Destaques

15 de maio de 2015

A Edição de Maio da Elle e Diversidade na Moda: Bonito é ser diferente?

Tem se comentado com muito entusiasmo na web sobre a "revolucionária" e "inovadora" capa da revista Elle deste mês de maio. A capa é espelhada e reflete a pessoa que segura a revista.

A capa diz:
"#Você na Capa"
"Assuma seu rosto, corpo e sua idade com orgulho"
"Menos tendência, mais estilo"

Mas a capa não é tão inovadora assim, em 1999, na virada do milênio, a Vogue UK publicou a seguinte edição, capa espelhada com os seguintes dizeres:

O futuro começa aqui.
"O novo corpo"
"As novas roupas"
"A nova você"

E por que falamos disso no Moda de Subculturas?
Por um motivo muito simples: o respeito à diversidade nos interessa!
Nós fomos um dos primeiros sites/blogs nacionais (incluindo mainstream) a fazer post sobre como a terceira idade está sacudindo o mundo e sobre moda plus size alternativa. Nós já falamos de alternativos com deficiência, albinos e sobre moda andrógina. E em 2010, cinco(!) anos atrás, já alertávamos sobre a moda estar em busca da diferença.

Uma moda e uma mídia mais representativa e inclusiva interessa a todas nós. 
Pois, querendo ou não, ser alternativo não é ser totalmente excluído da sociedade, é viver em paralelo à ela. E ser idoso, ser deficiente, ser andrógino não pode ser visto como cidadãos de segunda categoria!

Bonito é ser diferente?
Foi interessane a Elle Brasil ter colocado Ju Romano, uma linda blogueira plus size (numa pose que lembra a de Beth Ditto para NME de 2009), Magá Moura (que nós já entrevistamos) e outras seis mulheres fora do padrão em suas capas para tablet. Mas isso também nos levantou o questionamento: por que na capa para tablet e não na capa que vai pra banca?

Todos sabemos que a versão tablet será acessada por uma porcentagem pequena de leitores. Revistas são pagas por anunciantes e pensamos: será que os anunciantes estão prontos pra colocarem plus sizes, idosas, albinas, andróginas e alternativas como representantes de seus produtos nas capas de revistas de Moda??
Capas precisam ser aprovadas por anunciantes, ser aprovadas por empresas de moda, ser aprovadas por editores, capas que chegarão aos rincões deste país e farão a mulher comum do interior se identificar com o que vê. Numa capa espelhada, ela se refletirá. Vai achar legal e vai querer comprar pra se divertir em casa tirando fotos e fingindo ser ela na revista. Mas sentirá uma mudança real do mercado? Ela entrará numa loja e encontrará roupas pro seu corpo? Ela não enfrentará preconceito por usar uma estética diferente?

 Juliana Romano, Andreza Cavali e Magá Moura nas capas para tablet
Elle Brazil may 2015


De 1999 pra cá, o desejo não foi alcançado.
Será desta vez que o mercado mudará? Ou aceitar a diversidade é apenas mais uma trend? Assim, a Elle nos levanta novamente aquele debate que, se moda faz parte de um sistema capitalista, como saber se o "diferente" é mais uma jogada de marketing ou uma real mudança de mercado? Revistas que sempre castraram mulheres dizendo como elas deveriam ser, o que deveriam usar, que produtos de beleza disfarçarão sua idade, qual maquiagem a deixará com aparência rejuvenescida, agora dizem para elas se libertarem de tudo isso que promoveram?!

No documentário Fabulous Fashionistas que é sobre mulheres idosas com estilo, foi perguntado à um editor de moda sobre a abertura do mercado aos mais velhos e ele disse que essa "aceitação" é passageira. Isso nos deixou intrigadas, pois ele - diante do cargo que ocupa e como inglês, que é mais aberto as diferenças do que nós - mostra que o sistema vai ainda demorar muito para mudar a mentalidade.

