Destaques

29 de agosto de 2014

The Book of Life: Filme e Coleção de Moda Alternativa

Dia 16 de outubro estréia a animação The Book of Life (Festa no Céu), produzida por Guilhermo del Toro. O filme tem tudo pra ser o hit do Halloween desde ano.

O personagem Manolo leva uma picada de cobra e embarca em uma viagem por três diferentes mundos: o dos Vivos, o dos Esquecidos e o dos Eternizados. A trama é ambientada no famoso feriado do Dia dos Mortos mexicano. Uma das figuras mais marcantes parece ser La Muerte, inspirada, claro, em La Catrina! Com certeza essa personagem vai vir a se tornar uma de nossas preferidas!

A Moda Alternativa de cunho mais comercial já está super por dentro desse possível fascínio pelo filme, a loja Hot Topic lançou esta semana uma coleção inspirada na animação, estas são algumas peças (clique na imagem pra aumentar):



E vocês, gostaram das peças, estão ansiosos pra assistir?

Algumas cenas:




Trailer:

28 de agosto de 2014

O mix de produto: a diferença entre peças básicas e peças de estilo

Este post é complementar para aquele publicado em dezembro de 2012 chamado "Você quer criar uma marca de roupas alternativas?". O que eu foquei naquele post, eu reforço aqui: profissionalização é tudo que você precisa. E isso significa estudar Moda (ou cursos específicos como Modelagem ou Desenvolvimento de Coleções etc) porque é uma profissão que sempre tem novidades maaaas ao mesmo tempo, como toda profissão, tem técnicas. Ou seja, conhecimentos "fixos" que fazem parte e que tem papel importante no  processo.

Hoje vou falar da diferença entre peças básico promocional (high basic), básicas (basic), moda (fashion) e alta moda (high fashion).
Quando se criam coleções, não se criam à toa. Dentro do tema proposto, estabelece-se número mínimo de peças e um número máximo. Esse número varia de coleção pra coleção e resulta no mix de produtos.

O que é o Mix de Produtos de Moda?
Você vai aprender sobre eles na faculdade de moda e em cursos como desenvolvimento de coleções, mas já adianto que o Mix é uma divisão de variedades de produtos que a empresa oferece ao cliente. Essa variedade, no caso de moda, se complementa.

1º exemplo de Mix de Produto:
Vamos criar uma coleção fictícia de: 5 tipos de blusas, 5 tipos de calças, 4 tipos saias. Estas peças precisam estar entrosadas. Uma deve combinar com a outra para que o cliente acabe adquirindo várias peças da coleção.

2º exemplo de Mix de Produto: a divisão dos produtos em peças básico promocional (high basic), básicas (basic), moda (fashion) e alta moda (high fashion).

Peças high basic: são peças que quase não tem mudança de uma coleção pra outra, tem saída frequente. Tendem a ser peças simples e até sem grandes detalhes. Como o próprio nome diz: básicas que combinam com tudo (com todo o resto da coleção e outras roupas que você tem em casa). 
Ex: legging lisa preta.

Peças básicas: peças básicas com algum detalhe. São peças que o estilista coloca um ou outro aviamento, mas elas ainda são bem próximas das high basics, sem muita criação ou ousadia.
Ex: blusa básica com detalhe de manga de renda.

Peças Fashion: peças que são a criação da estilista voltadas para a venda, feitas em maior quantidade. São de estilo, podem ser chamativas mas usáveis. É nelas que os estilista coloca toda a criatividade. Nestas peças o designer pode por seu estilo pessoal, seu traço criativo.
Ex: uma saia que mistura renda, tule e tachas.

Peças High Fashion: peças feitas em menor escala, uma peça que é ousada e que não será usada com tanta frequência pelo cliente. Essa é a peça que o estilista vai criar, pode usar tecidos ou modelagens super diferenciados, vai ser super chamativa além de o estilista poder também colocar seu estilo pessoal, pode inovar, ser de vanguarda ou ser quase conceitual.
Ex: corset de spikes

*Uma peça basic ou fashion que deu muito certo (vendeu muito bem) nesta coleção, pode entrar como high basic na próxima. Se tem venda, deve ser mantida como peça base da empresa.

