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9 de abril de 2020

A história da frente-única: a união de consciência corporal, sensualidade, lazer e glamour.

Se existe algo que herdamos da década de 1930 foi a consciência corporal que se refletiu na sensação de liberdade de movimentos. E uma das peças que surgiu no período foi a frente únicaNa coleção "Dark Glamour", que criei em parceria com a loja Dark Fashion, desenvolvemos uma blusa frente única chamada "Dóris", neste post apresentarei de forma breve a história da peça! Acompanhem.

A cantora Shirley Manson usando uma frente única de tecido metalizado, que foi moda no fim dos anos 1990 e começo de 2000. A cantora também usa um short no modelo "hot pant", que você pode ler a história da peça clicando aqui.

A blusa que criei em parceria com a Dark Fashion, recebeu o nome "Dóris" em referência à Doris Day e seu icônico vestido frente única azul no filme "Ama-Me ou Esquece-Me", de 1955.


Contexto Sócio-Histórico
Se na década de 1920 a jovem era andrógina e ousada, na década de 1930 ela cresceu e se tornou uma mulher que fez uso dos conceitos construídos de feminilidade, retornando sua cintura no lugar e usando bainhas longas. Basicamente a garota de 20 anos chegou aos 30 anos e queria deixar pra trás a rebeldia andrógina.

A década de 1930, fortemente marcada por uma grande crise econômica resultada da quebra da bolsa de valores americana em 1929, fez com que as pessoas buscassem formas de fuga da dura realidade. Uma dessas fugas foi o cinema, a outra foram os balneários.

Mulheres vestindo frente única nos balneários, o lazer foi a fuga dos tempos de crise econômica.

O corpo feminino ideal tinha proporção de deusa, a mulher dos anos 1930 deveria fazer dietas, exercício físico, manter-se meticulosamente arrumada, usar maquiagem, fazer pedicure devido à exigência da moda de sandálias abertas e ter cuidados com a pele. Parece que falamos das exigências de beleza dos dias atuais, não é mesmo? Veja há quanto tempo reproduzimos a mesma ideia sobre o que é a mulher estar 'arrumada adequadamente'!

Corpo bronzeado, atividade física, unhas e maquiagem impecáveis: 
o ideal de beleza da década de 1930.

Para manter o corpo saudável eram recomendados os exercícios físicos e esse corpo era exibido nos balneários em pijamas de praia e trajes de banho fechados na frente e abertos atrás, visando exibir o bronzeado. Era um escândalo pois pela primeira vez uma parte do corpo da mulher era explicitamente exibida. Estes trajes diurnos de lazer inspiraram os vestidos de noite, onde as costas bronzeadas eram exibidas.

O bronzeado saudável adquirindo durante o dia na praia deveria ser exibido à noite, em vestidos que revelavam costas e braços. 

A mulher dos 1930 precisava acompanhar a silhueta da moda, que consistia de ombros largos e angulosos, cintura no lugar ou levemente alta, quadris estreitos e pernas bastante alongadas. As roupas diurnas eram simples e utilitárias já as roupas de noite possuíam extremo glamour. Os trajes de praia uniam estes dois mundos.


A frente-única

É em todo este contexto de corpos livres de espartilho, exercícios físicos e passeios em balneários que a frente única surge, sendo a peça perfeita para exibir as costas bronzeadas e exercitadas. Embora tenha sido idealizada por Erté em 1917, foi Madeleine Vionnet quem a popularizou na década de 1930, levando os vestidos de noite europeus para a América, assim como outros figurinistas de Hollywood que levavam para a tela as criações de alta costura francesa. 

O que marca a frente-única é sua presença em blusas e vestidos como uma tira que se amarra atrás do pescoço, deixando ombros e costas nuas. Frente discreta, mas ao virar de costas se torna reveladora.

Erté x Madeleine Vionnet / MET.

A maior parte do glamour dos anos 1930 vem de Hollywood, o cinema era a fuga da crise da América. Hollywood era o local onde a alta costura européia era apresentada ao público influenciando o gosto das massas.

O corpo feminino atlético, bronzeado e impecável dos anos 1930 deveria ter proporções de deusa. O que se reflete em criações de alta costura européia que passaram a fazer parte dos figurinos de Hollywood.
Madame Gres, 1939 / National Gallery of  Victoria.

