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12 de dezembro de 2020

Por que sumimos em 2020? Vem saber as respostas!



O ano de 2020 foi atípico em todos os sentidos, inclusive aqui no blog. 


Por que sumimos em 2020? Por que 'pausamos' o blog?




Em 2019 comemoramos 10 anos de blog. O trabalho de produção de conteúdo de 3 zines (físico e digital) e uma revista digital com 104 páginas, um projeto de financiamento na Vakinha e o envio do material aos apoiadores foi um processo superexaustivo (embora prazeroso!) pois fizemos tudo sozinhas na base do do it yourself - faça você mesma - e tudo 100% desenvolvido por mulheres (autoras, ilustradoras e colaboradoras), feito na raça, na vontade, sem conhecimento prévio, errando e acertando.

Produzir conteúdo não é fácil, o processo de pesquisa, de seleção de informações (tínhamos limites de páginas), de cessão de imagens, duraram o ano inteiro e não paramos o blog, mas diminuímos a frequência. Além disso, vínhamos atualizando o blog incessantemente por 10 anos. Assim que todo o material foi enviado,  pensávamos em uma só coisa: 


Tirar um ano 'de férias' do blog!
 

E assim o fizemos! 

Em março deste ano chegou a pandemia. Uma situação terrível que ainda vivemos e parece longe de finalizar! Além de termos de nos proteger usando máscaras, manter o distanciamento social, tem também a questão de manter a saúde mental pelos hábitos terem mudado tão repentinamente.


Hoje com as redes sociais, pessoas se ocupam de pessoas. São horas e horas vendo fotos, vídeos, dando likes ou acompanhando postagens de outrem. Se ocupar de pessoas não é novidade, sem dúvida a vida virtual tirou de nós a presença nas ruas, a conversa face a face. Vivemos em cidades que são propositalmente construídas para carros e não para pedestres, poucas praças, poucos espaços públicos pra se reunir. O motivo é óbvio, não é interessante para os governos que pessoas se reúnam, pois pessoas juntas, conversando trocam ideias. E ideias podem ser motes de mudança de atitude e pensamento, podem ser revolucionárias. Manter cidades para carros e não para que pessoas se encontrem nos  espaços públicos é um projeto político. E nestas horas a internet faz a função que o encontro nas ruas não faz. Especialmente com a pandemia.


Percebemos que assim que iniciou a pandemia, perfis começaram a produzir conteúdo sem parar, com a alegação que agora as pessoas que estariam em casa precisariam de algo pra ver/ler. Em poucos dias foi notável o saturamento de postagens, lives, sob o argumento de 'ser produtivo', porém se tornou impossível de acompanhar sem que ficássemos horas logadas, mesmo que selecionássemos só os perfis preferidos. E estas longas horas logadas favorecem os bilionários donos das mídias sociais e desfavorecem a saúde física e mental das pessoas que logo ficariam com suas mentes estressadas de tanta informação.


Optamos por não entrar nessa onda, a pandemia é pra nós um assunto seríssimo que exige reflexão e  uma oportunidade de rever velhos hábitos, não é um momento para jogar milhares de conteúdos numa sociedade já saturada, viciada e doente também por visibilidade.


A mente precisa de seus momentos de silêncio, tédio e reflexão, para que se desenvolva também o senso crítico na medida em que as informações adquiridas são processadas.


Estamos onde estamos 

Essa nossa ausência pode ter feito alguns pensarem que o blog acabou, que entramos em decadência, ou que "estamos onde estamos: na pior".  


Mas a questão é bem mais simples: desconectar é necessário numa era de estímulo excessivo, de exigência de interação sem pausas.


O blog em 2020 confirmou-nos que tem seu lugar garantido na web, mesmo sem postagens novas se manteve com milhares de acessos mensais, o que nos impressionou! Recebendo novos leitores (as gerações mudam) e novas visitas. Além das pessoas que voltam pra reler ou consultar. Considerando que não temos Youtube, nem Podcast e nosso Facebook e Instagram também diminuíram drasticamente o ritmo em 2020, é um feito que impressiona a nós e mostra como ainda é importante ter um espaço informativo que ofereça conteúdo acessível a todos.


Há quem critique blogueiras e influenciadoras digitais por só produzirmos conteúdo na web (não-físico). O que tenho a dizer é que todas são relevantes sim! É mais do que certo que o que é desenvolvido na web se espalha tanto que chega muito longe, em lugares e pessoas inimagináveis, indo muito além de muros limitantes de casas, escolas e universidades/academia. Ter blog e/ou ser influenciadora digital é colocar em prática o conhecimento de forma pública, à todos. Uma atitude super 'socialista': compartilhar com todos o que se sabe e construir juntos o conhecimento.


Nós prezamos por liberdade intelectual, pensamento autônomo, por isso gostamos de manter um blog: para postarmos o que quisermos, sem amarras. Como Clarice Lispector muito bem fala neste vídeo, acreditamos que a escrita não pode ser forçada, uma obrigação, um cumprimento de metas, a escrita é liberdade. E liberdade é autonomia. Autonomia, já dizia Kant, é termos nossas próprias escolhas através de nossos próprios pensamentos.