É normal que em marcas grandes mainstream, as peças basic e high basic sejam as que pagam as contas da empresa, as peças mais fashion entram com o lucro. Mas no caso de lojas alternativas nem sempre é assim, já que a quantidade de peças fashion geralmente superam as básicas, pois o cliente alternativo gosta de roupas mais elaboradas.

Então, se temos na nossa coleção fictícia 5 tops, precisamos dividir eles nas categorias citadas acima. Eu escolhi dividir assim:
1 top high basic (preto liso)
2 tops fashion (com pequenos detalhes)
2 tops high fashion (ousadas, diferentes)


calças:
1 calça high basic (preta)
3 fashion (estampadas; detalhe)
1 high fashion (rasgada com estampa)


saias
1 basic (de pregas xadrez)
2 fashion (com estampa/organza)
1 high fashion (longa, dramática, com renda arrastando no chão)


Agora observem as peças dos quadros e reparem como todas as peças combinam entre si, e quanto mais oferta de variedade, mais opção pro cliente.
Ex: A segunda blusinha combina com todas as saias e calças.
A quinta calça combina com praticamente todos os tops.
A calça básica combinará com todos os tops, mesmo com o top high fashion.
A saia de pregas combinará com todas as blusas.
A blusa fashion combinará com as calças e saias fashion.
E assim vai...

Se você criar um mix de produtos sem estas divisões, você corre o risco de oferecer ao cliente apenas peças fashion e ele vai ter que comprar as básicas e as high basic em outras lojas. Quanto mais peças intercambiáveis você oferecer, mais mantém o cliente por perto, pois ele vai querer peças que combinem com a que ele comprou.
Por isso sempre saliento da importância do estudo, de fazer cursos específicos. E de entender que o mercado alternativo tem algumas nuances de funcionamento diferente do mercado mainstream. É preciso saber diferenciar um básico de um fashion; saber diferenciar uma peça clássica atemporal de uma com o traço criativo do estilista; de saber distribuir um mix. Isso só vai enriquecer seu conhecimento e você vai trabalhar e planejar melhor as coleções de sua loja. ^-^

27 de agosto de 2014

Moda Alternativa: Entrevista com Totolinha Costa


Começar um negócio não é fácil, é necessário muita persistência. E se esse empreendimento for voltado à área de moda e ao público alternativo, precisa-se de mais vontade ainda. É o caso da Totolinha Costa, que abriu um pequeno brechó e hoje se tornou uma loja de moda alternativa. 
Nessa rápida entrevista, tentamos tirar algumas dúvidas com a empresária, que mantém atualmente a marca sozinha. Gostaríamos que a entrevista fosse um incentivo aos leitores que desejam abrir algo e acham que não tem possibilidades. Confie nas suas habilidades, não desista na primeira topada. Faz parte da jornada de qualquer marca, sem exceção, passar por dificuldades no início. A Totolinha é um exemplo de que contratempos existem, mas que pode se dar a volta por cima e assim, conseguir se manter nesse mercado mega competitivo.


Como começou seu interesse por moda?

Eu sempre trabalhei com roupas. Era vendedora da Enjoy, loja que aprendi muito!

Quando surgiu a vontade de montar o brechó? Como foi esse início até conseguir se estabilizar? Passa por muitas dificuldades? Precisa fazer muita social, ter muitos contatos, já que faz expo e eventos de terceiros.

Montei o brechó há 10 anos, foi engraçado... chamei uma amiga pra ser sócia e fiquei pedindo roupas à outras amigas, pior que deu certo! [risos] Hoje não tenho mais a sócia nem a amiga [risos]. Ela dizia que isso não dava nada, que era melhor eu ficar só. Demorei uns 4 anos até a coisa dar certo mesmo. Todas as dificuldades possíveis eu enfrento. Estou sempre em eventos para divulgar meu trabalho e as redes sociais ajudam muito.





Além do brechó, sente a vontade de criar produtos? Tem vontade de ser estilista, criar ou ficar apenas com revenda?

Hoje eu quase não tenho mais nada de brechó, estou só com Totolinha Moda Alternativa. Eu escolho à dedo as peças e algumas estampas estão sendo criadas por mim. A minha loja não funciona com revendas nem com consignação.

