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27 de dezembro de 2017

A história da subcultura Chola: conheça as gangs de garotas latinas.

A subcultura Chola tem suas origens na cultura pachuco da década de 1940 e possui identidade marcada pela segregação e racismo históricos, guerras de gangues, violência, pobreza e papéis de gênero conservadores. Sua estética não é apenas moda, mas uma declaração simbólica sobre luta e identidade conquistada.

Existe uma história de resistência e resiliência entre as mulheres
mexicanas-americanas da Califórnia, também chamadas de Chicanas. 

Para entender as origens das cholas, é recomendado ler o artigo sobre a subcultura Pachuco, onde é abordada a opressão e discriminação das comunidades latinas nos EUA no começo do século 20. As Pachucas, antepassadas das cholas, eram donas de um estilo não conformista e rebelde. A transição do estilo de pachuca para o chola ocorreu a partir da década de 1960, mas foi na década de 1990 que viveu seu auge no underground influenciando também a cultura dominante.

Acredita-se que a palavra "Chola" deriva de Xolotl, um antigo deus Asteca que  guiava os mortos para o submundo. Quando os espanhóis conquistaram o império asteca no século 16, as crianças de mistura espanhola e ameríndia eram insultadas como 'xolos'. No começo do século 20, quando ocorreu a migração mexicana para as áreas pobres de Los Angeles, eles foram chamados de 'cholos' e então, na década de 1960, a classe trabalhadora mexicana retoma o termo e o subverte como símbolo de resistência durante o movimentos dos direitos civis chicanos: o Chicano Power ou Movimento Chicano.

Assim, "Cholo" identifica méxico-americanos ou chicanos afiliados à gangues do sul da Califórnia. Os grupos latinos ofereciam um senso de família e orgulho, identidade e pertencimento e em alguns casos proteção. Chola define as jovens latinas que são parte de gangues.

Cholas: jovens latinas pertencentes à gangues.


Gangs
Culturalmente associamos gangues a situações negativas, mas como vimos na postagem dos Pachucos, as gangues chicanas surgiam como uma forma de proteção e resistência contra a opressão. A cara fechada demonstra desprezo ou apatia pela sociedade que os exclui. Os cholos e cholas se envolvem em gangues visando a auto proteção nas ruas. Assim como seus pais e avós, eles valorizavam o conceito de família, eram orgulhosos de sua etnia e defendiam sua identidade e a lealdade entre os companheiros. As garotas latinas envolvidas em gangues na década de 90 são conhecidas como Homegirls.


Homegirls: "Aztek Nation" e "Brown Sugar Crew", gangues de garotas chicanas nos anos 1990.

Estilo de Vida
O estilo de vida da subcultura chola demonstra interesse musical por hip hop, o rap chicano, gangsta rap e até mesmo rockabilly e punk rock. Há a cultura Lowrider, criada pelos mexicanos-americanos no começo do século 20, documentado nas páginas de publicações como Teen Angels que destacava arte, moda, tatuagens e códigos morais. Alguns filmes retrataram a subcultura, como Corredor Polonês (Walk Proud, 1979), Boulevard Night (1979) e Mi Vida Loca (1994), sendo este o mais famoso e que se tornou cult por mostrar a vida e os relacionamentos de quatro garotas de uma gangue em Los Angeles na vizinhança de Echo Park. As atrizes selecionadas eram pertencentes a gangues reais. A diretora Allison Anders, se disse interessada em mostrar a subcultura como cultura pop, abrangendo música, roupas, lealdade, amor e sororidade feminina.

Cultura Lowrider: carros antigos customizados.
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Bicicletas Lowrider

Páginas da revista Teen Angels.

Mi Vida Loca é o mais famoso filme sobre as Cholas.
Hoje é cult e considerado feminista.


Estética
A estética da garota mexicana-americana da periferia é composta por estilo, trejeitos e atitudes próprias e principalmente orgulho de suas raízes. 