A diversidade está na moda, isso é fato. Mas é difícil saber se a indústria da Moda mudou mesmo ou se está apenas curtindo a onda do momento, por isso ainda observamos com cautela. Temos receio de falar que o sistema da Moda tá mudando, porque em se tratando dela, tudo pode ser cíclico, a não ser que a população realmente fique em cima. Preferimos então apontar marcas que já nascem com esse conceito ou citar pessoas que isoladamente ou em grupo estão fazendo a diferença do que dizer que "a Moda" está fazendo tudo isso.
A moda vive do novo... Quando um "novo" surge, o antigo é deixado de lado. Torcemos para que o "bonito é ser diferente" não seja mais uma trend, seja algo palpável, duradouro e de fato, sentido na pele, no dia a dia.


Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Google +  Facebook  Instagram  Bloglovin´ 

13 de maio de 2015

Neil Gaiman, imperfeições e máscaras sociais: "Finja um pouco de cada vez"

Há uma cobrança para que as pessoas retirem suas máscaras e sejam sempre as mais verdadeiras possíveis. Pitty cantava "tira a máscara que cobre o seu rosto. Se mostre e eu descubro se eu gosto do seu verdadeiro jeito de ser."
O verdadeiro jeito...
Para quem mostramos nosso "verdadeiro jeito"? Talvez só pra nós mesmas. Ou talvez você se mostre verdadeira, mas pode ser chamada de antipática, mal educada, louca... às vezes nem sabemos quem somos plenamente, como vamos mostrar nosso eu verdadeiro aos outros???

As máscaras sociais ao longo da história foram importantes pra evolução do homem, como proteção das hostilidades e como negociação com os inimigos. Mas a máscara também tem função ritualística em várias tribos, de forma positiva, homenageando ou personificando deuses e também são positivas no teatro, mil faces entretêm a plateia.

Nós nascemos e fomos socialmente construídos, cheio de obrigações sociais. O quanto da sua personalidade foi adquirido de seus familiares, da escola e do mundo ao seu redor? E o quanto disso você não se identifica, como por exemplo, a obrigação de estar sorrindo sempre, até quando não está a fim?? É a preocupação de passar a imagem de perfeição sendo que o que mais a gente faz é tropeçar no caminho. 

Nós ainda usamos as máscaras, mas veja bem, ela não precisa ficar só no rosto! Ela pode estar nos gestos, nas roupas, numa palavra, uma atitude... O fato é que, quanto mais evoluímos, menos precisamos delas pois a maturidade nos faz querer desprender-se cada vez mais. Porém, muitas vezes ainda precisamos usá-las para abdicar de quem somos em prol da boa sociabilidade. E é exatamente sobre isso que Neil Gaiman respondeu à um leitor de seu tumblr: mesmo usando uma máscara, você pode fazer o bem pra si mesma ou às outras pessoas.

O comics Rose and Thorn, de Tom Taylor e Neil Googe: a máscara que usamos para esconder nosso lado obscuro:



"Querido Neil, eu sou uma pessoa horrível. Como ser gentil, por favor?"


Neil Gaiman: Às vezes eu suspeito que todos nós somos pessoas horríveis. Ou, pelo menos, somos pessoas humanas. Mesma coisa. Nós somos impacientes, julgadores, irritantes e irritados, mal humorados, facilmente ofendidos e o resto.
Então, como ser mais gentil se ele não vem naturalmente?

Finja.

Finja um pouco de cada vez.

Porque não há realmente nenhuma diferença entre fazer algo legal para alguém só porque você é naturalmente santo e perfeito, e fazer algo legal para alguém porque você é secretamente demoníaco e tenta encobrir-se. Ainda é um ato de bondade e de qualquer forma, você ainda fez a vida deles melhor.

Sorria para as pessoas. Diga olá. Pergunte sobre suas vidas. Lembre-se sobre o que eles falaram sobre suas vidas. Faça pequenas coisas para tentar ajuda-los. (Eles não vão saber que você é horrível, não se preocupe. Eles só vão perceber que você está ajudando.)

