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2 de março de 2016

Jenny Beavan e a pressão social de estar sempre "adequada"

Mal acabou o Oscar e começaram a pipocar centenas de matérias no Brasil e no exterior sobre a figurinista Jenny Beavan, que levou o prêmio de melhor figurino por Mad Max: Estrada da Fúria. O motivo da polêmica teria sido a roupa que a britânica escolheu para usar na premiação, da qual fugia ao dress code ocasionando reações negativas dos que estavam presentes e depois, na mídia.


Apesar da "surpresa" por darem ênfase a um assunto tão bobo, a verdade é que o tema recorre tanto fora, quanto dentro da moda. E por que isso acontece? Porque Moda ainda é colocada com uma área só de aparências, de trabalho fútil e consumista. Nem todos sabem o leque de profissões que o curso abrange e que estão muito longe do glamour de um tapete vermelho. A parte mais pesada e importante que faz a máquina funcionar se encontra nos bastidores. Exatamente onde está Jenny.

Beavan no backstage do filme Casanova, de 2005

Costuma-se pensar que para trabalhar com Moda é necessário ter um visual descolado, usar os últimos modismos ou criar tendências. Esse raciocínio inclusive faz parte de muitos contratantes da área e se for mercado de luxo, pode ser uma exigência. Por sorte nem tudo se resume a aparência, existe o chão da fábrica, o atelier, a arrumação das lojas, o backstage dos desfiles. Aliás, já repararam como os estilistas se vestem? A maioria nem liga se o que usa está na moda ou não, eles estão focados no resultado do trabalho, que a apresentação da coleção ocorra conforme planejada. Os designers possuem seus estilos formados, por isso são completamente desprendidos do que os outros acham sobre o que estão usando.


Alexander McQueen ainda vivo, as irmãs Kate e Laura Mulleavy da Rodarte e Hussein Chalayan com visuais despojados

Karl Lagerfeld da Maison Chanel usa o mesmo estilo de roupa há mais de 30 anos, fazendo pequenas variações de cores e tamanhos

No BAFTA, premiação onde também ganhou por melhor figurino e foi criticada pela roupa, Jenny comentou em entrevista ao Daily Mail: "Quem me conhece sabe que eu realmente nunca fui de festas ou fantasiar-me. Fico absolutamente ridícula em um vestido de gala e nunca uso saltos por causa da minha dor nas costas. Eu simplesmente não uso babados ou lindos vestidos de gala. Eu gosto de fazer isso para outras pessoas. Eu amo vestir os outros e sei como fazê-los ficarem bonitos na tela, mas nunca estive interessada nesse tipo de aparência para mim mesma."


É normal sentir antipatia pelo dress code e dicas de estilo: qual roupa usar em tal formato de corpo, qual cor é melhor para seu tom de pele, e outras mais. A aversão a essas informações se deve porque elas eram transmitidas com imposição e não como uma ferramenta de ajuda nas horas de necessidade. A técnica existe para auxiliar, é uma carta na manga nos momentos de dúvida. Ela deve, ou deveria, ser utilizada como uma escolha e não obrigação. Quem ainda está desenvolvendo o próprio estilo, auxilia bastante nessa descoberta. Só que não é o caso da Jenny, ela já o conhece muito bem.

O que isso tem a ver com subculturas e cultura alternativa? 
Por incrível que pareça, muito! Quantas vezes fomos convidados a ir em festas e eventos e fomos praticamente obrigados a seguir o dress code vestindo uma fantasia do que não somos, nos sentindo
falsas, como que mentindo pra todo mundo? Ou fomos vestidas como nós mesmas e tudo que recebemos foram olhares críticos de inadequação? Com autoconhecimento e autoconfiança, Jenny Beavan tem a atitude de saber quem é, usou a própria roupa, desconstruindo conceitos e homenageando Mad Max, um filme que fala exatamente de mulheres com atitude!

