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7 de abril de 2019

Projetos alternativos de financiamento, porquê não recebem tanto engajamento quanto deveriam?

Ao longo de aproximadamente um ano e meio, participei de um projeto alternativo que para se tornar real precisou de financiamento coletivo. Tratava-se de uma revista que teve quatro lindas edições. Mas por que será que ela entrou em "pausa" por tempo indefinido? 


Revista Gothic Station #4

Minha experiência trouxe algumas revelações:

1. O pioneirismo nem sempre é compreendido em seu tempo.
A revista foi a primeira do gênero no Brasil (focando no Brasil e não no exterior) e se tornou uma espécie de cobaia. Um verdadeiro experimento. 

2. Um possível desinteresse das pessoas por informações geradas em modo físico (papel).
Eu não pesquisei cientificamente o assunto, mas acho os alternativos brasileiros não têm o hábito de consumo de publicações alternativas em papel.

3. "Por que pagar por informações que você pode conseguir "de graça" na internet?"
Na verdade, nada que se pega na internet é de graça. Paga-se pra ter acesso a internet (e não é barato) e as coisas tem dono sim. A questão seria mais sobre aonde o dinheiro merece ser investido, e me pareceu que não era numa publicação alternativa.

O cenário alternativo ao longo de sua história arranjou meios de se manter ativo em paralelo com o que acontece na cultura dominante (crises, problemas políticos). E um desses meios é uma rede de circulação de produtos que se desenvolve no nicho. Foi assim que as subculturas e estilos alternativos do passado chegaram até os dias de hoje!

Percebi que no período em que a revista esteve em circulação, foi muito bem recebida, vi muito apoio. Vi pessoas muito felizes com relação ao projeto. No entanto, essa boa receptividade não se refletia no financiamento online. Foi bastante complicado fazer os financiamentos fecharem. Nunca compreendi porque tão pouca gente financiava sendo que havia um público imenso interessado nos temas propostos. 

Mas o que me intrigou ao longo de todo o período foi porquê projetos independentes que visam fazer com que informação circule, não são tão divulgados/compartilhados quanto poderiam ser? 

Vejo pessoas alternativas inteligentes compartilharem tretas no Face ou no Instagram que geram centenas de opiniões; vejo várias situações pequenas que são compartilhadas como se fossem grandiosas (a famosa tempestade no copo d´água); vejo mulheres denunciando outras mulheres numa guerra pra dizer quem é mais oprimida que quem (somos TODAS oprimidas em algum nível. A rivalidade feminina é justamente uma reprodução dessa opressão! É perigoso cair no conto da luta individual. Para se exigir empatia primeiro precisa-se ter empatia. Dê as mãos à mulher que tem um sofrimento diferente do seu, isso é sororidade). 

Não vejo projetos que espalham cultura gerarem engajamento no mesmo nível que as tretas de redes sociais! Um projeto feito com tanto carinho, dedicação, envolvendo várias pessoas, que nos custava meses de trabalho... acabar por falta de financiamento foi bem triste... No meu ponto de vista, a história e cultura das subculturas deveriam ser tratadas como um legado a ser passado adiante! 

Com uma ideia na cabeça, resolvi fazer uma pesquisa nos stories do InstagramObservem as perguntas e respostas:



A maioria dos que votaram apoiavam a existência da Gothic Station em formato físico, mas infelizmente quando o financiamento estava ativo não houve apoio suficiente. Eu não tenho resposta para essa discrepância (para além dos "boicotes" que a revista sofreu) e nem sei se um dia terei. Lógico que uma pesquisa no Insta não é reflexo da situação em geral, mas dá uma ideia do que os seguidores do blog pensam.

E sobre a existência de uma revista virtual (pdf) e um apoio financeiro dela:



A julgar pelas respostas, uma revista alternativa virtual é bem vinda. E mais interessante ainda: seria apoiada financeiramente para se tornar realidade! Confesso que fiquei surpresa com o resultado. Adoraria investir num projeto assim, seria mais uma vez, experimental. O Instagram é legal, mas não envolve todos os leitores do blog, portanto a sua resposta para a pergunta abaixo é bem vinda. 

Você financiaria uma revista alternativa num formato virtual?


Buscando sempre várias formas de comunicar cultura alternativa!





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Comentários via Facebook

5 comentários:


  1. Confesso que sinto falta de conteúdo informativo,no Youtube por exemplo,os canais que mais gosto de ver não são alternativos,pois são mais informativos.Não que as garotas que eu sigo produzam conteúdo ruim,mas quando é algo repetitivo e que não trará nenhuma informação para mim (videos de compras e 50 fatos por exemplo),nem me dou ao trabalho de assistir.Confesso que ainda não comprei a revista,meu orçamento não permite no momento,mas prefiro mil vezes mídia impressa,afinal estudo e faço anotações...Mas não entendo do porque fofocas e tretas serem mais relevantes do que informação,fiz um experimento com o blog que tive "Being not Everyone" e as postagens que mais possuíam visitantes,eram as de resenhas de produtos e isso me desanimou.Muitas vezes eu pesquisava conteúdo bacana para traduzir,mesmo não sabendo muito inglês,adaptava os textos e muitas vezes não possuía nenhuma visita,mesmo mantendo uma rede social própria para o blog,não tinha retorno...pensei e refleti,decidi recomeçar e fazer um blog com algo que eu mesma gostaria de ler e é assim que estou fazendo.Participo de um grupo no Animo (Brazilian Goth Scene),lá é compartilhado muita coisa legal e informativa.Quando me interessei por Subculturas era tudo diferente,sei que devemos evoluir conforme a mudança dos tempos,mas percebo que a geração atual está mais focada no visual,do que a cena propriamente dita!