Dê às pessoas o benefício da dúvida. Lembre-se que é mais frequente a estupidez da culpa do que o mal, que todos podem estragar (incluindo você) e o importante é aprender com isso.

Pense "O que uma pessoa boa realmente faz agora?" – e faça isso. Não bata em si mesmo quando você falha. Seja tão gentil consigo mesmo como você seria para os outros - mesmo que você tenha que fingir.

E boa sorte.


Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Google +   Facebook   Instagram   Bloglovin´ 


11 de maio de 2015

Skateistan: empoderando meninas afegãs

Diante dos graves problemas sociais que o Afeganistão enfrenta, um lindo projeto surge renovando a esperança dos jovens oprimidos pelos conflitos da região: Skateistan. Iniciado em 2007, o skatista australiano Oliver Percovich despertou a curiosidade das crianças perante o desconhecido esporte nas ruas de Cabul, começando a dedicar-se ao ensino e assim criando uma pequena escola sem fins lucrativos no país. Dois anos depois e com ajuda de patrocinadores, concluiu um skatepark completo tornando Skateistan à primeira escola de skate do Afeganistão destinado ao ensino de alunos de ambos os sexos, sendo mais de 40% meninas. Hoje, recebe o título de organização não governamental internacional com sede também no Camboja e África do Sul. 


Segundo o site, o projeto abraça aprendizes de diversas origens étnicas e sócio-econômicas, dentre elas crianças que trabalham na rua e jovens com deficiência. Tem como objetivo não só ensinar o esporte, mas também proporcionar acesso à educação e com isso ajudar a desenvolver ferramentas para que a nova geração possa ter oportunidades de conseguir fazer mudanças sociais futuras. Entre os valores do programa estão: qualidade, propriedade, criatividade, confiança, respeito e igualdade.

O fundador Oliver Percovich dando aula a uma menina

"Skateistan é apolítica, independente, e inclusiva de todas as etnias, religiões e origens sociais. Skateistan pretende ser sempre um projeto social inovador e de qualidade."


Oliver reconhece o efeito que a iniciativa tem entre as meninas afegãs. Em entrevista ao SpitFire Wheels, comenta detalhes como não apresentar imagens, vídeos, moda ou música do ocidente para que elas possam desenvolver sua própria cultura em torno do esporte. Fala também da visita de Louisa Menke, o que resultou nas alunas a acreditar que uma garota pode ser realmente uma boa skatista. Ressalta a importância de focar na educação das mulheres pois menos de 20% sabem ler ou escrever e revela que o skate já é o maior esporte feminino no Afeganistão, sendo 50% de participação feminina em atividades do Skateistan e 50% funcionárias do local. 

Imagens: Jessica Fulford Dobson




Seria muito legal uma filial do Skateistan no Brasil, ainda mais que o esporte tem se desenvolvido com muita força no país, e a cada dia cresce a representação de grandes skatetistas brasileiras no circuito internacional, como Karen Jonz, Letícia Bufoni e Pâmela Rosa.

Simbora grrrls!



Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Google +   Facebook   Instagram   Bloglovin´


8 de maio de 2015

O lançamento oficial da tintura Candy Color!

Recentemente aconteceu a festa de lançamento oficial da tintura Candy Color
Pra quem não sabe, a Candy Color é uma coloração profissional semi permanente em tons fantasia, com textura em gel e que dura em torno de 40 lavagens. É vegan, não testada em animais e sem ingredientes de origem animal. Está no mercado desde o fim de 2010 e de lá pra cá a fórmula foi modificada algumas vezes visando claro, melhorar o produto.



Festa de Lançamento

Após um básico processo burocrático, ano passado a marca finalmente conseguiu registro na ANVISA e com o recente lançamento oficial, veio uma nova embalagem, novas tonalidades e algumas tonalidades já existentes tiveram mudanças na fórmula - que foi desenvolvida por um colorista profissional que usa e conhece as tintas gringas há mais de 10 anos, com isso a Candy tenta cada vez mais se aprimorar para oferecer um produto nacional que se aproxime da qualidade das tintas estrangeira.


