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30 de dezembro de 2016

Cone Bra: figurino e fetichismo [Parte 2]

Após contada a história do bullet bra, sabe-se que a diferença entre esse sutiã e o cone bra é a costura em círculo até a ponta que o bojo possui. Como contado anteriormente, o bullet bra surge nos anos 40, mas o modelo em forma de cone já existia um pouco antes, e sua aparição muito provavelmente tenha sido no mundo do fetiche.

Por tempos, o formato do corpo feminino foi modificado de forma artificial visando estar de acordo com o ideal de beleza de cada época. A roupa de baixo tem até hoje papel fundamental na criação de formas artificiais, não reais, do corpo feminino, seja nos sutiãs com bojo, sejam nos modelos que levantam e unem os seios visando deixá-los aparentemente maiores. Quanto aos sutiãs de cone, a historiadora Valerie Steele atenta para os seios como símbolos fálicos: sutiãs com "pontas perfeitas" que  projetam os seios para cima e para fora, como um falo. Na questão do fetiche, qualquer tipo de sutiã pode ser fetichizado, mas quanto maior, mais pontudo e mais estruturado, maior este potencial.


nipples Liv Tyler
Liv Tyler com um cone bra em forma de seios.
Em tempos de polêmicas com os mamilos das mulheres, a peça provoca o tabu da sociedade. 

Em imagens do início do século XX, encontram-se versões de cone bra em sessões de fotos fetichistas. Não eram peças feitas em tecido e o formato era totalmente arredondado, sem o famoso "bico" na ponta. A partir dos anos 40, quando chega a moda do bullet bra, modelos mais pontudos surgem, bem ao estilo "em bala". Seria usado em sessões de bondage por muitas pin-ups, entre elas, Bettie Page.

Nessa foto Bettie está de bullet bra, 
mas sua parceira usa um cone bra com ponta.

Ela também usaria em outras sessões de bondage.
fetish

No mesmo período mas fora do underground,
Jayne Mansfield com estampa de onça.

Trinta anos depois surge o Punk e as meninas aproveitam o sentimento de confronto contra o conservadorismo provocado pelo movimento e passam a usar peças fetichistas como roupas do dia a dia pra desmistificar tabus sexuais. A partir desse momento é visto as primeiras artistas usando versões chamativas como figurino de seus shows. Juntas com Bettie Page, iriam se transformar nas futuras influências de criações de moda.

Angela Bowie causando nos anos 70.
cone bra

O estilizado com luzes no bico de Nina Hagen, em 1986.
iron cone bra

Nina usou tanto bullet quanto cone.
fetish

Marilyn Manson no clipe "Long Hard Road Out Of Hell"
 e Lady Miss Kier do Deee-Lite com versões em prata:

  Provavelmente Nina Hagen tenha sido referência
 às criações que soltam fogo, como o de Lady Gaga.
fire cone bra

E a cantora mexicana Thalia no clipe "Gracias a Dios". 
Sim, quem diria! 

Annie Lennox usou modelo em couro
 no clipe "Missionary Man" do Eurythmics, em 86.

A força erótica e provocadora da peça casava perfeitamente
com a personalidade de Wendy O. Williams...
sutiã de cone de couro

...que usou versões vazadas e com spikes na ponta do bico.

Nesse editorial Numéro de 2008, é usado um cone bra
com a mesma pegada agressiva da cantora punk.


Na Cama com Madonna
A cantora americana foi a grande responsável pelo revival do cone e bullet bra no mainstream contemporâneo. Em parceria com o estilista Jean Paul Gaultier, criaram para a turnê Blond Ambition de 1990, versões que chamaram tanta a atenção que permanece até hoje no imaginário das pessoas. Tudo isso por um conjunto de fatores: primeiro a peça em si, uma lingerie que ficava a mostra e que tinha nos seios formatos superpontudos, despertando o olhar involuntário - ou até mesmo voluntário - do outro. Aliado a provocação que o modelo oferecia, Madonna aproveitou o impacto sexual da peça elevando ainda mais o efeito com coreografias mega eróticas, com poses que desafiavam o mundo ao mostrar uma mulher dona de seu próprio prazer. Que poder! 

cone bra bullet bra

A performance de 'Like a Virgin' causou o maior alvoroço na época. Madonna com seu bullet e os dançarinos de cone bra, elevam a mil o impacto erótico das peças.


