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12 de março de 2023

A história da subcultura Blitz Kids / New Romantics

 Em 1978, os primeiros punks começam a perder o interesse na cena na medida em que a subcultura ia tomando novas formas com a chegada dos adeptos da classe trabalhadora...



... Isto abre caminho para que surja outro movimento jovem, posteriormente conhecido mundialmente como "New Romantics". Estes jovens tinham background punk, apreciavam exibicionismo e deram início a um movimento alternativo com foco no vestuário.



Toda terça à noite num bar chamado Billy´s, localizado no porão de um clube chamado Gossips, um grupo de estudantes da Central Saint Martins College of Art, incluindo punks da primeira geração e fãs de soul, se uniam para a chamada “Bowie Night”, organizada pelo ex-punk, cantor e hostess Steve Strange e o DJ Rusty Eagan. A noite acontecia sem muita divulgação, atraindo cerca de 50 jovens excêntricos obcecados por glamour, num momento em que Londres vivia uma época de vacas magras e descontentamento econômico.

Em fevereiro de 1979, a “Bowie Night” se muda para um local chamado Blitz, em Covent Garden, num bar decorado com pôsteres da segunda guerra mundial onde os frequentadores gostavam de imaginar que o local reproduziria a Berlin da república Weimar (período anterior ao regime nazista) mostrada nos filmes Cabaret e O anjo Azul. A festa se mantém nas terças-feiras, o som era eletrônico com Kraftwerk e Giorgio Moroder além de muito Bowie na trilha sonora, que deu à festa o apelido do cantor. Steve Strange, vestido como pierrô ou com um casaco imitando a Gestapo, controlava a porta. Só entrava quem estava extravagante e pavoneamente vestido, caracterizando a partir daí, o que se tornaria uma subcultura focada em estética - mais do que outra coisa - os clientes do Blitz não queriam apenas dançar e sim, exibir seus visuais.


Havia atração por trajes exóticos, um ecletismo sem regras que ia desde a inspiração nos revolucionários franceses do século 18, passando pelo romantismo e indo até o Glam de David Bowie, só que tudo isso misturado. Esse era uma aspecto interessante no grupo: o interesse por moda histórica, buscando referencias ora barrocas ora vitorianas, mas sempre atualizados para a época em que vivam. Além disso, outra característica marcante eram as estéticas com androginia e cross-dressing, realçados através de maquiagem.

Com a exigência de um visual chamativo, os jovens se viravam em criar seus próprios trajes, fossem eles vindo de bazares de caridade, desmontados, customizados, costurados e recriados pelos estudantes de moda que frequentavam o local. Além de estilistas, os frequentadores do clube queriam ser cantores pop, escritores, fotógrafos, maquiadores, cineastas... Por isso a escolha de andar como obras de arte ambulantes. Para eles a palavra "poser" não era um xingamento, era um orgulho, ser um dândi, ter a preocupação com a aparência acima de todas as coisas era a lei, fosse num visual vitoriano, num retrô de 1930 ou no simples uso de tecidos extravagantes.



Alguns de seus frequentadores eram o DJ Jeremy Healey, a cantora Sade; Karen Woodward do grupo Bananarama; a modelo e DJ Princess Julia. Gery Kamp e Tony Hadley músicos da banda Spandau Ballet; Martin Degville e Tony James da Sigue Sigue Sputnik; Jeremy Healy da Haysi Fantayzee; os cantores Billy Idol e Peter “Marilyn” Robinson, Theresa Thurmer, Melissa Kaplan, Isabella Blow. Estilistas que se tornariam famosos como o chapeleiro Stephen Jones e o professor universitário Iain R. Webb. Mas talvez um dos mais famosos seja Boy George, personagem marcante pela adoção de estereótipos estéticos de feminilidade.


O grupo se autoproclamava o “cult with no name” ou “o culto sem nome”, embora tenham recebido nomenclaturas como New Dandies, Romantic Rebels e Blitz Kids, uma matéria na revista Sound os chamou de New Romantics - associando-os ao new wave e o culto a poetas românticos, este foi nome que pegou popularmente. Com a atração midiática, o próprio David Bowie visita o clube e seleciona parte dos frequentadores para participar da filmagem do clipe da música “Ashes to Ashes” lançada em agosto de 1980. Na época, os Blitz Kids procuram um novo som para representá-los e adotam sintetizadores, isso pode ser ouvido nas bandas Visage, de Steve Strange, na Spanadu Ballet e na Ultravox.



O movimento acabou tornando-se vítima do próprio sucesso, o clube fecha em outubro de 1980 quando as bandas Spandau Ballet e Visage lançam seu primeiros singles, "To cut a long story” e “Fade to Gray”. Logo, as bandas synth pop associadas ao new wave como Bananarama, Yazoo, Blancmange, Thompson Twins, Frankie Goes to Hollywood e o Culture Club de Boy George entraram nas paradas de sucesso do Reino Unido e do mundo.


Em 1981 Steve Strange abre outro clube, o Club for Heroes hospedando festas nas terças e quintas. Naquele mesmo ano, a estilista Vivenne Westwood lança sua The Pirate Collection – Clothes For Heroes, de atitude rock e inspirada nos revolucionários do século 18. Trazia peças que lembrava uma espécie de “pirata romântico” sendo um dos modelos o cantor Adam da banda Adam and the Ants que fazia um som mais guitarra do que sintetizador, tendo a música “Prince Charming” se tornado o mantra do movimento que naquele ponto que já havia se tornado uma festa a fantasia onde todos estavam convidados. Steve Strange ainda abriria o clube Hell, com festas nas noites de quinta-feira no Mandy's Club, na Rua Henrietta em Covent Garden, trabalhando com Boy George.



Pelo estudo em arte, os Blitz Kids possuíam a atitude de quebrar barreiras estéticas e comportamentais, colocando o visual conceitual típico de passarela nas ruas. Estilo era a substância e ser poser significava ser verdadeiro ao movimento. A subcultura começa a desaparecer em 1981, mas deixa de herança além do Synth Pop, o poder da moda, da estética como autoafirmação da criatividade.

Os trajes influenciados por períodos históricos, especialmente a moda romântica do século 18 e 19 com a imagem do dândi decadente, as camisas de poeta (com gola V, babados e rendas), ombros marcados, peças soltas, longas saias e maquiagem de forma livre, se refletiram num desfile realizado por Stephen Linard sob o tema "Neon Gothic". Os amigos de clube posavam como modelos mortalmente pálidos, com roupas de inspiração vampiresca e acessórios religiosos.



Quando os Blitz Kids foram absorvidos pela cultura jovem mainstream, surge a necessidade de um novo movimento underground. Assim, em 1982, no mesmo prédio onde dois anos antes ocorriam as festas “Bowie Nights”, surge o Batcave nas noites de terça-feira, hospedado pela banda Specimen e que receberia a transformação destes jovens apreciadores de androginia, maquiagem e teatralidade histórica que foi grande influência para artistas de bandas como Siouxsie & The Banshees, The Cure e The Damned, que herdaram dos Blitz Kids a liberdade de expressar suas individualidades de forma única e através da música que produziam. Os Blitz Kids trouxeram o vestuário exuberante, o Punk trouxe o niilismo, o Glam a recusa em aceitar as regras tradicionais, estes três elementos unidos ao interesse no “lado negro” convergiram no Batcave nos primórdios do que viria a ser a cena gótica musical que se tornava mais orientada para a estética, começando ali o diálogo entre gótico e moda que persiste fortemente ainda hoje.



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