Em nossa ausência em 2020 me dediquei a ler e aprender cada vez mais dos assuntos diversos que me interessam: da filosofia ao feminismo, de história política à música, de história à museologia, buscando cada vez mais a autonomia de pensamento e a descolonização - esta talvez o conhecimento mais marcante do ano, ter orgulho de ter nascido na América Latina e cada vez mais exercitar o pensamento crítico sobre o Europeu e Norte Americano que tanto colonizam e imperializam nossas mentes. O ano foi por demais ativo intelectualmente. 


Em 2020 comecei a seguir no Instagram perfis associados aos temas acima, mantendo contato com novos conhecimentos fora da Moda e da aparência. E todos esses temas, embora pareçam não ter nada a ver, tem super a ver com o conteúdo do blog! As conexões mentais feitas durante o aprendizado, serão úteis para aprimorar nosso conteúdo.


Se aprofundar no feminismo fez-me aprofundar na forma como a moda e cultura alternativa está afundada em machismo, misoginia e opressão de gênero. Nós mulheres das cenas alts reproduzimos sem perceber, algumas vezes seduzidas pelo 'biscoito', 'lacração' e 'close' em estéticas que se associam diretamente ao machismo e pornografia. Uma vez que se treina o olhar é difícil se livrar da análise. Queria trazer essas reflexões pro blog no futuro, embora eu saiba que seja uma questão polêmica.


Das conquistas de 2020, uma foi o incrível sucesso da coleção Dark Glamour com a loja Dark Fashion, com peças superelogiadas e superbem vendidas, assim como o sapato Glamour Ghouls com a loja Reversa, que esgotou várias vezes. De fato não tenho do que reclamar desse ano. Estou exatamente onde queria estar: realizada com as lojas, com a relevância do blog e com essa oportunidade de ter me aprofundado em novos, libertários e emancipatórios conhecimentos. 


E teve a superparceria com Henrique Kipper que me ajudou a tornar a revista Moda de Subculturas impressa! Com 54 páginas. Além de, é claro, eu ter escrito mais uma coluna de História da Moda para a quinta edição da Revista Gothic Station! 


Em termos de moda, subculturas e moda alternativa, algumas coisas interessantes aconteceram em 2020, como as tendências que tinham tudo pra abalar o universo da moda e com a pandemia elas foram 'canceladas' (a palavra do ano!). Algumas dessas trends tinham referência a um estilo de vida superburguês. E foi exatamente esse estilo de vida que a pandemia revelou absurdo. Estou cogitando postar sobre uma tendência em específico porque ainda vejo algumas publicações tentando empurrá-la goela abaixo. Tiveram outras tendências bem legais na moda alternativa que com o passar dos meses se tornaram moda. Lembrando que tendência não é o que já está ocorrendo no grande público ou dominando as lojas de nicho. Tendência tende... tende a acontecer, ou não! Às vezes ela não acontece. Mas a gente registra mesmo assim. 


Antes de finalizar nossa cartinha anual, vale dizer que o blog sempre abordou temas políticose um dos pontos que mais alertamos era sobre tomar cuidado com o conservadorismo que é enraizado em nosso país (até mesmo na moda), já que tal forma de controle social não favorece os alternativos e os LGBTs. Em março, um deputado pró governo divulgou um dossiê antifascista - sabe-se que já circulava em grupos de direita desde 2019 - ao acessarmos o dossiê nos deparamos com 90% de pessoas alternativas. Isso acendeu um alerta, confirmando algo que já sabíamos: os alternativos são dos primeiros a serem perseguidos num governos autoritário. Portanto não acreditem em 'nova política'. Não haverá nova política enquanto nosso sistema eleitoral se basear na democracia representativa. 


Outra marca de 2020 e que devemos parar para refletir, foi sobre o contínuo assassinato da população negra. É importante ressaltar que não podemos manter uma mente colonizada e pautar nossas lutas pelos eventos gringos (como BLM), nós deveríamos estar nas ruas lutando contra o racismo e assassinato dos negros PELO MENOS desde a morte de Marielle Franco. Poderíamos estar antes sim, mas o assassinato de uma vereadora eleita, mulher, negra, bissexual e autônoma, foi fato gravíssimo que poderia ter sido o gancho que precisávamos. Falhamos. E continuaremos falhando enquanto só nos espelharmos nas lutas que vem de fora. 


Aproveitando, vale citar o Black Lives Matter (Vidas Pretas/Negras Importam) que foi tão celebrado nas primeiras semanas de protesto e logo depois foi rechaçado pela mídia, famosos e celebridades, que inicialmente os apoiavam. O movimento passou por um processo absurdo de despolitização quando descobriram que foi criado por três mulheres negras, cuja ideologia é o marxismo radical que luta contra a "supremacia branca, imperialismo, capitalismo e patriarcado. Buscando a destruição total da nação como a conhecemos e sua substituição por uma nação socialista"*. Assim que isso foi sabido pelo grande público, o BLM foi enfraquecido e pior, pessoas obviamente brancas e liberais, modificaram o discurso, dizendo "todas as vidas importam".


2020 de fato, não foi/está sendo um ano fácil.