Qual sua análise sobre o mercado alternativo no Brasil?
Minha análise é a de que cresceu muito! 
Toda feira tem muitos estandes, show de moda e acessórios alternativos. 


Apesar de a loja estar localizada no Rio de Janeiro, você viaja por todo o país vendendo seus produtos em feiras ou convenções de tatuagens. Qual sua análise do consumidor alternativo nos diferentes estados? Eles procuram pelas as mesmas coisas ou ainda há peculiaridades de cada região?

Cada lugar é diferente. Chega a ser engraçado! Mas o melhor de todos é São Paulo. São Paulo e todas as suas cidades, o povo ama ser diferente! Eu amo São Paulo, é super fácil vender para lá, o frio ajuda. Já no Rio de Janeiro e Nordeste não esfria muito e os gostos são diferentes.


Aos leitores que querem abrir um negócio, mas passam por alguma dificuldade, qual seria o seu conselho à eles? 

Gente vá, abra na cara e na coragem! É dando o primeiro passo que começamos a caminhar. Ninguém acreditava em mim, só eu e Deus.

Sobre o seu estilo: Sente incômodo por chamar a atenção? Como faz para adaptar suas roupas numa cidade quente e praiana? Usa preto no verão? 

Eu não acho que chamo atenção, queria chamar sabia? E não sei se você conhece minhas roupas, não é tudo preto, são beeeem coloridas, com uns pretinhos para não perder o costume. Apenas curto me vestir conforme meu humor, por isso amo a moda alternativa. Você pode se vestir do que quiser sem deixar de ser você!



Totolinha, uma das questões que o blog aborda é sobre manter o estilo alternativo quando adulto, principalmente depois dos 30 anos. Você sente ou já sentiu alguma pressão para mudar por causa da idade?

Eu já passei dos 30 anos [risos]. Eu acho que a moda alternativa não tem classe ou idade para usar, basta ter senso e ser feliz.

Informe os seus contatos para os leitores que queiram comprar na Totolinha. Aceita vendas fora do Rio?

Minha loja fica no edifício garagem Menezes Cortes. Rua São José, 35 - Sobreloja, centro. Fica aberto de segunda à sexta, de 11 às 19hs. Sobre vendas fora do Rio, nos adicione no facebook e fique por dentro das cidades e eventos que vamos estar.

26 de agosto de 2014

Estilo: Shirley Manson

Shirley Manson tá fazendo 48 anos hoje e é uma das rockstars que me inspiram tanto na atitude quanto no estilo.


Quando nova e me identifiquei de vez com o rock, não demorou para que eu buscasse referências femininas, afinal, como uma garota, chegou um momento em que os homens, por mais que eu curtisse as bandas, não me representavam. Eu tinha curiosidade de conhecer mais mulheres do rock e já conhecia Doro e Lita Ford, através de revistas e jornais (não tinha internet ainda) fiquei conhecendo algumas garotas da cena Riot Grrrl e das décadas anteriores (1960,70,80). Especialmente pela revista Showbizz, fiquei sabendo de muitas mulheres ativas na cena rock dos anos 1990 pois a publicação trazia mais mulheres musicistas em suas páginas do que a Rock Brigade ou a Roadie Crew, especializadas no mundo "macho" do Heavy Metal. E foi assim que descobri a banda Garbage e a Shirley Manson.


O olhão preto, muitas vezes estilo gatinho com batom escuro foram uma marca da Shirley nos anos 90 e ainda hoje são usados por ela no palco.

A Shirley tinha um diferencial, era um novo tipo de mulher no rock na época. Seguia aquele arquétipo da Debbie Harry: era sexy sem ser vulgar, selvagem e divertida. Até hoje ela é considerada um ícone feminino do Rock Alternativo.



Na época de escola, riam dela por ser ruiva. Como todas as garotas vítimas do machismo de nossa sociedade, ela sofria de problemas de autoestima. Quando a Garbage estourou em 1995, ela tinha 29 anos e se achava velha demais. A gente sabe que nossa sociedade tem preconceito com mulheres mais velhas, tanto que não se vê comercial de creme anti-idade com 'homi' né gentem? Com se nós, mulheres, só fôssemos valorizadas enquanto novas e não tivéssemos o direito de envelhecer!
Só que ser mais velha tinha uma vantagem: ela já era madura o suficiente pra entender o perigo que era se prender somente à uma imagem sensual. Ela considera que esse tipo de atitude é uma armadilha pras mulheres e que não é o tipo de coisa que devemos nos agarrar.  