Cabelo e Maquiagem:
Esse é o ponto mais marcante da estética chola. É composto por sobrancelhas finas e arqueadas desenhadas a lápis, olhos bem marcados podendo ter maquiagem gatinho (cateye makeup), lápis de boca mais escuro que o batom (vermelho escuro ou preto com batom vermelho vibrante), lágrima desenhada abaixo de um olho representando a opressão dos mexicanos na América. Cada gangue tem uma forma autoral de fazer a maquiagem o que permite identificar a qual pertence cada garota.

Sobrancelhas pretas e arqueadas, cateye, sombra e lápis de boca contornando os lábios: característica marcante das cholas.

À direita, cholas em 1997.

Grandes topetes ou franjas pin-up ou beehive são adornados com bandanas. É suposto que os altos pompadours são usados para esconder canivetes. Elas podem fazer pequenos cachos nos cabelos bem juntos à pele.
Tanto o cabelo quanto a maquiagem retrô podem ser interpretadas como homenagem às antepassadas pachucas, boa parte das referências remetem à década de 1940.



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Topetes e bandanas.
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Como adornos, óculos gatinha (cat eye glasses), grandes brincos de argola dourados ou prateados e tatuagens constantemente celebrando as origens mexicanas, com palavras grafadas em fonte Old English, imagens de veneração à família ou à virgem de Guadalupe.



Roupas e calçados:
As Cholas usam camisetas/regatas brancas ou estampadas com símbolos religiosos, tatuagens ou palavras na fonte Old English; por cima camisa xadrez oversized abotoada só no primeiro botão. A barriga de fora é comum assim como suspensórios, longas correntes e cintos com grandes fivelas. Jeans ou calça baggy Dickies em denim ou na cor cáqui. Como calçados, as cholas são vistas usando "chanclas" (espadrilles), tênis ou algo que permita correr da polícia, contrastando com os altos saltos usados nos eventos de lazer que costumam ser acompanhados de roupas em estilo retrô, especialmente da década de 1940, época das Pachucas.




Além do visual calça, regata e camisa xadrez, as cholas também adotam a estética retrô da década de 1940, época em que as pachucas viveram.


As pulseiras de plástico são uma marca forte na subcultura, cada menina monta do jeito que quiser, de forma única ou montam em combinação com a turma.


O Estilo Masculino:
Como vimos no post anterior sobre os pachucos, o estilo cholo de calça cáqui (Dickies) e regata branca pode ter evoluído tanto do visual militar quanto do uniforme das cadeias. O visual encontra elementos comuns ao estilo feminino: camiseta branca, camisa xadrez sobre camiseta branca abotoada só o primeiro botão, calça ou bermudas largas cáqui ou denim, tatuagens em homenagem à cultura chicana, lágrima nos olhos, bandana, óculos escuros e cabeça raspada. Nos pés, tênis. As peças são bem largas, homenageando o terno Zoot Suit dos antepassados Pachucos. Assim como as cholas, é comum os cholos formarem suas gangues, é deles a ideia de tatuagens de gangues representando o grupo ou local de origem, comumente usando a fonte Old English nas escritas.

A tatuagem de lágrima remete ao sofrimento do povo mexicano na América assim como simboliza a perda de algum ente querido. São comuns tatuagens no rosto, cabeça e boa parte do tronco.


O boné de aba reta é amplamente adotado assim como calças ou bermudas largas que lembram as calças larguíssimas do terno zoot da década de 1940.
O visual encontra paralelos no visual das subculturas skate, rap e hip hop, embora cada um destes grupos use os trajes por motivos específicos, há vários pontos em comum entre estas subculturas que influenciam umas às outras.


Cholos: "vida loca" é uma frase da subcultura 
que habita a área 818 do Vale de Los Angeles.

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Cholos e Cholas: "Brown Pride" é uma expressão que simboliza o orgulho de suas origens indígenas e mexicanas.


Curiosidade: as calças Dickies existem desde 1922, mas foi durante o período da segunda guerra mundial que sua durabilidade e conforto as tornaram pioneiras no traje de trabalho moderno. Na década de 1960 se tornou unissex e podiam ser tingidas de qualquer cor. Nos anos 1980 passam a ser desenhadas para as formas femininas e é no fim desta década que as Dickies se tornam peça fundamental da cultura latina de rua, tanto para homens quanto para mulheres por ser barata e durável. Foi adotada por skatistas, roqueiros, sendo uma das adeptas mais famosas a cantora Gwen Stefani.