Mas com certeza é um ano que merece uma pausa para reflexão. 


Para finalizar essa carta, vale dizer que foi um prazer tão grande desenvolver os zines em 2019 que estamos pensando em novos zines. Sobre uma nova revista: também não descartamos! 

Mas para 2021 existe um projeto que estamos desenvolvendo e queremos participação de vocês. Divulgaremos em breve em nosso Instagram.


Espero que este resto de ano finalize o melhor possível para todos nós.

E em 2021, continuaremos aqui.


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* Informação via Black Lives Matter.

Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas. 
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21 de setembro de 2017

Juventude, depressão e subculturas (Setembro Amarelo)

Fui uma adolescente deprimida. Não sei se alguém não o foi. Sempre fui muito sensível às opiniões alheias e ao mundo ao meu redor, sendo que qualquer coisinha me fazia chorar. Era realmente uma "manteiga derretida", como alguns colegas de escola gostavam de me chamar. Por sentir tudo demais, era óbvio que eu me tornaria uma deprimida. E posso dizer hoje que foi por isso que conheci o rock e suas subculturas. Penso que esse foi o caminho de muitos outros adolescentes também.

Leia também: Garota Interrompida e Setembro Amarelo

Ultimamente tenho pensando nessas questões por causa da popularização de uma série do Netflix, 13 Reasons Why, que eu não assisti (nem pretendo, por motivos particulares), mas li inúmeras resenhas sobre, que trata de bullying, depressão e suicídio juvenil. O impacto que essa série está tendo sobre a juventude é avassalador, o que me leva a crer que somos uma sociedade que não está se preocupando o suficiente com os seus jovens.

A mim, preocupa a romantização que esse tipo de produto faz da depressão e do suicídio, como se fosse algo poético e até mesmo bonito. Essa ideia é reforçada dentro de algumas subculturas, como a gótica, e dentro do grunge também. Quando eu era mais jovem, costumava pensar que "os bons vivem pouco" e muitas outras meninas da minha idade pensavam o mesmo. Que o bom era morrer cedo, sem envelhecer, pois assim seríamos jovens para sempre. Exemplos não nos faltavam: Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, curiosamente todos mortos aos 27 anos. Pra um adolescente, 27 anos é muito, pois a inteligência temporal da maioria deles ainda não está bem sólida. Hoje, aos 28 anos, eu percebo como é curto esse tempo!
 
Imagem: Reprodução

Também sinto que a falta de adultos referência é o que faz o adolescente ter esse tipo de pensamento. Adolescentes reparam nos adultos que os cercam, e não gostam absolutamente do que eles veem. Por exemplo, a falta de adultos que seguem suas subculturas mesmo depois de certa idade, faz o jovem pensar que para ser adulto, ele deve abrir mão de seus gostos musicais, pessoais, estéticos, etc. Há alguns anos eu sentia isso, que para ser adulta era necessário deixar as subculturas para trás, e esse assunto já foi abordado várias vezes aqui no blog (links no fim do post). A falta de referências adultas é muito prejudicial, e faz com que o adolescente não queira se tornar adulto, não queira seguir sua vida, afinal, "os bons morrem cedo".



Por outro lado, ainda que exista essa romantização da depressão e do suicídio em algumas subculturas, o que faz muitos jovens seguirem em frente depois de entrar em contato com elas, é a auto aceitação que as mesmas promovem, como uma via de mão dupla. Ou seja, não interessa o quão estranho e deslocado você se sinta, você é importante justamente por ser assim, não fazer parte da grande massa, não ser apenas mais um no meio da multidão. Dessa forma, pertencer a uma subcultura é, com certeza, um exercício de resistência (porque você vai se aborrecer com os outros que não te entendem) e muitas vezes, de sobrevivência (como quem diz: EI, EU ESTOU AQUI! EU EXISTO!).

Leia também:
- Adultos e a moda alternativa: manter ou abandonar o estilo? 
- Subculturas não tem idade: adultos que adentram no mundo alternativo
- Adultos em idade produtiva: criatividade tem limite de idade?
- Crescer é abandonar o estilo alternativo?



Autora:

Nandi Diadorim.

Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul.
Guitarrista em uma banda de punk rock.
Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.


Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos; a seleção e as montagens das imagens foi feita exclusivamente para o blog baseado na ideia e contexto do texto.


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2 de maio de 2017

Pensata: Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais?

Neste fim de semana (30/04)  faleceu o cantor Belchior aos 70 anos de idade, há polêmicas envolvendo sua vida, o compositor tinha uma veia melancólica, irônica e questionadora que se revelava em várias de suas letras. “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, imortalizada na voz de Elis Regina em 1976, é uma das principais composições de sua carreira e chega hoje para nos confrontar novamente em diversas questões.

Talvez a maior característica da adolescência seja a ruptura. A ruptura com a infância e com o universo dos pais. Os jovens tem a energia da mudança e são os primeiros a aderir às novidades que o mundo lhes apresenta, sejam elas boas ou más, várias vezes, sem filtro. Não queremos quando jovens, de forma nenhuma ser como nossos pais, que se tornam "ultrapassados".