Pra ela, o mais importante é ser quem se é. Em uma entrevista que li, dizia que seu estilo amadureceu. O que notamos é que ela usa muito preto e mesmo com 48 anos, quando sobe ao palco de saia curta, por exemplo, de forma nenhuma é vulgar ou está usando algo "inapropriado pra idade". Ela está usando seu estilo próprio de acordo com o lifestyle da subcultura ao qual se identifica: o rock tem esta maravilha de rejuvenescer naturalmente quem realmente curte o som!!


Estilo amadurecido: com 48 anos e muito preto, mantendo a essência Rock.


 Como uma boa escocesa, ela usa muito xadrez.
E fica ótima com a padronagem!


Sobre mulheres na música, ela diz: "Existe uma linha de pensamento que faz as mulheres pararem de pensar e acreditar em si mesmas como artistas, de serem curiosas e corajosas. Em vez disso, fazem as meninas soarem cada vez mais comuns, em canções tolas. Nós não estamos ouvindo experiências [musicais] autênticas das mulheres."


Ela é das mulheres do rock que sempre usou saias no palco. Nunca deixou de ser "feminina" e nunca ligou para aquelas frases machistas do tipo: "não abra perna assim", "não se movimente assado". 
Atitude é uma questão de personalidade também!


Shirley usa no palco desde peças com design, brinca com a hot pants e o casaco de pelos e aparenta divertida com a sainha de pregas!

Mesmo que você não curta o som do Garbage, uma busca pelos shows ao vivo da banda te mostram o quanto Shirley é rocknroll no conceito mais clássico de atitude feminina no Rock. E era essa atitude que uma jovem garota como eu precisava como referência.


Cabelo preso, mangas e renda no cotovelo, peças pretas com design... o estilo de Shirley não passa despercebido!

alguns anos ela tenta lançar um álbum solo mas não tem conseguido. Um tempo atrás, ela apresentou pra gravadora uma demo e a resposta que teve foi:
"Enquanto você não nos mostrar um álbum pop, nós não estamos interessados". 
Shirley respondeu: "Vá lá comprar uma prostituta porque eu não estou à venda!"

Uma atitude incorruptível um tanto louvável!
Quantas garotas do rock de repente não lançam discos pop em carreira solo - ou até mesmo migram o som de suas bandas pra um rock mais leve e "aceitável", radiofônico, pra se manterem na mídia? O preconceito com mulheres no rock ainda é forte. Sempre querem nos mandar seguir um caminho mais pop, mais fofo, mais suave... sempre dizem que o rock não é pra gente!


Vestida casualmente, a Shirley tem um estilo confortável e inspirador!

Ainda bem que existem mulheres como Shirley pra lembrar a gente de sermos íntegras, fiéis à nós mesmas, corajosas e o mais auto suficientes possíveis!

Show completo do Garbage


Shirley canta com sua melhor amiga, Brody Dalle a música "Girls Talk"




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20 de agosto de 2014

O Grunge e a Moda Masculina

Logo após a publicação do post sobre moda Grunge, sabíamos que haveria a necessidade de retornarmos ao assunto. Alguns detalhes ficaram de fora e queríamos analisar ainda mais esse período, do qual tem sido de grande influência atualmente.

Antes de esmiuçarmos a estética, gostaríamos de citar que foi feita parte das pesquisas do livro Kurt Cobain - A construção de um mito. Não o tínhamos usado como base no primeiro texto, e muitas coisas da qual havíamos descrito, foi confirmado. A leitura dele comprovou que nossas pesquisas estão no caminho certo, com pouquíssimos erros. Recomendamos o exemplar para os interessados no assunto. Ele será usado como referência neste texto, mais as análises pessoais.

