É difícil as mulheres do rock/metal terem devido espaço na mídia. Para terem ideia, é tão raro oferecerem um espaço grande à elas em páginas de revista que quando isso acontece, chega-se ao ponto de parabenizar a publicação.
A edição 209 da Roadie Crew trouxe uma matéria especial sobre as mulheres do rock/metal. A edição foi supercomentada, e é aí que percebemos como "mulheres e rock" ainda é um tema que chama a atenção como se fosse algo incomum. Houve quem disse que a revista “saiu na frente” e veja bem: mulheres estão no rock desde o começo do mesmo... e o rock existe há quase 70 anos...
Existe algo na forma como as enxergamos neste meio... O que tem de mudar, nosso olhar? Ou na verdade precisa-se aceitar que elas sempre estiveram no rock e que agora não aceitam mais ficar em segundo plano? Ou que não faz mais sentido invisibilizá-las? Por que ainda nos surpreendemos e parabenizamos quem "ousa" trazê-las em suas páginas?
A edição 209 da Roadie Crew trouxe uma matéria especial sobre as mulheres do rock/metal. A edição foi supercomentada, e é aí que percebemos como "mulheres e rock" ainda é um tema que chama a atenção como se fosse algo incomum. Houve quem disse que a revista “saiu na frente” e veja bem: mulheres estão no rock desde o começo do mesmo... e o rock existe há quase 70 anos...
Existe algo na forma como as enxergamos neste meio... O que tem de mudar, nosso olhar? Ou na verdade precisa-se aceitar que elas sempre estiveram no rock e que agora não aceitam mais ficar em segundo plano? Ou que não faz mais sentido invisibilizá-las? Por que ainda nos surpreendemos e parabenizamos quem "ousa" trazê-las em suas páginas?
Texto de divulgação da edição: "A matéria de capa da edição de número 209 da revista Roadie Crew, que estará nas bancas até o dia 10 de junho, é dedicada às estrelas que iluminam e embelezam o cenário da música pesada. A extensa reportagem mostra o trabalho e a arte de mulheres que se aventuraram e engrandeceram um mundo que alguns acusam de ser povoado por machistas truculentos."
O especial sobre a história das mulheres no rock/metal é bom, não aprofunda porque óbvio, não haveriam páginas suficientes, pois as revistas precisam manter seus editoriais. São 14 páginas com alguns quadros de curiosidades, contando inclusive com um espaço pra falar sobre as mulhers do rock no Brasil, citando Ozone, Volkana, Flammea, Shadowside, Ocultan, Losna, Panndora, Hellarise, Melyra, Nervosa, Hatefulmurder (já entrevistamos Angélica aqui) entre outras várias incluindo um depoimento muito legal da Mayara Puertas da Torture Squad.
Em certo trecho senti leve desdém por mulheres de apelo mais pop como Pitty e Amy Lee. Elas podem não ser o perfil da publicação, mas é inegável que ambas levaram muitas garotas ao rock. Mesmo que a gente não curta um artista, é necessário entender que podem ter sido referência à milhares de meninas que depois, por si mesmas, descobririam outras bandas e até mudariam seus gostos para estilos mais pesados. Também achei que – mas daí talvez seja porque o perfil da revista é mais heavy metal – foi pouco falado sobre as mulheres do punk rock mais atual e do metalcore (que tem várias!). E foi curioso uma modelo de clipe (Bobbie Brown) ganhar um longo parágrafo de informações dispensáveis enquanto que algumas cantoras receberam apenas citação e nenhum desenvolvimento de texto sobre elas.
A quantidade de mulheres no rock é tão grande que não tinha como colocar todas na revista e nem as falas de todas as entrevistadas,
isso mostra como falta espaço nas páginas para que estas mulheres se expressem!
Numa edição que celebra mulheres no rock me surpreendeu encontrar na página 18, num quadro intitulado "Brotherhood", o autor dizendo "não consigo achar motivos pra enaltecer a atual presença de mulheres na música pesada". Segundo ele, bandas de Symphonic Metal e outras como Lacuna Coil, Tristania, Nighwish, Halestorm, Within Temptation e Evanescence parecem trilha sonora para princesas da Disney. O autor prefere bandas como Doro, Wolkana, Pitty, Rita Lee, Leela e Mercenárias por não serem um "produto de prateleira".