Criação de Jean Paul Gaultier feita em 1984.
sutiã pontudo em formato de cone

O estilista revive o icônico bullet no desfile Verão 2010.
Só que agora, trazendo uma versão grávida!
gravida

Em 2016, o documentário de "Na Cama com Madonna" completou 25 anos. A gente sabe que a Moda gosta de pegar datas comemorativas para revitalizar o passado. Será que veremos uma volta do fetiche no mainstream? Fica a observação!


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1 de agosto de 2016

O feminismo vendido como produto + Spice Girls e Girl Power

Há um tempo tenho observado diversas marcas usando frases como "Girl Power" e outras mensagens feministas como produtos de moda. Não há nada de errado em blusas com frases de efeito, na verdade isso é uma técnica de protesto através da Moda que eu apoio. A questão levantada aqui é o uso de pautas feministas pura e simplesmente por modismo descartável produzido em massa e que passam longe do conceito da empresa.  

Quando pautas feministas viram produtos comercializados em massa ou fora de propósito, tem seus significados esvaziados e logo perdem força. Uma das formas do sistema dominante tirar a força de uma causa é se apropriando dela. É um "truque" muito bem elaborado. Não apenas o feminismo mas outras causas sociais de igual importância costumam ter suas lutas cooptadas quando começam a se sobressair.


Muitas mulheres estão engajadas com o feminismo no dia a dia, seja politicamente, em grupo ou solitárias. O feminismo tem sido debatido em diversos sites ao redor do mundo conscientizando cada vez mais. Atento à isso, as empresas visando ganhar a simpatia destas mulheres passam a fazer campanhas de marketing e criar produtos que reflitam pautas da ideologia. Assim como grandes empresas, marcas alternativas também tem embarcado nessa pra acompanhar as trends. 

Mas deixo um alerta: não se pode dar um passo maior que a perna e vender algo que não possam sustentar. A partir do momento em que se é dono de uma marca e usa-se do marketing para divulgar as peças, deve-se evitar esvaziar o significado de qualquer causa social que esteja em evidência. Deve-se ter responsabilidade sobre o que está vendendo especialmente se seu público alvo é muito jovem.

Desde o último ano, centenas de lojas online apareceram com o mesmo tema de coleção: anos 90, pegada Clubber, Kawaii, Riot Grrrl e "empoderamento feminino". No embalo destas tendências querem aliar a imagem da marca ao estilo "cool" mas acabam prejudicando de alguma forma os movimentos sociais e políticos.


Como lidar quando uma loja anuncia que vende "looks para todos os corpos" com modelos "plus size" na foto de marketing, mas ao analisar o catálogo, a maioria absoluta das roupas vendidas
vão apenas até o tamanho G?
@gypsywarrior

O movimento Riot Grrrl que informava sobre feminismo e incentivava meninas a terem suas bandas, também tem seu conceito vendido como produto de moda.
@gypsywarrior

Colar "Riot Grrrl" da Disturbia. A marca sempre focou no gótico e no ocultismo, sendo uma das lançadoras desta tendência. O que os fez vender um produto tão diferente do que costuma ser seu catálogo? Oportunismo comercial?

@Disturbia Clothing

Não há inocência no mercado. O mercado quer vender. Se uma marca está vendendo “girl power" ela precisa oferecer produtos que cheguem à todas as mulheres (Helena do blog Garotas Rosa Choque escreveu um post sobre blusas "empoderadoras" que só vem em tamanho P).
Se uma marca quer empoderar mulheres, que tomem como exemplo outras marcas que já fazem sem utilizar a banalização do feminismo: reestruturando seus conceitos e visões de mercado. Se engajando pessoalmente em movimentos ideológicos que se identifica, assim a mudança pessoal se refletirá naturalmente no trabalho sem precisar reproduzir um estereótipo vazio de significado.
Não dá pra vender girl power se a marca não abraça e dá "poder" às mulheres que visa como público alvo. Um exemplo muito conhecido dessa confusa mistura de moda, feminismo e comércio  são as Spice Girls. 




Em meio as comemorações dos 20 anos do single "Wannabe", tem se falado muito sobre o girl power do grupo pop que influenciou diversas meninas. Pra falar sobre isso vou levantar alguns fatos daquela década:
- Fundada em 1988, a revista feminista Sassy é lida por adolescentes até seu fim, em 1994.
- Em 1991 surge o movimento Riot Grrrl que perdura até 1997.
- Em 1995 a banda Shampoo lança seu álbum chamado Girl Power [video].
- Gangs de meninas estavam em voga na mídia, como as Patricinhas de Beverly Hills, Jovens Bruxas e em grupos como TLC, Salt-N-Pepa: garotas de atitude e de sexualidade agressiva.