Arte feita com o figurino e atitude da personagem Furiosa

Saber quem se é não é fácil!
Isso vem com o tempo, pois nossa visão de mundo e como fazemos parte dele vai se aprimorando ao longo dos anos. Depois de certa época não nos importamos nem um pouco com julgamentos alheios!
R
edes sociais focadas em fotografia alimentam a vaidade colocando a moda e a aparência num alto patamar de importância. Alimentando até mesmo, vidas e estéticas de mentira. Muitas vezes, a pessoa real é bem mais simples, mas tais fotos nunca são publicadas por medo do julgamento da simplicidade. Exatamente o tipo de julgamento que aconteceu com Jenny Beavan! Nós precisamos nos desprender de certos conceitos de imagem. Se você ainda acredita que "precisamos estar sempre adequadas", questione, descubra de onde vem essas imposições, porquê elas surgiram e porquê se mantém. A indústria, o mercado e algumas pessoas estão presas em moldes que fazem cada vez menos sentido.

Não confunda esta imposição com as subculturas.
Antes que haja confusão, subculturas também têm dress code, mas sua existência ocorre como um
 código de identificação, através dele que é destacado seus semelhantes na multidão. Lembre-se que no início subculturas eram extremamente marginalizadas, quem fazia parte tinha que estar preparado à violência física e verbal. A vestimenta se tornou um símbolo, muitas vezes de resistência, onde pessoas que pactuavam com a mesma ideologia, o mesmo gosto, se encontravam. Portanto, se alguém não estava vestido de acordo, era enxergado como intruso. Hoje em dia, tal conceito passa por modificações devido as novas gerações que carregam outra visão de grupo. Esse comportamento ainda é analisado e só a longo prazo é que teremos respostas para tantas perguntas que envolvem a questão.


Garotas Punks! Elas têm um dress code subcultural
que difere do imposto pela maior parte da sociedade.
 
 

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2 comentários:

  1. Vendo o Oscar imaginei que daria o que falar por aí o visual de Jenny. Pensei justamente em relação aos motivos pelo qual ela se vestiu assim para cerimônia de acordo com o que ela declarou após o BAFTA. Mas, principalmente, pensei "Ela é figurinista, ninguém melhor do que ela própria para dizer como se vestir e ela está ganhando um Funking Oscar!" Acredito que ganhar um Oscar por fazer o melhor figurino queira dizer alguma coisa, não? Povo besta, acho que ainda vai levar muito tempo para mudar esses conceitos. E olha que era o Oscar da Diversidade. Eu conseguia a ver em toda equipe técnica do Mad Max um diferencial na vestimenta e detalhes de cabelo, óculos, mesmo nos homens. Eles mostravam que não eram iguais aos demais. Enfim, hoje em dia a questão de liberdade de estilo está bem mais aceitável, mas tb percebo que estão criando também um novo estilo para ser aceito.E concordo que esta situação tem tudo a ver com a forma com que buscamos para impor nosso estilo em diversos lugares que frequentamos e acabamos sendo julgados, até por familiares, quando não nos "fantasiamos" de maioria. Mas acredito que hoje , pelo menos eu, tenho cada vez pensado em como conseguir imprimir meu estilo em diferentes lugares que frequento, esta está muito mais a minha preocupação do que "como me enquadrar".

    bisou

    http://femmetoilet.com

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  2. Eu acho que tem que se adequar sim, mas se adequar ao que a pessoa é e não ao que é imposto pela sociedade, seja pra um evento específico seja pra ir na padaria comprar pão.
    Cada um sabe de si, ou tá tentando descobrir pelo menos, então que cada um seja feliz se vestindo do jeito que bem entender. Por menos imposições, por menos achismos de que aparência define caráter/capacidade e por mais aceitação!

    p.s.: sempre que vejo fotos das premiações fico vendo as roupas e achando vários vestidos lindos, mas pensando que se fosse eu lá, com certeza não estaria usando um deles. Adorei a atitude da Jenny! Por mais pessoas como ela!

    bjin

    http://monevenzel.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

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