Pra quem nunca usou a Candy, ela é pronta para uso, não é necessário misturar com água oxigenada. Só que, claro, requer descoloração prévia, só funcionando em cabelos a partir do tom loiro. Cada cor necessita de uma base de descoloração apropriada para atingir o tom desejado (a marca envia um folheto explicativo e ilustrado). Essa é a nova tabela de cores:

*clique pra aumentar*

As três novas cores: Aluminum, Raven e Sky Pink.

Raven: é uma tinta de cor escura para cobertura emergencial. Sabe quando você vai numa entrevista de emprego e precisa "amenizar" sua cor? Deixar um pouco mais "discreto"? Então, a Raven cobre até 80% dos cabelos de forma temporária, saindo conforme as lavagens. Por exemplo, em um cabelo vermelho, o resultado será um vinho escuro. Em cabelos loiros ou de base muito clara o resultado é prata escuro. Pode ser necessária mais de uma aplicação para que a cobertura seja satisfatória. 
Veja: teste da Raven



Aluminum: é a tinta em tom cinza! Isso mesmo! Sabe aquele cabelo grisalho/prata? Com uma base bem loira, você vai conseguir essas tonalidades. A Aluminum também pode ser usada como matizadora como ilustra o quadro acima. E abaixo, a Belz usando Aluminum e Raven.
Veja: teste da Aluminum



Imagem de  Inspiração


E finalmente a nova tonalidade é a Sky Pink, que é um rosa clarinho! Se você, como eu é da turma das amantes do pink e precisava misturar a Royal ou a Magic Pink em creme branco, a proposta da Sky Pink é já ser num tom mais suave que agilize esse processo.


O Candy Color Mix permanece no catálogo, é uma base sem cor que serve para diluí-las. Por exemplo, um pouquinho de Blueberry com o Mix numa base loira bem clara vira lilás. Mas não esquece que pra ficar pastel, pastel meeeesmo, seu cabelo tem que estar praticamente branco/platinado! 



Eu tenho usado a Candy continuamente desde fevereiro do ano passado (mas em 2011 usei em mechas). Já usei Sweet Grape pura; Sweet Grape com Royal Pink; Sweet Grape + Magic Pink + mecha de Blueberry; Royal Pink com Magic Pink e ainda não vou dar meu parecer sobre a nova fórmula porque recém essa semana encomendei meus tubos! E dessa vez vou experimentar uma cor que nunca usei antes, estou super ansiosa, já entrei no processo de desbotar meu laranja com rosa pra deixar o cabelo loiro e testar a nova cor! *_*


A Candy Color tem sido bem aceita pelo mercado nacional e ficamos orgulhosas de ter no Brasil, alternativos abrindo empresas no ramo cosmético  ;)


Dicas: Você mora em alguma cidade/Estado onde existe um pessoal interessado em tintas fantasia mas não encontram pra vender? Você pode contatar e marca e ver se tem vaga pra ser revendedor(a) na sua região. Se você mora em SP, encontra a Candy em lojas da Galeria do Rock e na Endossa da R. Augusta. E ainda tem umas lojinhas na web vendendo a Candy na fórmula antiga com desconto pra renovar o estoque.


Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Google +  Facebook  Instagram  Bloglovin´ 

6 de maio de 2015

Sandália Melissa: a Intolerância Estética como reflexo da falta de Cultura de Moda

O post anterior foi sobre a falta de cultura de moda e suas consequências. Neste artigo, vamos mostrar que uma dessas consequências é a intolerância estética. 
O  acessório que citamos naquele artigo são os modelos Animal Toe Vivienne Westood da Melissa, cuja ponta simula uma pata felina. Lá, falamos da diferença de um produto comercial, de um conceitual e da moda irreverente. A Melissa tem investido muito no lado conceitual, construindo Galerias de Arte aqui e no exterior. O conceito de irreverência tem caracterizado muitas coleções da grife. Porém, observamos que os calçados que saem fora do padrão, são verbalmente rejeitados pela clientela brasileira da empresa. 
Será que é falta de cultura de moda? Possivelmente. Existe a dificuldade de separar o gosto pessoal (achar algo feio ou bonito) da moda conceitual como expressão criativa de um designer. Moda esta que é uma especialidade do trabalho de Vivienne Westwood. A Rainha do Punk constantemente deixa de lado o senso comum em suas criações buscando novas formas e exotismo.

O animal toe tem a ponta imitando a pata de um felino

A cultura de moda nos capacita julgar uma peça irreverente sem levar em conta nosso gosto pessoal e considerando o design ou a história do criador. 

A única razão pela qual estou na moda é para destruir a palavra "conformismo".
Vivienne Westwood

Westwood é uma das pioneiras ao fazer o corset ser usado como peça de estilo. Então, toda vez que você ostentar na rua o modelo por cima da roupa (a peça é originalmente uma underwear), não esqueça de agradecer à Vivi.
Com suas ideias e criações à frente de seu tempo, ainda hoje suas roupas carregam aquele mesmo ar inovador de 40 anos atrás, quando criou o que conhecemos hoje como Moda Punk. Ela fez inclusive, camisetas adornadas com ossos de verdade! Atualmente luta pelo consumo consciente, por uma moda mais ética e recentemente empoderou mulheres na África através de um projeto de costura que dá controle à vida de mulheres marginalizadas que vivem na linha da pobreza.

 

Desde 2004, a estilista tem sua própria linha de sandálias na empresa Melissa. Algumas de suas criações para a marca são versões simplificadas ou modificadas em plástico de seus modelos em couro. Para muitas de nós, comprar uma Melissa desenhada pela Vivienne é a única forma de ter um sapato da estilista a preço acessível.


Versões em couro e em plástico (Melissa)


 

O mais intrigante de tudo isso é que as versões mais conceituais da Melissa não são peças baratas, indicando assim, que, supostamente, seus clientes possuem um nível mais elevado financeiramente, e não seria justamente pessoas desse nível que costumam ter mais cultura? Será que se essas pessoas tivessem a curiosidade de ir atrás da história da Vivienne, mudariam os olhares sobre suas criações mais conceituais?
Um dos países que mais usa e admira os calçados da inglesa é o Japão. Sim, o país do street style mais criativo do mundo. O país que inspira tendências tem pessoas que adoram usar moda irreverente. É de se refletir se nossa resistência ao irreverente vem da a falta de cultura de moda.

Calçados da Vivienne Westwood no street style


Melissa Ballet (e similares)
Esse é um outro caso que reflete a possível falta de cultura de moda em nosso país, pois é mais um exemplo do desrespeito à identidade visual individual. O âmbito novamente, não é discutir sobre gosto, pois cada um tem o seu, e sim, abrir um questionamento sobre saber julgar sem levar seu gosto pessoal em consideração.

A internet permite situações paradoxais. Ao mesmo tempo que forma amizades, debates, revela o lado preconceituoso e intolerante das pessoas quando se unem. O caso aqui é a forma que algumas meninas usam a Melissa Ballet (ou versões similares de outras marcas): amarrada por cima de meias 3/4 ou de calças jeans.
Disseram que era falta de "bom senso"...
"Bom senso" é algo socialmente construído. O que é bom senso na Moda hoje, não era há dois séculos atrás. E sem a quebra do bom senso, a moda alternativa não existiria.


O Brasil é famoso por ser um país conservador em termos de moda e de mulheres inseguras quanto à sua aparência. Mulheres que preferem vestir as tendências do que "ousar" criar um estilo próprio e talvez, diferente do habitual, tanto que o uso desse calçado de forma mais tradicional e "romântica" é muito mais aceito. 

