Que a estética subcultural é explorada pelo mainstream desde seu início (coisa que ficou mais forte nesta década), a gente já sabe. Mas e quando o estereótipo de uma religião se torna moda vendida em lojas de departamento?
É o que temos visto acontecer com a bruxaria, religião de várias vertentes que os alternativos costumavam abraçar por não se identificarem com os ensinamentos de religiões mais tradicionais.
É o que temos visto acontecer com a bruxaria, religião de várias vertentes que os alternativos costumavam abraçar por não se identificarem com os ensinamentos de religiões mais tradicionais.
A relação com o feminismo
A bruxaria é essencialmente feminina. Quando
pensamos nas séries sobre zumbis e vampiros, tão idolatradas ao longo da
última década, notamos que os homens são os personagens principais,
dominantes, líderes e as histórias giram em torno de ação e sexo.
Já as
histórias com bruxas, são sobre a mulher se ajustar ao mundo, relações
interpessoais com outras mulheres, com o seu eu interior e retratadas como
pessoas fortes, capazes de superação. Não ficam à margem e sim, assumem posições de liderança sobre suas vidas.
Quando as garotas ou mulheres se identificam com a arte da magia e adentram nos estudos, é provável que haja emancipação feminina, que elas entendam o ambiente, seus corpos e que podem ser líderes.
Abertura ao paganismo
Quando as garotas ou mulheres se identificam com a arte da magia e adentram nos estudos, é provável que haja emancipação feminina, que elas entendam o ambiente, seus corpos e que podem ser líderes.
Mulher poderosa! Desfile Jean Paul Gaultier, Haute Couture 2014,
com tema bruxaria.
Abertura ao paganismo
Se uma gótica ou uma headbanger se assume bruxa (usando o visual tradicional de suas subculturas), é bem comum pensarem que ela "faz sacrifícios humanos/ animais no cemitério e tem pacto com o demo!". Ainda existe um longo caminho pra retirar esse pensamento medieval da cabeça das pessoas.
Só que, é mais fácil hoje alguém se revelar pagã do que há 20 anos atrás, o preconceito diminuiu muito! Fora que as pessoas estão mais espiritualizadas do que seguindo fielmente os preceitos de uma religião, tanto é que muitos dizem raramente rezar, participar de cultos e ler a bíblia ou outros textos sagrados.
Esse tipo de novo comportamento frente às religiões acaba abrindo espaço para o "paganismo cultural", que são os "Wiccan Wannabes", que leram um ou dois livros e já se dizem parte da religião. Essa é uma faca de dois gumes, pois pode ser tanto uma porta para que se adentre aos conhecimentos e estudos quanto ser apenas uma forma de status, o uso da imagem da religião para se destacar no grupo.
Na
verdade, o que faz muitos se atraírem pela bruxaria é justamente a
ausência de um manual a ser fielmente seguido, não existe uma bíblia, um texto sagrado único e obrigatório. Ela permite que cada pessoa escolha uma linha (tradicional, celta, wiccan, teutônica, etc) e ao adquirir conhecimentos por livros, ensinamentos de sacerdotisas ou covens - possa estudar e desenvolver suas
habilidades. Tudo depende da dedicação da pessoa aos estudos. Existe uma certa "independência" de grupo, é possível ser uma Bruxa Solitária. Só que, é mais fácil hoje alguém se revelar pagã do que há 20 anos atrás, o preconceito diminuiu muito! Fora que as pessoas estão mais espiritualizadas do que seguindo fielmente os preceitos de uma religião, tanto é que muitos dizem raramente rezar, participar de cultos e ler a bíblia ou outros textos sagrados.
Esse tipo de novo comportamento frente às religiões acaba abrindo espaço para o "paganismo cultural", que são os "Wiccan Wannabes", que leram um ou dois livros e já se dizem parte da religião. Essa é uma faca de dois gumes, pois pode ser tanto uma porta para que se adentre aos conhecimentos e estudos quanto ser apenas uma forma de status, o uso da imagem da religião para se destacar no grupo.
Por muitos anos, a imagem que se fez da estética da bruxa da subcultura gótica, foi a medieval. Como nesse vestido da Dark Fashion.
