Destaques

2 de setembro de 2015

Club Kids: Money, Sucess, Fame and Glamour

Os Club Kids eram um contraponto a tudo o que estava no auge nos anos 90: o Grunge e o Minimalismo. Enquanto os olhares se concentravam em camisas de flanela ou peças monocromáticas, cores e brilhos dominavam esse grupo. Foi um movimento contestador e inovador até mesmo para a cena alternativa da época.

Walt Paper

Breve resumo
Nova Iorque é uma cidade de workaholics, uma selva de pedra que necessitou inventar entretenimento para contrabalancear a falta de paisagens naturais. Foi nesse embalo que as boates eclodiram tornado-se parte da história local e criando movimentos como a Disco Music, que fez a cidade ferver sendo um dos maiores pontos turísticos da década de 1970. O Club Kids chega no final de 1980, para reavivar uma cultura manchada pelas polêmicas do Studio 54 e seu então dono Steve Rubell. Mal sabiam que ainda estava por vir muito mais babado, confusão e gritaria.

Michael Alig é um americano do interior que se muda para NY com a intenção de estudar, chega inclusive a cursar o Fashion Institute of Technology, mas acaba enveredando à noite ao se empregar na boate Danceteria. É nesse local que começam os primeiros aprendizados sobre gerenciamento, logo sendo promovido a promoter da casa. Foi aí que seus planos cresceram ainda mais!

O promoter Michael Alig
"Um dia percebi que não queria acordar e trabalhar todos os dias. Eu não queria ser igual aos monótonos e normais. Queria criar meu próprio mundo. Um mundo colorido onde todos pudessem se divertir. Uma grande festa que não acabasse nunca." Fala de Macaulay Culkin em Party Monster

Michael queria criar sua própria cena na cidade, então ele procura James St. James, um badalado frequentador e idealizador de festas, para que o ensine a ser popular. O começo foi um fracasso, mas Alig não desistiria e logo planejou o próximo passo que o fizesse ser o novo Andy Warhol e Factory da cidade. Ele consegue convencer Peter Gatien, dono das boates Tunnel e Limelight, a lhe dar uma nova chance. E assim se inicia de vez a carreira de sucesso do Rei dos Clubbers, transformando-o em um dos maiores promoters do mundo e a noite nova iorquina em algo que ninguém jamais viu.

James St. James e Michael Alig.

A fama monstro que os Club Kids ganharam
atraiu gente como Nina Hagen e Björk para suas festas.
 


Tudo que o americano mexia virava ouro, ou glitter! Alig cria modismos de estética e até linguajares. A festa Disco 2000 era o ápice do cool. Deu tanto o que falar que a mídia mainstream o descobriu e passaram a ir em programas ao estilo Casos de Família, inclusive uma das mais famosas entrevistas foi concedida à Joan Rivers.


Entrevistas para TV, matérias em revistas, o estilo e comportamento atrevido e carismático dos Club Kids começou a ter fãs em todo o país e atrair seguidores, pessoas que queriam ser parte da turma. Os Kids escolhiam a dedo quem ia fazer parte do grupo. As festas uniam pelo menos mais três tipos de turma no mesmo espaço: as Drags, góticos interessados na música eletrônica e pattys/boys.


O céu já não era o suficiente aos clubbers. Só que tudo que vem rápido, vai também. E a queda foi desastrosa.


Decadência
O grande motivo para o sumiço dos Kids foi a tragédia em que se envolveu Alig. Em 1996, Michael foi acusado de assassinar seu colega de quarto, o traficante Andre "Angel" Menendez. Ficaria dezessete anos na cadeia até ser libertado em 2014. Mas esse não seria o único pretexto.

Em 1989, surge o ecxtasy, a "droga do amor" (na época sem classificação pois não era considerado droga) que incentivava a sociabilidade. Também no mesmo período circulava a Special K (ketamina) que diferente do ecxtasy, deixava as pessoas antissociais e desenvolvendo muitas brigas. Como todo grupo baseado em drogas, com o tempo o comportamento das pessoas mudou.

