Destaques

16 de setembro de 2014

Pink Flamingos, o filme de John Walters inspira a Moda Alternativa

Já é possível ver nas lojas, inclusive em lojas alternativas estrangeiras, peças com a estampa de "pink flamingos". A tendência atual apareceu pela primeira vez em abril de 2012 na revista Australian House & Garden. De lá pra cá, do universo da decoração a estampa se estendeu para roupas e acessórios mainstream.
Aproveitamos a brecha pra falar um pouco do filme, já que a década de 1970 está em voga nas passarelas internacionais Verão 2015, e talvez seja do interesse de alternativos ter uma queda por películas excêntricas e bizarras.

Pink Flamingos, o filme:
Lançado em 1972, Pink Flamingos é um clássico filme cult. Ele faz parte do legendário Midnight Movies (Sessão da Meia-Noite), que possuía fãs a la Yoko Ono e John Lennon. O cinema Elgin, em Nova Iorque, era a grande oportunidade dos vídeos underground serem exibidos, já que eram ignorados no circuito mainstream americano. Além dele, títulos como El Topo, do chileno Alejandro Jodorowsky e The Rock Horror Picture Show (tema da nova coleção da MAC), de Jim Sharmam, também ganharam fama pelo mesmo local.


A estrela do fime e musa de John Waters, Divine:

Protagonizado por Divine - ícone da cena LGBT americana, tendo frequentado até Studio 54 – a película se passa em torno da disputa do casal Connie e Raymond Marble onde tenta a qualquer custo tirar de Divine e sua família o atributo de serem "as pessoas mais asquerosas do mundo".



É comum alternativos amarem “Cry Baby”, do mesmo diretor, com Johnny Depp. Talvez isso dê alguma ideia da vibe dos filmes de Waters, mas ainda assim, dificilmente não se surpreenderá com as cenas literalmente expostas e escatológicas de Pink Flamingos. Aliás, o título se deve ao fato da Drag Queen possuir objetos com o formato da ave. 

O conteúdo polêmico recebeu muitas críticas na época. Com forte pegada trash, pode-se dizer que o longa era um reflexo da pós-contracultura sessentista, onde muitos artistas aproveitaram o espírito de rebeldia da década, para se libertarem das opressões e assim provocando a sociedade antiquada ao soltarem a imaginação com criações das mais alucinantes possíveis, sem se preocupar com as consequências de suas atitudes. Efeito do LSD, vontade de sair da zona de conforto ou desinformação? Pode ser. O fato é que o período foi marcado por uma mistura de valores e descobertas, sendo ele feito pelo caminho certo ou não.

Observem o figurino dos personagens Raymond e Connie Marble. Há vários elementos estéticos sendo usados pela moda atual. E o mais curioso, o filme é de 1972, e Raymond tem cabelo e pelos pubianos pintados de azul, possivelmente tingidos de alguma forma alternativa, como anilina ou corante alimentício, já que comercialmente as primeiras tintas de cabelos coloridas surgiram em meados para o fim da década.

Um dos sinais de que o filme pode voltar a ser cultuado por uma nova geração, é que a revista Numéro desse mês trouxe um editorial totalmente inspirado nele, trazendo de volta a estética trash e essência surrealista do longa:


Essa é uma forma interessante de observar como a moda mainstream consegue diluir algo com conceito excêntrico para a grande massa.


Estampa Pink Flamingo em lojas alternativas
Mas aí é que está a maravilha da visão de mercado dos estilistas alternativos, que tiveram a ideia de adaptar uma trend mainstream ao universo da cultura underground. De tendência de decoração, as lojas alternativas associaram o pink flamingo ao filme cult homônimo de 1972, como podemos ver nas estampas das peças abaixo, onde há, inclusive, desenho de um trailer.

 

E você, aprecia filmes trash?
Usaria a estampa?


* Artigo original do Moda de Subculturas. Se quiserem usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, achamos gentil linkar o artigo do blog como respeito ao nosso trabalho. Tentamos trazer o máximo de informações inéditas em português para os leitores até a presente data da publicação.Todas as montagens de imagens foram feitas por nós.