Quando se trata da cena alternativa, o pentagrama (invertido ou não) nunca saiu de cena, especialmente da Black Metal. Mas é inegável que recentemente se tornou um símbolo queridinho, muito fotogênico e bastante amenizado, quase fofo... tanto que foi adotado por Pastel Goths. Mas será que todos que o usam realmente tem ligação ideológica ou sabem os significados?
Assim como a bruxaria, o ocultismo também tem sido explorado há algumas estações nas roupas alternativas. Muitos alternativos realmente se interessam por esses temas e querem demonstrar... mas que eles viraram comércio, sim, viraram. Afinal, Moda é também, consumo. E a demanda gera mais produtos.
A marca Killstar, uma das pioneiras em trazer símbolos ocultistas
como estampa.
A estética da bruxa cool que vemos atualmente, não é de nenhuma subcultura específica e por vezes, nem religiosa. É apenas um visual formado da união de tendências mainstream. Tem sido bastante associada com hipsters, com as adeptas do "gótica suave" e por fashionistas buscando uma imagem de "misteriosas".
Claro que acaba existindo o lado ótimo que é a gente ter acesso à uma estética que curtimos (na verdade, roupas pretas, nada mais do que isso!) mas até que ponto assim como as estéticas das subculturas, a arte da magia é colocada numa arara de loja como mero produto a ser consumido pela massa e depois descartado?
Bruxas na TV
Bruxas sempre fascinaram o imaginário popular! Hoje, algumas meninas alternativas adotaram releituras da estética dos anos 90 - uma
das maiores referências dessa turma é o filme Jovens Bruxas (The
Craft, 1996) que misturava moda mainstream jovem da época com
trevosidade. Fairuza
Balk era a "it girl" da minha adolescência e agora, é resgatada pela nova geração.
Só que a
além do filme Jovens Bruxas, tinha a Kim do Bruxa de
Blair 2 Livro das Sombras, ambas garotas alternativas, que tinham o visual e praticavam bruxaria de fato. Além disso, aquela década teve filmes com bruxas bem clichés, como Convenção das Bruxas, Abracadabra - Hocus
Pocus; além do histórico bruxas de Salém, do divertido Da Magia à Sedução e os seriados Charmed e
Sabrina the Teenage Witch. Enfim, foi bruxa pra todo o lado!
Recentemente, no mainstream
Entre 2012 e 2013 uma nova trend começou a se destacar: o Boho. Outra trend que começou junto foi a do uso de chapéus. Na época uma das grifes a fazer boho em peças negras + chapéus foi Ann Demeulmeester em sua coleção Fall Winter 2013-14:
Aqui, Lorella Signorino AW ’11, Mother of London e Valentino, fall 2014.
Meadham Kirchhoff (spring 2014) fez suas bruxas mix de boho + anos 90. E ruivas. Sim, na era medieval, o cabelo ruivo era visto como pacto com o demo, muitas mulheres e crianças ruivas foram mortas.
Em 2013, o sucesso de American Horror Story - Coven, que trazia figurino de grifes mainstream misturado com peças de brechós, conquista o público e talvez carregue a maior parcela de culpa na propagação da trend. A popularidade do tema abriu espaço para seriados como Witches of East End, Sleepy Hallow e The Originals, que aderiram à febre da bruxaria e da atuação de mulheres mais velhas em papeis principais.
"vista algo preto" diz a bruxa suprema Fiona |
Há algo interessante a falar sobre AHS. Seu criador, Ryan Murphy gosta de subculturas, dos excluídos. Em uma entrevista, Jessica Lange disse "Se você reparar cada uma das quatro temporadas que fizemos, é sobre um desses grupos marginalizados. Pessoas que não são aceitas. Por isso eu acho que a série conquista o público, que trata de grupos diferentes, mas que, de alguma forma, estão sob o mesmo tipo de opressão."
Outra trend mainstream popularizada na mídia: a transparência.
Abaixo, reparem na semelhança de figurino do desfile Saint Laurent de outubro de 2012, com o figurino da série, que estreou um ano depois em outubro de 2013. Televisão e cinema são muito poderosos para disseminar um tendência e fixar uma moda na sociedade.