O declínio final da cena noturna 90s de NY foi quando o prefeito Rudolf Giuliani instaurou o programa Tolerância Zero onde mesmo pequenos delitos eram tratados como grandes crimes. Assim, os clubs nova iorquinos por sonegarem impostos ou permitirem que drogas circulassem, foram fechados e seus donos processados criminalmente. Com isso acaba a cultura que existia nos clubes.
Hoje, segundo o documentário Limelight, os clubes da cidade são pequenos, para poucas pessoas com carro e grana e não tem mais uma cultura de arte e moda.

Alig com Peter Gatien

 Limelight era uma igreja neo gótica que virou clube e hoje é um shopping


Estética
Uma das palavras que mais definem é o excesso. Muitas cores, texturas, glitter, maquiagens, estampas. Eles levaram o conceito de beleza - ou a desconstrução dela - ao extremo: quanto mais bizarro, irreverente, melhor. Era uma verdadeira performance de freak show, um Rock Horror Picture Show sem limites.

A roupa era confeccionada pelos próprios clubbers (olha o Do It Yourself dos punks!), pois era brega comprar grife. A aparência era fundamental, viviam para se produzir, vestiam personagens criados por eles, porém, como dito antes, a beleza tinha outra linguagem, sendo o mais diferente possível, inclusive a make, um glam metal elevado a mil. Neon, glitter, metalizado, lamê, lurex, holográfico, pelos, miçangas, vinil, látex, plataformas gigantes, piercings... tudo junto e hípermisturado.


Muitas cores no rosto e nos cabelos. 
Repare o penteado de Rich e a chocker de strass.

Muitas vezes era difícil identificar homens e mulheres, o Club Kids brincava e desconstruía as questões de gênero, que facilitava a aceitação do diferente.

 Richie Rich subvertendo gêneros
 

As plataformas imensas eram às vezes customizadas para ficarem mais chamativas.


Personagens da época:
O Club Kids fez despontar muitos nomes, e o mais badalado e comentando do momento é RuPaul, sim a própria! Não à toa, o reality RuPaul's Drag Race, é considerado um importante motivo por reacender o interesse aos clubbers. Além dela, surge também a trans Amanda Lepore, musa do fotógrafo David Lachapelle, e o estilista Richie Rich com a marca Heatherette, que carrega com bastante evidência o espírito dos primórdios anos 90.

RuPaul

No MTV Video Music de 1993 RuPaul encontra Nirvana. 
Club Kids e Grunge: duas turmas que viviam seus auges.

Amanda Lepore 

Amanda e seu card da Disco 2000, que hoje vale uma grana no ebay.

James St. James (à esquerda)

Richie Rich

"Todos me chamam de aberração. Se eles olham pra mim e são rudes, eu olho pra mim e fico legal." diz Rich num programa de auditório, com seu inseparável espelho

 o elaborado Kabuki Starshine

Tamanha foi a fama dos Club Kids que JennyTalia foi convidada a estrelar a minimalista campanha de Calvin Klein em 1995 (3º foto) revelando a interação e um contraste visual entre o alternativo e o mainstream.

O andrógino Walt Paper

The Fabulous Wonder Twins

Gitsy era uma garota do interior que os viu na TV e acabou sendo convidada a ser parte da turma numa seleção de novos "Club Kids".

A história de Michael Alig e os Club Kids foi tão marcante na cena clubber americana, que em 2003 estreia o filme Party Monster, baseado no livro de memórias de James St. James "Disco Bloodbath". Com Macaulay Culkin numa ótima interpretação de Michael Alig, Seth Green como James St. James e Chloe Sevigny como Gitsy.


Curioso notar que nesta foto de Macaulay, provavelmente de meados da década de 1990, eles usa plataformas ao estilo Club Kids! Será que ele imaginava que no futuro interpretaria Michael Alig?


Som
Música eletrônica: techno, house. Uma banda de destaque foi o Deee-Lite que mesclava ritmos dance e house. Interessante é que o início de 1990 foi também o auge de músicas para boate que pipocaram ao estrelato, era supercomum no mainstream cantores que estouravam só com um hit, tipo Gala com "Come into my Life", Corona "Rhythm of the Night", La Bouche "Be my Lover", Whigfield "Saturday Night", e outros tantos. Não duvido que tenham sido canções diluídas pela grande indústria musical indo no embalo da era clubber.