Para começar, a gente relembra que o estilo Grunge era uma mistura de moda regional com elementos Punk. O estado de Washington tem entre suas características as baixas temperaturas, daí se entende o porquê do uso frequente de roupas de frio, como luvas, gorros, sobreposições, ceroulas por baixo de bermudas ou calças, casacos. A famosa camisa de flanela com estampa de xadrez vinha dos lenhadores canadenses e se popularizou pelos seguintes motivos: clima, fronteira entre os países e o trabalho com madeira. Aberdeen, cidade onde Kurt nasceu, tem como principal fonte de renda a produção madeireira. Inclusive o próprio pai do cantor trabalhava na indústria.

A camisa de xadrez era amarrada na cintura para quando esfriasse vesti-la novamente. 
A peça acabou virando modismo como vemos abaixo.

Foi comentado no outro post, que Neil Young pode ter sido grande referência na moda grunge. 
Reparem a camisa do músico e de Dave Grohl como são semelhantes

O Punk surgia por ser o gosto musical favorito deles. Isso não quer dizer que não se curtia metal, mas o punk de fato se destacou na influência. E assim como a música, havia a estética. Coturno, jaqueta de couro, correntes, cintos de ilhóses, all stars, jeans rasgados, camisa de banda ou com estampas satíricas, eram também vestimentas desses jovens.
As bandas grunge eram compostas por meninos pobres, eles não tinham dinheiro para comprar roupas novas - o que até se assemelha em parte ao período Punk. Mesmo depois de terem poder aquisitivo, também não havia o interesse de investir, já que eles não ligavam para isso e eram contra as produções exageradas do Glam Metal. Como bem disse na época James Trumam, editor-chefe da revista Details, “o grunge não é anti-moda, é sem moda”.

Observem que nessa imagem o visual do Nirvana estava mais pra Punk do que Grunge

Elementos da estética
O grunge é considerado a última subcultura de rebeldia a desconstruir a Moda. No século XXI, as modas alternativas que têm surgido apenas releem o que já foi criado. E com as estéticas alternativas sendo consumidas e comercializadas em massa pelas grifes mainstream, com o acesso à Internet, as ideologias foram substituídas por estéticas vazias de significado.

Na década de 90, a cena grunge desconstruiu a moda à seu jeito. Numa época em que tudo ainda era exagerado, eles usavam roupas baratas, duráveis e atemporais. Indo contra toda a estética chamativa e modista da década de 1980.
 
Sopreposições de blusas manga longa e curta: A alteração do clima entre 20º graus de diferença no mesmo dia pode ser a causa já que a manga longa protege os braços e o tronco recebe uma camada extra de aquecimento com o uso da camiseta. No caso específico de Kurt Cobain, ele vestia por frio e por vergonha do corpo magro, numa tentativa de disfarce.


Camisetas de bandas ou com estampas satíricas: A primeira era usada muitas vezes como divulgação de bandas ignoradas pela mídia mainstream. A segunda eram provocações tanto à mídia quanto à sociedade retrógrada. Ideias vinda dos punks.

Semelhança: Johnny Ramone com camiseta do golfinho Flipper e Cobain em referência a banda punk

Eddie Vedder e Mark Arm

Kurt com camisetas dos Stooges e Hole. Assim como a banda de sua esposa, Courtney Love, o músico abria espaço para grupos femininos divulgando as por meio de blusas, entrevistas e aberturas de shows do Nirvana.

Na capa da Rolling Stone, Kurt satiriza a publicação com a frase: "Revistas corporativas ainda são um saco"

Correntes laterais e cintos de ilhoses: elementos do movimento Punk.

Kurt adorava usar correntes nas laterais das calças

Influência: cinto de ilhós em Joey Ramone e Krist Novoselic

Casacos e jaquetas curtas ou longas, de couro, flanela, lã, jeans, militar, cardigãs, suéteres, paletós: Eram vestidos para espantar o frio. Poderiam ser usados com camiseta por baixo ou como sobreposições.




Jeans: rasgados ou com emendas, ou cortados para virarem bermudas, lembra o "faça você mesmo" do Punk. Eram também usadas jardineiras do mesmo material.

Calças e bermudas rasgadas ou customizadas

 Layne Stanley e Dave Grohl com jardineiras

Bermudas jeans/cargo/largas: As bermudas iam desde as calças jeans cortadas, até bermudas de moletom e de tecido. Independente do material, o formato delas era largo e quadrado.


