Destaques

20 de junho de 2017

O belíssimo trabalho da tatuadora Angelique Houtkamp

Como uma boa viciada em tatuagens e arte, procuro muito por inspirações para tatuar. Foi nestas pesquisas que dei de cara com o trabalho da Angelique Houtkamp, uma tatuadora que trabalha em Amsterdã, Holanda - aqui o estúdio dela: Salon Serpent.

Provavelmente vocês já viram os desenhos da Angelique por aí. Ela desenha Pin-ups estilizadas em old school. Não são pin-ups clássicas*, embora os temas sejam, mas seu estilo único é reconhecível de longe.




A pin-up abaixo é uma representação do personagem principal de “Papillon” (1973), que na história é um homem! Gosto muito dessas mesclas feitas pela artista: embora sejam pin-ups, estão fazendo muitas vezes tarefas que eram consideradas masculinas. 

 

A marinheira e a Sherlock: representações clássicas masculinas que foram feitas pela artista com protagonismo feminino. O traço também é bastante característico e muitos elementos dos desenhos se repetem. 


A inspiração são as pin-ups clássicas e os cortes de cabelo dos anos 1920, atualizadas através das tatuagens.


É provável que a atriz do cinema mudo Louise Brooksesquerda) tenha sido a inspiração principal dos desenhos de Angelique, além de outros ícones da época, como a atriz Gloria Swanson (à direita).

louise-brooks-gloria-swanson


É difícil selecionar os desenhos mais bonitos! Quem gostou pode procurá-los através do nome da artista, são fáceis de encontrar e muitos estão disponíveis!

A artista se tornou tatuadora após os 30 anos de idade, se interligando com o artigo sobre adultos que adentram subculturas.

*Nota da Editora: As pin-ups clássicas remetem às décadas de 1940 e 1950, já as pin-ups de Angelique Houtkamp chamam a atenção por tornar pin-ups a estética da década de 1920, especialmente as garotas consideradas melindrosas.



Autora: 
Nandi Diadorim. Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul. Guitarrista em uma banda de punk rock. Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.




Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos; a seleção e as montagens das imagens foi feita exclusivamente para o blog baseado na ideia e contexto do texto.


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14 de junho de 2017

We Wear Culture: a ferramenta de Moda do Google e os erros a serem corrigidos

Essa semana a timeline foi cheia de compartilhamentos sobre a mais nova plataforma do Google, a We Wear Culture. Trata-se de um espaço onde história e cultura de moda podem ser acessados por qualquer um interessado em saber mais sobre os temas. No entanto, há um erro pavoroso que tem deixado historiadores de moda muito incomodados e observei também na questão da subcultura punk, a inserção de um vídeo polêmico.



O que é We Wear Culture
Segundo o próprio Google, o We Wear Culture trás informações sobre "3.000 anos de moda" para contar as histórias que estão por trás do que vestimos. Isso foi possível com a digitalização de acervos dos maiores museus do mundo, parte deste acervo não é exposto ao público e agora ganha visibilidade através da internet. Existem artigos ao estilo que fazemos aqui no Moda de Subculturas e no História da Moda, contando a história de itens de moda e possui também vídeos educativos com a intenção de mostrar para o mundo que moda é cultura.



3.000 anos de história da Moda?
Aqui lanço minha crítica e a de historiadores de moda: foi divulgaldo uma informação imensamente errada de que moda existe há 3 mil anos. Acredito no intuito de chamar a atenção, de causar sensação, de mostrar a grandiosidade do projeto, mas é válido ensinar errado as pessoas e os estudantes que usarão o site como referência?

Se você é interessado em moda, já deve ter visto por aí alguns textos ou livros escritos assim "história da indumentária" ou "história da indumentária e da moda". A indumentária é influenciada pela sociedade em que está inserida, já a moda é um fenômeno social surgido no fim da Idade Média ligada ao surgimento da burguesia e da diferenciação de classes sociais. Então queridos leitores, a Moda não tem três mil anos de idade, vamos deixar isso claro.