Deee-Lite


Influência
A música eletrônica e a estética clubber passeou entre outras subculturas da década de 1980/90 como a cybergoth e a cyberpunk.
O movimento foi tão forte que já na época o mainstream captou o clubber. É bem evidente pitadas de referências visuais em bandas a la Spice Girls e AQUA. O estilo ousado e colorido se tornou tão visado que num dado momento influenciou boa parte da moda jovem daquela década. 

Os kids se inspiravam também em desenhos animados nas suas "montações" o que ajudou a alavancar uma marca pouco conhecida no Brasil, porém de grande importância nas trends 90s que vemos ultimamente: Lisa Frank. Repararam na quantidade de estampas de unicórnios, ET's e arco íris por aí?

Spice Girls

AQUA

Estampas Lisa Frank

Enquanto o que chegou à grande massa era uma diluição, houve também aqueles que permaneceram com o conceito, levando bem a sério o seu extremo, é o caso de Marilyn Manson com a banda Spooky Kids, uma versão digamos, mais Horror/Shock Rock. Manson é tão ligado aos Clubs que faz participação no filme Party Monster interpretando a drag Christina e há pouco tempo apareceu em fotos no face junto de Michael Alig.

Manson com The Spooky Kids

Seria Walt Paper (à esquerda) uma influencia do músico na época de Mechanical Animals???

Após quase 20 anos na cadeia, Michael Alig tem se reencontrado com alguma frequência com seus amigos Club Kids originais, como podemos acompanhar nas fotos postadas em suas mídias sociais. Interessante reparar como seu retorno à sociedade bate com o reinteresse da Moda pela cena Clubber 90's.

Em sentido horário: Michael Alig e James St. James; um encontro de parte do grupo logo que Alig saiu da cadeia e Walt Paper com JennyTalia.

Richie Rich e Amanda Lepore.
 

Hoje já fica mais fácil de enxergar artistas atuais que tiveram em suas obras os olhos voltados aos clubbers. Lady Gaga que levou à geração contemporânea o conceito de irreverente. A rapper Brooke Candy é outro modelo e mais recente a Miley Cyrus.

Uma Club Kid já usou latinhas de refri como bobs. Numa entrevista, ao ser perguntada como se veste no dia a dia, Gaga respondeu: "me visto como uma Club Kid de NY". 


Walt Paper certa vez citou Patti Smith numa entrevista. Disse que há sempre esses bolsões de tempo onde tudo brilha e as coisas acontecem porque as pessoas acreditam. Os Party Monsters promoveram criatividade, subversão de gêneros, faça-você-mesmo e provocaram a sociedade durante seus tempos áureos. E deixaram uma marca não apenas na história da vida noturna de NY, mas também uma imensa referência na moda alternativa.

"É tudo sobre autoexpressão. 
Se você sente como um duende, então deveria se parecer um duende!"
Cena de Party Monster





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1 de setembro de 2015

Dica de Loja: HauteXtreme

Hoje vim dar a dica de uma loja alternativa nacional que tem se destacado, a HauteXtreme!
Na primeira olhada no site eu senti uma coisa meio "chic" mas ao mesmo tempo rebelde e se isso aconteceu, creio que a loja conseguiu expressar muito bem a dualidade presente no nome: Haute (que seria a parte "chic") e Xtreme (que seria o rebelde).


Segundo o site, a marca é feita para mulheres urbanas independentes, com pé no streetwear e tem a intenção de criar peças únicas sem focar tanto em tendências. Como muitas lojas alternativas, a produção é própria, feita no Brasil e as peças são exclusivas. Os tamanhos vão do P até o tamanho GG e em alguns casos, até o G somente.


Acredito que quando a marca diz que não foca em tendências, ela se refere ao mainstream. Porque quando a gente pensa na moda alternativa atual - que tem suas próprias trends -,  percebo que a cada dia, existe a demanda para que as lojas nacionais estejam atualizadas com as trends alts do exterior. E nisso a HauteXtreme teve visão, já que o estilo Witchy, tão desejado por algumas meninas daqui, já tem peças inspiradas na loja.


Telas e transparências foram alt trend alert aqui no blog, assim como os chokers e símbolos ocultistas.

De certa forma a marca me lembrou a Black Milk que chama as clientes de "Sharkies". A HauteXtreme chama as suas clientes de "Hauties". Isso acontece por causa de uma identidade própria que é compartilhada ou admirada por seus consumidores. Quando você consome a marca, não consome apenas as roupas mas também o conceito.