Particularmente, o que impressionou no caso da Melissa Ballet foi a quantidade de pessoas alternativas (ao menos na aparência) criticando de forma bem agressiva, a forma que a mesma é usada pelas meninas.
 

Mas o que seria da  Moda Alternativa se não houvesse a desconstrução do que é correto, belo e ideal??

Não foram subculturas como a punk e a metal (nascidas em classes operárias)  que desconstruíram conceitos do bom senso na moda? O que seria dos nossos acessórios de spikes se um dia os punks não tivessem pego uma coleira de cachorro e colocado no pescoço?


Por muitos séculos a moda foi usada como divisão de classes. Tem sido dito que a sandália é um "item de funkeira e favelada". Nós que estudamos a Moda das Subculturas, já notamos como as subculturas das periferias brasileiras têm desconstruído e reconstruído estéticas do mainstream de forma muito peculiar. São jovens que quebram o uso comum de artigos de moda.  E às vezes essas modas de periferia estão tendo uma expressão estética de forma mais ousada que os auto intitulados alternativos... que estão cada vez mais "mainstreanizados".

Então, questionamos: qual o problema dessas meninas de classe popular usarem a sandália de forma "fora do padrão"? 

Por que não tenho visto alternativos brasileiros desconstruindo conceitos estéticos com a mesma ousadia e ferocidade? 
Por que nós estamos incomodados demais com as pessoas que têm usado a moda de forma irreverente?
Por que os "alternativos" julgam essas garotas se elas estão usando a sandália exatamente de uma forma "alternativa"?

Melissa e Zaxy (marca também da Grendene)

A gente quer ser respeitado pela individualidade e liberdade estética, mas rimos e fazemos piada de quem quebrou as regras do vestir. A gente quer o direito de usar uma plataforma de verniz ao meio dia junto com um corset e quer "proibir" uma sandália amarrada por cima da calça por ser falta de "bom senso"...

Ninguém é obrigado a gostar do estilo dos outros, com certeza! Mas fica difícil reclamar que o Brasil não respeita nosso individualismo estético quando vemos alternativos reproduzindo desrespeito, intolerância e também o preconceito de classe. Cultura de Moda... algo mais do que necessário...


E mais um questionamento: e se esse estilo tivesse vindo de algum artista ou sendo usado no street style japonês,
o julgamento seria diferente? 


E você, tem alguma opinião sobre?
C
onta pra gente! O espaço é livre também pra opiniões opostas às nossas, mas com respeito, ok?!




Acompanhe nossas mídias sociais: 
Direitos autorais:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos. 

4 de maio de 2015

A falta de cultura de moda e suas consequências

Ao ser lançado um novo acessório no Mercado, observamos a quantidade de comentários negativos advindos do design inusitado da peça. Surgiu então a vontade de se pensar mais sobre o assunto.
O âmbito não é discutir gosto, pois lógico, cada um tem o seu. E sim querer trazer informações de moda que talvez possam ajudar a compreender o conceito de um produto, ou até mesmo a irreverência de uma pessoa. A falta de informação, seja de qualquer assunto, nos torna mais vulneráveis, principalmente a cometer julgamentos errados. Por isso é sempre bom tentar desmistificar o que se desconhece.

Cultura de Moda
Acredito que seja de senso comum a importância da cultura numa sociedade, pois ela está entre os pilares da educação. E o mesmo vai ocorrer quando se refere à Moda. Pode parecer fútil reclamar da não valorização da cultura de moda num país onde a educação é tão precária, só que não é bem assim quando se conhece a profundidade do tema.
A falta de entendimento da área - igual a da cultura em geral - abre portas para intolerâncias sociais, que em casos extremos, pode levar até a morte. Alguns exemplos de atitudes reproduzidas:
- desrespeito à identidade visual de cada ser humano (sabe quando você usa algo incomum e ficam apontando e rindo?);
- desconhecimento do seu próprio estilo acarretando inseguranças estéticas, chegando ao ponto de ser facilmente convencido por opiniões alheias do que deve ou não usar;
- desvalorização de sua própria cultura por vira latismos;
- desconhecer sua voz e não questionar as armadilhas do mercado;
- ser levado pelo excesso de consumo e modismos por pensar que esse é o único meio de “estar na moda”, tornando-se uma fashion victim (vítima da moda).

