Destaques

14 de abril de 2014

Baby Boomers, Geração X e Y: como os jovens lidam com a moda e o consumo.

O conceito de adolescência e juventude como conhecemos hoje surgiu na década de 1950, naquela época teddy boys, rockers e beatniks já davam as caras. Antes disso, os jovens tinham pouca importância social e os comportamentos associados à esta faixa etária eram vistos como negativos. Assim, ao sair da infância, o jovem já era logo vestido de forma a parecer o mais maduro e adulto possível, desta forma poderiam participar ativamente da sociedade.
Tanto na época Revolução Francesa quanto no Movimento Romântico do começo do  século XIX, houveram  jovens que provocaram uma certa rebelião e contribuíram pra associar o comportamento juvenil à algo socialmente indesejável.
Desde o surgimento do conceito de juventude, três gerações tem sido estudadas. Sendo elas os Baby Boomers, a Geração X e a Geração Y.

Baby Boomers
São pessoas nascidas entre 1946 e 1964, frutos do crescimento populacional do pós guerra. Esses foram adolescentes/jovens entre os anos 1960 e 1970, duas décadas marcadas por revoluções comportamentais, protestos contra ditaduras, a primeira e segunda ondas do feminismo e o surgimento de subculturas.
Devido à industrialização, esses jovens podiam estudar e trabalhar meio período e o dinheiro que recebiam eram gastos com eles mesmos, gerando uma certa independência dos pais e fazendo com que passassem a consumir produtos de seus interesses. Surgiu assim, um mercado de consumo voltado especificamente para esta faixa etária. Eles moravam com os pais, mas pela primeira vez podiam expressar seus gostos pessoais  e ter opiniões sobre sua própria vida.
O rádio se tornou um eletrodoméstico popular, assim, a música passa a ser de extrema importância para os Baby Boomers. O rock é um dos sons que embala o divertimento dessa geração que curtia se reunir em grupos, passear ao livre e viajar de automóvel. Ideológicos, faziam de tudo pra se comportar de forma diferente de seus pais e pregavam mais liberdade no modo de vestir.
Manifestações juvenis que ocorreram em vários países, conhecidas como as revoluções de “Maio de 1968”, reivindicavam liberdade, paz, amor, eram contra ditaduras e as antigas regras da sociedade. Havia uma ânsia de romper com os valores das gerações anteriores e emancipar o indivíduo. Se nos anos 1950 ser elegante era regra, para a geração dos anos 60 isso era obsoleto. Assim, a capital da moda, de Paris, se transfere pra Londres. A revolução na Moda começa com os jovens, uma dessas revoluções foi a minissaia. As roupas agora não duravam tanto, o que fez delas mais baratas e comprando mais, poderiam diversificar seus visuais. Essa juventude fez do próprio corpo a mídia e a auto expressão. Se a roupa antes era usada como proteção e como adorno, eles as transformaram  em um novo meio de comunicação e de identidade.

Alguns movimentos juvenis originados nesta geração:
Hippies: ao contrário de seus pais, viviam uma vida descompromissada. Sua moda era colorida, alegre, com peças soltas, longos vestidos, estampas florais e artesanais. O vestuário masculino, tão sério entre os homens dos anos 50 e 60, nos jovens hippies ganhou leveza e adornos. Eram em sua maioria jovens de classe média e que sempre teriam a casa dos pais pra voltar caso algo desse errado. No começo dos anos 70 eles já estavam desaparecendo, tanto porque muitos viraram adultos quanto porque sua moda foi cooptada pelo mainstream. Um outro fato que pode ter dado fim ao movimento foi o brutal assassinato da atriz Sharon Tate pela seita hippie de Charles Manson.




Punks: a crise do petróleo nos EUA e a modernização da indústria trouxe desemprego. Na Inglaterra, o governo de Margaret Thatcher pôs fim ao serviço gratuito de saúde, ao salário mínimo, à distribuição de leite nas escolas entre outras coisas. Os operários viam seus filhos com futuro incerto. Assim, surgem os punks, jovens que eram chamados de “lixo da sociedade industrial”. Ao contrário de hippies e beatniks, os punks não queriam mudar o mundo, queriam gritar sua revolta e chocar a todos com visuais agressivos. Não se preocupavam com a beleza e o senso estético. Roupas com conceitos desconstruídos, alfinetes, elementos S&M, mistura de símbolos do nazismo, comunismo ou anarquismo visavam contrastar com a estética tradicional do resto da sociedade. Com o faça-você-mesmo eles criaram as próprias gravadoras, as próprias bandas e fanzines sem depender de empresas. A estética punk influenciou subculturas que vieram depois. Sua moda foi vendida como grife por Malcom McLaren e Vivienne Westwood e posteriormente lojas de departamento passaram a vender roupas inspiradas no movimento, o chamado “punk de boutique”.


Heavy Metal: as origens do heavy metal datam entre os anos 1960 e 1970. Dos americanos do Steppenwolf que primeiro se referiram ao termo “heavy metal” às letras soturnas e depressivas de bandas como Black Sabbath, surgida em Birmingham, berço da Revolução Industrial inglesa, uma cidade na época considerada sombria. Os metallers são herdeiros estéticos inicialmente dos rockers, dos hippies e posteriormente incluíram elementos da moda punk em suas vestimentas. Sentiam repulsa pela palavra "moda" e evitavam ser associados à ela. O visual base era típico de classe operária: jeans, camiseta, botas e jaqueta.

Góticos: surgidos entre 1979 e 1984, eram jovens introspectivos, niilistas, hedonistas com interesses  sombrios, filosóficos e literários. Sua moda era uma mistura de decadência e elegância. Muito preto, referências da moda medieval e vitoriana desconstruídas e incluíam também elementos usados pelos punks. Os góticos eram mais passivos em comparação com punks e metallers, pois eram mais interessados em questões existencialistas. Os góticos nutrem paixão por moda (gótica, claro!) e acessórios e adoram enfeitar-se.


