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20 de outubro de 2017

Killstar, Iron Fist, Sourpuss, Hot Topic, Dolls Kill e etc: como grandes lojas influenciam negativamente e positivamente a moda alternativa?

 

Qual a influência de grandes lojas alternativas como Killstar ou Dolls Kill na moda alternativa? Qual a relação da moda dominante com o mercado alternativo? Neste post levando algumas análises sobre a influência de grandes marcas na Cultura Alternativa Mundial.

 

Estilo Witchy + Harness = modas alternativas. (Foto: Killstar)

Um ponto levantado no blog com certa frequência é que nos anos 1990, tudo que restava de ideologia nas subculturas foi cooptado até o último suspiro pelo mainstream, isso associado à popularização da internet, provocou um esvaziamento ideológico e comportamental das subculturas musicais. Esse buraco do esvaziamento foi preenchido pela Moda, pela estética. Se as subculturas foram engolidas pelo mercado, nada é tão ligado ao mercado quanto a área de Moda.


Por que a Moda tem se destacado na Cultura Alternativa?
O contexto cultural que vivemos hoje, de individualismo e consumo, favorece a moda.
A Moda surge no fim da Idade Média ligada à burguesia, ao comércio e ao status social. A roupa que usamos é uma mensagem não verbal, normalmente a mensagem é:
expressão individual, diferenciação, status e/ou poder de consumo dentro de uma sociedade/grupo. Uma das coisas primordiais da Moda é ser um mercado, mexe com o desejo de ter algo para se tornar o que deseja ser.


A Moda está se sobrepondo à cultura das subculturas?
Pode ser, os indícios estão fortes. Uma amostra disso é que quem chega do nada pode pensar que ser gótico, por exemplo, é só estética. Jovens podem chegar nas subculturas primeiramente pela estética que lhes atrai visualmente, dando-lhes status e diferenciação no ambiente em que vivem. Quando alguns deles descobrem que cada subcultura tem uma cultura própria e não fazem questão de segui-la, se afastam mantendo apenas a estética pelo poder social que o visual fornece. Esse comportamento vem sendo identificado há pelo menos 20 anos, não é novidade, mas se intensificou na última década na medida que o individualismo e a "sociedade liquida" (Bauman) se impõem.

Algumas estéticas de subculturas tem fundamento e explicação para o uso de determinada peça ou maquiagem. Mas não é regra geral. Alguns visuais foram adotados meramente para chamar a atenção dentro de determinada cena ou um desafio sobre quem criava um visual mais diferenciado - a "estética como discurso", como auto afirmação, mas sem necessariamente um significado profundo por trás. A estética quando usada como diferenciação resulta em status.


Killstar, Iron Fist, Sourpuss, Hot Topic, Dolls Kill e etc: como grandes lojas influenciam negativamente e positivamente a moda alternativa?

Assim como ocorreu o esvaziamento ideológico e cooptação das subculturas pela cultura dominante de forma muito forte nos anos 1990 (embora o fenômeno seja anterior à isso), o crescimento de algumas lojas alternativas como Killstar, Iron Fist, Hot Topic, Sourpuss, Dolls Kill (por exemplo) fez com que elas passassem a produzir peças em grande escala para alimentar o mercado mundial de moda alternativa

Ter peças destas marcas dá status e diferenciação. É uma "diferenciação" entre aspas mesmo, já que se vestindo igual,
une-se os semelhantes, criando uma legião de fãs de determinadas grifes. Fãs de x marca/que só vestem x marcas - comportamento semelhante à cultura dominante onde determinadas pessoas só vestem grifes (Chanel, Gucci, Versace etc). Essas lojas alternativas não diferem muito de uma loja mainstream no sentido de que massificam determinadas estéticas e determinam tendências e modismos aos consumidores alternativos.


Pentagrama é Moda (Foto: Killstar)



Quando grandes lojas alternativas tem o mesmo tipo de processo produtivo que as lojas mainstream, elas ainda podem ser consideradas alternativas?