 "Sem mais vítimas da moda", é o que diz a camiseta da estilista e ativista inglesa Katharine Hamnett


Moda conceitual x Comercial
Questão que causa bastante dúvida aos que estão do lado de fora do mercado. Vamos pegar o caso dos desfiles. A diferença básica entre moda conceitual e comercial é que uma está focada no conceito e outra mais em vendas.

Sabe aqueles looks que você pensa “mas que diacho é isso, quem é que vai usar um treco desses?”, então, o intuito dessas peças não é necessariamente o uso, seu grande foco é mostrar até onde vai a capacidade de criação de um designer. Mas o fato de ser conceitual não significa que não possa ser utilizada. Como dito no post O que é moda alternativa?, há pessoas com forte senso artístico e não possuem medo em ousar. Um belo exemplo: Lady Gaga.

Essa é uma moda que causa muita polêmica no meio, pois diversos estilistas consideram desnecessário a sua abordagem, já que moda significa business (vendas), e deve ser focada em agulha e linha e não em show. Se moda conceitual é relevante ou não para o mercado, aí vai depender da crítica de cada um.

Lady Gaga vestindo Comme des Garçons Inverno 2012

A editora de moda Anna Dello Russo com Moschino Inverno 2014


O lugar da Moda Alternativa
Apesar de existir alternativos de todos os estilos, a moda alternativa se encaixa no conceito do irreverente.  
E o que é irreverente na Moda? É uma estética que abandona o senso comum, está em busca de novas formas, fugindo dos modismos. Pode ser denominado de exótica, quando querem elogiar, ou de bizarro, quando partem para o insulto (se bem que nos chamar de bizarro é até um elogio, rs).

Pessoas com estilo irreverente são minoria, mas isso não diminui sua importância, pelo contrário, detém enorme destaque no mercado já que são as lançadoras de tendências. Como não gostam de usar o mesmo que a massa, procuram se diferenciar criando o que será no futuro novos modismos. A moda japonesa é uma boa demonstração desse fenômeno.

Alternativos também não curtem se vestir igual a massa, repare que somos atraídos por peças consideradas incomuns, ou conceituais, como explicado acima. Aquela bolsa em forma de morcego, um guarda-chuva com desenho de pentagrama, chapéu com contornos de teia de aranha... A moda alternativa está inserida na moda conceitual, não à toa, estilistas com background alternativo são grandes criadores de tendências (Marc Jacobs, Nicola Formichetti, Riccardo Tisci, Gareth Pugh e outros).


"Os movimentos sociais, impregnados de novidade na maneira de se vestir e de se comportar, acabam inevitavelmente gerando algum tipo de identidade visual que, por sua vez, é logo absorvida e transformada em elementos de moda. Incentivados pelo consumo e pelo sistema capitalista, o visual de roqueiros, beatniks, mods, hippies, punks, darks, góticos, clubbers, ravers, yuppies, skatistas, cybermanos e tantas outras tribos sociais acabaram sempre a serviço da gulosa e inconstante Moda."   Dicionário da Moda de Marco Sabino

Acredite: o que você acha esquisito hoje, amanhã poderá estar louca para comprar um! Acessório de cabelo com formato de orelha de coelho no desfile Louis Vuitton e amenizado pela Urban Outfitters

Alternativos são atraídos por peças irreverentes e conceituais. Produtos Miniminou


Look do Dia
O Look do Dia deveria ser uma vitrine de estilo e não de cópia completa, ou seja, no sentido de querer ser totalmente igual a blogueira em questão. Para um alternativo desprendido de regras pode parecer uma obviedade, porém, quando olhamos amplamente, percebemos que muita gente é facilmente induzida a querer aparentar quem não é, o que implica na falta de autoestima. Infelizmente no Brasil isso é bem comum, já que o sentimento de inferioridade atinge a nossa construção social.