Geração  X
São pessoas nascidas entre 1965 e 1980 (alguns estendem até 1984). A principal característica desta geração é ter ambos os pais trabalhando e terem crescido em lares onde a TV era o principal entretenimento, sendo assim era comum a adoção da estética de ídolos de vídeo clips. Ao invés de parques e praças, preferiam seus quartos (a clássica “fulano não sai do quarto”) e eram mais introspectivos. Se os Baby Boomers adoravam protestos e se agrupar nas ruas, a geração X preferia o vídeo game.  
A revolução foi substituída pela angústia e que tudo continuaria como sempre, sem mudanças significativas na sociedade. Assim, surge  o movimento Grunge e as Riot Grrrls.
Já tendo nascido conhecendo o rock, o hippie, o punk e o gótico, essa geração se identifica com tais subculturas um pouco pela ideologia, um pouco pela aparência e muito pela música. Como novas possibilidades de vestimentas surgem, é possível que o vestuário destes jovens seja mutável. Assim, interesses ideológicos podem ficar em segundo plano já que existe uma grande variedade estilos que possibilitam criar looks diversificados e a beleza novamente não tem tanto foco, ser diferente também inclui ser estranho, esquisito. Além das subculturas já citadas, esta geração viveu também o Hard Rock, o New Wave e as ondas Clubber, Cyber e Raver.

Clubbers e grunge


Geração Y
É a geração jovem atual, também chamada de Millennials, são nascidos entre o começo dos anos 1980 até aproximadamente os anos 2000. São jovens que nasceram cercados de mídia e tecnologia. A sociabilidade é contrastante, podendo ter mil amigos numa rede social e poucos relacionamentos reais fora do mundo virtual. Lidam com as novidades de forma veloz, o que é novo hoje, amanhã pode já ser obsoleto. O excesso de informação recebida faz o jovem se concentrar apenas no que lhe interessa, nem sempre absorvendo o que é importante. 
Se a geração X tinha pouco interesse em revoluções, a geração Y tem menos ainda, suas revoluções são virtuais e pouco palpáveis. Assim como nas gerações anteriores, os debates sobre feminismo ressurgem mas especialmente em blogs e fóruns on-line.
Um mundo virtual moldável e que pode ser retocado lhes dá conforto, já que a beleza e estar dentro de padrões estéticos é importante. É comum que jovens se destaquem virtualmente com uma aparência idealizada e, como a vida real não permite retoques, precisam de segurança e auto-estima para sustentarem a vida que criaram virtualmente, assim, a Moda entra como a principal máscara para esta geração, pois a “roupa certa” impede que eles sejam rejeitados pelos semelhantes. É comum que a cada hora adotem um padrão estético, ao mesmo tempo que usam da moda mainstream também procuram se diferenciar se inspirando na moda das subculturas revivendo estilos do passado à seu modo. 
Grupos que surgiram desta geração: emos e scene kids - muito ligados à moda, aparência e beleza, cada um à seu modo e com algum interesse em chamar a atenção pelo looks. E mais recentemente o hipster e alguns subestilos de moda alternativa que estão em desenvolvimento como pastel goth.

Para a geração Y ter beleza e corpo padrão é importante, pois a imagem que projetam na web precisa ser transferida pra vida real. A mistura de estéticas subculturais é muito comum.

Tribos Urbanas ou Subculturas?
Há debates ainda hoje sobre a nomenclatura ideal, porém o termo “tribos urbanas” tem sido cada vez menos usado, pois há os que digam que “tribo urbana” num sentido mais antropológico, se refere à grupos com certa hierarquia e contestadores da ordem. Com o desenvolvimento destes grupos ficou claro que nem todos estavam aí pra contestar a ordem. A palavra subcultura tem sido considerada a melhor nomenclatura pra se referir à estes movimentos, pois estes jovens tem como base a classe operária ou classe média e são afetados pelos mesmos problemas que a sociedade em que estão inseridos enfrenta (como desemprego, transportes, consumo e etc), mas de alguma forma vivem em paralelo e tem seus próprios meios de diferenciação. 

As Subculturas e a Moda
Muitos jovens que se identificam e passam a fazer parte de subculturas usam a moda tanto como diferenciação e identificação de grupo como muleta para suas inseguranças. Como as gerações mudam, antigamente um punk sempre seria um punk e um gótico sempre seria um gótico, mas de tempos pra cá surgiram os “simpatizantes”, que são uma parte bem maior da juventude que não compartilha totalmente os ideais do grupo, mas gostam da música e especialmente da estética quando lhes convém, um dia podem estar góticos, no outro grunge no dia seguinte mais metal. 

Para que um estilo de vida ou a estética subcultural chame a atenção da moda, é necessário que esta conquiste as pessoas tradicionais.  E a forma disso acontecer é amenizando os aspectos mais "pesados" das modas das subculturas.
Num eterno ciclo, assim que a moda mainstream absorve elementos da moda alternativa, seus reais adeptos sentem desprezo e partem em busca de novos elementos de diferenciação, pois o sistema capitalista lucra em cima de estéticas que seriam individuais e originais transformando-as em estética de massa. Atualmente com as tendências de moda sendo criadas e vendidas cada vez mais rápido em lojas de fast-fashion, diversas estéticas alternativas são cooptadas ao mesmo tempo, fazendo com que a própria estética alternativa também tenha uma velocidade maior de diversificação. 
A dupla “moda” e “juventude” ainda caminhará junta por muitas gerações. 

