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11 de maio de 2017

Boots and Braces: A História da Subcultura Skinhead

A subcultura Skinhead é uma das mais mal interpretadas graças à informações difundidas de forma generalizada, associando todo o grupo com o nazismo, sendo que apenas uma parte seguiu esse caminho. Neste artigo, conto um pouco sobre sua origem e porque é tão associada com violência.

© Symond Lawes Photography

A subcultura Skinhead surgiu da união de elementos de outras duas: os Mods e os Rude Boys. Em dado momento da década de 1960, a subcultura Mod se dividiu em grupos, uma parte se aproximaria dos Hippies e outra parte se tornou os "hard mods”, uma turma agressiva famosa pela rivalidade com os Rockers. A fama de brigões dos hard mods se espalhava por todo o Reino Unido. 
Fãs de Lambrettas, sua estética adotava roupas de marcas genuinamente britânicas como Fred Perry, Crombie e coturnos Dr. Martens simbolizando o orgulho da origem na classe trabalhadora. Adotaram cabelos bem curtos, várias vezes raspados. Naquela época cabelo raspado tinha um significado muito contracultural, apenas soldados e religiosos os usavam, se tornando assim um genuíno símbolo outsider.

Hard Mod e sua Lambretta

Outro grupo que influenciou os skinheads foi a cultura caribenha, especialmente as gangues jamaicanas, chamadas de Rude Boys. Eles ouviam rocksteady, reggae e um estilo chamado “Skinhead Reggae”, conhecido também como “Ska”. Usavam gravatas finas, chapéus trilby e porkpie influenciados pelos gângsters. O cantor jamaicano Desmond Dekker, considerado “O Rei do Ska” foi o responsável por adicionar os suspensórios segurando as calças jeans Levi´s que possuíam a barra dobrada revelando os Dr. Martens. Nesta época, já haviam muitos skinheads negros. Sendo fãs do estilo musical, os Hard Mods frequentavam as festas dos Rude Boys.

Desmond Dekker, “O Rei do Ska”
Laurel Aitken e o Skinhead Reggae ou Ska

Da união destas subculturas se formam os skinheads.
black-and-white-skinheads

skinhead-fashion-style
black-and-white-skinheads
black-and-white-skinheads

A estética que é a junção dos Hard Mods e dos Rude Boys, pouco mudou dos anos 1960 para cá: além das já citadas marcas acima, inclui-se as camisas Ben Sherman e calças Lee ou Wrangler desbotadas para ficarem com aparência de desgaste. Estas marcas na época, eram de valor muito acessível para a classe trabalhadora, não tinham o status cult que tem hoje. Os Skins, além de fãs da música, adotam o jeito de andar e as danças dos Rude Boys. Apesar do nome, não era obrigatório um skinhead ter cabeça raspada, cabelos curtos ou cortados nos estilos militares (raspado embaixo e/ou dos lados) eram usados também.

Nos pés, coturnos ou Dr Martens 
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Gavin Watson para Dr Martens

"Boots and Braces": coturnos e suspensórios são forte característica estética.
estilo-skinhead
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© Terence Spencer

Em 1966 a Inglaterra vence a copa do mundo e apesar do Holliganismo ser algo muito antigo, foi inevitável associar os skinheads (fãs de futebol e cerveja) aos hooligans. Já o ano de 1969 passa a ser considerado icônico para eles, pois depois deste período a subcultura se fragmentou em extremismo político. Os que rejeitavam o racismo em favor do estilo caribenho se denominavam Trojan Skinheads em homenagem à gravadora homônima. E os trojan começaram a denominar os skinheads com tendências nazistas de "bonehead". Também outro ramo surge, os “suedeheads”, com visual menos extremo: ternos, cabelos maiores e brogues nos lugar das botas. Essa época foi denominada posteriormente como Spirit of 69, ou Espírito de 1969


© Derek Ridgers

As garotas Skinhead usavam a estética sessentista, adotando saias ou minissaias com meia calça/arrastão e como os garotos, camisas, camiseta polo, suspensórios, meias acompanhadas de além dos Dr. Martens, botas curtas e sandálias também da marca. Os cabelos sempre curtos ou médios com o corte feathercut (ou chelseacut): franja e cabelos longos na lateral e embaixo, o que lhes dava os apelido de skinbirds. Quebravam assim as definições de beleza exigidas das mulheres como a de cabelos longos e não usavam sapatos de salto.