Jean Harlow com o vestido enviesado criado por Gilbert Adrian para “Jantar às Oito” (1933) foi a peça que fez a moda da frente única pegar de fato nos EUA.

Quando pensamos nesta união de consciência corporal, corpo bronzeado e cuidado, lazer, glamour e cinema, é fácil lembrar das fotografias ou filmagens em que as atrizes de cinema estão posando junto à suas piscinas na Califórnia, tipo de imagem que é reproduzida até hoje em ensaios fotográficos da cultura retrô. Mesmo que algumas possam não saber que o conceito vem desse período e contexto histórico, é impressionante como a imagem da mulher saudável, consciente de seu corpo fazendo uso de uma atividade de lazer, ainda é marcante em nossa cultura visual. 

De sua criação em 1930, até os dias de hoje, poucos foram os momentos em que a frente única saiu de cena, na década de 1950 a peça continuou dominando a moda feminina. Além de Doris Day, citada no começo da postagem, a frente única tem momentos icônicos nas telas, talvez a cena que mais recorra à nossa mente seja a de Marilyn Monroe com o vestido branco plissado em “O Pecado Mora ao Lado” (1955) e o vestido dourado em “Os Homens Preferem as Loiras” (1953), este teve diversas cenas censuradas por ser considerado revelador demais. Ambos foram desenhados por Willian Travilla.

O icônico vestido branco frente única de Marilyn Monroe revela a sensualidade das costas da atriz. O vestido dourado que foi censurado nas telas.

Dois modelos frente única: à esquerda Vestido Dior 1963 e página da Vogue de 1953.

Na década de 1960 a peça era comum na subcultura hippie, sendo eles apreciadores de moda artesanal, os modelos em crochê eram muito usados. A frente única aparece também em macacões, especialmente na década de 1970 e se populariza para uso no dia a dia. 

Frente única nas décadas de 1960 e 1970.

Se na década de 1980 o modelo se restringe, em 1990 ocorre sua consagração onde especialmente entre 1994 e 1997 a peça estava presente até mesmo em trajes de gala! Quem lembra das frente únicas de Lady Di, a princesa rebelde (clica pra ler o post sobre ela) escandalizando a realeza britânica?


Frente única na moda jovem da década de 1990. 

Angelina Jolie, Gwen Stefani e Shirley Manson entre fins de 1990 e começo de 2000.

Madonna em campanha para Versace e Dita von Teese inova com uma falsa frente única.

Amy Winehouse em vestido retrô e Lady Gaga, num vestido que
 lembra as proporções de deusa, como na década de 1930.

Com essa breve passagem pela origem da frente única, podemos ver que a peça surgiu associada a lazer, corpo atlético e dias ensolarados. Seu desenvolvimento a leva aos trajes noturnos elegantes e imortaliza com a sensualidade de Marilyn Monroe. Adotada por subculturas como a hippie, a peça se torna cada vez mais um traje do dia a dia, pra todas ocasiões e todas as idades. 

Na coleção Dark Glamour, o foco foi desenvolver uma peça chique e atemporal.
Blusa Dóris, criada em parceria com a loja Dark Fashion

É assim que retornamos à blusa "Dóris" de minha coleção com a loja Dark Fashion: uma peça que une através do tecido em veludo, o glamour dos anos 1930 com a sensualidade das costas nuas e um design atemporal, que nunca sairá de moda. 
Espero que através da história da peça, seja resgatado o lado revolucionário da frente única à respeito das vestimentas femininas! 

Cupom de desconto na Dark Fashion: SUBCULTURAS



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10 de julho de 2018

A história de Tura Satana: de artista burlesca a ícone do cinema cult!

Tura Satana já era bad girl antes mesmo do termo existir. Isso numa época onde ter esse tipo de imagem era algo extremamente negativo, uma ofensa. Mas assumiu o papel de mulher que dominava sua própria vida, não se comportando com a delicadeza e fragilidade que o período pedia, pelo contrário, exacerbava seu instinto agressivo, na maioria das vezes exibindo pela força física. E haja força, pois passou por muitos altos e baixos!