Com a evolução do estilo e influência da moda skate, os modelos cargo se tornam mais comuns tanto nas bandas grunge quanto em outros estilos musicais dentro do rock.


Bermudas/Ceroulas curtas: em algodão fino, com elástico no cós, em estampas de listra ou xadrez podendo ser usadas com ceroulas longas por baixo. Aliás, essas próprias bermudas podem ser ceroulas curtas, conhecidas no Brasil como "cuecas samba canção".



Ceroulas: esta é uma das mais interessantes desconstruções feitas pelos rapazes. A ceroula, peça feita pra ser usada por baixo das roupas e não aparecer, era usada à mostra, sob bermudas. Foi algo novo na história da moda. Devido ao clima frio, as ceroulas tinham  propósito de fornecer um aquecimento extra às pernas, mas com a oscilação de temperatura em Seattle, a peça ganhou a função de uma espécie da "meias calças" masculinas.

As ceroulas estão na emblemática capa do álbum Ten, do Pearl Jam. 
Jeff Amment e Ed Vedder costumavam usá-las.

Ceroulas no Alice in Chains e Soundgarden. Aliás, vale uma análise da primeira imagem do Alice in Chains... notaram a mistura de elementos estéticos do Heavy Metal com o Grunge?

 Kurt, Layne e David Grohl  usam ceroulas (ou legging?).

Pochete: considerando o uso das bermudas ao estilo ceroula e sua ausência de bolsos, a pochete era um acessório necessário.

Membros do Alice in Chains e Soudgarden usando pochete

Calçados: o que prezava era o conforto e o preço, por isso a popularização do tênis All Star, Vans, Keds. O coturno Doc Martens, segundo o livro de Charles Cross, teve destaque porque a esposa de Chris Cornell trabalhava numa das poucas lojas de Seattle que revendiam o calçado. Por isso o uso pelas bandas Soundgarden, Pearl Jam e Alice in Chains, já que ela os empresariava. E só para enfatizar, Kurt nunca usou o modelo. 

Kurt de All Star e Vans numa foto caseira com Frances

Alice in Chains

 Eddie Vedder de Doc Martens

Óculos: além de armações femininas, eram também utilizados em formatos redondos e Ray-Bans.

Layne e Kurt com seus modelos


Cabelos: normalmente longos por influência do Heavy Metal, mas sempre usados de forma despenteada e muito natural.


Cabelos coloridos: assim como os punks, os grunges adoravam colorir os cabelos. Era uma forma de rebeldia e diferenciação.

Tonalidades como rosa, azul e vermelho se popularizaram na década

Chapéus: gorros por causa do clima frio, bonés, bandanas, chapéus de copa alta e abas largas ao estilo renascentista usados especialmente por Jeff Ament do Pearl Jam.


Dave Grohl e Vedder usando bonés

Jeff Ament usou de tudo: bandanas, às vezes acompanhadas de bonés por cima, chapéus de copa alta e gorros de lã

A revolução na moda masculina mainstream
Uma das grandes revoluções do movimento, além da musical, foi o impacto na moda masculina. Até hoje o grunge influência esse segmento, que tornou a moda masculina bastante informal por mais de duas décadas. É muito difícil nos dias de agora, um rapaz ou um homem que não tenham tido uma calça ou uma bermuda cargo em suas vidas, e/ou que não tenham saído na rua de bermudão, t-shirt básica e tênis: herança da informalidade grunge!
Pra entender essa revolução, é preciso retornar um pouco no que era a moda mainstream masculina nos anos 1980: as bermudas costumavam ser jeans ou no estilo social. Por mais informal que fosse, ainda era formal.

Enquanto nos palcos o Glam Metal era rejeitado, fora deles, os grunges batiam de frente com a cultura yuppie, aquele clássico profissional urbano dos anos 1980 (papel de Michael J Fox no filme "O Segredo do meu Sucesso"). O estilo foi um contraste ao terno e gravata que representava o auge da economia americana. Se os homens daquela década andavam que nem robôs engravatados, em 1990, eles queriam ter a liberdade de usar no trabalho o mesmo que na rua. Conforto era a palavra da vez. O tênis teve grande destaque na época, pois oferece enorme mobilidade para todos ///s gêneros. Quanto mais simples e prático fosse, melhor. 