Punk: confiável ou desconfiável?
Minha segunda observação é um artigo sobre o Punk que lá está disponível. A matéria não tem tanto texto quanto as outras matérias de moda (mas você pode conhecer a história do Punk através de nossos textos clicando aqui) e sim vídeos. É aqui que entra meu questionamento pois os vídeos do Capitain Zip lá indicados como referência  são controversos.
Capitain Zip alega que seus vídeos foram feitos em 1978, no entanto várias pessoas (punks inclusive) apontam discrepâncias entre as roupas vistas nos punks e as lojas presentes no vídeo, contestando a data divulgada. E uma das comprovações disso seria uma cena em que aparece ao fundo a loja World´s End de Vivienne Westwood que só abriu suas portas em 1980.

Para aqueles - principalmente estudantes - que buscam fontes confiáveis para seus trabalhos de subculturas, é bom dar uma consulta dos livros de história da moda disponíveis conferindo informações que lhes causarem dúvidas. 


Particularmente adorei as seções sobre moda asiática e afro americana, pois são áreas que praticamente não temos material em português.

Desde o começo do blog gosto de mostrar o outro lado da moda, o lado "com conteúdo", o lado com história, com cultura. Moda pra mim é muito mais do que a roupa em voga momento, por isso ler informações incorretas sobre o tema me incomoda tanto, entendo o poder da comunicação e sei que uma informação errada ferra o trabalho certo de muitos que estão nos bastidores querendo mostrar a importância desta área tão incrível.

Você já deve ter visto em algum lugar - talvez até aqui no blog mesmo - a roupa sendo usado como reflexo de uma época ou de uma situação. Lembra das postagem das Sufragistas? Ou da relação da moda com o feminismo? Quem lembra de nosso post sobre o preconceito com a Melissa Ballet? Você já foi à um Museu e saiu de lá sabendo coisas novas? Com a Moda é assim também, quando você liga moda com cultura, sua bagagem de conhecimento cresce! Só que moda tem seu lado efêmero sim, não à toa tantos modismos, tantas discussões sobre a necessidade de adotar o Slow Fashion. Só não podemos pensar que moda é futilidade, é reducionismo demais. Então,

que venham logo as atualizações do We Wear Culture
com o conteúdo corrigido e ampliado!



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Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
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10 de junho de 2017

Breve história do penteado Colmeia (beehive hairstyle)

Margaret Vinci Heldt ficou conhecida mundialmente por ser a "criadora" do cabelo beehive, ou penteado bolo de noiva na nossa tradução. A americana que tinha origem italiana desde cedo mostrou habilidade com os fios. Em 1954, venceria o concurso National Coiffure Championship em Michigan. O prêmio traria renome ao trabalho da cabeleireira e de seu salão, o Margaret Vinci Coiffures, localizado em Chicago.

Com evidência no mercado de beleza, anos depois, surgiria o convite da revista Modern Beauty Shop - hoje, Modern Saloon - pedindo que a hair designer criasse o novo look da década. "Nada aconteceu desde o twist francês, o pageboy e o flip. Eles me disseram: "você precisa vir com algo diferente", revelou ao jornal Chicago Tribune. E assim, em Fevereiro de 1960, estreava na publicação o cabelo beehive.

Ícone contemporâneo, Amy Winehouse ostenta seu famoso beehive. 

A inspiração do penteado veio de um pequeno chapéu preto de veludo, um modelo fez, que tinha uma fita vermelha e duas decorações nas bordas que pareciam abelhas. O cabelo seria criado numa noite enquanto a família dormia. Margaret desceu as escadas de sua casa, colocou uma música e começou a trabalhar no manequim. No dia que apresentou oficialmente para revista, a cabeleireira deu um toque final colocando um broche no cabelo da modelo. Quando um dos repórteres viu o resultado, falou: "Isso simplesmente se parece com uma colmeia (beehive). Você se importa se nós o chamarmos de colmeia?". Pronto, estava batizado o penteado!