Apesar de seguir a moda sessentista, o visual feminino tinha elementos em comum com o masculino como camisas de botão e polo, suspensório, jeans (em calças ou saias) e coturnos.
skinhead-girls-style

 A marca Lonsdale é popular entre os skinheads, uma herança dos Hard Mods.

Se os rapazes usam cabelos raspados, para as garotas, a franja, os cabelos laterais e os de baixo são mantidos. Um dos visuais alternativos mais únicos que existem!
Chelsea haircut
Ilustrações em referência aos cabelos femininos


O desenvolvimento da subcultura nos anos 1970 coincide com o lançamento do filme Laranja Mecânica, cuja violenta gangue do personagem Alex DeLarge, inspirada nos Skins, os torna cults. No fim daquela década medidas de austeridade econômica são impostas, havia alto índice de desemprego e o Reino Unido vivia uma onda de violência, ocorrendo o crescimento da direita racista. 

Assim, no começo da década de 1980, surge no underground punk o gênero musical Oi!, capitaneado por bandas como Sham69 e Cockney Rejects. Estas bandas cantavam sobre futebol, brigas de rua e pubs, com cabeça raspada ou moicanos coloridos mais a tradicional vestimenta skin como botas e suspensório e por vezes tatuagens faciais, os Oi! se diziam apolíticos, no entanto seus shows se tornaram violentos quando passaram a ser frequentados por skinheads de extrema direita.

Devido à repercussão destes shows, na década de 1980, a cena passa a ser associada com o nazismo, surge então um movimento de resgate às origens com um revival ska e um retorno ao estilo rude boy: o 2-Tone (ou two tone), tendo destaque a banda The Specials, a característica destas bandas era ter um vocalista negro e outro branco.

A banda “The Specials”
 2 Tone (ou Two Tone): Jovens brancos e negros dançando ska
O som dos Rude Boys é a trilha sonora Skinhead

Naquela década, surgem também os Skinheads Against Racial Prejudice (S.H.A.R.P.), pois havia chegado no ponto em que se um skinhead não verbalizava ser anti-nazi as pessoas os acusavam de ser nazi. 

Até hoje existem skinheads de todos os segmentos políticos: R.A.S.H. (comunistas e anarquistas), Redskin (de esquerda), Boneheads (White Power), Hammerskins (nazistas) e de todo tipo: negros, brancos, asiáticos e até gays, mas eles muitas vezes não são lidos como skinheads pelas outras pessoas, que criaram um imaginário que apenas os nazi-skins são os existentes.


Ilustrações relacionadas aos Trad Skins, parcela da subcultura
que rejeita a ligação com o nazismo e o racismo.
espírito-de-69-skinheads-trad-skins


Símbolos dos S.H.A.R.P (Skinheads contra o preconceito racial)


Garota Skinhead beija Muhammad Ali em Dublin (Irlanda) na década de 1980.


Muitas informações sobre as subculturas vem da mídia mainstream, é importante ficar alerta para as que podem vir distorcidas. Os Skinheads talvez sejam a subcultura que mais foi punida com informações difundidas de forma incorreta. A divulgação de imagem dos Skinheads costuma resultar em comentários generalizados de que "todos são neo-nazistas", sendo que uma parte da subcultura não é. É importante compartilhar informações para que uma subcultura inteira não seja julgada por uma parcela dela. Tentem divulgar artigos de mídia alternativa ou de quem conhece e/ou convive com os movimentos. Informação é a melhor arma contra a ignorância.

Sim, existem skinheads neo-nazistas e isto é um fato que não pode ser ignorado, é uma parcela da subcultura que se caracteriza por ações de ódio, racismo e preconceito. Para entender esta questão de uma forma aprofundada, sugiro o download e leitura dos manifestos anarco punk "porque somos contra a união de punks com skinheads" que pode ser acessado neste link, já que não será dado visibilidade aos neonazi aqui neste post.




Roddy Moreno, fundador do movimento S.H.A.R.P. britânico diz:

“Um verdadeiro skinhead não pode ser racista. Sem a cultura jamaicana skinheads não existiriam, foi a cultura deles misturada aos britânicos da classe trabalhadora que fizeram os skinheads serem o que são.”



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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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