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27 de maio de 2017

O estilo da cantora Siouxsie Sioux

No dia 27 de Maio de 1957, nascia Siouxsie Sioux! Ou melhor, Susan Janet Ballion, em pleno subúrbio inglês, local que influenciaria a formação da artista que conhecemos. "Nascer no subúrbio te faz ser diferente. É claro que eu fui um pouquinho mais", diria a cantora.




Sioux nunca pensou em seguir a carreira musical. São aqueles acasos que dão certo. Na verdade, ela era só mais uma jovem inglesa sem futuro que seria acolhida pelo Punk. Ao se mudar para Londres, integraria ao Bromley Contingent, um grupo de garotos que se reunia para curtir a vida e os Sex Pistols. Na capital, a vida mudaria por completo. A conexão com Malcolm McLaren, empresário de Pistols, a desafiaria a montar uma banda para o festival que Malcolm organizava. Foi sem experiência alguma, que no dia 20 de Setembro de 1976, estrearia no 100 Club o Siouxsie and the Banshees, com Sid Vicious na bateria, Marco Pieroni na guitarra, Steven Severin no baixo e Siouxsie no vocal. Era sua primeira apresentação como cantora em público. O nome da banda veio de um filme do Vincent Price (Cry of the Banshees, 1970) e eles trouxeram elementos de terror nas letras e sons, inspirados também pelo filme Psicose (1961).

Igual ao Punk, a banda completara 40 anos em 2016. Ao ser perguntada anos atrás se o Punk ainda existia, respondeu acreditando que o espírito ainda exista sim. "A atitude punk era maravilhosa, antes de ser distorcida pela mídia", diria.

Em sua época punk e com Steven Severin na loja SEX.

"Eu sempre me senti na contra mão"

"Eu era muito sozinha, na verdade. Os poucos amigos que tinha eram ciganos. Quando tinha oito anos, tentei cometer suicídio para ser notada pelos meus pais. Eu costumava fazer coisas como me jogar escada abaixo para que pensassem que eu caí. (...) Eu realmente, sempre me senti outsider", revelaria em entrevista para NME de 1978.

A infância solitária de Sioux mostra como a música, ou o Rock, foi uma válvula de escape para suas frustrações. Seu pai, um emigrante alcoólatra, faleceria em decorrência da doença ainda quando a cantora era adolescente, colocando sua mãe como provedora da casa e de seus irmãos. A força que ela teve que adquirir para sustentar a família, acabou influenciando Sioux perante a vida, e, consequentemente, a carreira. "Foi a primeira vez que garotas pegavam em instrumentos e não ficavam nos bastidores", diria sobre o Punk. Já ficava claro para Siouxsie a diferença de comportamento que a sociedade impunha para homens e mulheres, e que para quebrar barreiras, era necessário ser forte, assim como sua mãe.


Robert Smith, do The Cure, se inspirou em Siouxsie para criar seu visual.
Um raro caso de homens que se inspiram em mulheres.


Nem Punk, nem Gótico

"Nós realmente não gostamos de ser tachados de alguma coisa, mas é inevitável que as pessoas rotulem de algo para compreender". Tanto Siouxsie quanto a banda, não gostavam de ser definidos, nem como músicos. "Não nos enxergamos no mesmo contexto dos outros grupos de rock. Estamos num limbo", diria. Essa abordagem vinha devido a liberdade que queriam ter em suas criações, da qual havia diversas referências. Se algo era concreto, é que eles não queriam fazer o que já existia. "As coisas devem continuar. Estamos tentando mostrar que não precisa ser pop punk o próximo, e não precisa ser os mesmos riffs antigos do rock. A gente não curte tendências. Nos formamos inicialmente porque sentíamos que tínhamos algo para dizer. O que ocorreu foi que em decorrência de certos aspectos, é necessário um diferente ponto de vista, um variante de contras, mas com o mesmo ataque/impacto".


Seus estilo autêntico virou referência para suas fãs.