Só que vamos ficando mais velhos, chegamos à faixa dos 30 anos e podemos ter nos tornado aquilo que combatíamos na juventude, repetindo os mesmos erros dos pais. Um alerta sobre o que realmente precisava ser mudado não foi e nem está sendo feito por nós. Nós progredimos mas mas ainda há muito o que fazer.

No século passado, os jovens que não queriam ser como os pais 
se envolviam com subculturas ou movimentos juvenis.
Uma amostra sobre diferentes gerações e suas vestimentas.


Nos últimos anos vivemos o reflexo de tempos incertos não apenas no Brasil como no resto do mundo. Certo dia uma leitora disse que não gostava do blog abordando temas políticos ou ideológicos. Mas isso é possível? É possível falar de hippies, punks, skinheads, Riot Grrrls e beatniks sem falar de suas ideologias e o momento político em que surgiram? É possível falar de feminismo e não falar de políticas para mulheres? É possível ser alternativo e não falar de corpo político? Não há como separarmos o corpo, o que vestimos, de política. O corpo é político. Se você quer ter o direito de andar na rua como quer: políticas para isso. Se você quer trabalhar como quer, precisa ter um respaldo político: uma lei. Se você não quer apanhar na rua pelo que veste: políticas pra isso também. Não tem como separar o que almejamos como alternativos de direitos  que visamos adquirir. A política rege a sociedade, o nosso presente e  futuro. Se não nos interessarmos por principalmente como ela funciona iremos continuar vivendo como nossos pais. E portanto nada mais inadequado no momento do que sermos como nossos pais. A letra nos faz acordar para a realidade de que estamos empurrando para baixo do tapete certas situações que não deveríamos silenciar.

“O homem é um animal político. A função da política é impor limite às dores e às injustiças. É lutar por um mundo melhor, buscando conciliar permanentemente as diferenças. Não é função da política esmagar as diferenças. O pior resultado para as novas gerações diante do conflito que está vivendo o Brasil é que se termine com a conclusão de que a política não serve para nada”. - Pepe Mujica.

O sinal está fechado pra nós que somos jovens?
Muitos adolescentes não trabalham e não votam. Por isso é comum que quando um jovem se rebele seja chamado de "vagabundo", um termo bastante injusto já que não trabalhar não significa ser ocioso. O jovem não está fora da sociedade, ele está inserido nela, consumindo, absorvendo-a e interagindo, portanto ele está perfeitamente apto a questioná-la. A mente juvenil pode ter um leque de ideias questionadoras exatamente porque enxerga a sociedade sob um ângulo ainda não "viciado", diferente da mente de quem trabalha e já se robotizou em hábitos e deveres. Quando um jovem exige mudanças, ouve "você é jovem e ainda não tem maturidade"; o adolescente politizado "ainda não sabe do que está falando", já parou pra pensar quem inventou essas frases? Um grupo de políticos que sabe que os jovens tem capacidade de mudar a sociedade e por isso promoveram estes pensamento para que permaneça a ideia que domina nossa sociedade de que o jovem não tem voz. Por isso alguns adentram em subculturas, canalizam esses questionamentos em grupos e se aproveitaram disso para ter voz através da música, por exemplo. 

Compor músicas e criar bandas foi a forma que jovens encontraram para ter voz.
Atingindo assim outros jovens com as mesmas angústias e questionamentos.
Joan Jett

Superado o esforço pra concluir uma universidade e adentrar no mercado de trabalho, o jovem enfrenta exigências descomunais para um iniciante na carreira, é um "sinal fechado". Quem são estas pessoas que geração após geração ceifam os desejos juvenis de mudança social e estrutural? São os mesmos que “se tornam como nossos pais”? É nosso destino após adentrar ao mercado de trabalho, nos tornarmos zumbis consumidores exatamente como criticávamos na adolescência? Simplesmente "sossegar" após adquirir certa idade? Mas não é isso mesmo que querem, que sosseguemos e paremos de incomodar o sistema, que aceitemos tudo calados e passivos?


Nossos ídolos ainda são os mesmos
"Ai hoje não tem mais bandas de rock como antigamente"- no passado eram as gravadoras que escolhiam 5 ou 6 bandas  pra se tornarem imensas e dominar o mundo. Elas definiam o que você iria escutar. Celebre o hoje, que você pode aproveitar e escutar o que você quiser e não o que o mercado fonográfico te impõe. Quantas bandas ótimas ficaram esquecidas porque não foram escolhidas pela indústria? O novo sempre vem

Outra musica de Belchior é Velha Roupa Colorida também interpretadas por Elis Regina. Velha Roupa Colorida, é  um sacolejo: acorde, que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era novo jovem / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer. Isso me faz pensar que devemos ficar em constante atualização, não devemos parar, estagnar e sossegar a mente quando ficamos mais velhos.

No presente a mente, o corpo é diferente pois a maturidade nos muda, é verdade. Mas essas coisas que te travam, que te fizeram acreditar que você deveria ser como seus pais, devem se tornar uma roupa que não serve mais.
Manter-se atualizado é uma evolução. Se adultos não queremos viver como nossos pais, precisamos deixar o passado acomodado para trás e trazer a mente  de volta para o inconformismo juvenil, não sei se faríamos um mundo diferente, mas pelo menos não deixaríamos mais certas situações passarem quietas. 