Tura Yamaguchi nasceu em 10 de Julho de 1938, em Hokkaido, no Japão. Descendia de filipinos pelo lado paterno e uma mistura de indígenas e escocês pela mãe. Aos quatro anos sua família muda-se para os Estados Unidos onde depois se estabelece em Chicago. Criada num bairro pobre, seria uma fase superdifícil onde o sentimento anti-asiático predominava, o que a levou a sofrer muito bullying na escola. Quando estava próxima de completar 10 anos, sofreu um estupro coletivo de uma gangue de adolescentes. Seria depois desse episódio que seu pai a ensinaria artes marciais, como aikido e karatê.


Com apenas 13 anos, seus pais a casariam com John Satana, um amigo da família, só que duraria pouco tempo. Precoce e com o corpo já desenvolvido, Tura faria uma identidade falsa e começaria a trabalhar posando em trajes de banho como modelo e chegando a aparecer nua em um filme. Mas foi na carreira como dançarina exótica que inicia-se o destaque, conhecida pelo nome de 'Galatea, a Estátua que Ganhou Vida', virou stripper e viajava pelos Estados Unidos fazendo seu show burlesco de clube em clube. Tornou-se uma superestrela da arte, chegou a ser eleita uma das 10 melhores dançarinas burlescas do século 20. 


Através da dança que Tura recebe diversos convites para estrelar programas de TV e filme. Participou de uma série chamada 'Hawaiian Eye', em shows como 'The Man From UNCLE' e também nos filmes 'Irma La Douce' e 'Who's Been Sleeping in My Bed?', ambos de 1963. Suas apresentações burlescas integravam acrobacias, arte marcial e bastante humor. Numa entrevista, revela como as pessoas iam a loucura quando ela girava os tassels um para cada lado e um de cada vez. Esses movimentos são muito comuns em shows burlescos atuais, mas na sua época foi uma atitude precursora! Em uma das sessões no clube Pink Pussycat, acaba conhecendo Russ Meyer, o diretor de "Faster, Pussycat! Kill, Kill!", longa que a imortalizaria no cinema. 



Lançado em 1965, o filme inicia-se com Tura, sua amiga Haji (Rosie) e Lori Williams (Billie) dançando enlouquecidamente. Logo surge Varla, sua personagem, uma femme fatale sexualmente agressiva, que provocava e encarava a todos com sua habilidade em artes marciais. O figurino era polêmico: blusa e calça justíssimas, um enorme decote V, cintura alta marcada ainda mais com cinto e bota cano longo. Da cabeça aos pés o visual era todo preto. Além da famosa franja Pin-Up e o delineado preto. Tura contou que sofreu pois as gravações eram no deserto e estava superquente. Como era de se esperar, o filme não foi bem recebido. "Você tem que lembrar que isso foi durante o período do amor no mundo, a violência de Varla não era aceita", diz Tura. As críticas foram tão ruins, que as atrizes seriam aconselhadas a retirar o trabalho dos seus currículos. 



"Querida, nós não gostamos de tanta ternura, tudo o que a gente faz é pesado." - Rosie.

No final da década de 1970 e início de 80, Tura descobre a existência de um fanclube mundial de Varla. Nesse momento, tanto a personagem quanto o longa passam a serem considerados cults e com fãs espalhados pelo mundo. Tura vira uma estrela de filmes lado B. Depois de Pussycat apareceria em mais dois, The Astro-Zombies (1968) e The Doll Squad (1973), sendo o último referência para Charlie's Angels. Após a filmagem, é hospitalizada depois que toma um tiro de um ex-namorado. 

No filme Irma La Dolce

Desiste da carreira no cinema e de dançarina burlesca, passando a trabalhar como enfermeira durante quatro anos num hospital. Depois trabalhou no Departamento de Polícia de Los Angeles como operadora de rádio. Em 1981, casou-se com o ex-policial Endel Jurman da qual viveria até seu falecimento. No mesmo ano, sofre um grave acidente de carro que a deixaria com problemas na coluna e nos próximos dois anos fazendo quase quinze cirurgias. 