Além dos escritos de autoria própria, também consultei os trabalhos Acadêmicos de Mariane Cara (Gerações juvenis e a moda: das subculturas à materialização da imagem virtual) e Elisabeth Murilho da Silva (Moda e rebeldia: as estratégias de diferenciação das culturas juvenis).
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5 de abril de 2014

Grunge: A sujeira que fisgou a Moda

Dois mil e quatorze começa com uma data importante para o Grunge: os 20 anos do falecimento de Kurt Cobain, por suicídio, no dia 5 de Abril. Diversas homenagens já foram divulgadas, começando pelo aniversário do cantor, 20 de Fevereiro, onde se oficializou o “Dia Kurt Cobain”, com uma estátua do músico – bem esquisita, aliás – em sua cidade natal, Aberdeen. Mas o destaque fica pela entrada do Nirvana no Rock N’ Roll Hall of Fame, no próximo dia 10.

Resumo do Grunge
Como muitos já devem saber, a história do Grunge surge no final dos anos 80, indo totalmente contra ao Glam Metal e seus excessos de maquiagens e laquês. As bandas rejeitavam apresentações de palco complexas e com alto orçamento, dando preferência a performances mais "básicas". Com forte influência no Punk, as canções passam a ter conteúdo agressivo e niilista, definições que dariam continuidade ao comportamento desses jovens. A cidade de Los Angeles sai de cena para a entrada de Seattle e outras menores, como Tacoma, Aberdeen, Montesano e Olympia.

Interessados em algo novo, os olhos da indústria se voltam para o estado de Washington, e assim as portas começam a se abrir para os grupos de rock locais. Foi então que, em 1991, o Grunge atinge o auge com o lançamento do álbum Nevermind, tornando a música “Smells like teen spirit” o ápice daquela geração. Os holofotes se viram para o Nirvana, entretanto, outras também ajudariam a crescer o cenário, como Mudhoney, Melvins, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden.

Algumas bandas da época: 
Pearl Jam, Alice in Chains, Mudhoney e Soundgarden.
bandas grunge

A partir daí o mundo não só passa a conhecer, mas a idolatrar esse estilo desalinhado. Algumas atitudes continuariam, como o abuso de drogas sofrido publicamente pelos ídolos, só que a preocupação com a aparência e os ataques de estrelismo da década de 80 não teriam mais nenhum valor. Ao contrário, seriam motivo de deboche. O documentário Hype é ótimo para quem quiser aprofundar na parte musical.

Sobre a Roupa
O interessante em se observar a vestimenta dessa fase, era ver que nada mais era do que as roupas utilizadas no dia a dia. Ou seja, iríamos vê-los assim no palco, na fila para comprar o pão ou na hora de dormir. Não tinha diferença. E quanto mais barato fosse, melhor. Não só porque não ligavam para a estética, mal se tinha dinheiro para investir em equipamentos, imagina em roupa! Tanto que, muitos compravam suas roupas em bazares de segunda mão, o que poderia ser o motivo de algumas serem maiores do que o tamanho do usuário.

O símbolo que logo vem a cabeça quando pensamos em “estilo grunge” é a camisa de flanela com estampa de xadrez. Essa é uma peça regional, vestida por longa data pelos moradores locais. Sua origem vem dos lenhadores canadenses por sua forma utilitária de material barato e durável. Isso facilita entender o porquê do item ser tão comum. Seattle é próximo ao Canadá, inclusive Aberdeen fica a poucos quilômetros da fronteira com o país. São cidades onde as temperaturas costumam ser bem baixas, o que facilitou a popularização do tecido por lá.

Existe também uma versão curiosa ligada ao canadense Neil Young, considerado “Avô do Grunge”. A camisa de flanela -e outras peças usadas pelo músico bem antes dos anos 90 - levantaram suspeitas de sua influência no movimento. De fato, se prestarmos a atenção, realmente há fortes semelhanças entre os dois. Por isso, deixamos a critério de cada um sua conclusão.
Curiosidade: Na carta de suicídio do Kurt Cobain, ele cita uma frase da música Hey Hey, My My de Neil Young: "It's better to burn out than to fade away" // "É melhor queimar do que se apagar aos poucos".


Além da camisa xadrez (muitas vezes amarradas na cintura, pois a temperatura em Seattle pode oscilar em 20 graus no mesmo dia, portanto é conveniente ter sempre uma peça de manga comprida por perto), outros itens também fazem parte do vestuário grunge. Devido à recessão econômica e a filosofia anti-materialista, a compra em brechós e lojas do Exército da Salvação eram comuns. Bermudões largos ou ao estilo cargo, ceroulas usadas sob as calças (devido ao tempo instável), calças jeans rasgadas, tênis all star, coturnos, gorros, mitenes, peças em couro sintético, casacos de lã e camisetas superlargas com escritas – que Kurt adorava usar, algumas até com provocações - seriam a última moda dessa geração que detestava grifes e prezava pelo o conforto, na contramão da estética chamativo que existia na década de 80..

James Truman, editor-chefe da revista Details, disse que: "O grunge não é "anti-moda", é "sem moda". O Punk era anti- moda. O grunge não está fazendo uma declaração (de moda) e é por isso que a Moda ficou louca por ele."

Na primeira capa do Nirvana na Rolling Stone, Kurt Cobain posa com uma camiseta escrita: “Revistas corporativas ainda são um saco”.
bandas grunge nirvana


A Moda Grunge Feminina
Até determinado momento não houve uma "moda grunge feminina". O estilo era unissex. As mulheres dessa cena não eram vistas como objetos sexuais igual as do Heavy Metal e Glam Metal. O mesmo tipo de roupa usada pelos garotos era também pelas garotas: calças e blusas mais largas ou rasgadas, sobreposições, muita estampa xadrez, vestidos com estampas florais, nenhuma maquiagem e cabelo natural.
Mas num dado momento, quando Courtney e Kat surgem com o Kinderwhore, as meninas que se identificavam com elementos mais femininos e atrevidos viram adeptas. Então passa-se a ter duas linhas: a unissex e o kinderwhore.