Na cultura dominante
Na década de 1990 a subcultura Chola viveu seu auge no underground influenciando fortemente a cultura dominante. Uma das artistas que levou a estética ao grande público foi Gwen Stefani, conhecida pela adesão ao estilo. A cantora declarou em entrevista que as Cholas são sua maior influência: 


"As cholas... elas tinham uma maquiagem inacreditável... eu cresci em Anahein (cidade no sul da Califórnia) de imensa população hispânica, eu sonhava acordada vendo minhas colegas de sala passando maquiagem, eu ficava hipnotizada". 

Stefani homenageia as cholas no vídeo "Luxurious". Anaheim, a cidade de Gwen que fica a 2hr da fronteira com o México, hospeda o The Viejitos Summer Show N Shine um grande evento Low Rider, ou seja, a cantora cresceu num ambiente onde recebeu grande influência da cultura chicana e isso formou sua personalidade e estilo.


Gwen Stefani: regata branca, calças da marca Dickies, cinto de tecido, sobrancelhas finas, lábios contornados de cor mais escura - a cantora nasceu numa cidade Chicana, sendo fortíssima a influência chola em seu estilo pessoal.
A maquiagem chola de Gwen no vídeo Luxurious.

Kat von D
A empresária e tatuadora tem pais argentinos, mas nasceu no México. Como Stefani, von D recebeu grande influência da cultura chicana quando nova, tanto que um de seus batons é nomeado “Homegirls” e possui o tom roxo avermelhado escuro, típico de uma Chola. Ela conta: “Meu batom líquido Homegirl  foi inspirado pela primeiro batom que eu tive. Eu era muito, mas muito pobre. Muito pobre mesmo... Eu era uma garota gótica e minha irmã era uma Chola, então nós podíamos compartilhar aquele batom.”


Kat nasceu no México e posa com a irmã Karoline, que era Chola; seu batom "homegirl" - gíria que se refere às garotas de gangues.

Jennifer Lopez é de ascendência porto riquenha, conhecida por ter orgulho da cultura latina. Ela interpreta uma personagem chola no vídeo “Get Right.”



Amy Winehouse e a cantora Selena possuem referências visuais da cultura Chicana: 

Kat von D canta música de Selena:




A imagem estética da chola foi explorada também por artistas como Lana del Rey no clipe “Sad Girl”, Nicki Minaj em "Senile", Fergie, Rihanna e Demi Lovato também foram algumas que chegaram a usar o visual que também foi relido em desfile da Givenchy de Riccardo Tisci, na Rodarte e em editorial de 2012 na Vogue Itália fotografado por Steven Meisel. Em todos estes casos houve crítica por apropriação cultural da estética da subcultura.

Cholas comentando o visual de Nicki Minaj, Rihanna e Jennifer Lopez:



A estética chola é tão forte e marcante que o artista Michael Jason Enriques criou o projeto Cholafied, que através de manipulação de imagens transforma celebridades em Cholas. Divertido, mas ao mesmo tempo poderoso por mostrar como a subcultura de Los Angeles deixou sua marca na cultura americana e na cultura pop.



Como subcultura, os cholos e cholas mostram resistência à pobreza, adversidade, preconceito e dominação. Seus trajes vão além de uma declaração de moda, são de grande importância social. Para as cholas, ser parte de uma gangue é uma forma de empoderamento, muito mais do que um modismo de "squad girls" de filmes hollywoodianos, é sobrevivência, real senso de comunidade.


Chola por vida! 


Leia mais sobre o estilo Chola no blog parceiro Desvianteh! (clique aqui).
Adição de imagens: 29/12/2017


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23 de dezembro de 2017

Subcultura Pachuco: rebeldia, feminismo e resiliência da cultura chicana na América.

Os Pachucos formaram um grupo marginalizado na sociedade americana durante aproximadamente 1939 a 1945 no sudoeste dos Estados Unidos. Usavam roupas distintas e falavam dialeto de origem espanhol-mexicano. Para as mulheres, o estilo Pachuca envolvia um feminismo popular e se tornaria o precursor da estética chola* que apareceria na América nas próximas décadas. As roupas serviam como resistência simbólica contra segregação e discriminação vindos do sistema de opressão da cultura branca americana. 