Apesar de afastada dos cinemas, Tura mantém seu reconhecimento no underground, então vira empresária registrando sua própria imagem e assim vendendo produtos de merchandising, como camisetas, virando desenho em quadrinhos, máscaras de Halloween. Era frequentemente convidada para participar de convenções de filmes lado B e para jurada de eventos burlescos. No dia 04 de Fevereiro de 2011, falece aos 72 anos deixando duas filhas, Kalani e Jade, e seu legado nas subculturas com seu icônico estilo e supercopiado entre as Pin-Ups e demais admiradoras!

Curiosidades

- Tura usou até o fim o famoso look preto, junto com o delineado gatinho que acentuava seu olho asiático e o longo cabelo preto com franja Pin-Up. As longas unhas ovais pintadas de vermelho também eram uma marca.


- Tura chegou a ser noiva de Elvis Presley! Morando em Los Angeles, conheceu o astro com apenas 16 anos numa noite descontraída na praia, onde ficaram conversando até o sol raiar. Tura conta que só voltaram a se ver depois de meses e os encontros eram secretos por causa do Colonel Tom. Elvis era muito tímido e o teria ensinado a dar beijo francês e até certas práticas sexuais. Mesmo não tendo se casado, ela ficou com o anel de noivado.

- Nos anos 90, havia uma banda de metal chamada Tura Satana, mas que depois trocou o nome por questões legais. Na década de 80, outra banda que se influenciou pelo filme de Russ Meyer foi o grupo de hard rock Faster Pussycat. 

- Referência ou não, o estilo de Tura é visto na cena hard rock e metal dos anos 80. Amy Winehouse também teria um quê de semelhança quando a atriz usou o famoso beehive com olhos delineados de gatinho.


- Madonna também se inspirou na personagem Varla para o clipe 'Girl Gone Wild' de 2012. Dita von Teese, que é superfã de Tura, ficou feliz com a homenagem da cantora.



- Antes de falecer, Tura tinha o sonho de lançar sua biografia e documentário. Como não deu tempo, seu amigo e diretor Cody Jarret mobilizou uma campanha de financiamento e conseguiu angariar o valor em 2017, para que o trabalho seja enfim realizado! Essa é mais uma prova de que a cena alternativa consegue se mobilizar para manter o legado de pessoas importantes e não deixar sua cultura desaparecer. 


Espero que tenham gostado de conhecer a história de Tura!




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21 de outubro de 2017

Um tributo a Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia de Star Wars

Em dezembro de 2016 morreu um ícone do público nerd: a atriz Carrie Fisher, famosa por interpretar a Princesa Leia na série de filmes Star Wars. Ela foi vítima de um ataque cardíaco fulminante, aos 60 anos de idade.


Como fã de Star Wars, fiquei chocada com a notícia e demorei muito tempo pra realizar o que de fato tinha acontecido. A primeira coisa que me veio a cabeça é se Carrie já tinha finalizado a participação dela no próximo episódio da série, "The Last Jedi" (previsto para estrear em dezembro), porque eu não queria que transformassem ela em um holograma (embora o holograma de Peter Cushing em Rogue One tenha ficado ótimo).

Ícone da cultura pop:
Princesa Leia com o rosto pintado como David Bowie e com os dizeres "Rebel".

Alguns podem achar estranho eu estar aqui lamentando a morte de uma estranha, mas a Princesa Leia formou parte da minha personalidade e tenho certeza que ela formou a de muitas outras meninas e mulheres por aí. Ela nos mostrou o que era uma feminista mesmo sem nunca termos escutado essa palavra antes.


Leia mostrou que as heroínas podiam ser tão fortes e corajosas como os heróis, que elas podem se virar sozinhas, organizar seus próprios resgates, sem precisar que os homens as salvem (enredo do Episódio IV, "A New Hope"). Relembrando sempre que isso não era muito comum no cinema naquela época: a estreia da personagem foi no primeiro filme da série, Episódio IV, em 1977. E Leia foi uma das únicas Skywalker que jamais caiu na tentação do lado negro da Força, sendo uma personagem que foi fiel a si mesma durante toda a história da saga. E ensinou também que mulheres podem sim ser líderes da rebelião, generais e chefes de Estado da galáxia!