Yuppie X Grunge: os jovens não queriam mais aparentar como o personagem de Michael J Fox em "O Segredo do meu Sucesso". Eles queriam ter a liberdade de usar a mesma roupa na rua e no trabalho. O ator River Phoenix, ídolo da geração, e seu visual informal no almoço de nomeados ao Oscar, de 1989.


O grunge e o feminismo 
Se o heavy metal e o hard rock investiam em letras misóginas, sobre mulheres como objetos sexuais e violência, o grunge já tratava a mulher com certa "igualdade". Se as fãs de hard rock queriam ser "escolhidas" pelos caras das bandas, as garotas fãs de grunge viam os músicos como rapazes que entendiam, ou que tentavam entender, as complicações do que era ser uma garota no mundo. O que ajudou nesse processo foi que as bandas grunge surgiram praticamente juntas com o movimento da 3º onda feminista: as Riot Grrrls.
No destaque da cena, estava à banda Bikini Kill, da qual tinha uma grande ligação com o Nirvana. Kurt se apaixonou por Tobi Vail, e assim passa a ser apresentado com um outro olhar ao feminismo. Ao mesmo tempo Dave Grohl namorava Kathleen Hanna, que um dia escreveu na parede do quarto do cantor tal frase: “Kurt smells like teen spirit”. 

O envolvimento próximo com as Riot Grrrls ocasiona diversas interferências, incluindo a estética. Tanto Cobain, quanto Eddie Vedder e Layne Stanley, passam a usar entre suas vestimentas roupas consideradas femininas pela sociedade, como vestidos, saias e sutiãs. Também se maquiavam e pintavam suas unhas de vermelho. A atitude ia em protesto, provocação e deboche aos preconceitos machistas e sexistas, que tanto ataca as mulheres. Kurt passa a defender ainda mais a causa quando se torna pai de uma menina e a sua irmã, Kim Cobain, assume ser lésbica. 

Kurt vestindo roupas femininas. 
Era uma forma de protesto e deboche contra o sexismo existente dentro e fora do meio do rock

Ed Vedder e Dave Grohl de sutiã

 Nirvana de saia

Além da roupa, o uso de elementos femininos, como batom e pintar as unhas, faziam parte da provocação

Os conhecidos óculos do cantor

Layne Stanley também usou armações semelhantes


Ed Vedder: Durante sua vida, a empatia com as lutas feministas se revelavam já nas letras que escrevia para o Pearl Jam, letras estas que não eram contra mulheres nem para mulheres, mas sim, letras que contam historias sobre mulheres e meninas com problemas de saúde mental, relacionamentos e envelhecimento. Ele também já contou sobre o privilégio de ter nascido homem e branco, assim como o lado prejudicial da masculinidade. Defensor do "pro-choice", já declamou mensagens anti estupro, contra agressões e acredita que a escolha reprodutiva feminina é uma questão de direitos humanos. Também fez parte do projeto "Every Mother Counts" sobre a saúde de mães carentes ao redor do mundo. Eddie, pai de duas meninas, diz que a paternidade alimentou sua ira pelo mundo ao redor e as injustiças que ele vê. Ele aprecia artistas e músicas que falam sobre o emancipação feminina.


Ed Vedder, vocalista de uma das poucas bandas sobreviventes da era grunge, ainda se mantém fiel ao estilo, é comum vê-lo vestindo sobreposições diversas, camisas xadrez, calças jeans ou cargo e cabelos naturalmente desgrenhados.



A moda masculina grunge em outras subculturas
A estética grunge foi algo que pegou tão forte que invadiu outras subculturas. No hard rock, Axl Rose pode ser visto no clipe Dead Horse usando camisetas de flanela xadrez tanto amarrada na cintura quanto vestida, assim como no clipe Estranged. Destacamos o vídeo Don´t Cry, onde o backing vocal Richard Shannon Hoon (Blind Melon) está vestido completamente no estilo grunge. 


Num outro momento do clipe, quando Axl está deitado num consultório, existe um boné escrito "Nirvana". Esses vídeos foram feitos no ano de 1992, auge do grunge. Na época, Axl se declarou fã de Kurt Cobain.