Símbolos ocultistas estilizados em peças adaptadas ao nosso clima e com um toque rock n roll. Tanto a estética witchy inspired quanto a trend dos ombros de fora já passaram aqui pelo blog.


A primavera/verão tá chegando, e estas peças parecem ser bem apropriadas ao nosso climão. Pela descrição do site, o vestido mullet preto tem forro e isso é algo que considero um ponto positivo pois muitas marcas não colocam forro em suas saias ou vestidos. O forro sempre ajuda a não marcar tanto a peça no corpo, o que dá uma certa elegância. Já o vestido mullet "smoke" precisa de uma underwear discreta ou shortinho por baixo.



Haute e Xtreme: a saia delicada, lady like, ao lado de uma xadrez grunge com detalhes em spikes e a legging com estampa de Baphomet.



Sobre a coleção atual, acho interessante apontar que a dualidade do conceito acaba sendo o grande trunfo da marca, pois algumas peças não são apenas "diferentes", são peças usáveis em ambiente de trabalho e dependendo em algum evento mais arrumadinho. Reparem nas peças abaixo como elas tem um ar mais chique.
A blusa Alcina e a Veil podem ser usadas por cima de peças básicas (blusa + calça) pra incrementar o visual "emprego"; já a Celine Blue não precisa de nada, vai pro trabalho tranquilamente.


O short mesmo sendo curto, por causa da estampa, passa uma sofisticação. E tanto a saia Dollface quanto a calça Black Dahlia seguem este conceito também.


E que tal a caneca personalizada da loja? A caneca Black and Hot é de porcelana Oxford. Além dela, destaco - pra essa linha mais "haute" - os colares Necrologie (que tem um toque bizantino) e o Geodesic...


... já na linha "Xtreme" todos os chokers são com material sintético e feitos à mão um por um, artesanais!


Peças Recebidas 
Há um tempo atrás recebi umas peças da marca.
Pacote e cartinha muito carinhosa que recebi da Lari, a proprietária da marca ♥


Cada peça veio num saquinho com o nome e logo da marca com um plástico que podemos ver o conteúdo, super bem acabado. As peças podem ser guardadas depois nestes sacos ou dá pra reutilizar numa viagem, por exemplo.


Além da caneca, as outras duas peças são: a blusa Destroyed  e o choker 3 spikes.


Sobre a blusa Destroyed: o que fez eu me interessar por ela foi o toque punk, além de ser uma peça que vejo inúmeras possibilidades de combinações. Como o inverno está no fim, minha intenção era ter uma peça que pegasse o período de trocas de estação (frio-calor-frio) e que fosse fácil de carregar (basta dobrar e ela fica pequenininha) quando eu tirasse. 


Como ela é de tecido sintético fiquei com medo de pinicar como já aconteceu com peças que comprei de lojas de departamento, mas não!! É super confortável e esquenta no grau suficiente pro nosso frio meia boca. O desfiado é feito à mão, o que torna uma peça levemente diferente da outra. 
É uma peça aparentemente simples, mas com estilo e versatilidade. Quanto ao acabamento, nada a reclamar, é super bem feita!


Enquanto a caneca Black and Hot é de porcelana Oxford, esta que recebi é mais simples, mas igualmente bem feita. Já o choker 3 spikes é meu novo queridinho ♥ Ele veio num saquinho próprio pra ser armazenado. É feio à mão em material sintético que lembra couro, tem uma textura muito macia e 3 spikes de tamanho médio frontais e dois ilhóses. O fechamento é algo que vale ser citado pois tem 4 opções de tamanho. Na foto abaixo, à direita, uma amostra da barra da blusa e seus detalhes desfiados.


Lembram quando disse que as marcas alternativas nacionais estão chegando num patamar de identidade e qualidade no mesmo nível que algumas grifes do mainstream? Então... esse é mais um exemplo de loja brasileira que nos orgulha e está recomendadíssima!
Produtos feitos no Brasil, alguns de modo artesanal, saquinhos de armazenamento, coleções exclusivas... vamos valorizar nossos jovens empresários que estão ajudando a Moda Alt se profissionalizar por aqui! 

Espero que tenham gostado e não deixem de dizer se já compraram na loja ou se tem alguma peça preferida de lá! :D


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