudar né? Tomara que as mentes se abram para o assunto!

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  8. Sana, é como eu já falei, fico p da vida com essas coisas, inclusive fiz até um post sobre o assunto que, inclusive, cheguei a citar as suicide girls, que aquilo virou um padrãozinho patetico de modelos iguais tatuadas. Bonitas elas são, sem dúvidas, mas existem negras, asiáticas, gordas, enfim, mulheres também, que assim como elas, aderem a um estilo alternativo e são além de tudo tao bonitas e talentosas quanto as brancas e magras.

    Fico tao triste em ver um catálogo de modelagem Alt e me deparar apenas com brancas. Ta igual revista da Vogue, que a cada 50 mulheres brancas há uma negra, e ainda olhe lá, tem revista que nem existe.

    Mas só sei de uma coisa: não e de hoje que estou inserida no mundo alternativo e também não será agora que sairei por causa de ignorantes. Pra gente estupida: uma pausa para o meu sincero foda-se. ~continua a vida~ Mas se bem que ultimamente ando me afastando bastante, porque é muito mimimi pra mim, prefiro ser eu mesma sozinha a estar com um monte de cagadores de regra que ficam dizendo o que eu devo ou não fazer. Sou feliz assim.

    Adoro seus posts e seu blog, você sabe né .... Kkkk

    Beijos

    Madessy.com

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    1. Madaha, li esse post seu quando publicou. Ele vai servir pra outro que estou pensando aqui rsrs!
      O Suicide já foi mais diverso do que é hoje... quanto à representatividade da diversidade nas lojas e mídia, isso a gente tá muito atrasada, e phoda é que somos país miscigenado né? Não deveria ser assim, essa imitação do padrão de beleza "europeu", a negação da nossa estética...
      Ah, com certeza, ignorantes a gente ignora rsrs! Vamos vivendo nossa vida e aproveitando o lado bom do mundo alternativo ;D
      Bjs e obrigada! ♥


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