14 de setembro de 2014

Estilo: Amy Winehouse

Amy Winehouse tinha uma grande habilidade com a moda. Ela conseguiu permanecer alternativa, apesar da ascensão meteórica. Sua alma era genuinamente punk, mesmo não sendo uma cantora de rock. Impulsionou a moda irreverente ao grande público contemporâneo. Aproveitamos o aniversário da artista - que se estivesse viva, completaria 31 anos - para tentarmos descobrir como o seu estilo interagiu com as subculturas e tornou-se uma marca. 


De início, é importante relembrarmos as origens da cantora. Amy nasceu em Londres, o que já diz muita coisa sobre o seu visual. A cidade é um dos principais pontos do mundo para pesquisas de moda. O porquê disso se deve a liberdade de estilo que existe no local, o que permite aos londrinos ousarem sem pensar duas vezes. Eles costumam respeitar a individualidade de cada um, o que faz encontrarmos na rua pessoas vestidas de ursinhos sem ninguém provocar ou mexer. Não à toa, a moda alternativa conseguiu se desenvolver tão bem por lá.

Dentro dessa questão, uma característica interessante sobre a sua ascendência. Amy era judia, e coincidência ou não, muitos artistas de origem judaica têm forte conexão com a excentricidade, o que interfere na estética final. Joey Ramone, Gene Simmons, Dee Snider, Bob Dylan, são alguns nomes que podem exemplificar a observação.

De origem judaica, Amy costumava usar um colar de estrela de Davi. Mas a cantora era liberal, e numa época, quando os crucifixos viraram modismo, ela também usou o acessório:

Agora vamos ao principal, a música! Amy era alucinada pelos ritmos negros americano, como jazz e blues. Ela foi apresentada ao som por seu pai, Mitch Winehouse, um taxista inglês que sempre teve o sonho de cantar. Dizia em entrevistas que não gostava de nada atual. Há uma cena famosa sua, jogando um objeto no cartaz da Dido e gritando: “I hate you, Dido”, que descreve bem a rejeição da cantora pela música contemporânea. 

Quando começou a aparecer na mídia, o visual até que era bem simples. Num trecho do seu diário descoberto pela imprensa em 2010, ela colocava na lista de desejos "viver como uma bomba da qual realmente era". O que de fato ocorreu. Depois da fama, sua apresentação mudou completamente. Esse comportamento relembra a fala de Nicola Formichetti, que citamos nesse post: “Não se pode julgar uma pessoa pela forma que está vestida, nem por aquilo que faz, porque talvez não tenha dinheiro para expressar-se como gostaria”. 

Quando começou a aparecer na mídia, o seu visual ainda não era tão chamativo:

A mudança na aparência também veio ao ex-marido, Blake Fielder-Civil:

Amy era uma pessoa naturalmente incomum, mas com a melhora financeira, pode externalizar o que sentia com mais liberdade. Foi então que começou a nascer a estrela que surge em nossas memórias. Seu fanatismo pelas grandes divas do jazz dos anos 50/60, principalmente Dinah Washington, fez com que sua estética sofresse interferência diretamente, da roupa até a maquiagem. Cabelos beehive, os olhos gatinhos, os vestidos em linha A ou godê, sapatos peep toes. Tudo exagerado, como a personalidade da cantora.

O penteado Beehive que conhecemos foi desenvolvido em 1961, por Margaret Vinci Heldt. Quando perguntada sobre a versão de Winehouse, a cabeleireira não aprovou.  

Influência? Observem como o penteado e o olho delineado de Ronnie Spector se assemelham ao de Amy. A imagem da vocalista das The Ronettes é de 1964! 