 
"Everything looks good tonight", The Passenger

De origem pobre e vinda do subúrbio, Siouxsie sempre se sentiu diferente da sociedade. Ao contrário de alguns, em vez de tentar adaptar-se a padrões, assumiu sua singularidade, sem imaginar que isso seria o perfeito encaixe com o Punk. Desde cedo, ela já sabia que jamais estaria numa capa de revista de moda mainstream. "A maioria das meninas queria ser igual a alguém, eu queria ser a minha própria pessoa". A atitude contestatória de Sioux pode não a ter levado às maiores capas de revistas de moda do mundo, mas indiretamente, sua influência estética chega até elas pelas criações de estilistas admiradores de seu trabalho, vide a beleza do desfile Saint Laurent de 2015, que teve como referência a cantora, já que o antigo designer da marca, Hedi Slimane, é seu fã. Antes mesmo da fama, faria pontas como modelo para a grife Sex, loja de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren.


simon-barker
@Simon Barker

Desfile Saint Laurent fall/2015, inspirado na cantora.

Quando olhamos sua estética chamativa, muitos nem devem saber que no início sentia um grande nervosismo ao entrar no palco. Encarnar um personagem para certos artistas é um jeito de enfrentar suas inseguranças e timidez. Apelidada de 'Android' pelo grupo, o visual de Sioux foi evoluindo durante a carreira. Talvez fosse uma forma de continuar se diferenciando já que seu estilo foi logo copiado.

"Estilo deveria ser uma acentuação de seu caráter.
Não tem nada a ver com o que você está vestindo, mas sim em como você veste."

No começo ainda Punk, Siouxsie andava como as outras meninas, usando cabelo curtíssimo, com minissaia e meia arrastão e escarpins nos pés. Também como outros, seria mal interpretada pelo uso da suástica. Como descrito no post sobre punk, quando punks utilizam o símbolo, de forma alguma havia adoração, pelo contrário. O punk era subversivo, usar tal imagem era esfregar na cara da sociedade o lado sujo dela, ainda que fosse um jeito controverso de se criticar. Interessante é que anos depois, em 1980, a banda faria uma música chamada "Israel", da qual a cantora se apresentaria usando uma estampa de estrela de Davi.


Da era Punk para o Post-Punk, Siouxsie permanece com o visual fetichista em suas roupas, tachas, arrastão, tela, botas acima do joelho, chokers, minissaia de vinil, amarrações. Havia influência da moda cigana nos acessórios, muitos lenços, as peças possuíam franjas e eram esvoaçantes. O romantismo surgia com as rendas, o uso de cores como preto, roxo, vermelho e verde esmeralda.

Visual fetichista

Influência cigana e romantismo.

A maquiagem Vamp teve como influência a personagem Cleópatra de Theda Bara. Siouxsie deu sorte pois seu formato de rosto se encaixou muito bem com a beleza egípcia. Unido ao famoso cabelo preto, se tornaram a marca registrada da inglesa, passando por alterações em diferentes fases.


O visual típico de Siouxsie que vem a mente foi sendo construído ao longo do tempo. No início o fio era curto e o rosto pintado com cores fortes, como rosa shocking, ou com um desenho surrealista em volta do olho direito. No fatídico encontro com o apresentador Bill Grundy, no programa Today Show, uma Siouxsie debochada, de fios platinados e com estilo tomboy era visível. De 1978 em diante, a maquiagem Vamp e o cabelo preto médio espetado ao estilo backcombing passa a ser sua marca. Clipes como 'Hong Kong Garden', 'Spellbound', 'Dear Prudence', 'Cities in the Dust', 'Candyman', de diferentes datas, mostram bem essa beleza. Detalhe para 'Dear Prudence', quando Siouxsie estica os braços em movimentos de dança, aparecem os pelos em suas axilas, é por isso que no post das Riot Grrrls, foi lembrado das punks setentistas pois estas fizeram o que veríamos em evidência no motim dos anos 1990.

look
O visual típico de Siouxsie
Tomboy platinada e cores nos olhos.