Margaret Vinci Heldt segura a foto de sua criação.

O beehive consiste em envolver a cabeça em torno do movimento da coroa, rolando suavemente a "franja" na direção das orelhas. Seu formato é cônico e com uma leve ponta, literalmente uma colmeia, por isso a associação. É necessário muito laquê para segurá-lo firme. Margaret brincava dizendo que avisava as suas clientes que não se importava o que o marido fizesse do pescoço para baixo, contando que não as tocassem do pescoço para cima. O penteado era feito para durar uma semana, um lenço era enrolado em torno ao dormir para não bagunçar os fios.

A modelo Bonnie Strange, fotografada por Johannes Graf na 74 Magazine de 2012:
variação moderna do beehive.

No Brasil, o modelo ficou conhecido como bolo de noiva. Mesmo com o costume de se ver o penteado em festas, na época era usado no dia a dia também. Dizem que quando as mulheres iam ao cinema, sofriam retaliações de espectadores pois o penteado atrapalhava a visão de quem sentava atrás, com pedidos mal educados de que se retirassem do local.

Apesar de Margaret ser conhecida como a inventora, a verdade é que o estilo já era visto no final dos anos 1950. Com a cabeleireira ele teria ganhado o tamanho e a forma como conhecemos. O status chique foi coroado quando Audrey Hepburn aparece no filme "Breakfast at Tiffany", ou "Bonequinha de Luxo" (1961).


Priscilla Presley também é muito lembrada por seus cabelos naquela década.

Na própria década o cabelo já seria incorporado nas subculturas, provavelmente influenciado pelas bandas de garotas sessentistas:

The Velvelettes
60s-girl-band

Mary Weiss da The Shangri-Las
60s-girl-band

 The Marvelettes e Connie Francis
60s-girl-band-singer

Diana Ross (The Supremes) e  Aretha Franklin  60s-girl-band

e as cantoras Mary Wells,
60s-singer

Dusty Springfield, Dolly Parton e Mari Wilson.
60s-singers 

Conhecido pela maioria com o nome de beehive, alguns também o denominam de B-52, pois o penteado lembra o nariz do jato. Nos anos 1980, seria visto em diversas cores pela cantora Cindy Wilson do grupo homônimo. Na mesma fase, a personagem Elvira mostrava a cara dark do aplique, que tinha como referência as The Ronettes.
Do formato cônico em colmeia, o penteado sofre várias modificações, a mais comum delas é ter o cabelo penteado erguido para cima e para trás, versão simplificada do modelo original.

Quem não lembra dos penteados de Kate Pierson e Cindy Wilson do grupo B52´s?
singers
hairstyle

O beehive dark de Elvira e...
mistress-of-the-dark

... as musas inspiradoras The Ronettes.
1960s-girl-bands

Antes de ser pioneira da cena punk, Debbie Harry usou beehive ainda adolescente e posteriormente como atriz, no filme Hairspray (1988, John Waters). 


O cabelo de Kelly Osbourne se aproxima do colmeia original e
Katy Perry usa uma versão mais quadrada.

A punk Jordan em 1976 e Emily McGregor são exemplos do penteado sendo usado na cena.
jordan-emily-mcgregor

Tão raro quanto no punk é o beehive na estética gótica:
jen-theodora
à direita @jentheodora
 
As subculturas mais comuns de se ver o penteado são nas que possuem
referências ao passado, como na retrô e psychobilly.
@ludmilahouben

Desde a sua existência, o sucesso do penteado permanece ora no alternativo, ora no mainstream. Nos últimos anos, adquiriu status cult devido à Amy Winehouse. Naquele período o beehive aparecia muito no estilo clássico, à la Audrey Hepburn. Quando Amy surge com o visual, a cantora se encontrava numa fase super influenciada pelas girls bands dos anos 1960, citando constantemente as garotas The Shangri-Las, apesar do estilo que usava remeter mais às The Ronettes. Além do cabelo, o olho delineado de gatinho e batom vermelho já vinha de tal década.