Foi na década de 1990 (como abordamos aqui) que a cultura alternativa passou a ser cooptada em definitivo pelo mainstream. De lá pra cá, o sentimento e o comportamento de grupo perdeu lugar para o individualismo. Este comportamento de grupo era típico dos movimentos feministas dos anos 1960, 1980 e das Riot Grrrls. O “feminismo” das Spice Girls sugeria uma “sisterhood”, onde amigas se ajudavam a serem mais autoconfiantes. Mas esse tipo de mensagem pouco fez efeito em mudanças sociais, pois elas já estavam na onda individualista, tanto que cada uma tinha um estilo próprio. Muitas meninas tiveram contato com essa abordagem de empoderamento individual, mas sem o engajamento político nas causas feministas. 


As Spice Girls e o Girl Power como produto
As Spice eram um grupo concebido por empresários e Geri Halliwell era a mais envolvida nas composições. Elas tinham essa ideia maravilhosa de "fraternidade feminina" que infelizmente foi abafada pela imensa dimensão comercial que elas tomaram como artistas. De repente aquele Girl Power empoderador virou diversos produtos: pirulito, bolsa, chiclete, Pepsi, maquiagem, bonecas (veja lista aqui), roupas, um "feminismo" divertido e fofo sem criticas sociais e de gênero, tudo dentro das tendências de consumo do mercado adolescente. 




Wannabe” é uma canção que prega o valor da amizade entre mulheres mas segundo o documentário feminista "Atitude Cor de Rosa" [teaser aqui], peca na parte principal, quando as garotas dizem o que querem:

“tell me what you want, what you really, really want” 
(me diga o que você quer, o que você quer muito, muito mesmo)
"I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really Really really wanna zig zig ha."
(eu quero, eu quero, eu quero, eu quero, eu quero muito muito mesmo zig zig ha)


As mulheres querem muito, mas muito, muito mesmo tantas coisas, mas na letra elas querem justamente algo que não significa nada: "zig zig ha". É um exemplo do esvaziamento de fala de mulheres quando chegam na posição de dizer o que querem e o que pensam. Quando elas finalmente estão com toda atenção para si, com as roupas certas e atitudes certas, o que sai de suas bocas é um desejo vazio de significado que ninguém entende. É como colocar uma mulher pra discursar num palanque mas quando ela abrir a boca, ao invés de um discurso eloquente, sair um monte de balõezinhos de blablabla e mimimi. Ou como o estereótipo da mulher linda e burra que não fala nada com nada ou da intelectual chata que precisa ser silenciada.

O “zig zig ha” é como uma metáfora de tudo isso, porque visualmente o estilo e o comportamento das Spice tinha atrevimento e provocação. Era comum na década de 1990 a ideia de “ter atitude". Isso diferenciava uma garota 'normal' de outra mais ousada ou alternativa. As Spice eram desbocadas, Victoria não sorria nas fotos, Geri quebrou o protocolo num nível altíssimo quando apertou a bunda do Príncipe Charles. Elas batiam de frente com a ideia de garotas serem Barbies ou Princesas Disney, tanto que Mel C tinha um visual bem moleque. Eram sensuais sem neuras quanto às suas sexualidades, sem se preocupar com julgamentos. E naquela época ainda era tabu falar abertamente de sexo. 
Mas feminismo é um movimento de engajamento político e isso elas não tinham.



A formação da mentalidade de consumo feminino através da Moda.
As Spice fizeram um bom trabalho influenciando garotas à sua maneira. Mas hoje, percebemos que aliar consumo a feminismo não é um bom negócio. É bom problematizar um pouco quando começamos a perceber como o patriarcado vende as mulheres para mulheres. 

O marketing quando usado em parceria com a música pop tem um alcance que o alternativo não tem. Ele consegue atingir justamente quem necessita ouvir esse tipo de mensagem. A cantora Shirley Manson e Kathleen Hanna (uma das criadoras do movimento Riot Grrrl) elogiam Miley Cyrus, o que nos deixa intrigadas sobre algum lado da Miley que não conhecemos. O pop e o alternativo podem ter relação sim, especialmente se há ideologias em comum. Kathleen Hanna hoje dá entrevistas para veículos que jamais daria na época de Riot Grrrl, porém, nunca a vimos dar um elogio sequer às Spice.