E salienta "não adianta achar machismo no texto", pois diz que não se importa com gênero e orientação sexual contanto que o som seja decente. Achei essa fala um pouco contraditória, afinal, ele já começa o texto dizendo que não acha motivos para celebrar 'mulheres' no som pesado, então ele já separou por gênero, querendo ou não. E finaliza "as próprias garotas criam clichés de uma certa inadequação em forma de paródias" e a seguir indica algumas bandas all-female que fazem covers (!) de outras bandas famosas (masculinas)!! O.o
Ninguém é obrigado a gostar de determinados estilos. Não mesmo! Mas colocar esse editorial numa edição dedicada às mulheres no metal me soou bastante "deselegante" e um contrassenso. Afinal, se vamos falar de clichés, isso se encaixa também em bandas "all male" (nem usam esse termo né?)! Pois como ele mesmo diz no texto, não é o gênero que importa se a musica é boa (gosto é relativo, então melhor dizer "se a música é do seu gosto").
Em um post sobre mulheres no rock/metal aqui do blog, foi escrito que o Symphonic Metal foi um dos responsáveis a mudar a cara do heavy metal na virada do século passado e trazer milhares de garotas ao mundo da música pesada, pois finalmente havia diversas delas como referência! Mudanças acontecem, às vezes não gostam delas, não se adaptam por preferir o tradicional, mas não podemos negar todo o impacto comportamental ocorrido.
Já na página 19, Ricardo Batalha enaltece Wendy O. Williams do Plasmatics, com biografia e discografia. Ele diz que a nova geração não a conhece. Pode ser, mas eu garanto a vocês que muito mais gente conhece Wendy hoje do que há anos atrás quando eu era dona de um grupo do Orkut dedicado à mulheres no heavy metal. Nós inclusive já citamos Wendy várias vezes no blog. Enfim, este sim um belo editorial, coerente com o propósito da edição.
Talvez esta seja das mais completas matérias sobre mulheres no rock já publicada em revistas no Brasil. Existem algumas faltas (ex: nenhuma artista negra recente é citada), incluindo de conteúdo histórico, mas entendo ser pelo limite de páginas. A revista trás também Heaven´s Guardian, No Way e Lyria. As bandas Nervosa, Lacuna Coil, Doro, Phantom Blue, Lita Ford (com foto dela nova e não atualmente, com 57 anos), Janis Joplin ganharam matérias. Trouxe pôster com Alissa White-Gluz e um depoimento muito bom dado por Iza Rodrigues do blog Menina Headbanger, que diz: “Queremos o direito de gostar do que quisermos sem ter que provar nada pra ninguém".
Calculei que ao menos 30% da revista foi composta de "mulheres". Nunca folheei uma revista de rock com tantas! A impressão que tive é que é completamente possível uma publicação colocar 30 ou 40% de suas páginas com bandas de/com mulheres criando assim uma publicação mista com espaço pra todos de forma mais igualitária!
É um sinal de mudança?
Eu não saberia dizer!
A mudança só ocorreria se daqui pra frente a Roadie Crew trouxesse todo mês no mínimo 30% de suas páginas com mulheres. Vimos que isso é possível. E creio que seria inovador! Será que ousariam apostar nessa visão de mercado?
E isso vale para outras revistas também.
Mulheres no Rock vistas ainda como bichos raros porque não são divulgadas. Fica-se na dependência do que os editores querem ou não publicar. Fazer uma edição maravilhosa e depois continuar excluindo meninas de suas páginas pode parecer o que sempre foi: marketing, "homenagem" ou caso isolado. É preciso uma mudança real de comportamento. Senão continuaremos sendo tratadas como algo ocasional que "embeleza o mundo do rock". Só que estamos sendo tratadas como bicho raro no rock há mais de 60 anos!! E nunca houve tantas mulheres no rock como hoje. Então é claro que existe um problema.
Se vocês tem a revista, digam o que acharam!
Keep on Rocking Girls!! \m/
P.S: Essa análise demorou um pouco pra sair porque só encontrei a revista pra vender no fim do junho e só recentemente terminei de ler toda ;)