Adeptos da cultura Pachuca nos EUA.
subcultura-pachuco
Fonte
A origem
Uma teoria diz que o termo vem de El Paso, no Texas, cidade de trabalhadores migrantes chamada pejorativamente de “cidade de Chuco”. Outra, alega que a palavra deriva de pocho, termo depreciativo para um mexicano nascido nos Estados Unidos que perdera contato com a cultura de origem.

Repatriação mexicana, segunda guerra e conflitos sociais
No início do século 20, mexicanos imigraram para trabalhar em estados como o Texas, Arizona e Califórnia, à medida que as cidades se desenvolviam, os imigrantes aglomeravam-se em áreas de habitação mais antiga e degradada, trabalhando por salários abaixo da pobreza. No começo da década de 1930 cerca de 3 milhões de mexico-americanos residiam nos Estados Unidos.
A cidade de Los Angeles chegou a ter a maior concentração de mexicanos étnicos fora do México no período que coincidiu com a grande depressão americana, e para tentar reduzir o problema de falta de recursos econômicos, entre 1929 a 1944, num incidente conhecido como Repatriação Mexicana, o governo dos EUA deportou para o México entre 500 mil e 2 milhões de pessoas com ascendência mexicana (incluindo 1,2 milhão de mexicanos-americanos) numa campanha que se alastrou ao longo do século numa opressão sistemática e de discriminação étnica que gerou consequências que se estenderam por um longo período.


Um dos casos mais emblemáticos foi o caso da ravina Chávez, que em 1950 era uma vila próspera predominantemente mexicana e mexicano-americana onde habitavam mais de 5.000 pessoas. Desapropriada para um projeto de habitação pública federal nunca realizado, a terra retornou à Cidade de Los Angeles sendo vendida para Walter O´Malley que construiu o Dodger Stadium, aberto em abril de 1962 para a equipe de baseball Brooklyn Dodgers.


No topo, as habitações mexicanas-americanas;
abaixo o estádio de baseball.


Vestuário, Estilo e preconceito
Neste cenário se desenvolveu a primeira geração de americanos de origem mexicana, os Chicanos, na costa oeste americana mais expressivamente em Los Angeles, que criaram a subcultura Pachuco durante os anos 1930 e 40. Tinham uma gíria própria derivada da língua cigana de Caló de El Paso e se vestiam com versões dos famosos ternos zoot criados por Mickey Garcia, cuja modelagem exibia jaquetas longas acinturadas com imensas ombreiras, calças balão de cintura alta com tornozelos ajustados em barra italiana, em alguns casos pesada corrente de bolso de ouro, tudo em cores vibrantes e sapatos bicolores. Este traje era originalmente associado à outra subcultura: o Jazz dos Afro-americanos, cultura abraçada pelos chicanos como alternativa à cultura branca que lhes era negada. Esta indumentária colaborou para que a sociedade os apontasse como traidores e antipatriotas, uma vez que era necessária uma quantidade extra de tecidos para a confecção dos ternos e a época era de racionamento de tecidos em função da guerra.

Discriminados pela cultura branca americana,
os mexicanos encontraram abrigo na cultura afro-americana.
À direita, o cantor Cab Calloway pioneiro do terno Zoot. 

O traje Zoot Suit (terno Zoot) usado pelos afro americanos do Jazz...

... foram adotados pelo mexicanos - americanos.
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As pachucas usavam saias ajustadas acima do joelho (curtas para a época), suéteres justos, as jaquetas e a corrente de relógio como os rapazes, meia arrastão e sandálias huarache (salto baixo). Cabelos desfiados e armados em exagerados pompadours fixados com goma de cabelo e maquiagem com batom vermelho. Algumas usavam versão masculina do terno zoot com modificações para se adaptar as formas femininas. Ao exibirem seu próprio estilo de roupa não conformista, se tornavam subversivas devido aos papéis de gênero de longa data que ditavam como uma boa mulher deve se vestir, contrariando  os ideais da beleza vigentes, desafiando as normas por vestirem calças, as pachucas foram acusadas de radicais e não americanas.