Recentemente a publicação The Economist usou uma frase de Kurt Cobain em uma matéria
sobre corrupção. Subculturas e política são interligadas. Kurt era jovem e suas músicas se direcionavam à outros jovens com as mesmas angústias.
"O dever da juventude é desafiar a corrupção."


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Pedimos que leiam e fiquem cientes dos direitos autorais abaixo:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
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18 de dezembro de 2016

Autoestima e Mercado Plus Size


Passei esse último semestre inteiro como voluntária num programa de estudos com jovens obesos – na verdade, virei cobaia de tese de doutorado mesmo. Enfrentei durante quase todos os meus dezoito anos de vida o desafio de perder peso o suficiente para ajustar o meu Índice de Massa Corporal e escapar daquelas piadinhas que ouvia das outras pessoas com relação ao meu corpo e, quando encontrei um programa completo de emagrecimento grátis, é claro que eu não deixei passar.

Pois bem, num belo dia tive a ideia de compartilhar com os meus colegas uns posts que falavam sobre autoestima e amor-próprio através do grupo do whatsapp, só pra dar um up na determinação de todos. Mal esperava que uma das médicas, que também estava no grupo do aplicativo, daria uma leve patada em minha pessoa. “Muito bons os posts, Aninha, padrões de beleza não têm nada a ver! Mas não podemos nos esquecer da saúde, pessoal!”, foi mais ou menos o que ela disse. 

OK, pode não parecer tão pesado, mas eu me senti bem incomodada a princípio. Não só pelo arrependimento de ter compartilhado os posts, mas também pela minha preocupação de ter feito com que me interpretassem mal – o que acontecesse muitas vezes com quem questiona a necessidade de emagrecer.

Copyright® Annah Rodrigues

Existe uma linha tênue entre emagrecer por questões de saúde e emagrecer por meras questões estéticas. Já foram constatadas inúmeras doenças que o excesso de peso pode causar e ainda tem-se o ideal de um corpo bonito ser um corpo magro/sarado. Não importa qual desses argumentos será levado em conta, as pessoas desejarão ter o corpo na linha. Mas, e quando chega alguém que se impõe contra esse fato social? Alguém que defende que a beleza não está no exterior ou até que não é preciso ser magro para ser saudável? Os outros a acusam de fazer apologia à obesidade.

Fazer apologia a algo não é condenável, afinal isso quer dizer, literalmente, que você defende uma coisa – a não ser que esse algo vá contra as normas da sociedade. É dito “normal” as pessoas almejarem o padrão magro de beleza e evitarem a todo custo fugir dele.

Agora, aonde quero chegar com essa conversa é que o mesmo acontece com as lojas Plus Size, que estariam defendendo a obesidade... Será?
Tendo em vista que o mercado de moda mainstream disponibiliza determinados tamanhos de roupa justamente pelo fato de promoverem a busca pelo ideal magro de beleza, o segmento surge nada mais nada menos como uma resposta à exclusão que esse faz de quem veste números maiores que 46. Ninguém está promovendo que as pessoas não precisam emagrecer para achar mais roupas legais que lhes sirvam, a verdadeira apologia é em relação à democracia da beleza e bem estar.

Você deve estar se perguntado: “Mas o que raios aqueles posts que você compartilhou no grupo têm a ver com isso?” É simples: assim como os posts, a iniciativa de criar um segmento que promove tal democratização também faz com que os outros tenham amor-próprio, tenham mais vaidade e sintam-se bem. 

Perdi só dez quilos – ainda me falta perder trinta – , mas parece que eu aprendi de vez como cuidar da minha saúde. Ao menos eu sei que, mesmo não tendo um corpo que me ensinaram que é mais saudável e que julgam ser bonito, posso encontrar roupas que me agradem e aumentem minha autoestima.


Autora: Annah Rodrigues
Estudante de Design e técnica em Multimídia aspirante à ilustradora. Uma colcha de retalhos ambulante: gosta desde rock e cultura alternativa até coisas de época e animes. Usa sua introversão e sentimento de (des)encaixe para refletir sobre coisas aleatórias nas horas vagas e desbrava aos pouquinhos a cena independente de São Paulo.
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15 de setembro de 2016

Fenriz, do Darkthrone e alternativos na política

Esta semana ficamos sabendo que o músico Fenriz, do Darkthrone foi eleito para o conselho municipal de sua cidade na Noruega. A história é um tanto bizarrinha: ele foi convidado a fazer parte de uma lista de candidatos a suplente de um vereador da cidade de Kolbotn. Ele topou, pensando que seria uma brincadeira. Mas como todo rebelde que se preze, escolheu o slogan "não vote em mim" com uma foto segurando um gatinho (pela cor, acredito ser gatinha). Não dá pra saber se as pessoas votaram por achar o gatinho fofo ou só pra sacanear, o fato é que Fenriz foi eleito! Tudo que ele precisa fazer é ocasionalmente, durante quatro anos de mandato, quando os titulares do cargo estiverem ocupados, ele deverá assumir a função "no meio de um monte de gente careta", ele diz. E complementa "sou um pilar na minha comunidade."