Romântica inveterada, o excêntrico beehive da cantora ganhava diversos adornos, inclusive declarações de amor ao ex. Segundo alguns especialistas, Amy poderia sofrer do transtorno de Borderline:

Sua vida era pura intensidade. E não foi diferente com a aparência. Bebidas, drogas, choros, maquiagem, tudo em excesso: 

Gostava de usar unhas bem compridas e ovais:

Acessórios eram fundamentais nas suas produções. Os brincos se destacavam, eram sempre grandes e geralmente dourados. Os cordões costumavam seguir o mesmo padrão:

Alma retrô: vestidos curtos e justos ou com pouco volume:

Vestidos em linha A ou godê, assim como nos anos 50:

O fato de Londres aceitar o excêntrico, permitia que Amy se misturasse com o que quisesse. Algo muito comum para os habitantes. A cidade abraça as diversidades e assim a cantora pode se influenciar por outros temas, como as subculturas. Além de amar o retrô, Amy tinha uma vibe punk, o que casou perfeitamente com sua moradia. Ela morava em Camden Town, um dos locais mais alternativos da cidade. A ligação com o rock era visível, tanto nos elementos de sua roupa, como no corpo, adornado por tatuagens e piercings. 

Em momentos com visual mais rocker:

Às vezes usava camisetas com estampas. À esquerda, imagem de Johnny Depp no filme Cry Baby:

Possuía paixão por estampas de animais, como muitos atros de rock. Desde o início da carreira, há looks de zebra:

E muita onça! Era seu favorito. No Brit Awards 2008, se apresentou misturando a estampa com xadrez tartan vermelho:

Casal Rock N' Roll: eles não tinham semelhança física mas muito no espírito. Assim como Nancy, Blake foi o responsável por introduzir drogas mais pesadas a companheira.  

Inversão de papéis? Nancy e Blake usam pingentes em forma de arma:

Amy não tinha muita frescura na hora de comprar roupas. Grifes não eram muito relevantes, o que importava mesmo era o que gostava, e isso poderia ser de uma marca cara ou não. Num documentário, Mitch Winehouse revela que a filha não havia mudado depois da fama, e exemplificava ao dizer que a cantora fazia compras nos locais de sempre e sabia o nome de todas as vendedoras.

Curiosidade: Amy detestava Alexander McQueen. A cantora tinha mágoa por causa de uma ofensa feita pelo estilista quando se conheceram. A implicância foi tão grande, que mesmo McQueen enviando um vestido de 15,000 libras como desculpa, ela queimou numa churrasqueira. E tem mais, ao ver uma peça do designer na Selfridges, cuspiu no modelo e teve que pagar pela sujeira. No início teria se recusado, mas depois aceitou, pedindo que avisassem ao estilista que ela havia arruinado sua roupa.

Usando em shows no Brasil roupas da marca Pin Up Couture. Quando estava hospedada em Santa Teresa, a cantora pediu que chamassem uma costureira para diminuir a bainha:

É de se destacar que a artista adorava repetir roupas. Ficava óbvio que quando amava alguma peça, usava direto sem a menor neurose. Em quase todos os looks há alguma coisa reutilizada. Prática costumeira entre alternativos. Se bem que, observando as celebridades inglesas, parece ser um hábito comum e não demonizado como na cultura mainstream americana. Kate Middleton não foi a única ou primeira famosa a fazer isso, só que ela ganhou uma proporção maior da mídia. A família real inglesa toda tem a mesma atitude, inclusive a rainha. Na moda, a própria Anna Wintour é adepta. 

Amy usou esse vestido cinza diversas vezes! Shows, eventos, no dia a dia e no clipe "Tears dry on their Own", dirigido pelo fotógrafo de moda, David Lachapelle: 

Cinto dourado que já a acompanhava antes da ascensão. Poderia ser utilizado junto com suspensório

As famosas sapatilhas de Ballet! Acessório simples e um dos mais amados pela artista:

E também os peep-toes de salto alto:

Podemos dizer que Amy foi uma das primeiras a fazer o público atual aceitar a moda irreverente. Ela ajudou abrir as portas para esse tipo de conceito que depois foi muito bem definido por Lady Gaga. Só que, ao mesmo tempo em que Winehouse tinha a pegada por elementos surrealistas, ela também gostava do que é considerado clássico: camisas Polo, óculos Ray Ban, calça jeans, tênis. Claro que tudo sendo usado conforme o seu universo. Um mix de referências que acabou se tornando marca. Infelizmente, algo raro de acontecer nos dias de hoje, ainda mais com pessoas desesperadas por atenção. Perdemos um grande talento da música e de criatividade de estilo. 