As Riot Grrrls, criadoras* do termo Girl Power, eram contra o feminismo sendo usado como mercadoria a ser consumida e hoje consigo entender o porquê: porque feminismo é uma causa política muito séria que envolve mudanças comportamentais e sociais muito grandes que nem todos estão dispostos a fazer. E justamente estes que não estão dispostos a ceder seus privilégios ou que podem ser prejudicados é que ajudam a abafar lutas sociais de mudanças de mentalidade e comportamento.

A moda é uma das indústrias mais poderosas do mundo, ela molda os gostos das pessoas. Ela dita comportamentos. A moda decide o que você vai comprar neste verão. Diz o que você deve exibir pra ganhar status. A moda tem um poder absurdo na formação da mentalidade de consumo das mulheres. A moda sabe que mulheres compram o que é vendido de forma “certa”. 
A moda prega o individualismo. Só que qualquer mudança social que quisermos não faremos sozinhas, individuais, só faremos reunidas em grupo. E garotas jovens buscando esse individualismo são o consumidor foco dessa indústria poderosíssima que não está interessada em ideologias, mas sim em lucros. 


* criadoras no sentido em que conhecemos hoje, aliado ao feminismo.

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22 de maio de 2016

Os 20 anos do filme Jovens Bruxas (The Craft)

Neste ano o filme Jovens Bruxas (The Craft) comemora 20 anos. Embora não tão conhecido pela nova geração, quem está na faixa dos 30 anos deve ter assistido na época de lançamento ou em reprises. O filme foi lançado em 1996 e contava com Neve Campbell (Bonnie) e Fairuza Balk (Nancy) duas atrizes que estavam se destacando em filmes adolescentes. Completam o elenco Robin Tunney (Sarah) e Rachel True (Rochelle).



Traduzido como "Jovens Bruxas", o título original é "The Craft", esta é uma das denominações da bruxaria entre seus praticantes. A década de 1990 foi quando a Wicca se tornou popular e mais aceita como uma religião estabelecida, pessoas começaram a finalmente ter orgulho de se assumirem pagãos após décadas tendo que se esconder devido ao preconceito.
Assim, a prática vai ganhando jovens adeptas e por conta do interesse das adolescentes, muitos covens proibiram menores de 18 anos. Esses adolescentes procuram então os livros pra se informar, sendo "O Guia Essencial da Bruxa Solitária" de Scott Cunningham um dos mais populares. O mainstream se interessa pelo tema, com diversas lojas comercializando produtos, de pentagramas à livros das sombras. Ao mesmo tempo haviam equívocos sobre a prática, como os que diziam que wicca e satanismo são interligados - não são.

Jovens Bruxas não é um grande filme, mas tem seus momentos. E parte disso se dá porque a Sacerdotisa Pat Devin foi consultada para dar mais veracidade à trama, incluindo as cenas dos rituais. Uma coisa que não é real é "Manon", a deidade que elas invocam nos rituais.



A história (pode conter spoilers)
Na história temos quatro adolescentes, cada uma com um problema pessoal que as fazem se sentir angustiadas. Todas elas passam por bullying e procuram na bruxaria um modo de tentar fugir desses problemas.
Temos Nancy, Bonnie e Rochelle que estudam juntas. Nancy sofre em um lar superviolento, com um padrasto alcoólatra e uma mãe passiva, ela tem um relacionamento tóxico com as amigas; Bonnie tem um grave problema de pele que deixa cicatrizes grandes, grossas e feias que a fazem se esconder em roupas fechadas; Rochelle sofre bullying por ser negra e ter cabelos cacheados. Assumidamente bruxas, para unir os quatro elementos, elas precisam de mais uma menina no coven e é aí que a nova aluna, Sarah, aparece. Sarah veio de outra cidade, onde já tinha tentado suicídio cortando os pulsos devido ao bullying e os problemas que causava com seus poderes telecinéticos.


Numa das aulas, Sarah demonstra seu poder de telecinese sendo observada por Bonnie que convence as outras de que a nova aluna era o elemento que faltava. Receosa, Sarah se junta ao grupo e as quatro meninas vão à loja de uma bruxa, onde a mesma percebe que Sarah é uma bruxa natural, seu poder vem de dentro naturalmente. Isso provoca inveja de Nancy, pois a obsessão desta era ter muito poder. 