O look virou marca registrada e como aquele estilo não era visto há muito tempo pela mídia, ficou no imaginário que o visual dela era único, mas na cena alternativa de Londres o cabelo sempre existiu para as que se identificavam com a moda retrô, a diferença é que não ficaram famosas como a cantora.
Amy revelaria: "Eu sou uma pessoa muito insegura. Sou muito insegura em como pareço. Sabe, eu sou música, não modelo. Quanto mais insegura me sinto, mais bebo. (...) E ao Tracy Trash, que faz meu cabelo, digo: 'Maior, maior!' - quanto mais insegura fico, maior tem que ser meu cabelo".

Quanto mais insegura, maior o beehive.

Sobre seu cabelo e os grupos musicais dos anos 1960

Em entrevista para extinta Fashion TV, a blogueira Tavi Gevinson, ainda adolescente​, descobre que Margaret não gostava nada da versão exagerada que Amy adotou do cabelo. A cabeleireira viveria até os 98 anos num asilo em Chicago, falecendo no dia 10 de Junho de 2016. Quantas estórias um penteado pode contar, não?


E você, gosta do penteado? Conta pra gente!



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27 de maio de 2017

O estilo da cantora Siouxsie Sioux

No dia 27 de Maio de 1957, nascia Siouxsie Sioux! Ou melhor, Susan Janet Ballion, em pleno subúrbio inglês, local que influenciaria a formação da artista que conhecemos. "Nascer no subúrbio te faz ser diferente. É claro que eu fui um pouquinho mais", diria a cantora.




Sioux nunca pensou em seguir a carreira musical. São aqueles acasos que dão certo. Na verdade, ela era só mais uma jovem inglesa sem futuro que seria acolhida pelo Punk. Ao se mudar para Londres, integraria ao Bromley Contingent, um grupo de garotos que se reunia para curtir a vida e os Sex Pistols. Na capital, a vida mudaria por completo. A conexão com Malcolm McLaren, empresário de Pistols, a desafiaria a montar uma banda para o festival que Malcolm organizava. Foi sem experiência alguma, que no dia 20 de Setembro de 1976, estrearia no 100 Club o Siouxsie and the Banshees, com Sid Vicious na bateria, Marco Pieroni na guitarra, Steven Severin no baixo e Siouxsie no vocal. Era sua primeira apresentação como cantora em público. O nome da banda veio de um filme do Vincent Price (Cry of the Banshees, 1970) e eles trouxeram elementos de terror nas letras e sons, inspirados também pelo filme Psicose (1961).

Igual ao Punk, a banda completara 40 anos em 2016. Ao ser perguntada anos atrás se o Punk ainda existia, respondeu acreditando que o espírito ainda exista sim. "A atitude punk era maravilhosa, antes de ser distorcida pela mídia", diria.

Em sua época punk e com Steven Severin na loja SEX.

"Eu sempre me senti na contra mão"

"Eu era muito sozinha, na verdade. Os poucos amigos que tinha eram ciganos. Quando tinha oito anos, tentei cometer suicídio para ser notada pelos meus pais. Eu costumava fazer coisas como me jogar escada abaixo para que pensassem que eu caí. (...) Eu realmente, sempre me senti outsider", revelaria em entrevista para NME de 1978.

A infância solitária de Sioux mostra como a música, ou o Rock, foi uma válvula de escape para suas frustrações. Seu pai, um emigrante alcoólatra, faleceria em decorrência da doença ainda quando a cantora era adolescente, colocando sua mãe como provedora da casa e de seus irmãos. A força que ela teve que adquirir para sustentar a família, acabou influenciando Sioux perante a vida, e, consequentemente, a carreira. "Foi a primeira vez que garotas pegavam em instrumentos e não ficavam nos bastidores", diria sobre o Punk. Já ficava claro para Siouxsie a diferença de comportamento que a sociedade impunha para homens e mulheres, e que para quebrar barreiras, era necessário ser forte, assim como sua mãe.