Nas fotos abaixo, a moda grunge feminina em diversas variações com as bandas Bikini Kill e L7.
grunge bands female grunge bands L7 bikini kill
 grunge female bands


O Grunge na Moda Mainstream
Ironicamente, contrariando a anti-moda (ou falta dela!), o Grunge apareceria nas passarelas. Anna Sui abusaria de xadrezes com listrados nas peças. Marc Jacobs marcaria sua fama na indústria ao ser demitido da luxuosa grife Perry Ellis após apresentar uma coleção com cardigãs de crochê sobre vestidos esvoaçantes e suéteres de mendigo sobre calças refinadas. Em uma entrevista ao portal WWD, Courtney Love surpreendeu ao dizer que Jacobs enviou ao casal peças da coleção, mas que “eles haviam queimado, pois eram punks e não gostavam desse tipo de coisa”. Hoje, a cantora aparece com frequência nos desfiles do estilista e define sua evolução na moda como pré e pós-Birkin.

Na primeira imagem, desfile de Anna Sui. Na seguinte, Twiggy posando com uma roupa da coleção para a Vogue Itália de 93.
anna sui twiggy grunge

O famoso editorial feito por Steven Meisel para a Vogue Americana de 92. Tops como Naomi Campbell, Nadja Auermann e Kristen McMenamy fizeram parte da produção com roupas da Perry Ellis que rendeu a Marc Jacobs sua demissão da marca.

grunge marc jacobs


Vale comentar aqui sobre a forma absurda que o Grunge alterou a moda masculina quando chegou ao mainstream. Ele veio com as calças cargo, bermudas e calças largas, jeans estonado. Os homens nos anos 80 e começo dos anos 90, costumavam usar calças mais justas, retas e pouco informais. O grunge inseriu a casualidade e o streetwear com força na moda masculina. Se hoje os homens usam e abusam de uma informalidade absurda em seus trajes, isso é um reflexo da amplitude que o estilo grunge tomou após ter sido absorvido pelo mainstream. Quando analisamos a moda masculina recente, essa informalidade e permanência é marcante.

Outro reflexo da impactante presença da moda grunge masculina foi quando o estilo começou a adentrar naturalmente em estéticas subculturais mais fechadas, como na cena heavy metal. Nos anos 90, o mundo hiper masculino do Heavy Metal fez uma pausa. O grunge dava aos homens o que o heavy metal não dava: a oportunidade deles serem angustiados, infelizes e emocionalmente fragilizados. É comum os headbangers menosprezarem o grunge, pois este tirou deles a mídia e o espaço na Mtv. Mas num dado momento, a moda grunge se tornou tão dominante que sua estética acabou absorvida pelos mesmos headbangers que os criticavam. Na foto abaixo, da banda Slayer, reparem no visual de Tom Araya (à direita): jeans largos e de lavagem estonada, camiseta, jaqueta xadrez e cabelos desgrenhados. Ele se vendeu ao grunge? Não, mas a informalidade do grunge atravessou barreiras estéticas das subculturas mais fechadas, tamanho seu impacto na moda.

 slayer grunge


O grunge no cinema
O filme Vida de Solteiro (Singles em inglês) de 1992 é o retrato do guarda-roupa grunge. Protagonizado pelo os atores Bridget Fonda e Matt Dillon, o figurino mostra o tamanho destaque na cena na época. Aliás, boa parte das roupas utilizadas por Dillon pertenciam ao baixista do Pearl Jam, Jeff Ament. A banda também participa do filme, incluindo Chris Cornell, vocalista do Soundgarden.

Na segunda foto, a participação de Eddie Vedder e Jeff Ament no filme com Matt Dillon. Os membros do Pearl Jam ainda eram suficientemente desconhecidos para aparecer no filme como extras. Na última, o casal de atores com Chris Cornell.

grunge movies pearl jam soundgarden

Houveram outros filmes que retratavam a moda e a juventude da época, podemos citar Drugstore Cowboy de 1989, Um Som Diferente de 1990, Jovens Loucos e Rebeldes de 1993, Caindo na Real e O Balconista de 1994,  Sexo, Rock e Confusão de 1995, Kids também de 1995 e mais recentemente, Os Reis de Dogtown de 2005.

grunge movies

Vale citar também o "Patricinhas de Beverly Hills" onde as personagens fashionistas criticavam e tentavam mudar o estilo grunge da nova colega de sala, porém o curioso é que as duas patricinhas ocasionalmente aparecem com visuais grunge de grifes, como vestidos ao estilo kinderwhore e peças em xadrez.
grunge movies  clueless


O "Casal Grunge"
Com o grande sucesso de Cobain, Love juntou-se a ele virando o casal referência do visual grunge. Os vestidos baratos comprados em lojas de esquina muitas vezes foram reutilizados nas brincadeiras de Kurt. Casaram-se de pijama e um vestido comprado num brechó da polêmica atriz Frances Farmer. A dupla foi considerado Lennon e Yoko Ono da época e seguiram com a genética através da filha, Frances Bean.


O perfeito casal grunge. No dia do casamento com Dave Grohl, baterista do Nirvana. Após o nascimento de Frances. A família no VMA de 93.

Courtney Love mostrando referências com sua banda Hole. Kurt usando vestidos em dois momentos. Na última foto, a estampa do tecido lembra muito ao de Love na terceira foto.

O casaco que Courtney usa das fotos abaixo parece ser o mesmo que Kurt usou no álbum "Unplugged". Na ponta, o casaco relido no desfile Saint Laurent do ano passado.