Look de Donna Karan se assemelha ao usado pela personagem Zoe Benson.
Foi a geração Y, que prefere reviver modas do passado ao invés de inventar
modas novas e utilizar trends mainstream, que os primeiros traços desse interesse renovado por um "visual de bruxa" boho + 90s + American Horror Story apareceu entre os alternativos. O chapéu pontudo foi substituído por outros modelos. E o pentagrama se faz presente.
Gareth Pugh, aliás, acabou de estilizar o tradicional chapéu pontudo
em sua coleção spring 2015.
Wannabe Wicca & Boho Witch, semelhanças em linhas tênues
Se o Wannabe Wicca nunca praticou magia mas se interessa pelo visual, o que viria ser "Boho Witch"?
O Boho Witch não é um estilo em si, é só um nome que as pessoas dão à seus looks em blogs e mídias sociais. Acaba sendo a junção de boho (cigano e o hippie) + roupa preta que também é trend.
E não é exatamente uma estética com traços subculturais. É tipo o gótica suave e o health goth, roupas pretas num determinado corte/modelagem das tendências atuais. Não é alternativo no sentido de estar inserido dentro de uma subcultura ou de ser uma estética de nicho - como já dissemos, é de massa. Embora sim, os alternativos possam adotar como parte de seus guarda roupas, nada impede. É uma questão de gosto.
Sendo uma questão de gosto, junta-se isso com as pessoas hoje estarem mais interessadas em peças de roupas do que ideologias. Assim, acaba que ser bruxa ou não fica em segundo plano. É reflexo de uma sociedade com interesse alto pelo individualismo ao invés da identificação com um grupo.
A fascinação pelas bruxas.
Então você já sabe, uma bruxa de verdade pode estar vestida como uma headbanger ou de jeans e camiseta. Mas isso "não tem graça, nem glamú". Quem quiser ostentar um "look bruxa", vai usar um vestido preto e um chapéu. Bem... parece que nada mudou. O estereótipo da mulher que pratica bruxaria não foi quebrado, ao contrário, permanece. Foi apenas repaginado. Está fashion!
Bruxas explícitas: avise todo mundo que você é bruxa! O mundo precisa saber! É tão cool!! Tão diferente! Que graça tem se você não pode dizer isso, não é mesmo? (#ironia)
A fascinação pelas bruxas.
Então você já sabe, uma bruxa de verdade pode estar vestida como uma headbanger ou de jeans e camiseta. Mas isso "não tem graça, nem glamú". Quem quiser ostentar um "look bruxa", vai usar um vestido preto e um chapéu. Bem... parece que nada mudou. O estereótipo da mulher que pratica bruxaria não foi quebrado, ao contrário, permanece. Foi apenas repaginado. Está fashion!
Bruxas explícitas: avise todo mundo que você é bruxa! O mundo precisa saber! É tão cool!! Tão diferente! Que graça tem se você não pode dizer isso, não é mesmo? (#ironia)
Peças da Killstar- Confesso que amei o moletom e a lancheira! *_* |
Faca de dois gumes: a blusa, de marca alternativa, diz: "seja estranha, se torne uma bruxa, fique louca, não dê a mínima". A intenção, certamente, foi com bom humor, uma gozação, "entendedores entenderão". Mas é pra se pensar quando uma marca alternativa "incentiva" a perpetuação de um estereótipo que bruxas são pessoas estranhas, loucas e que não se importam com nada. Não podemos esquecer que muita gente que lê essa mensagem pode super mal interpretar seu visual, alimentando o preconceito com alternativos e com a magia.
O que pensam dessa apropriação imagética de símbolos pagãos/religiosos na Moda?
Convidamos as leitoras e as bruxas leitoras a opinar ;)
Autoconhecimento, feminismo, independência, empoderamento, estudos mágicos... Será que tudo isso vem junto quando compramos uma peça "witch inspired"?
P.S. Esse post não é revolta pessoal. É apenas um post de análise de mercado (mainstream x alternativo) mostrando os dois lados e levantando questionamentos.
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