Ao contrário da vibe tupiniquim, as estrangeiras posam para seus Looks do Dia sem muitas pretensões. Não costumam seguir tendências, raramente fazem parcerias com marcas e estão adaptadas ao ambiente em que vivem (um fator importante!). Estamos muito acostumados a olhar para o exterior e é necessário certa cautela, pois há grandes chances de frustração devido o nosso modo de vida ser diferente. 

Um punk americano não é igual ao inglês, a mesma coisa com um gótico alemão e um sueco. E por que deveríamos ser iguais? Claro que isso não impede de usar algo que lhe atraia esteticamente, gosto é gosto. Mas por exemplo: eu só uso roupa preta e me mantive assim mesmo com a sensação térmica de 50 graus na minha cidade em pleno Verão. Continuei com o meu gosto, o meu estilo, só que com adaptações. O importante é ter consciência pois assim você cria caminhos de manter a sua estética e não abandoná-la.


Alternativas internacionais: estilo próprio acima de tudo

Para terminar, é bom lembrar que foi se o tempo em que ter cultura de moda pertencia a elite. Pela internet, encontramos livros online gratuitos, sites e blogs muito bons com esse tipo de conteúdo. O Brasil é o país com a maior quantidade de universidades de moda do mundo, tá mais do que na hora de mostrar essa nova cara. Contamos com vocês! ;)



Acompanhe nossas mídias sociais: 
Direitos autorais:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos. 


1 de maio de 2015

A obra de Louise Zergaeng Pomeroy

Uma coisa bem legal que vem ocorrendo nos últimos anos é o destaque que a nova geração de mulheres vem ganhando no universo das artes plásticas. Esse fenômeno tem ocorrido com força no exterior e já causa efeitos no Brasil também. O interessante é que reparando nas artistas e suas criações, os nomes que despontam em larga maioria são de meninas alternativas, muitas vindo da cena underground e que estão conquistando espaço até no mainstream. E mais legal ainda, é que elas chegam retratando com diferente perspectiva o corpo feminino do que é comumente apresentando pela mídia. É o caso da artista gráfica e ilustradora Louise Zergaeng Pomeroy


Não há muito sobre a biografia de Louise na internet, só de que mora em Londres e tem entre 27/28 anos de idade. Seus desenhos são uma mistura de feitos à mão e colorido digitalmente, sendo superligado a temas do cenário alternativo, como personalidades do Rock, filmes, tatuagens e outras esquisitices que a gente ama. A artista já fez parcerias com grandes empresas: The New York Times, Converse, Attitude Magazine estão entre os exemplos. 

Recente ilustração de PJ Harvey

E Grace Jones

A cantora Kat Bjelland

Mural com imagens dos Ramones para um restaurante londrino

Desenho de Halloween, que já virou estampa de produtos, unindo Lydia Deets do Beetlejuice, Vandinha Addams e Nancy de Jovens Bruxas 

Jovem grunge e feminista

Um assunto frequente nas ilustrações de Louise são as modificações corporais


Sendo as estéticas tribais de grande interesse de estudo

Sua contribuição ao evento London Tattoo Convention de 2012

Fantástico o trabalho dela, né? Lá fora, ilustradores conseguem ter uma abertura de emprego incrível, mesmo sendo jovens, coisa que aqui é muito complicado. Infelizmente, sobreviver de artes é algo restrito no Brasil. A falta de incentivo a cultura mostra o quanto precisamos evoluir na nossa politica pública. 

Será que temos leitores artistas também? Queremos saber!


Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Google +   Facebook   Instagram   Bloglovin´ 


© .Moda de Subculturas - Moda e Cultura Alternativa. – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in