O desdém de Kurt pelo seu estilo pessoal ter virado moda de massa, é visível no seu hábito de ironizar o fato. Kurt usou muitos elementos femininos na sua estética, era uma forma de provocar o sexismo. Um de seus óculos mais conhecidos, foi uma criação de Christian Roth em meados de 80. Na Primavera 93 da Chanel, observa-se que o grunge teve influências na coleção. Modelos semelhantes a de Kurt foram apresentados na passarela da grife. Vinte anos depois, Dries Van Noten se inspira no músico para o tema de seu Verão e a armação ressurge.


Não só as passarelas recebem referências. A Heroin Chic surge como um novo movimento estético na Moda. São modelos de aparência abatida, pálidas, com olheiras enormes e corpo bem magro. Lembram os sintomas visíveis da dependência de drogas, no caso a heroína, muito comum no anos 90. O ícone máximo foi a top Kate Moss, que sofreu duras críticas pois diziam que sua magreza influenciava jovens a se tornarem anoréxicas. 

Kate Moss no início da década nas duas primeiras fotos e Stella Tennant encarnando o Heroin Chic num editorial.

Com a morte de Cobain, o estilo desapareceu durante um período das coleções. Desde então, o que vemos é um revival crescendo em meados de 2000. Inclui-se na lista o próprio Marc Jacobs, grande fã do tema, fez para sua marca no Inverno/2006. E até recentemente, como o segundo desfile de Hedi Slimane para a Saint Laurent Inverno/2013. Fora esse universo, ainda há os licenciamentos, exemplo dos calçados All Star com escritas e desenhos de Cobain.

Desfile Marc Jacobs Outono/Inverno 2006. Love e o designer juntos no desfile Primavera/Verão 2011.

Kurt usando All Star na sua época. A versão atual com desenhos e letras do cantor.

As releituras entre os famosos demonstram como o Grunge ainda se mantém vivo. A própria Frances Cobain volta e meia aparece usando vestidões soltos e floridos com bota ou camisetas e saias compridas, cabelos coloridos e os lábios avermelhados como os da mãe. Dizem que seu atual namorado, o músico Isaiah Silva, é a cara de Kurt. Usando camisas xadrezes, t-shirt, jeans e all star, fica bem difícil não comparar. E quando o pinta o cabelo de vermelho, mais ainda. Essa é a prova de como um comportamento consegue transcender sua geração. A nova juventude que o diga!

Frances recebendo referências dos pais na infância e pré-adolescência.

Antes e depois: Courtney e Frances com o mesmo tom de cabelo e usando batom vermelho. A influência dos vestidinhos de florais fica evidente na filha. Kurt Cobain inspirando Isaiah Silva, namorado (ou noivo?) de Frances, no cabelo e nas roupas. 

E a nova releitura do casal no dia-a-dia.
 frances bean cobain

O visual sujo e desalinhado também conquistou as celebridades atuais. Miley Cyrus, Lindsay Lohan, Vanessa Hudgens, Mary-Kate Olsen e Kristen Stewart.

   
O grunge na moda alternativa atual
Como a linha que separa as tendências da moda mainstream da moda alternativa está cada vez mais tênue, o estilo também é encontrado em coleções alternativas. Nas releituras atuais, duas coisas são notáveis: as silhuetas são modernas, mais ajustadas e a mistura com o estilo hipster é frequente.
Analisando imagens:
O primeiro casaco lembra os cardigãs que Kurt usava; o vestido xadrez é levemente solto mas o que surpreende é a maquiagem da modelo, idêntica à que Frances Bean Cobain usa atualmente; o terceiro e quarto vestido lembram muito as roupas de Kathleen Hanna da banda Bikini Kill.
alternative fashion grunge

O meião era moda nos anos 90, as toucas parecem fortalecer o estereótipo. Notem a silhueta moderna ajustada dos dois primeiros looks que trazem estampa floral, alcinha e xadrez. Sapatos de plataforma são atuais assim como as releituras do coturno e do all star. Camisetas com frases eram comuns na época, no cropped tops, diz: "Trash" ("lixo" em português). 

alternative fashion grunge

  Nos dizeres das blusa, "O Grunge está morto", já anunciava Kurt Cobain ironicamente. Nada se cria, tudo se copia.
alternative fashion grunge kurt cobain

O vestido ao estilo Kinderwhore, floral miúdo ganha um esqueleto modernoso.
E o look seguinte me surpreendeu. Slayer? Não é o heavy metal o estilo que ignora o grunge? Ao mesmo tempo, coincide com nossa análise da imagem da banda mais acima.
alternative fashion grunge

O Grunge hipster. O vestido floral soltinho ganha bolsa moderna e chapelão hipster. Assim como o vestidinho de onça. Sapatos ao estilo Jeffrey Campbell... existe algo mais hipster do que eles? 
alternative fashion grunge


A Decadência do Grunge
É possível dizer que a decadência começou com a morte de Kurt Cobain em 1994. Logo depois, o Pearl Jam cancelou sua turnê de verão em protesto contra a empresa Ticketmaster, que havia encarecido os ingressos de seus concertos. Boicotar a empresa fez com que não tivesse quase nenhum show deles nos EUA durante três anos. Em 1996, o Alice in Chains fez as suas últimas apresentações com o seu vocalista, Layne Staley, que posteriormente morreu de uma overdose de heroína (no mesmo dia que Kurt!) em 2002. Naquele mesmo ano, o Soundgarden e o Screaming Trees lançaram seus últimos álbuns de estúdio. O Soundgarden se separou no ano seguinte, mas se reuniu recentemente, tanto que o show da banda no Lollapalooza Brasil será nesse fim de semana. Apenas o Pearl Jam continuou a gravar e fazer turnês com o sucesso nesses últimos 20 anos.