As pachucas criavam a versão feminina dos ternos masculinos.

Pachucas com saias "curtas", sandáias hurache e grandes pompadours.

Pachucos e pachucas dançando: elas, 
com saias mais curtas que o habitual da época.
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Quando a estética aceitável era predominantemente branca, patriarcal e perfeita, os pachucos resistiram a ser incorporados ao espírito hiper patriótico da Segunda Guerra Mundial, criando uma alternativa não branca, matricentrada e latina que desafiaria a ideia de uma nação unificada, algo que os EUA tentavam desesperadamente retratar durante a guerra. 

Pachucos: jovens mexicanos-americanos

O fato da vestimenta e dos pachucos não se encaixarem no conformismo americano acabou desenrolando um grande conflito racial, protagonizado por marinheiros versus pachucos conhecido como Motim Zoot Suit que ocorreu principalmente no sul da Califórnia a partir de 1943. Os marinheiros americanos munidos de tacos batiam em todos que vestiam ternos Zoot, para os americanos brancos, eles eram marginais.


Os jovens que usavam terno Zoot era perseguidos pelos marinheiros...

...espancados e/ou presos, eram obrigados a tirar a vestimenta considerada anti-americana.

Jovens vestindo terno Zoot são analisados pela polícia.

Para manterem seus estilos os pachucos faziam os ternos clandestinamente devido à proibição de serem comercializados.

As mulheres também eram presas.

Pachucas na prisão: presas por subverter as regras de comportamento. Era comum a formação de gangues e para se defender elas carregavam pequenos canivetes escondidos nos topetes dos cabelos.

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Pachucas presas: detalhe para a maquiagem


O estilo Pachuca desafiou a percepção dominante da feminilidade durante esse período, já que seu estilo foi contra a moda feminina da época.


Feminismo
Seguindo a linha do Movimento dos Direitos Civis Mexicanos dos anos 1940, as Pachucas desafiaram as noções convencionais do que era considerado decoro feminino adequado. Ser uma pachuca era um tipo de "feminismo popular", que não vinha de uma consciência acadêmica, mas de uma crítica à cultura patriarcal incorporada à comunidade chicana. Segundo a pesquisadora de estudos chicanos Dra. Rosa-Linda Fregoso, autora do artigo de 1995 "Pachucas, Cholas and Homegirls in Cinema" que faz uma análise de como as mulheres latino-americanas são retratadas nos filmes, as pachucas encarnavam a rebelião contra a domesticidade e desafiavam a ideia do "comportamento feminino apropriado". O estilo Pachuca se tornaria o precursor da estética da Chola* que apareceria décadas depois. As mexicano-americanas queriam estabelecer suas "identidades sociais, culturais e políticas na América" sem terem que desistir de suas particularidades culturais latinas. 

"Elas estavam, nos anos 40, usando calça e andando com os caras. Elas usavam saias curtas, iam a festas, entravam em brigas, protegiam seu homem. E ainda não desistiam das responsabilidades que caem sobre você pelo simples fato de ser mulher." Rosa-Linda Fregoso.


Pachuca com versão feminina de blazer, saia "curta" e calças compridas.


O caso Sleep Lagoon e as acusações
A subcultura foi relativamente desconhecida do público americano até o caso do “Assassinato da Lagoa Sleepy” quando em agosto de 1942 um confronto entre gangues rivais ocasionou a morte de José Díaz, um jovem de 22 anos. Os suspeitos imediatos foram membros da gangue da 38ª Street, isto colocou os pachucos na cena pública criando uma imagem negativa em torno da juventude mexicano-americana. A investigação policial prendeu quase 600 jovens latinos e focou em condenar dez jovens mexicanas com o jornal Los Angeles Evening Herald & Express relatando suposta delinquência delas. Embora nunca tenham sido declaradas culpadas no caso, a maioria das garotas foi condenada à Ventura School for Girls, uma instituição correcional da Califórnia que abrigava jovens infratores.


Jovens latinos presos devido ao crime da lagoa Sleepy.