Robert Smith, do The Cure, se inspirou em Siouxsie para criar seu visual.
Um raro caso de homens que se inspiram em mulheres.


Nem Punk, nem Gótico

"Nós realmente não gostamos de ser tachados de alguma coisa, mas é inevitável que as pessoas rotulem de algo para compreender". Tanto Siouxsie quanto a banda, não gostavam de ser definidos, nem como músicos. "Não nos enxergamos no mesmo contexto dos outros grupos de rock. Estamos num limbo", diria. Essa abordagem vinha devido a liberdade que queriam ter em suas criações, da qual havia diversas referências. Se algo era concreto, é que eles não queriam fazer o que já existia. "As coisas devem continuar. Estamos tentando mostrar que não precisa ser pop punk o próximo, e não precisa ser os mesmos riffs antigos do rock. A gente não curte tendências. Nos formamos inicialmente porque sentíamos que tínhamos algo para dizer. O que ocorreu foi que em decorrência de certos aspectos, é necessário um diferente ponto de vista, um variante de contras, mas com o mesmo ataque/impacto".


Seus estilo autêntico virou referência para suas fãs.

 
"Everything looks good tonight", The Passenger

De origem pobre e vinda do subúrbio, Siouxsie sempre se sentiu diferente da sociedade. Ao contrário de alguns, em vez de tentar adaptar-se a padrões, assumiu sua singularidade, sem imaginar que isso seria o perfeito encaixe com o Punk. Desde cedo, ela já sabia que jamais estaria numa capa de revista de moda mainstream. "A maioria das meninas queria ser igual a alguém, eu queria ser a minha própria pessoa". A atitude contestatória de Sioux pode não a ter levado às maiores capas de revistas de moda do mundo, mas indiretamente, sua influência estética chega até elas pelas criações de estilistas admiradores de seu trabalho, vide a beleza do desfile Saint Laurent de 2015, que teve como referência a cantora, já que o antigo designer da marca, Hedi Slimane, é seu fã. Antes mesmo da fama, faria pontas como modelo para a grife Sex, loja de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren.


simon-barker
@Simon Barker

Desfile Saint Laurent fall/2015, inspirado na cantora.

Quando olhamos sua estética chamativa, muitos nem devem saber que no início sentia um grande nervosismo ao entrar no palco. Encarnar um personagem para certos artistas é um jeito de enfrentar suas inseguranças e timidez. Apelidada de 'Android' pelo grupo, o visual de Sioux foi evoluindo durante a carreira. Talvez fosse uma forma de continuar se diferenciando já que seu estilo foi logo copiado.

"Estilo deveria ser uma acentuação de seu caráter.
Não tem nada a ver com o que você está vestindo, mas sim em como você veste."

No começo ainda Punk, Siouxsie andava como as outras meninas, usando cabelo curtíssimo, com minissaia e meia arrastão e escarpins nos pés. Também como outros, seria mal interpretada pelo uso da suástica. Como descrito no post sobre punk, quando punks utilizam o símbolo, de forma alguma havia adoração, pelo contrário. O punk era subversivo, usar tal imagem era esfregar na cara da sociedade o lado sujo dela, ainda que fosse um jeito controverso de se criticar. Interessante é que anos depois, em 1980, a banda faria uma música chamada "Israel", da qual a cantora se apresentaria usando uma estampa de estrela de Davi.


Da era Punk para o Post-Punk, Siouxsie permanece com o visual fetichista em suas roupas, tachas, arrastão, tela, botas acima do joelho, chokers, minissaia de vinil, amarrações. Havia influência da moda cigana nos acessórios, muitos lenços, as peças possuíam franjas e eram esvoaçantes. O romantismo surgia com as rendas, o uso de cores como preto, roxo, vermelho e verde esmeralda.

Visual fetichista

Influência cigana e romantismo.