Duas coisas me chamaram a atenção: a primeira é que ele diz ser um pilar na comunidade, eu entendo que de alguma forma, ele se importa com o local ou é respeitado lá. E a segunda coisa foi a ausência (ou quase) de pessoas alternativas na política. Isso deve se dar porque muitos alternativos realmente querem distância do sistema. Só que política é algo praticado no dia a dia de muitos alternativos. Exemplos? Se engajar em causas dentro e fora da web - como o feminismo e/ou direitos LGBT.

Um caso famoso aqui no Brasil é de Alberto Hiar, também conhecido como Turco Loco, proprietário da marca Cavalera. Em entrevista para João Gordo declarou que o motivo dele ter entrado pra política foi devido à um show gratuito do Sepultura que organizou em 1989. Ao pedir a um vereador para liberar o local do show, o que recebeu foi desdém e piada com a cara dele, e ainda ouviu do mesmo "se quer fazer as suas coisas entra pra política". Ele entrou.

E se tivéssemos representantes políticos lutando por direitos alternativos?
Como transformar o assédio a quem é diferente ou de subculturas em crime de ódio, como aconteceu com Sophie Lancaster [leia aqui]? Ou pra se posicionar sobre a PLS 350/2014 que prejudica o trabalho dos tatuadores?
Mesmo que algumas pessoas não gostem de política, é inegável que as conquistas sociais desejadas precisam ser pautadas por representantes destas minorias.
O caso do Fenriz me gerou toda essa reflexão, inclusive sobre como a frase "política não se discute",  faz nos afastar dela. Talvez queiram mesmo que a gente fique quieto nossos cantos, caladinhos e com medo, só porque somos minoria. Mas acho que hoje em dia as pessoas tem mais consciência de suas causas e das mudanças que desejam. É torcer pra um dia termos nossos representantes! Que eles entendam que agredir, humilhar e ser preconceituoso com pessoas de visual alternativo é algo que não pode mais ficar impune.



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1 de agosto de 2016

O feminismo vendido como produto + Spice Girls e Girl Power

Há um tempo tenho observado diversas marcas usando frases como "Girl Power" e outras mensagens feministas como produtos de moda. Não há nada de errado em blusas com frases de efeito, na verdade isso é uma técnica de protesto através da Moda que eu apoio. A questão levantada aqui é o uso de pautas feministas pura e simplesmente por modismo descartável produzido em massa e que passam longe do conceito da empresa.  

Quando pautas feministas viram produtos comercializados em massa ou fora de propósito, tem seus significados esvaziados e logo perdem força. Uma das formas do sistema dominante tirar a força de uma causa é se apropriando dela. É um "truque" muito bem elaborado. Não apenas o feminismo mas outras causas sociais de igual importância costumam ter suas lutas cooptadas quando começam a se sobressair.


Muitas mulheres estão engajadas com o feminismo no dia a dia, seja politicamente, em grupo ou solitárias. O feminismo tem sido debatido em diversos sites ao redor do mundo conscientizando cada vez mais. Atento à isso, as empresas visando ganhar a simpatia destas mulheres passam a fazer campanhas de marketing e criar produtos que reflitam pautas da ideologia. Assim como grandes empresas, marcas alternativas também tem embarcado nessa pra acompanhar as trends. 

Mas deixo um alerta: não se pode dar um passo maior que a perna e vender algo que não possam sustentar. A partir do momento em que se é dono de uma marca e usa-se do marketing para divulgar as peças, deve-se evitar esvaziar o significado de qualquer causa social que esteja em evidência. Deve-se ter responsabilidade sobre o que está vendendo especialmente se seu público alvo é muito jovem.

Desde o último ano, centenas de lojas online apareceram com o mesmo tema de coleção: anos 90, pegada Clubber, Kawaii, Riot Grrrl e "empoderamento feminino". No embalo destas tendências querem aliar a imagem da marca ao estilo "cool" mas acabam prejudicando de alguma forma os movimentos sociais e políticos.


Como lidar quando uma loja anuncia que vende "looks para todos os corpos" com modelos "plus size" na foto de marketing, mas ao analisar o catálogo, a maioria absoluta das roupas vendidas
vão apenas até o tamanho G?
@gypsywarrior

O movimento Riot Grrrl que informava sobre feminismo e incentivava meninas a terem suas bandas, também tem seu conceito vendido como produto de moda.
@gypsywarrior

Colar "Riot Grrrl" da Disturbia. A marca sempre focou no gótico e no ocultismo, sendo uma das lançadoras desta tendência. O que os fez vender um produto tão diferente do que costuma ser seu catálogo? Oportunismo comercial?