Paixão surrealista: com vestido Moschino de estampa de jornal

Bolsa em forma de coração, no Brit Awards de 2007. Óculos do mesmo feitio da grife Moschino, Verão/2006:

Recente imagem de Lady Gaga no instagram. Influência de Amy no cabelo e make???

Apesar de gostar do exótico, a cantora vestia, a sua maneira, peças mais clássicas. Tentando aparentar mais formal quando foi à justiça:

Usando camisa polo, regata, jeans e trench coat:

Óculos Ray Ban:

Em raros momentos, de tênis:

Moda Mainstream:
Seu impacto na indústria foi tamanha, que ainda viva assinou coleções para Fred Perry. A marca lançaria mais duas linhas depois de sua morte.


Jean Paul Gaultier dedicou o desfile de Alta Costura, Primavera/2012, à artista. A família da cantora não gostou da homenagem pois havia poucos meses que Amy tinha falecido. Eles acharam que o estilista estava se aproveitando da situação dolorosa para lucrar.


Por fim, um belo momento: em retribuição ao carinho dos fãs à sua filha, Mitch Winehouse distribui roupas de Amy ao público que ficou em vigília na casa da cantora. Isso mostra o quanto as peças dela são simbólicas!


Amy era um perfeito reflexo da geração Y. Geração esta, que ao mesmo tempo que usa a moda mainstream, também procura se diferenciar se inspirando nas subculturas, revivendo estilos do passado à seu modo. Muito ligada à moda, aparência e estética, existia um interesse em se expressar livremente e chamar a atenção pelos looks que eram uma extensão da sua personalidade e gostos.



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6 de setembro de 2014

Livro: Tokyo Adorned

Este ano foi lançado o livro Tokyo Adorned de autoria do fotógrafo novaiorquino Thomas C. Card. 
Num passeio por Tóquio em 2012, ele notou que...
"A coisa que eu achei absolutamente incrível em Tóquio era que a moda estava muito centrada em torno do indivíduo e menos ao redor da tribo. Na começo do processo eu as via e as enxergava dentro de diferentes tribos, mas fiquei emocionado ao perceber que elas são basicamente uma expressão de si mesmas. "
Empolgado, ele abriu uma conta Tumblr e pediu para que os japoneses mandassem fotos à página, resultando em centenas de inscrições! Ele selecionou 75 pessoas que foram convidadas a serem retratadas. Ele escolheu um fundo branco para que os leitores se concentrem na personalidade dos fotografados e não no ambiente.
"Escolhi pessoas que senti que realmente extrapolaram os limites de explorar a identidade através de suas escolhas de moda", disse ele. "Tudo, desde os nomes que eles escolhem para si mesmos ao arranjo particular de itens e acessórios e roupas, muitas vezes reflete um senso de humor particular. O nome de uma mulher se traduz em "Barbecue" (Churrasco, em português)".
Como já comentamos aqui no Moda de Subculturas, a moda alternativa oferece toda uma liberdade de estilo à seus adeptos, independente de participarem ativamente de alguma subcultura ou não. Ter um estilo próprio, é algo que parece óbvio, mas nem sempre é. Somos bombardeados de tendências e referências o tempo todo que muitas vezes as pessoas se esquecem que não precisam seguir o que os outros seguem, nem sempre precisa-se se "encaixar" numa estética. E é isso que o street style japonês faz muito bem - há toda uma história sociológica por trás disso, claro, de uma geração que quebrou o conceito tradicional da cultura/família japonesa de vivência grupal para uma vivência individual - as pessoas brincam com a moda de acordo com seus gostos e estes gostos pessoais dão origem à uma individualidade. 

Thomas C. Card ainda acrescenta, "os estilos estão em constante evolução. Se eu tivesse que voltar hoje, todas as pessoas que eu fotografei, provavelmente, estarão completamente diferentes. O senso de identidade está ligada a um período de tempo. Conforme o tempo passa, seu sentido de identidade muda".  É como quando pegamos nossas fotos de 5 anos atrás e vemos como a gente mudou, não é mesmo? Evoluímos e nosso estilo acompanha!
Fica a dica do livro!
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