A maquiagem Vamp teve como influência a personagem Cleópatra de Theda Bara. Siouxsie deu sorte pois seu formato de rosto se encaixou muito bem com a beleza egípcia. Unido ao famoso cabelo preto, se tornaram a marca registrada da inglesa, passando por alterações em diferentes fases.


O visual típico de Siouxsie que vem a mente foi sendo construído ao longo do tempo. No início o fio era curto e o rosto pintado com cores fortes, como rosa shocking, ou com um desenho surrealista em volta do olho direito. No fatídico encontro com o apresentador Bill Grundy, no programa Today Show, uma Siouxsie debochada, de fios platinados e com estilo tomboy era visível. De 1978 em diante, a maquiagem Vamp e o cabelo preto médio espetado ao estilo backcombing passa a ser sua marca. Clipes como 'Hong Kong Garden', 'Spellbound', 'Dear Prudence', 'Cities in the Dust', 'Candyman', de diferentes datas, mostram bem essa beleza. Detalhe para 'Dear Prudence', quando Siouxsie estica os braços em movimentos de dança, aparecem os pelos em suas axilas, é por isso que no post das Riot Grrrls, foi lembrado das punks setentistas pois estas fizeram o que veríamos em evidência no motim dos anos 1990.

look
O visual típico de Siouxsie
Tomboy platinada e cores nos olhos.

Mas Siouxsie é também uma camaleoa. É visto novamente cabelos bem curtos nos clipes 'Happy House', que traz um quê de Ziggy Stardust, adicionado blush rosa bem marcado, típico dos anos 1980. Em 'The Passenger', o corte é muito parecido com o que Mary Quant usava na década de 1960, e a maquiagem começa a mudar: a base do desenho continua Vamp, mas o olho é menos carregado de preto e o blush já não é mais o rosa oitentista. Em 1988, Sioux aparece com os cabelos a la Louise Brooks, em 1990 ele aparece mais comprido e a make ganhando novas cores. Nessa época, muitas de suas aparições públicas estaria vestida pela sua grande amiga Pam Hogg.

Cantando The Passenger na Hungria em 1987.


Cabelos à la Louise Brooks
@Ebet Roberts

Camaleoa. O terninho tem uma sainha de renda e metais dominam o look à direita.

Desfilando para Pam Hogg e com a estilista.
Usando macacão com saia crinolina no palco.

Fotografada por David Lachapelle para a Details magazine em 1995.

Teoricamente, a banda Siouxsie and the Banshees encontra-se parada desde 2002. Nos 40 anos do Punk, em 2016, o grupo completaria a mesma idade! Além dele, Sioux tinha o projeto paralelo The Creatures com seu marido e colega de banda, Budgie. Seu último trabalho foi solo, com o álbum Mantaray, de 2007. Apesar do "no future" do punk, Siouxsie and the Banshees foi a banda que mais durou dessa época. Conseguiram resistir conquistando uma legião de fãs que não se limita a uma só subcultura.


Siouxsie nunca quis representar ninguém, simplesmente queria ser dona de sua própria voz, mas sem querer acabou representando muitas meninas e mulheres ao redor do mundo que se sentem deslocadas. "Ela era uma rebelde e me identifico muito com isso. Eu era uma criança de 13 anos, de cabelo ruivo, que sofria bullying todo dia, me sentia completamente desamparada e quando ia para casa e ouvia os discos da Siouxsie, sentia que pudesse dominar o mundo", revela Shirley Manson.

 

É estranho pensar que em pleno 2017, Siouxsie Sioux seja uma figura transgressora, incluindo no cenário do Rock. Num mundo que tenta a todo custo se encaixar em padrões, a existência da artista é um respiro a quem ainda mantém o espírito punk dentro de si, mesmo que esteja escondido lá no fundo. A imagem e a música que trouxe voz ao lado obscuro da vida se faz mais necessária do que nunca. Vida longa a Siouxsie!


- Este artigo contém análises autorais assim como informações de domínio público.





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