Mas Siouxsie é também uma camaleoa. É visto novamente cabelos bem curtos nos clipes 'Happy House', que traz um quê de Ziggy Stardust, adicionado blush rosa bem marcado, típico dos anos 1980. Em 'The Passenger', o corte é muito parecido com o que Mary Quant usava na década de 1960, e a maquiagem começa a mudar: a base do desenho continua Vamp, mas o olho é menos carregado de preto e o blush já não é mais o rosa oitentista. Em 1988, Sioux aparece com os cabelos a la Louise Brooks, em 1990 ele aparece mais comprido e a make ganhando novas cores. Nessa época, muitas de suas aparições públicas estaria vestida pela sua grande amiga Pam Hogg.

Cantando The Passenger na Hungria em 1987.


Cabelos à la Louise Brooks
@Ebet Roberts

Camaleoa. O terninho tem uma sainha de renda e metais dominam o look à direita.

Desfilando para Pam Hogg e com a estilista.
Usando macacão com saia crinolina no palco.

Fotografada por David Lachapelle para a Details magazine em 1995.

Teoricamente, a banda Siouxsie and the Banshees encontra-se parada desde 2002. Nos 40 anos do Punk, em 2016, o grupo completaria a mesma idade! Além dele, Sioux tinha o projeto paralelo The Creatures com seu marido e colega de banda, Budgie. Seu último trabalho foi solo, com o álbum Mantaray, de 2007. Apesar do "no future" do punk, Siouxsie and the Banshees foi a banda que mais durou dessa época. Conseguiram resistir conquistando uma legião de fãs que não se limita a uma só subcultura.


Siouxsie nunca quis representar ninguém, simplesmente queria ser dona de sua própria voz, mas sem querer acabou representando muitas meninas e mulheres ao redor do mundo que se sentem deslocadas. "Ela era uma rebelde e me identifico muito com isso. Eu era uma criança de 13 anos, de cabelo ruivo, que sofria bullying todo dia, me sentia completamente desamparada e quando ia para casa e ouvia os discos da Siouxsie, sentia que pudesse dominar o mundo", revela Shirley Manson.

 

É estranho pensar que em pleno 2017, Siouxsie Sioux seja uma figura transgressora, incluindo no cenário do Rock. Num mundo que tenta a todo custo se encaixar em padrões, a existência da artista é um respiro a quem ainda mantém o espírito punk dentro de si, mesmo que esteja escondido lá no fundo. A imagem e a música que trouxe voz ao lado obscuro da vida se faz mais necessária do que nunca. Vida longa a Siouxsie!


- Este artigo contém análises autorais assim como informações de domínio público.





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8 comentários:

  1. Respostas
    1. São tantos artistas importantes que têm nos deixado que é importante lembrar, e celebrar, os que ainda estão em vida!

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  2. Puxa adorei ver a Siouxsie & the Banshees, por aqui! Sou fã a pelo menos uns 25 anos, escuto a banda desde a adolescência. Minha predileta é Christine. Visual marcante sem duvida alguma!

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    1. Ai que bom ler isso, Juliana!
      Fico feliz de saber que com o mesmo prazer tivemos ao escrever sobre a Siouxsie, vc teve em ler. Obrigada!

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  3. Parabéns pela estrutura e conteúdo do seu site
    compartilhando aqui!!
    Abrass Renato
    Porta maquiagem

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  4. Nossa que felicidade ver minha musa inspiradora aqui. Desde a adolescencia ouço e me inspiro nessa mulher, já usei o cabelo, make e roupas com essa pegada. Curti o site... que venha Joy Division, Bauhaus, Blondie, Television e muitos outros por ai ;) Obrigada!!!

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    1. Com o tempo essas bandas aparecem mais detalhadas aqui, pode dêxá. ;)
      Obrigada pela participação!

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