Fui à
Galeria do Rock esta semana disposta a comprar algumas coisas. Ver, observar e analisar como anda o "
shopping" oficial da moda underground no Brasil. Confesso à vocês que estou decepcionadíssima. Nunca senti tanto tédio na Galeria.
*Nota da autora: atenção à data da postagem: março de 2010. Muita coisa mudou de lá pra cá, incluindo a moda alternativa nacional*
Vi roupas muito caras com tecidos de pouca qualidade, acabamentos ruins e muita coisa igual.
Vou nas lojas como uma consumidora normal, e a Moda Alternativa é meu foco de estudo e nada escapa ao meu olhar. Observo tudo: vitrine, manequins, roupas, decoração, atendimento, disposição das peças...
Muitas das roupas que vi nas lojas de rock eram de tecidos baratos (sou estilista e conheço tecidos razoavelmente bem), alguns encontrados em lojas de fantasia, o que dava uma aparência pobre à roupa. Nada contra usar tecidos baratos, mas se usamos tecidos baratos, precisamos ter jogo de cintura ao fazer as peças pra ele não aparentar ter custado pouco. Haviam peças com acabamentos tortos ou mal feitos. O resto, toda aquela imensidão de lojas, está vendendo roupas muito caricatas.
Fiquei chocada com uma uma saia básica custar 120 reais. Sei que são peças de estilo e obviamente devem ser mais caras que as roupas normais, e também sei que os lojistas precisam sobreviver neste meio, mas considero isso preço de grife! E grifes, pelo que eu saiba, trabalham com materiais de primeira qualidade, tem ateliê/confecção, investem em profissionais formados e atualizados no mercado. Neste caso, o tecido da saia poderia ser comprado na 25 de março por 20 reais o metro e a saia usava 40cm de tecido, ou seja, poderia ser vendida por uns 50 reais e o empresário já tirava um lucro bom!
Há marcas alternativas que podem vender uma saia por 120,00 porque são criações autorais, com qualidade e feita por profissionais, mas é preciso entender que há marcas cuja peça não é elaborada e o tecido/acabamento é de baixa qualidade. As lojas podem colocar o preço que quiserem em suas roupas, é claro; mas certos valores soam desleais com o consumidor. O preço deve ser compatível com o que é oferecido.
Talvez os altos valores justifiquem as baixas vendas, mas será que não é preciso repensar? Perceber que o consumidor não é bobo? Perceber que se a peça é cara o consumidor leva só uma ao invés de duas ou três? Perceber que há pessoas adultas que precisam de roupas compatíveis com a idade? Perceber que há um público ávido por peças mais elegantes e menos sexies? Às vezes o menos é mais.
Falta variedade de estilo (há poucos estilos de subculturas), vi apenas uma do estilo Gothic Lolita (que precisa urgente melhorar a qualidade) e as estilo Pin Up deixaram a desejar. E faltam cores também, está tudo muito negro. Ser alternativo não é usar só roupa preta.
Outra coisa que me chamou a atenção foi a mesmice: todas as lojas vendem as mesmas roupas. Das mesmas confecções. O que seria isso? Tentativa de anular a concorrência? A concorrência é fundamental pro crescimento do mercado, a mesmice não é o que atrai o consumidor alternativo que procura algo novo, diferente e inovador.
Já frequentei muito a Galeria, já fiz muita compra de blusinhas a 30 reais (preço compatível na época com as peças), lembro que as saias eram na faixa de 40 a 60 reais e que algumas peças eram mais caras (no máximo até 100) porque eram super elaboradas, diferentonas, valiam o preço. Não digo que tudo deva custar estes mesmos preços hoje, mas me deu a impressão que antigamente os preços eram mais compatíveis com a qualidade do produto.
Não é por sermos alternativos que devemos ser obrigados a vestir peças de baixa qualidade e andar na rua com roupas de tecidos de aparência "barata" mas que pagamos R$100.
Onde está o mercado alternativo nacional?
O que há de moda alternativa de fato, neste país? Ela existe? Há essa alternativa?
A moda alternativa, como o próprio nome diz é uma alternativa à moda mainstream.
Mas o que acontece é que por não encontrar o que preciso na moda alternativa, recorro a moda mainstream.
E por mais contraditório que possa parecer, é a moda mainstream que tem salvado meu guarda roupa há alguns anos. O restante das roupas do meu guarda roupa são peças feitas por mim mesma. Pois o alternativo não está acompanhando com a mesma rapidez os meus desejos consumidores.
Parece-me que falta profissionalismo na moda alternativa nacional, está tudo ainda muito amador.
Há algumas poucas marcas/lojas na Galeria que merecem meu total apoio, pois vi uma melhora na qualidade das peças com o passar dos anos e a tentativa de cativar o consumidor.
Por conta de tudo que vi, estou preparando uma pesquisa sobre a Moda Alternativa no Brasil, e assim que o questionário estiver pronto, vou divulgar as questões e pedir aos leitores do blog que as respondam. Esta pesquisa ficará comigo e fará parte de meus estudos.
Pra finalizar, eu não saí de mãos vazias da Galeria, eu comprei apenas uma blusa, em uma loja que eu não conhecia e que fui muito bem atendida por uma moça muito estilosa e simpática que foi muito caprichosa: pegou a blusa que comprei e colocou em um saquinho de presente com um adesivo da loja e depois colocou o saquinho numa sacola de papel negro com o logo da loja - um mimo! Nada daquelas sacolas de plástico pretas!
Essa loja ganhou pontos comigo. Pois eu achei o máximo o carinho com que trataram o consumidor.
Sobre a blusa, porque a comprei? Porque reconheci a marca da mesma.
Não era marca de nenhuma loja da Galeria, e sim, de uma confecção do Brás, com a qual já fiz desfile, uma confecção de qualidade e o preço que ela estava sendo vendida era compatível.
Comprei porque tive certeza que paguei o preço que a peça valia, porque destes assuntos, felizmente, eu entendo.