@Disturbia Clothing

Não há inocência no mercado. O mercado quer vender. Se uma marca está vendendo “girl power" ela precisa oferecer produtos que cheguem à todas as mulheres (Helena do blog Garotas Rosa Choque escreveu um post sobre blusas "empoderadoras" que só vem em tamanho P).
Se uma marca quer empoderar mulheres, que tomem como exemplo outras marcas que já fazem sem utilizar a banalização do feminismo: reestruturando seus conceitos e visões de mercado. Se engajando pessoalmente em movimentos ideológicos que se identifica, assim a mudança pessoal se refletirá naturalmente no trabalho sem precisar reproduzir um estereótipo vazio de significado.
Não dá pra vender girl power se a marca não abraça e dá "poder" às mulheres que visa como público alvo. Um exemplo muito conhecido dessa confusa mistura de moda, feminismo e comércio  são as Spice Girls. 




Em meio as comemorações dos 20 anos do single "Wannabe", tem se falado muito sobre o girl power do grupo pop que influenciou diversas meninas. Pra falar sobre isso vou levantar alguns fatos daquela década:
- Fundada em 1988, a revista feminista Sassy é lida por adolescentes até seu fim, em 1994.
- Em 1991 surge o movimento Riot Grrrl que perdura até 1997.
- Em 1995 a banda Shampoo lança seu álbum chamado Girl Power [video].
- Gangs de meninas estavam em voga na mídia, como as Patricinhas de Beverly Hills, Jovens Bruxas e em grupos como TLC, Salt-N-Pepa: garotas de atitude e de sexualidade agressiva.

Foi na década de 1990 (como abordamos aqui) que a cultura alternativa passou a ser cooptada em definitivo pelo mainstream. De lá pra cá, o sentimento e o comportamento de grupo perdeu lugar para o individualismo. Este comportamento de grupo era típico dos movimentos feministas dos anos 1960, 1980 e das Riot Grrrls. O “feminismo” das Spice Girls sugeria uma “sisterhood”, onde amigas se ajudavam a serem mais autoconfiantes. Mas esse tipo de mensagem pouco fez efeito em mudanças sociais, pois elas já estavam na onda individualista, tanto que cada uma tinha um estilo próprio. Muitas meninas tiveram contato com essa abordagem de empoderamento individual, mas sem o engajamento político nas causas feministas. 


As Spice Girls e o Girl Power como produto
As Spice eram um grupo concebido por empresários e Geri Halliwell era a mais envolvida nas composições. Elas tinham essa ideia maravilhosa de "fraternidade feminina" que infelizmente foi abafada pela imensa dimensão comercial que elas tomaram como artistas. De repente aquele Girl Power empoderador virou diversos produtos: pirulito, bolsa, chiclete, Pepsi, maquiagem, bonecas (veja lista aqui), roupas, um "feminismo" divertido e fofo sem criticas sociais e de gênero, tudo dentro das tendências de consumo do mercado adolescente. 




Wannabe” é uma canção que prega o valor da amizade entre mulheres mas segundo o documentário feminista "Atitude Cor de Rosa" [teaser aqui], peca na parte principal, quando as garotas dizem o que querem:

“tell me what you want, what you really, really want” 
(me diga o que você quer, o que você quer muito, muito mesmo)
"I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really Really really wanna zig zig ha."
(eu quero, eu quero, eu quero, eu quero, eu quero muito muito mesmo zig zig ha)


As mulheres querem muito, mas muito, muito mesmo tantas coisas, mas na letra elas querem justamente algo que não significa nada: "zig zig ha". É um exemplo do esvaziamento de fala de mulheres quando chegam na posição de dizer o que querem e o que pensam. Quando elas finalmente estão com toda atenção para si, com as roupas certas e atitudes certas, o que sai de suas bocas é um desejo vazio de significado que ninguém entende. É como colocar uma mulher pra discursar num palanque mas quando ela abrir a boca, ao invés de um discurso eloquente, sair um monte de balõezinhos de blablabla e mimimi. Ou como o estereótipo da mulher linda e burra que não fala nada com nada ou da intelectual chata que precisa ser silenciada.

O “zig zig ha” é como uma metáfora de tudo isso, porque visualmente o estilo e o comportamento das Spice tinha atrevimento e provocação. Era comum na década de 1990 a ideia de “ter atitude". Isso diferenciava uma garota 'normal' de outra mais ousada ou alternativa. As Spice eram desbocadas, Victoria não sorria nas fotos, Geri quebrou o protocolo num nível altíssimo quando apertou a bunda do Príncipe Charles. Elas batiam de frente com a ideia de garotas serem Barbies ou Princesas Disney, tanto que Mel C tinha um visual bem moleque. Eram sensuais sem neuras quanto às suas sexualidades, sem se preocupar com julgamentos. E naquela época ainda era tabu falar abertamente de sexo. 
Mas feminismo é um movimento de engajamento político e isso elas não tinham.



A formação da mentalidade de consumo feminino através da Moda.
As Spice fizeram um bom trabalho influenciando garotas à sua maneira. Mas hoje, percebemos que aliar consumo a feminismo não é um bom negócio. É bom problematizar um pouco quando começamos a perceber como o patriarcado vende as mulheres para mulheres. 