Mulheres costumam ser vistas como delicadas e fracas. Na cena em que o motorista de ônibus diz: "cuidado com os estranhos" e Nancy responde "nós somos os estranhos", vemos que mulheres podem também ser "poderosas e perigosas" além das aparências delicadas. Haja visto que crianças no ônibus as olhavam com certo medo e curiosidade por elas apresentarem uma atitude diferente das outras presentes.


A partir daí, as quatro passam a fazer rituais visando atingirem seus objetivos. E é daqui que jogo alguns pontos de observação sobre A Arte:
Na Wicca existe um código moral simples e benevolente que é o seguinte: "sem prejudicar ninguém, realize sua vontade". Em outras palavras: você é livre para fazer o que quiser, contanto que, de forma alguma, prejudique alguém - nem mesmo você! Essa é a famosa Lei de Três, que se aplica sempre que você faz alguma coisa, boa ou má. Não que você será "castigada" por um ato mau, porém, quando você envia uma energia, o curso natural dela é voltar à você. Assim, caso envie algo negativo, essa força fará seu caminho, se fortificando e retornará. 


"magia é acreditar, magia é como natureza, o bem e o mal estão no coração da deusa"

Elas também fazem feitiço manipulativo, um tipo de feitiço que bruxas experientes não indicam, mas que novatos procuram. Esse tipo de feitiço é perigoso porque interfere no livre arbítrio, um direito primordial das pessoas. Num feitiço manipulativo de amor, como o feito por Sarah, interfere-se na vontade do outro, sendo comum o enfeitiçado virar um "zumbi", ou seja, uma pessoa completamente dominada pelo enfeitiçador.
Nancy deseja "todo o poder de Manon" (Manon é um Deus fictício) e assim recebe, mas usa para o mal todo esse poder que recebeu.


Bonnie pede pelo fim de suas cicatrizes e Rochelle castiga a moça racista. Tudo passa a correr como elas desejam. Elas se sentem fortes e empoderadas.


No decorrer do filme, vemos as consequências ruins que todas sofrem por terem feito escolha pela magia "do mal" e pela manipulativa. Elas mexeram com o equilíbrio e as coisas estão retornando em triplo.


Quando Sarah, a bruxa natural, percebe o quanto erraram, se arrepende e passa a reverter os feitiços, o que irrita as colegas. E é aí que acontece o clássico embate entre o bem (Sarah) e o mal (Nancy), entre o poder natural e telecinético de Sarah e o poder adquirido para o mal e manipulativo de Nancy.


Jovens Bruxas não é apenas um filme bobo de sessão da tarde, ele é legal pra observar como a Wicca se tornou popular entre adolescentes na década de 1990, trás um figurino que mostra a mistura entre mainstream + rock n roll/punk/gótico, ilustra como algumas pessoas que têm dons naturalmente mágicos podem canalizar para o bem ou para o mal e sofrer suas consequências e outra coisa que ainda é atual: jovens que sofrem por serem diferentes da regra e buscam por aceitação. No caso delas, buscaram a autoestima através da magia para que as curasse de seus problemas físicos e emocionais, para que parassem de se autoculpar e se autodestruir. 

Nancy é o perfeito exemplo de Bad Girl dos anos 90.
Uma curiosidade é que Fairuza Balk era wicanna na vida real.


Sobre o visual: uma vez contei aqui no blog que na década de 1990, os alternativos não usavam só roupa preta o tempo todo, usavam roupas com cores ou cores + preto. Um visual todo preto era reservado à góticos, uma certa linha do metal ou do punk e por quem queria chocar. A gente vê isso no filme. Embora praticantes de Wicca, apenas a Nancy é fortemente percebida como uma gothic-rocker que usa preto o tempo todo, as outras meninas usam moda mainstream normal com pinceladas alternativas relacionada à magia ou em cenas especificas como a que as quatro usam preto e branco numa desconstrução dos uniformes - usando chokers e batons escuros - ou nas cenas de rituais onde ao menos uma peça preta é usada por todas. As meias pretas até as coxas também eram moda na época assim como as gargantilhas, saias longas retas e a maquiagem vamp.


Válido citar a trilha sonora super rock n roll: Heather Nova, Julianna Hatfield, Jewel, Elastica e até Letters to Cleo.

E vocês, já assistiram o filme? 
O que acharam? 