O Post-Grunge
A herança sonora do grunge gerou bandas como Candle-box, Three Doors Down, Goo Goo Dolls, Puddle of Mudd, Stone Temple Pilots, Bush, Shinedown, Seether, Nickelback, Three Days Grace, Creed e Silverchair. Green Day e Foo Fighters também sofreram influências. Estas bandas não tinham raízes underground mas foram fortemente influenciados pelo o que o grunge havia se tornado: uma forma popular de fazer um rock sério, introspectivo e mentalmente difícil. 

Aos fãs de Kurt Cobain, o canal Bis apresentará neste mês de abril, quatro documentários:
Dia 05/04, às 23h00 - Nirvana: Ultimate Review (Inédito)
Dia 12/04, às 21h30 - Kurt Cobain: About A Son (Inédito)
Dia 19/04, às 21h30 - Kurt & Courtney
Dia 26/04, às 21h30 - Especial Kurt Cobain

E está em cartaz na França a exposição "Kurt Cobain - The Last Shooting" na Addict Galerie em Paris. Trata-se de uma série de retratos do cantor tiradas pelo fotógrafo Youri Lenquette algumas semanas antes de sua morte. A sessão foi improvisada numa noite de fevereiro e tem uma particularidade: Kurt Cobain, que era avesso à fotografias, foi quem contatou o fotógrafo e escolheu um revólver 22 como acessório principal para sua mise-en-scène. As imagens são um pouco perturbadoras pois nos fazem refletir que Kurt premeditava sua morte e ironizava pela última vez a sociedade que ele repudiava, já anunciando o seu fim de forma teatral.
kurt cobain last shooting nirvana

* Informação atualizada dia 15/04/2014 e 17/08/2014.
Leia também: O Grunge e a Moda Masculina


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4 de abril de 2014

Revista Alternativa Nacional: World Wild Lifestyle

Vocês estavam em busca de uma revista alternativa online? A procura acabou! 
A World Wild Lifestyle é uma revista de Moda, Arte, Cultura Underground e Comportamento Rock n Roll.
Para ler, basta clicar no link: http://www.worldwild.com.br/index.html

 

A revista foi fundada pela Fernanda Terra. Ela é daquelas garotas do rock que a gente admira. Toca bateria há 20 anos e influencia muita garota a começar a tocar o instrumento! Sua presença no underground brasileiro é bem ativa, já tocou em bandas como a Nervosa, a Kombato, como convidada em diversas outras  e este ano deu um workshop no incrível Girls Rock Camp. Atualmente além das aulas de bateria, também faz parte do programa Antena666 da Alternative Radio Broadcast Antena Zero.

A Sana e a Lauren estão muito felizes de fazerem parte desta publicação e vamos a partir de hoje divulgar frequentemente suas edições.

A Sana decidiu enviar a matéria sobre as mulheres no heavy metal porque achou que o artigo ficaria muito legal numa publicação. Ele faz muito sucesso no blog e é frequentemente usado como referência. O artigo foi levemente modificado dos artigos originais aqui do blog. Mas na próxima edição, Sana vai mandar artigos inéditos para a revista!


E a Lauren tá com uma matéria liiiinda sobre a franja pin-up!


A edição também trás uma entrevista incrível com Diana Foronda da banda Área 7, a mais antiga banda feminina do Peru! Tem também uma matéria sobre o escultor e designer de criaturas Glauco Longhi, além de reportagens sobre hardcore e skate!

Convidamos todos a curtir a page da revista no Fb: https://www.facebook.com/WORLDWILDMAG
E visitar a lojinha na Tanlup: http://www.tanlup.com/store/30617/worldwild
E lojas, fotógrafos, artistas, aproveitem que tem vaga para anúncio na página principal do site!!

30 de março de 2014

A História da Manic Panic

"Em 1977, nós éramos as esquisitas do mundo, a escória da terra, as pessoas não entendiam nosso look, pensavam que éramos prostitutas, eles não entendiam mesmo nossa estética! As pessoas costumavam gritar quando nos viam, chegamos a apanhar. Hoje, pessoas vão pra escola ou pro trabalho com looks extremos e isso é mais aceito."

tish snooky manic panic


A Manic Panic e suas proprietárias, as irmãs Tish e Snooky, não são apenas parte da história das tintas de cabelo coloridas, mas também são parte da história da cena Punk Rock americana. De lojinha punk à empresa multimilionária, neste post apresentamos uma completa biografia de uma das mais bem sucedidas e influentes lojas alternativas do mundo.

Aos 56 e 58 anos, as irmãs Tish e Snooky são ícones da primeira geração de punks e confirmam: "60 anos é o novo 30!"



O Início
Tish e Snooky viviam tão grudadas que foram apelidadas de "irmãs siamesas" por um amigo de infância, que acabou virando um dos membros da banda de Alice Cooper. Pobres, as irmãs moravam no Bronx. Na época do glam/glitter rock elas começaram a frequentar bares. Se maquiavam no metrô, escondiam os sapatos no mato, vestiam salto stiletto e esperavam alguém pagar drinks pra elas já que não tinham dinheiro.
Foram incentivadas às artes, música e negócios pela mãe. Sendo assim, a dupla fundou a banda Sic F*cks e em 1974 já se apresentavam em bares, vestidas em brilhos e plumas, afinal, era a época do Glam Rock! Tish estudou Moda e as irmãs enlouqueciam o público com figurinos super criativos, diferentes e selvagens para a época, tanto que chegou num ponto que as pessoas iam aos shows só pra ver o que elas estavam vestindo.
Perucas coloridas, meias arrastão, saltos altos, maquiagens excessivas... Snooky chegou a usar vidros de janela (daqueles quadrados mesmo) colados nas pernas! Tish usava um uniforme sangrento de enfermeira com chapéu e peruca lilás. A própria mãe delas fez um figurino que consistia de plástico (que acharam jogado no lixo) preso na cintura com um cinto de fita auto colante acompanhado de uma machadinha nas mãos. Um dia, a mãe teve a ideia de que elas deveriam se vestir como freiras...
* N.do.A: os looks (enfermeiras sangrentas, freiras) podem parecer super normais agora, mas em 1970 não eram, elas devem ter sido das primeiras alternativas a usar estes tipo estética.
Freiras punks detonadas, as irmãs cantam na Sick F*cks até hoje.