O marketing quando usado em parceria com a música pop tem um alcance que o alternativo não tem. Ele consegue atingir justamente quem necessita ouvir esse tipo de mensagem. A cantora Shirley Manson e Kathleen Hanna (uma das criadoras do movimento Riot Grrrl) elogiam Miley Cyrus, o que nos deixa intrigadas sobre algum lado da Miley que não conhecemos. O pop e o alternativo podem ter relação sim, especialmente se há ideologias em comum. Kathleen Hanna hoje dá entrevistas para veículos que jamais daria na época de Riot Grrrl, porém, nunca a vimos dar um elogio sequer às Spice.

As Riot Grrrls, criadoras* do termo Girl Power, eram contra o feminismo sendo usado como mercadoria a ser consumida e hoje consigo entender o porquê: porque feminismo é uma causa política muito séria que envolve mudanças comportamentais e sociais muito grandes que nem todos estão dispostos a fazer. E justamente estes que não estão dispostos a ceder seus privilégios ou que podem ser prejudicados é que ajudam a abafar lutas sociais de mudanças de mentalidade e comportamento.

A moda é uma das indústrias mais poderosas do mundo, ela molda os gostos das pessoas. Ela dita comportamentos. A moda decide o que você vai comprar neste verão. Diz o que você deve exibir pra ganhar status. A moda tem um poder absurdo na formação da mentalidade de consumo das mulheres. A moda sabe que mulheres compram o que é vendido de forma “certa”. 
A moda prega o individualismo. Só que qualquer mudança social que quisermos não faremos sozinhas, individuais, só faremos reunidas em grupo. E garotas jovens buscando esse individualismo são o consumidor foco dessa indústria poderosíssima que não está interessada em ideologias, mas sim em lucros. 


* criadoras no sentido em que conhecemos hoje, aliado ao feminismo.

Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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26 de julho de 2016

Pensata: Assédio no Rock, Jon Bon Jovi e Bruna Lombardi

Muita gente aqui deve ter visto o vídeo onde mostra a Bruna Lombardi dando um chega para lá no Bon Jovi. Ano passado, já o tínhamos compartilhado na page do blog, mostrando mais como uma situação histórica de um rock star ultrapassando os limites e sendo replicado pela falta de educação. Só que um tempo atrás, esse vídeo tornou a ser viralizado na internet, porém agora o contexto por trás era outro. E bem mais sério.

No início de Junho, houve enorme repercussão na mídia o assédio que uma repórter do IG sofreu de um cantor. Devido ao assunto em pauta, alguns veículos relembraram casos semelhantes e assim, o vídeo de Bon Jovi e Lombardi ressurgiu causando um alvoroço. Tal efeito acabou gerando diversas manifestações como, obviamente, fãs defendendo o músico e atacando a atriz. Já outros aproveitaram a situação para falar mal do trabalho do cantor. Infelizmente, acabou-se tirando o foco de um debate mais profundo.

Parte da entrevista concedida em 1993


Apesar da entrevista se passar com Bon Jovi, o fato é que o tema não é exclusivo dele. Não adianta diminuir sua música porque a questão não é essa e ele não é o único. Grandes figurões do Rock têm em seus currículos não só assédios, mas também acusações de violência doméstica e até estupro. Também não adianta atacar a Bruna dizendo que provocou com as perguntas. Aliás, para quem assistiu a entrevista dela com o Keith Richards sabe que por pouco não tomou um fora dela. Interessante que Keith dá a desculpa de “uma velha piada do rock”, o que faz lembrar de diversas falas onde artistas revelavam que um dos motivos de cantarem era para pegar mulheres. Vai ver que é por isso que ficaram mal acostumados...

Ou seja, o que ocorre na gravação é algo muito mais comum e arraigado na cultura do que algo só do Bon Jovi. A diferença foi que a atitude dele além de ser explícita, foi capturada pela câmera. E uma das coisas mais difíceis é provar assédio. Não só sexual, moral também. Por essa razão, vítimas costumam não denunciar pela dificuldade de comprovação e que irá resultar em questionamentos sobre a veracidade da acusação.

Com a repercussão do caso Biel, foi criado a campanha “Jornalistas Contra Assédio”, onde relatam episódios absurdos vindos de todas as partes, desde entrevistados a colegas de trabalho. É importante que a questão não seja mais ignorada. Quantas mulheres abandonaram carreiras ou deixaram de trabalhar em certos locais prejudicando suas vidas profissionais devido ao medo causado pelo assédio? São traumas que muitas vezes não há dimensão. O pior de tudo é que geralmente tais agressões ocorrem no início da profissão, logo uma fase de vulnerabilidade pela falta de experiência. A apresentadora Ana Maria Braga relatou um dos seus casos (assista aqui) no Altas Horas que ocorreu justamente quando era iniciante.

Esse post não tem propósito de ficar apontando o dedo. A tag das pensatas são como o próprio nome diz, provocar o pensamento, tentar evoluir e quem sabe, procurar soluções para problemas que não podem mais se perpetuar como algo “normal”. Não é fácil ver nossos ídolos tomando atitudes questionáveis. Um bom início seria evitar nas entrevistas a famosa pergunta: o que acha da mulher brasileira? No exterior, somos superobjetificadas e essa frase, fora de um bom contexto (se é que existe), nos diminui pois é voltada ao corpo e não ao intelecto. É um triste clichê que induz a uma resposta infeliz. E não deve continuar mais assim.



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