    É triste isso e por conta disso,canais/blogs que postam conteúdo relevante vão sumindo e ignorados por pessoas que fazem um conteúdo mais raso.Sobre a competição feminina,é algo que sempre me incomodou desde muito cedo.Muitas vezes a situação ficava insuportável,muitas vezes as garotas deixavam de socializar e construir uma relação de troca bacana,por causa desse comportamento.Eu fico pensando muitas vezes o quão saudável é participar ativamente da cena,algo que já não faço por essa falta de sonoridade...Uma das matérias da Gothic Station que li e me inspirou,foi sobre famílias góticas,ler isso me deu um conforto enorme e acabei escrevendo sobre no meu antigo blog.Espero que ainda haja forças e vontade,pois muita gente sem recursos financeiros se interessam por conteúdo que educa e trás informação.Sei que isso não custeia as coisas,mas são essas pessoas que não deixam a cena morrer ♥.

    Forte abraço

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    1. Vampiria, não sou grande consumidora do Youtube, mas sempre que vejo ou procuro vídeos informativos sobre moda ou cultura alternativa lá acho bem fraquinhos hehe! Também não aprecio videos de compras, de listas e de "fatos sobre mim", é algo que consigo viver sem.

      E tudo bem não ter podido apoiar, sei que muita gente de fato não pode. O que me chateou nesse processo todo foi que pensei (ingenuamente) que muitas pessoas ao menos compartilhariam o projeto, especialmente aquelas pessoas que eu via como engajadas com subculturas, o que não ocorreu. Pois compartilhando, se alcançaria mais possiveis financiadores.

      Eu curto seus blogs, mas perdi eles de vista algumas vezes, mas recentemente o encontrei novamente. Acho o máximo você ainda produzir enquanto tantas meninas alts desistiram de blogar.

      Concordo com a questão do foco no visual. Sei que de alguma forma esse blog tem culpa por falar de "moda", mas creio que muitos outros fatores mais fortes que nós, até mesmo o Instagram sendo uma rede social super apropriada ao visual, ajudou a difundir muito mais essa ideia de que ser alternativo é "ter um look".

      Muito obrigada pelo apoio e realmente meu sonho seria poder continuar oferecendo informação 'gratuita' através do blog ou de alguma revista que fosse muito mais acessível! <3

      Bjs!!

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  2. Nossa eu tava conversando com um amigo sobre algo parecido. A gente tava falando sobre a cena underground da nossa cidade, que apesar de ser pequena conta com uma quantidade significativa de bandas autorais, e tipo as pessoas que integram a cena tão mais preocupadas em discutir na internet que o rock e o metal morreram do que apoiar essas bandas que tão lutando no meio. A galera fazia das tripas coração pra organizar show e a galera ou ia pra ficar do lado de fora reclamando da festa, ou ia pra ver se dava um jeito de entrar de graça e se possível levando a própria bebida pra não ter que comprar do evento. A galera das bandas juntava uma grana mandava fazer camisa, uma dúzia comprava o resto do povo queria de graça, algumas bandas conseguiram com muito sacrifício gravar CD, mais uma vez pouquíssimas pessoas compravam, mas muita gente ficava em cima pra querer ganhar de graça. Aí agora as coisas tão bem paradas na nossa cidade em relação aos shows de rock/metal, porque o pessoal que organizava não quer mais levar prejuízo, nem o pessoal da banda quer tocar de graça e eles estão certos.
    Eu não sei porque isso acontece,mas eu vejo que a galera quer as coisas tudo de graça sem levar em consideração o esforço e o gasto de quem produz show, das bandas e dos produtores de conteúdo.
    Eu queria que alguém me explicasse esse fenômeno. O que mais tenho visto nos grupos de discussão do Facebook são pessoas reclamando que a cena na nossa cidade morreu, mas ninguém se habilita pra propor alguma coisa.
    Enfim, acho que esse comentário foi mais um desabafo.

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    1. Tudo bem desabafar ^^
      De fato não dá pra continuar se não há apoio. Há muita energia e dedicação envolvida e infelizmente a questão financeira é fundamental pra tornar as ideias realidade. Uma pena que muitos projetos tenham que ser pausados.
      <3

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  3. Eu fiquei muito triste com essa pausa da revista. O trabalho é tão lindo, dá pena saber que foi descontinuada porque não teve o devido apoio.
    Isso reflete um total desinteresse em conteúdo que não seja apenas estético.
    O que me deixou mais bolada com isso foi que gente que tem muita visibilidade na cena não apoiou, nem que seja com divulgação.
    Se pessoas que se encarregaram de levar informação pras pessoas não se importaram com algo que foi tão bem planejado e rico de conteúdo, é de revoltar. Eu julguei internamente cada criador de conteúdo que não apoiou a revista, nem que seja na divulgação, pq eu sei que alguns não tem renda fixa e que não poderiam ajudar financeiramente, mas poxa, compartilhar os posts do kipper no facebook ou instagram, ou até mesmo fazer um post/vídeo sobre a revista era de graça!!!
    Enquanto a cena não parar de dar moral pra treta e coisa que não acrescenta, ela não vai pra frente. </3

    Sobre a revista digital, eu apoiaria também, apesar de preferir a impressa :D

    Bjão!!

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