Num dado momento, a cena começou a mudar. Nesta época, as irmãs eram cantoras da banda Blondie, junto com Debbie Harry. O Glam Rock se enfraquece e começa-se a transição para os primórdios do que viria a ser o Punk Rock. Tish e Snooky frequentavam o CBGB, até que um dia viram um dos primeiros shows da banda Ramones. Elas acreditam ser as primeiras fãs femininas da banda, pois iam todas as vezes que eles se apresentavam, na casa quase vazia.

As irmãs no Blondie com Debbie Harry

Em termos de moda, a época era confusa. Elas contam que houve um momento em que ninguém sabia o que vestir, se se mantinham nas plataformas glam, se ficavam no glitter ou iam pro couro, renda e spandex, típicos do punk...


O Surgimento da Manic Panic
Por causa de suas carreiras de cantoras e performers, as irmãs sempre usavam figurinos incríveis criados por elas mesmas. E notaram que algumas pessoas começaram a imitá-las ou questionavam onde elas tinham comprado tais peças. Elas então decidiram "vender o próprio estilo". Tomam a iniciativa de abrir a própria loja pra vender somente o que gostavam e o que usavam.  Foi a mãe que nomeou a empresa como "Manic Panic".
A loja foi aberta em 07/07/77 e é considerada a primeira loja punk dos EUA. Era localizada na St. Marks Place, uma rua desolada e sem nada acontecendo ao redor. Como vizinhos, lojas vintage e dezenas de espaços vazios. O aluguel era barato e como a economia dos EUA ia mal, havia vários criminosos e drogados ao redor. A loja era um paralelo à carreira de cantora das duas.


Vocês se lembram da postagem sobre Baby do Brasil? Baby comprava suas tintas na Manic Panic. Será que ela foi a primeira cliente brasileira da loja? =D

 A loja original da Manic Panic e as irmãs em várias fases.

Na loja, vendiam roupas, calçados, acessórios de rock, figurinos pra palco, tudo o que gostavam junto com suas próprias criações. Iam pra Inglaterra comprar coisas que ainda não eram vendidas nos EUA. Embora houvesse pouca variedade e quantidade de coisas à venda, a loja chamou a atenção por ser a primeira loja alternativa punk rock da cidade. E foi bem recebida pelos punks porque era "real" e única. Aos poucos a foram contratando funcionários, um deles foi Hawie Pyro que acabou virando membro da banda Danzig. Anne Magnuson e Helen Wheels também trabalharam lá.
Tish e Snooky admiram e tem um carinho especial por Patti Smith, "Ela foi de fato a primeira mulher punk rocker. Ela é autêntica, independente, forte. Vinha à nossa loja e deixava poesias autografadas pra gente vender e pagar nossas contas!"

Com o sucesso, lojas do bairro começaram a imitá-las e vender os mesmos produtos. As irmãs dizem que sofreram discriminações e sexismo por causa de suas roupas e por serem mulheres de negócios. Ninguém as levava à serio e as pessoas exigiam falar com "o" dono. As lojas similares tinham como proprietários homens de negócio e não roqueiros. E essa era a diferença! Como roqueiras, cantoras e estilistas, elas sabiam muito bem o que o público queria. As lojas concorrentes enviavam espiões e as únicas coisas que os concorrentes não conseguiram copiar delas foram as tintas de cabelo e os cosméticos, porque os concorrentes, homens, segundo elas, não entendiam da área de beleza.

As irmãs acabaram por criar suas próprias tintas coloridas e também levam o título de primeira empresa alternativa de maquiagem! A Manic Panic também é a primeira loja alternativa a vender no mesmo espaço, sprays de cabelo coloridos, gels coloridos semi-pernanentes, mechas e perucas coloridas. "As tintas coloridas de cabelo já existiam, nós apenas as tornamos populares" diz Snooky.


Tish estudou moda e usava a Manic Panic pra vender suas criações. 
Uma delas é essa calça de couro com amarração lateral da foto abaixo.
*N.do.A: as autoras do Moda de Subculturas pesquisaram (dentro de todo nosso poder de alcance), a possibilidade de Tish ter criado esse modelo de calças. Pesquisamos moda alternativa e fetichista pré anos 70 e não encontramos nenhuma peça igual à calça citada, com as pernas à mostra. Deixamos nossa opinião em aberto, pois há uma possibilidade real de Tish ser a possível criadora desse modelo, ainda mais que, segundo elas, suas criações eram muito imitadas pelos concorrentes. Se você tiver alguma foto ou informação de uma calça semelhante (com a perna aparecendo), antes de 1970, será interessante nos informar!

A Manic Panic é considerada a primeira empresa de cosméticos e maquiagens voltada ao público alternativo. 
Abaixo, imagens do catálogo e produtos atuais.