Já na cena Heavy Metal, enfraquecida midiaticamente devido ao boom do cenário de Seattle, o estilo desleixado, “largado”, bermudas e calças cargo, camisas abertas sobre camisetas, meias e tênis, passaram aos poucos se tornar populares.
Na foto do Slayer, Tom Araya (à direita) usa jeans largos e de lavagem stonada, camiseta, jaqueta xadrez e cabelos desgrenhados.  Kerry King e Jeff Hanneman usam bermuda e calça cargo.


Pantera: Se você não conhecesse o som da banda e apenas visse essa foto, você poderia julgá-los como uma provável banda grunge? Exceto pela pose de mau, típica da cena metal, tênis all star, uma grande camisa xadrez, roupas com aparência de gastas, a ceroula por baixo da bermuda... são influência da moda grunge. Na foto ao lado Dimebag Darrell usa bermuda cargo e all star.


Estes são exemplos fortes de que a moda grunge se tornou tão dominante que sua estética acabou absorvida pelos headbangers, alguns deles ainda hoje criticam o estilo sonoro grunge, mas na questão da moda, a informalidade grunge atravessou barreiras estéticas das subculturas mais fechadas, tamanho seu impacto na moda.

Curiosidade: No filme Rockstar, o protagonista, cantor de Heavy Metal, termina num bar, cantando anonimamente suas fragilidades e angústias vestido no estilo grunge! Isso nos mostra bem o espírito da época: há o desencanto com os excessos da cena metal e a identificação com o novo estilo sonoro, que era o recente interesse dos jovens e da mídia musical.


O Grunge no Brasil:
No Brasil, a moda grunge também chegou ao mainstream e influenciou as criações da moda masculina, mas sua maior expressão se deu na moda jovem, especialmente entre os skatistas, já que o esporte ganhou novo fôlego naquela década pois havia sido criado o Circuito Brasileiro de Skate Profissional. Mas é válido citar que nos EUA já era comum os garotos usarem o skate como meio de transporte.

Esta cena do filme Clueless - Patricinhas de Beverly Hills mostra bem como o grunge e a moda skate se fundiram dando origem ao street wear jovem masculino típico da década de 90.


Análise final - Keep on rockin' in a free world:
Apesar da influência punk e metal na sonoridade, as bandas grunge traziam algo novo ao mundo masculino: letras sobre alienação social, injustiças, traumas pessoais, conflitos internos e existenciais. O grunge dava ao homem o direito de ser emocionalmente fragilizado e não ser criticado como "menos macho" por isso. As músicas atingiam em cheio os jovens da geração X, que estavam depressivos e descrentes sobre o futuro.

Um dos grandes motivos de admirarmos essas bandas, era o amor genuíno que eles tinham à arte e aos fãs, oferecendo uma conexão direta entre ambos. O próprio Pearl Jam estabeleceu um batalha judicial contra a empresa Ticketmaster por causa dos altos valores que eles cobravam nos ingressos. O grupo não achava justo pois sabia das condições financeiras dos seus fãs. Stone Gossard declararia no julgamento: "Todos na banda sabem como é ser jovem e não ter dinheiro". Isso mostrava o quanto se preocupam com o público como também não esqueciam o seu passado. Infelizmente, a luta não teve continuidade.

A geração atual se sente órfã de ídolos genuínos. Quando surge um novo artista apresentando uma proposta diferente, sempre vem aquela dúvida se aquilo de fato é verdadeiro ou puro marketing. Num mundo onde se vende a alma pela fama e ganha-se mais de 15 minutos de visibilidade por coisas inúteis, nos perguntamos se não está na hora de um basta. Aliás, essa era também a mesma indagação dos jovens na virada da década de 90. 

Como sabem, Kurt se matou pois sofria de forte depressão e um dos fatores que contribuíram para esse final, era por não aguentar a pressão de ser um músico famoso. É interessante relembrar o episódio diante dos acontecimentos atuais. Isso mostra o quanto devemos questionar e refletir sobre os valores impostos pela sociedade contemporânea. A frase máxima: "Eu possuo, logo existo", é realmente a vida que queremos ter?


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