Leia: lugar de mulher é na rebelião!
Carrie_Fisher


Além de tudo, foi uma personagem em que eu, quando era pré-adolescente, podia me espelhar: ela tinha a mesma cor de cabelo e de olhos que eu, e para uma pré-adolescente, representatividade é tudo! Pra mim era um milagre ter uma personagem principal – que era muuuuuito legal! – que não fosse loira de olhos claros e não estivesse seminua nas cenas ação. Leia era rebelde, entendia de armamentos, era líder da rebelião. E além de tudo, usava umas roupas muito legais, sem apelo sexual. A única exceção é quando ela vira escrava de Jabba The Hutt, no Episódio VI, Return of the Jedi, o que é bem simbólico.

A maneira de humilhar a personagem é colocá-la de biquíni, vulnerável, exatamente o oposto do que ela é. No fim, a própria Leia é responsável pelo assassinato de Jabba, matando assim o seu algoz. 


E Carrie Fisher foi o rosto de tudo isso. Como ela mesmo já disse inúmeras vezes “eu sou a Princesa Leia, e a Princesa Leia sou eu”. Carrie era uma grande entusiasta de Star Wars. Dava com a língua nos dentes sobre os novos roteiros várias vezes, era engraçadíssima, escrevia super bem e passou a vida toda lidando com a bipolaridade, a depressão e a baixa autoestima, inclusive publicando livros e artigos sobre o tema.

Sobre o visual da personagem, a característica mais marcante são os coques laterais que identificam a referência à princesa em qualquer lugar que seja. George Lucas, o criador da série Star Wars, necessitava criar visuais alternativos para os seus personagens, já que a história se passa em outras épocas e em outros mundos. O visual da Leia necessitava ser rebelde, revolucionário, pois se tratava da líder da Aliança Rebelde. Segundo Lucas:
No filme de 1977, eu estava trabalhando duro para criar algo diferente que não era fashion, então eu escolhi um visual de uma espécie de "Pancho Villa" feminina, uma mulher com um aspecto revolucionário. Os ‘montes’ de cabelo dos dois lados da cabeça são característicos da virado do século 20, no México.” 
 
Os cabelos da Leia foram inspirados nos das guerrilheiras que participaram da Revolução Mexicana no início do século 20. Melhor referência que essa não poderia existir!


Confirmando a reapropriação que a personagem sofreu depois, como um ícone de resistência feminina e um símbolo rebelde, uma manifestação de mulheres americanas contra Donald Trump, em janeiro deste ano, fez várias referências à Leia:

“Princesa Leia não deixaria isso acontecer”

“Nós somos a resistência”

Pra finalizar, deixo algumas imagens do figurino nada convencional de Leia: muito branco, tons terrosos, estampas militares e roupas associadas ao guardarroupas masculino.



No Star Wars Celebration deste ano foi lançado um vídeo tributo à Carrie, pontuando algumas coisas que estão neste artigo. Segue:




Que a Força esteja com você Carrie!





Autora:

Nandi Diadorim.

Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul.
Guitarrista em uma banda de punk rock.
Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.





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Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens das mesmas foram feitas por nós baseadas na ideia e contexto dos textos. 

14 de março de 2017

Capitão Fantástico, a subcultura hippie e a “vontade de fugir daqui”

No último fim de semana, assisti ao filme Capitão Fantástico. Para não entrar muito em detalhes e acabar dando spoilers para quem ainda não viu (visto que é um filme que estreou no cinema há pouco tempo), vou colar aqui uma breve sinopse que retirei do site Wikipédia:

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior - um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai e traz à tona tudo o que ele os ensinou”.


Quem assistiu e curtiu o filme Na Natureza Selvagem, de 2007, com certeza irá gostar muito de Capitão Fantástico. Eu definiria este último como uma espécie de continuação do primeiro. Bom, vou parar por aqui senão vou falar demais e estragar o filme para quem ainda não viu, mas posso dizer que são filmes que levantam questões muito interessantes, como a busca do “eu” em meio à sociedade de consumo.

Na Natureza Selvagem (2007)  


Capitão Fantástico (2016)

Um tema muito caro para várias subculturas é justamente o sentimento de não se encaixar nesta sociedade, estar deslocado, ser um estranho neste planeta. Frequentemente, a maioria das pessoas não entende seu estilo de vida, observam-te com preconceitos, fazem piadas e, em alguns casos mais graves, partem até para violência física. Ou seja, às vezes, você literalmente tem vontade de “sumir” do mundo. Alguns lidam bem com esse estranhamento vindo dos outros (confesso que teve época em que eu achava até engraçado), outros não. Neste caso, não me refiro apenas ao preconceito estético, mas também à intolerância em relação às suas ideias e visões de mundo; intolerância e preconceito estes que, muitas vezes, vêm da sua própria família. Este tema é bem abordado no filme, o que nos impulsiona à reflexão.