Década a Década
1970
- Pintar os cabelos era uma forma inovadora de exibir uma identidade própria naquela época e Tish e Snooky entendiam bem da importância dos cabelos como forma de diferenciação. Considerada a primeira loja Punk de NY, a Manic Panic atraiu mídia e artistas devido aos produtos de estética rocker e tintas para cabelos com cores chamativas. Os punks foram os principais responsáveis pela proliferação da imagem dos cabelos coloridos e produtos cosméticos em cores diferentes do usual. A loja também inovou trazendo um senso de negócios, ou seja, já em 1977, a  moda alternativa já era vista com seriedade e profissionalismo pelas irmãs.

1980 - As tinturas da Manic Panic com todas as cores do arco-íris, contavam com uma linha de maquiagem e esmaltes combinando, o que fazia com que as clientes comprassem tudo lá. No final dos anos 80 a popularidade dos cosméticos e de tinturas de cabelo da empresa aumentaram. Ao mesmo tempo, a marca apareceu na moda mainstream e em páginas de revistas, TV e filmes. A pequena loja punk se foi, agora a Manic Panic se torna uma grande loja que também trabalha com atacado. 

Nas décadas de 80, 90 e 2000, a Manic Panic nunca parou de ganhar consumidores alternativos.


1990 - Na década de 90, as pessoas que riam da cara dos produtos da empresa começaram a clamar por eles. O interesse do mainstream pela marca foi surpreendente! Celebridades, rockstars, top models de todo o tipo procuravam os produtos da Manic. Gwen Stefani, Marilyn Manson, Green Day, AFI, Rancid, o jogador de basquete Dennis Rodman, foram apenas alguns dos que usaram a marca. A empresa explodiu em todo tipo de midia. Devido ao aumento exagerado do aluguel, as irmãs foram obrigadas a se mudar de St Mark’s Place pra um imenso armazém na cidade de Long Island.

 A loja/armazém atualmente.

2000 - Junto com o novo milênio, veio a ampla distribuição internacional de produtos. Embora outras empresas copiassem seus produtos, a Manic Panic já estava tão grande que os concorrentes não afetavam financeiramente a empresa. Segundo elas, "a imitação é a mais sincera forma de elogio. Nós nunca sonhamos que teríamos este grande negócio. Nós apenas amávamos o estilo Punk e queriamos compartilhar nossas idéias com as pessoas. Nós não apenas o vendiamos ... nós vivíamos! "
A loja passa aos poucos a transformar seus produtos em vegan e cruelty-free, um objetivo que tinham desde o começo. Assim, tiveram que reformular uma boa parte de seus produtos.
Nesta década, Emilie Autumn, Avril Lavigne, Gerard Way, Hayley Williams, Jared Letto, Kelly Osbourne, Pink, Christina Aguilera, Britney Spears são alguns dos clientes da M.P.

2010
Na década de 2010, no ano de 2012, as irmãs comemoraram os 35 anos de aniversário da loja e celebram o público diverso que  a conquistaram, não necessáriamente punks e góticos, há pessoas mais velhas, pessoas da cena club e techno assim como artistas e modelos.

Algumas artistas e modelos que sabe-se que usaram Manic Panic.


Na Moda Mainstream
As colorações da marca estiveram presentes em alguns desfiles, como Proenza Schouler, Giles, Alexis Mabille, Miu Miu e Giambattista Valli, Jean-Paul Gaultier, entre muitos outros! Rihanna, Lady Gaga e Katy Perry também usaram a marca assim como as mechas foram usadas em diversos editoriais.

Futuro da Empresa 
Gerindo uma loja alternativa há 37 anos, as irmãs dão o conselho de que as pessoas devem seguir seus sonhos e ser mais do que persistentes. Não aceitar não como resposta e ter a consciência de que ser dono de uma loja é trabalhar muito mais do que os funcionários. É normal nos primeiros anos a empresa não trazer lucro, tanto que as irmãs moraram anos com a mãe e só se preocupavam em pagar o aluguel da loja pra poder mantê-la às vistas do público. A divulgação da Manic sempre foi orgânica e é assim até hoje, não exigindo muito gasto das donas em promoção e divulgação.

Sempre juntas, apelidadas de "irmãs siamesas", Tish e Snooky também se vestem de forma parecida.

Tish e Snooky sonham em lançar um livro de beleza alternativa porque elas são as únicas na Lower Manhattan que vendem este tipo de maquiagem extrema e teatral. Sem contar que são mulheres, cantoras, performers e entendem muito de "assuntos femininos". Sempre estão desenvolvendo novas cores e produtos mas não tem tempo pra desenvolver mais porque a empresa não pára de crescer! Elas começaram com o equivalente a mil reais (250 dólares cada uma) e hoje são milionárias! Daqui há 10 anos elas querem ver a Manic Panic em todos os lugares. Acreditam que cabelos coloridos serão definitivamente algo mainstream e elas serão as fornecedoras deste look. Seja lá o que for o alternativo daqui há 10 anos, elas vão ajudar as pessoas a terem o look desejado.

O site, blog e loja da Manic Panic tem uma aparência super "old school". E não parece ser proposital. Enquanto as lojas "branqueiam" e modernizam seus sites e blogs porque é isso que atrai o mainstream e consumidores não-alternativos, a Manic continua com seus sites do mesmo jeitinho de muitos anos atrás. É a prova de que certas coisas tem uma imagem tão forte e caminham com suas próprias pernas, que manter seus sites com uma estética mais dark e alternativa não altera seus lucros.

Essa foi a história das irmãs Tish e Snooky que abriram a primeira boutique punk nos EUA e viram seus estilos evoluir de anti-fashion para mainstream.
Esta extensa pesquisa foi feita com muita dedicação (demorou meses!) pelas autoras do blog: Sana e Lauren. Agradecemos quem chegou até aqui e leu tudinho! =)

Alguns posts com cabelos coloridos além do já citado post da Baby do Brasil:
- As origens dos cabelos em tom pastel 
- Pastel Goth
- Scene Kids
- Estilo: Charlotte Free

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