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19 de dezembro de 2017

Pós Punk, Goth e Deathrock: Como é ser Alternativo no país africano de Angola?

Apesar da relação histórica entre Brasil e países africanos de língua portuguesa, pouco nos chega de informações sobre os mesmos, principalmente se a questão for cultura alternativa. Será que existem alternativos nos países daquele imenso continente? Que subculturas existem por lá? Como elas são? Seriam muito diferentes de nós ou temos mais em comum do que imaginamos? Nesta postagem, que faz parte de uma série em que mostramos como é ser alternativo ao redor do mundo, contamos um pouco sobre como é ser alternativo em Angola, país da costa ocidental da África. 

Matthew Cardoso é leitor do blogue e se identifica com subculturas. Foi com este morador da cidade de Luanda que troquei uma ideia sobre a cena alternativa local. 

Matthew Cardoso, à esquerda da foto.
 Foto: Kenned Flautas Negra

Moda de Subculturas: Como é ser alternativo em Angola, existe preconceito? Como é a questão musical?
Matthew Cardoso: Ser alternativo em Angola-Luanda não é nada pois é um país que se você não gosta de semba, kizomba, kuduro e nem de repper nem és gente. Principalmente quando tem rolê em locais públicos as pessoas sentem medo de chegar e obter informação, saber porque você é assim ou está assim. Muito amigos/as de infância foram se afastando porque não tenho os mesmos gostos que eles.
Existe sim preconceito, como qualquer um outro país, mas graças a nós dentro da nossa cena não. 
Infelizmente não temos festivais, por até o momento só temos um banda e que não é de Luanda (Piratas das Almas), banda de Darkwave, temos feito em cada dois ou três meses um evento para reunir o pessoal ao som das bandas, e nos primeiros sábados do mês e no último sábado temos os nossos rolês.

Créditos: Kenned Flautas Negra

MdS: Você considera então que os alternativos num geral são marginalizados em Angola?
MC: Sim de um modo são sim, muitos deles dizem que a sociedade angolana não está preparada para aceitar numa boa os alternativos. 

MdS: Além dos góticos e metalheads, saberia me dizer se também tem punks por aí?
MC: Punks somos nós rs, brincadeira minha. Não existem punks aqui não, não, não. Uns jovem que curtem do som mas só mesmo do som e param por aí.

MdS: E garotas, você conhece góticas ou meninas de outras subculturas?
MC: Nos anos atrás tinha muitas garotas na cena, mas muitas delas ficaram pelo caminho. 

Foto: Kenned Flautas Negra

MdS: A cena pós-punk/gótica que vocês fazem parte é grande ou pequena?
MC: Não é um número tão grande assim, mas pode a chegar a uns 15 para cima acho, mas a cena cá já teve mais aderência.

MdS: Como é a questão do preconceito estético, xingam ou mexem com vocês? Ou apenas olham torto e não falam nada? 
MC: Xingam, mas não chegam perto, somos demônios rs, falam, falam... Até os religiosos olham torto e xingam, mas nunca houve contato físico...

Os rapazes criam e customizam as próprias roupas para criar um estilo alternativo.
Foto: Kenned Flautas Negra

MdS: E as roupas, são vocês mesmos que fazem?
MC: São feitas por nós mesmos. Algumas vezes são desenhadas ou não... porque tem bandas que o logotipo é muito complicado, então tiramos cópias e recortamos, noutras vezes são desenhadas mesmo.

MdS: Usam estilo mesmo com o calor?
MC: Eu creio que o clima de Angola não é tão diferente assim de Portugal. Aqui é um país muito quente, muito sol do krl... e sim quando à rolê temos de andar assim mesmo, tudo pela cena!

MdS: Sobre a cena, são envolvidos com política ou os encontros é só para reunirem e ouvir música? 
MC: Nos nossos encontros/rolê a gente fala mais de cena, partilhamos bandas novas, falamos com o pessoal novo sobre a cena, partilhamos zines feitas com cada um.

Créditos: Kenned Flautas Negra

Foi muito legal conversar com Matthew e conhecer um pouco mais sobre a cultura alternativa num país tão pouco conhecido por nós. A impressão que tenho é que somos muito parecidos, independente das diferenças culturais de cada nação. A cultura alternativa une os semelhantes não importa qual local do mundo se viva!

Ah e se você é um leitor que mora no exterior, nos envie em relato sobre como é ser alternativo no país em que está ;) 


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5 comentários:

  1. Que post incrível, Sana! Tenho essa mesma sensação quando falamos em países que falam a íngua portuguesa: parecem tão distantes! Fico feliz em poder conhecer um pouco :)
    Acho que eles estão bem na "raíz" da subcultura não é? Produzindo seus próprios encontros, vestuários... Esse é o sentido de ser alternativo, para mim.

    Abração <3
    Blog Carolina Ribeiro

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    1. Verdade, eles estão fazendo acontecer, realizando, colocando a mão na massa, igualzinho era no começo das subs no século XX!
      Recebemos muita influência e informação dos EUA e da Europa, do resto do mundo pouco sabemos sobre culturas alternativas, aos poucos vou tentar trazer mais isso pro blog: informações fora do eixo - eua/europa.
      Obrigada pela visita <3

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  2. Adorei o post. Até porque sou negra e moro na Bahia. Aqui é muito quente e manter os tons escuros nem sempre é fácil. E sobre o recorte de raça, não apenas na Bahia, mas em diversos lugares, rola críticas racistas sobre o que combina ou não com meu tom de pele. Me identifico com a subcultura gótica, mas não faço parte da cena. Fico imaginando a resistência que terão em aceitar meus cabelos crespos.

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    1. Selene, existiam negros desde o começo da subcultura gótica. Eles fizeram parte da criação da mesma! Se esse pessoal é racista, preconceituoso, etc, só revela o quanto eles desconhecem a história da subcultura que dizem fazer parte. É uma pena que as informações tenham se perdido no caminho dando lugar à ignorâncias. Continue firme e forte, não desista de se expressar!

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    2. Poxa massa!! Sou baiano tbm e apesar de ser um baiano branco, o que admito não é lá tão legal assim, me identifiquei muito com essa galera pois Alien Sex Fiend é uma das minhas bandas prediletas e sempre passei de maluco por causa disso.. acho que cabelos crespos ficam perfeitos em qualquer cena!! A cultura negra é a mãe de todas as culturas!!

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