Capitão Fantástico e o estranhamento... 

Além disso, um tema comum nos dois filmes é o projeto para viver um novo estilo de vida, uma sociedade alternativa, bem ao estilo da subcultura hippie. Embora nenhum dos dois filmes fale diretamente sobre esta subcultura, é fácil encontrar elementos dela, como, por exemplo, a busca por uma vida na natureza, a fuga da sociedade de consumo, a construção e a criação de todos os objetos necessários à sobrevivência, a obtenção natural de alimentos (por meio do cultivo e da caça), além de viver de acordo com as suas crenças mais profundas.

Na Natureza Selvagem: a sobrevivência em meio à natureza

Embora tenham muitas semelhanças, elas param por aí, porque Na natureza selvagem fala sobre uma história real (recomendo muito o livro que deu origem ao filme, de mesmo nome, escrito por Jon Krakauer) enquanto Capitão Fantástico é uma história ficcional. Quanto às questões estéticas, Na natureza selvagem é bem mais amenizado na comparação, embora tenha alguns elementos chaves na história, como, por exemplo, o cinto usado por Chris, que representa uma linha do tempo de sua própria vida e da sua jornada em meio à natureza.


Já Capitão Fantástico apresenta uma estética bastante alternativa, com uma exteriorização do estranhamento dos personagens em relação ao que é considerado “normal”. O visual das irmãs mostra claramente uma influência hippie:

Em suma, os dois filmes são claramente influenciados pelos escritos de Henry David Thoureau (1817 – 1862), célebre escritor norte-americano, ícone da não-violência, do anarquismo do século XIX e da volta à natureza. Só para ilustrar, a abertura do texto clássico “A desobediência civil” é uma crítica aos governos instituídos:
Aceito com entusiasmo o lema “O melhor governo é o que menos governa” e gostaria que ele fosse aplicado mais rápida e sistematicamente. Levado às últimas consequências, este lema significa o seguinte, no que também creio: “O melhor governo é o que não governa de modo algum” e, quando os homens estiverem preparados, será esse o tipo de governo que terão. O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício inconveniente (...).
 
Em resumo, o trecho fala da inutilidade do Governo na vida dos cidadãos e explora a ideia de se viver independente dos governantes, pois estes tiram as liberdades básicas das pessoas; além de desobedecer às regras impostas pela sociedade. Em outro livro, Walden ou "A vida nos bosques", podemos ler o seguinte trecho:

       “Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir na hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão maravilhosa, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse de todo necessária. Queria viver em profundidade e sugar toda a medula da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; encurralá-la num beco sem saída, reduzindo-a a seus elementos mais primários, e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então em sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e, se fosse sublime, sabê-lo por experiência, e ser capaz de explicar tudo isso na próxima digressão. Porque me parece que muitos homens estão terrivelmente incertos, sem saber se a vida é obra de Deus ou do demônio, e têm concluído com certa sofreguidão que a finalidade principal do homem aqui na terra é "dar glória a Deus e gozá-lo por toda a eternidade."

No fragmento acima, o autor defende a ideia de viver a vida de uma forma mais natural, em meio à natureza, longe dos governos e da sociedade de consumo, onde as pessoas poderiam ser quem elas realmente são, sem máscaras. Em síntese, é a mesma abordagem que os dois filmes citados defendem.

Enfim, encerro com a bela música de Eddie Vedder, Society, escrita para o filme Na natureza selvagem, que define bem o clima da produção:




OBS: Tanto a Desobediência civil como Walden são obras de domínio público e podem ser acessadas livremente pela internet.







Autora:
Nandi Diadorim. Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul. Guitarrista em uma banda de punk rock. Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa. 

Revisão textual: Valéria O´Fern



Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos; a seleção e as montagens das imagens foi feita exclusivamente para o blog baseado na ideia e contexto do texto.


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