Enquanto lojas crescem e dominam o mercado, lojas menores, mais artesanais enfrentam dificuldade de se manter. Devido ao poder das grandes lojas que praticamente definem os modismos, as marcas menores sentem a "obrigação" de acompanhar as tendências para se manter no mercado. Sobrevive quem consegue atingir essa massa de alternativos ávidos por estar na moda. Algumas marcas menores que já possuem uma identidade bem definida se mantém, mas sempre competindo de forma desigual. As pequenas marcas precisam criar um padrão de qualidade e um diferencial ao cliente, quando o cliente se torna fã e a consumirá independente dos modismos.


Tem lado bom nestas grandes lojas?
Claro que tem! Elas empregam. Empregam pessoas alternativas. É uma oportunidade para estilistas, ilustradores, vendedores, fotógrafos, modelos, fornecedores e toda uma equipe que trabalha digitalmente.
Quem fez faculdade de moda e um dia sonhou trabalhar com moda alternativa pode um dia ser funcionário destas grandes marcas. Quantos alternativos se formam em moda anualmente e não encontram emprego? Grandes lojas podem ser a porta de entrada. Além de que, um bom departamento criativo é possível porque elas tem o dinheiro em caixa para desenvolver coleções incríveis. Estas lojas alternativas cresceram e se desenvolveram porque se adaptaram ao grande mercado, sabem que para se manter é preciso entrar no sistema da moda de vender status (seja qual nível que for), diferenciação (estilo) e um senso de comunidade (fãs da marca se identificando entre si).



A roupa como diferenciação, a marca como status. (Foto: Iron Fist)


Devo parar de consumir estas marcas? 
Você deve consumir o que gosta e se identifica. 
Este post é apenas para mostrar uma evolução mercadológica que ocorreu na história da moda alternativa. Mostrar que as lojas alternativas se adaptaram ao mercado (análise de 2013). Eu adoro as peças que estas lojas produzem, adoro a criatividade sem limite e ao mesmo tempo adoro peças de lojas menores, lojas artesanais, sou consumidora de ambas. Acredito que o importante é consumir de forma consciente, de acordo com o que você acredita.


O sistema de Imitação
Esse sistema da Moda adotado pelas grandes lojas encontrou nas redes sociais o local perfeito para espalhar o desejo de consumo de um determinado estilo de vida baseado na diferenciação: o Instagram.
Ao utilizar garotas populares no Instagram para divulgar os produtos mais "tops" do mercado de moda alternativa, a estética que as "influencers" divulgam se torna desejos de consumo para seus seguidores. Alimentando aí uma outra característica da Moda: a imitação
E caímos aqui exatamente no mesmo ciclo de moda da cultura dominante: Diferenciação (que dá) status (no grupo), consumo (o poder de consumir algo diferente) que resulta em (imitadores) que adotam o visual por status (voltamos ao começo do ciclo).

Para finalizar, vale lembrar que nada é tão preto no branco, existem centenas de nuances nesse processo todo. Gosto de olhar o lado positivo e refletir sobre os pontos negativos. Acredito que estas análises possam ser úteis aos que estão envolvidos com o estudo de moda, da história da moda alternativa e seu futuro. Como profissional de Moda, adoraria que houvesse mais mercado de trabalho para nós em marcas alternativas, no entanto isso não ocorrerá sem uma adaptação ao sistema de mercado dominante, isso é um fato e está fazendo parte do desenvolvimento da moda alternativa.



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3 comentários:

  1. Bem interessante e muito bem colocado, e o mais bacana e ver que todos podem usar oque quiser independente de ser uma marca super famosa ou uma marca pequena porque querendo ou não sempre uma marca vai se basear na coleção da outra. E todos sai ganhando nessa sabe.
    Beijos
    cherrycriis.blogspot.com.br

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