O caso Sleepy Lagoon, com ajuda da mídia, estigmatizou os pachucos em uma imagem violenta e promíscua, estereotipando as jovens como "degeneradas e hiper-sexualizadas" e logo jornais de língua espanhola, como La Opinión, também relacionavam pachucas como prostitutas e pachucos como seus cafetões. As comunidades mexicanas de Los Angeles também criticaram e denunciaram a nova subcultura, pais acreditavam que os filhos estavam destruindo costumes e tradições mexicanas. Os editores do jornal La Opinión descreveram a pachuca “[...]as jovens traíram o comportamento feminino adequado e causaram vergonha ao povo mexicano". O "problema mexicano" deverá ser resolvido, disseram autoridades americanas, e assim se iniciou uma grande campanha de racismo e desapropriação cultural tornando esses jovens estigmatizados pelos americanos e suas próprias comunidades. 


O legado da subcultura
A subcultura entra em declínio em 1945, mas a cultura chicana se manteve viva preservando elementos pachucos como gírias e causas políticas. Enquanto as pachucas sofriam perseguições públicas, continuavam mudanças relativas à gênero e um aumento de poder às mulheres que evoluiu e produziu impacto mesmo após a Segunda Guerra Mundial. As mulheres começaram a desempenhar um papel mais público no movimento chicano, como Dolores Huerta, que ajudou a formar a organização United Farm Workers em 1962 com César Chávez. "O feminismo chicano, paralelamente ao movimento chicano, ajudou a Chicana a se tornar reconhecida como um bem valioso em sua comunidade". 


 Passeatas da cultura chicana em épocas diferentes.
 
Na década de 1970 e 80, os chicanos, já orgulhosos de suas origens mexicanas e indígenas, participam das passeatas pelos direitos civis americanos, no entanto mudam seu visual para uma versão de cabeças raspadas, calças cáqui e camisetas brancas - de origem incerta, uns dizem ser relacionado ao uniforme das cadeias, outros dos soldados americanos -  e o terno zoot pachuco se torna traje formal nos bairros étnicos.

Cabeças raspadas e calças cáqui se tornaram o traje de resiliência e
 empoderamento da cultura mexicana na América.
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Casais chicanos.
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A Cultura Low Rider
Os chicanos se aperfeiçoam na personalização de carros através da cultura Low Rider, que embora tenha se popularizado na década de 1970, já era praticada pelos pachucos em 1940. Esta cultura é forte ainda hoje no sul da Califórnia sendo um símbolo de resistência.



Cultura Low Rider na década de 1980.

A Cultura Pachuca / Chicana hoje
Na medida que novas subculturas surgiram, elas foram abraçadas pela cultura chicana, o rock n´ roll através do rockabilly e dos greasers; punk, gótico, raver, grunge, emo, rap, hip hop... um dos artistas mais adorados pelos pachucos é Morrissey, que possui grande fan base em LA possuindo até banda tributo (Mariachi Manchester) e festival em homenagem (Mexrrisey). 

O estilo das Pachucas contemporâneas.
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Reverse Pompadour, penteado das pachucas.



Penteado tradicional das Pachucas


Este vídeo mostra os estilos mais icônicos da subcultura.




O estilo dos ternos Zoot usado pelos pachucos na década de 1940, são usados ainda hoje em versões modernizadas. O traje é um símbolo de empoderamento e também usado em ocasiões formais da cultura chicana.

"É muito importante para os latinos que conheçam os Pachucos e o que aconteceu com eles, a injustiça, o racismo, nós descendemos de pessoas muito fortes."

 

A cultura chicana é muito diversa. Um exemplo é Xela von X, fã de musica punk e criadora da brigada ciclista Ovarian Psycos que pedala em bicicletas moonlit nas noites de lua cheia, reunindo mulheres que sofreram assédio e violência e promovendo atividades de empoderamento. Xela também é ativista contra a normatização do ódio étnico.





Os chicanos incorporam as subculturas à identidade latina, mantendo o engajamento na luta contra preconceito étnico e mantendo vivo o espírito contestador dos antepassados Pachucos.



*Chola: garota chicana. Tema do post a seguir.


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Autoria: Texto, acréscimos, edição e finalização de Sana Mendonça em cima de pesquisa inicial de texto e imagens feita por Letícia Hammes (Instagram / Facebook).

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