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6 de maio de 2016

O Riot Grrrl como referência: do rock ao pop dos anos 90 à atualidade

É impressionante o alcance que teve o movimento Riot Grrrl nos anos 90, mesmo permanecido underground. São meninas que conseguiram influenciar uma geração inteira, provocando inclusive mudanças de comportamento na cena musical de massa. Elas iniciariam um apagão a mídia em protesto as deturpações feitas pela imprensa, mas suas inquietudes sobre o mundo ultrapassariam qualquer barreira se espalhando e atingindo em cheio uma legião de garotas.

"Eu sempre digo às garotas que dizem querer iniciar uma banda mas não possuem nenhum talento: bom, nem eu tenho. Quer dizer, eu posso fazer uma melodia, mas qualquer um que segurar num baixo pode descobrir isso. Você não tem que ter poderes mágicos de unicórnios." Kathleen Hanna 


Influências
Começando pelo próprio Rock, houve uma enorme abertura com bandas formadas só por mulheres, ou com alguma musicista na formação, seja no vocal ou liderando apenas um instrumento. Esse conceito seria visto com força em todas as vertentes. No heavy metal, um destaque são as meninas da Kittie (leia mais aqui), que alcançariam forte evidência no meio underground e alternativo.


Indo ao indie, teríamos a continuação e maior abertura da carreira de várias artistas. Kim Gordon seguiria no Sonic Youth e depois na união com Julie Cafritz em Free Kitten. A xará Kim Deal apareceria no Pixies e com sua gêmea Kelley na The Breeders. Já no Smashing Pumpkins veríamos D'arcy Wretzky e posteriormente Melissa Auf Der Maur, ex-Hole. 

Clipe da música "Little Trouble Girl"do Sonic Youth: parceria entre Kim Gordon e Deal
Gordon, Deal, Wretzky e Auf Der Maur: todas baixistas

Porém, o efeito mais significativo seria encontrado (vejam só!) na própria indústria musical mainstream. Como não conseguiram persuadir as riots originais, abriu-se espaço para cantoras que desnudavam suas almas em letras escritas de forma desbocada ou poética, onde percorriam temas que iam desde uma decepção amorosa a abusos sexuais. Era a vez das garotas de atitude. E foi um impacto e tanto, não só nas mensagens que as canções passavam, mas também na composição estética delas. 

Muitas ficariam famosas por apenas um hit ou conseguiriam consagrar o álbum inteiro, é o caso do furioso "Jagged Little Pill" de Alanis Morissette. Um marco em sua carreira até hoje. Elas vinham de todas as partes - do country ao pop - misturando vários tipos de sons. Havia uma liberdade criativa super bem aceita pelo público daquele momento. 
Alguns nomes expressivos: Fiona Apple, Bjork, PJ Harvey, Sinead O'Connor, Tori Amos, Liz Phair, Jewel, Meredith Brooks, Anni Di Franco. 

PJ Havey, Bjork e Tori Amos: "Nós temos peitos. Nós temos 3 buracos. É o que temos em comum."
"Vocês não deveriam moldar suas vidas sobre o que vocês acham que nós (artistas) pensamos o que é legal, e no que nós estamos vestindo e no que nós estamos dizendo e tudo." Parte do discurso de Fiona Apple após receber prêmio no MTV Awards de 1997

Shirley Manson no Garbage, Gwen Stefani pelo No Doubt, Dolores O'Riordan no The Cranberries, Justine Frischmann na Elastica, Linda Perry com 4 Non Blondes e Veruca Salt seriam bastante reconhecidas por causa do lançamento de grandes hits musicais, sendo até trilha de filme. 

Curiosidade: o espírito riot iria tão longe que alcançaria até os homens. No clipe "Beautiful Girl" de 1992, o grupo INXS abordaria a questão do padrão de beleza feminino e as doenças causadas por ele. 


O rap e hip hop também conseguiu espaço. Artistas como Mary J Blige, Missy Elliott, Lauryn Hill, Lil Kim, Queen Latifah e mais nomes dariam voz as mulheres esquecidas de tais subculturas. 

Lil Kim, Lauryn Hill, Missy Elliott e Foxy Brown

Quase na virada da década, surgiria Peaches, Brody Dalle no The Distillers e Amanda Palmer no The Dresden Dolls. Ela voltaria depois com sua carreira solo num período que daria uma nova guinada a bandas punks atuais: The Gossip com Beth Ditto, Tacocat, Warpaint, Big Nils, Pussy Riot, Potty Mouth e outras. Vale destacar também Kate Nash no britpop contemporâneo. 

Um dos símbolos das Pussy Riots é o uso da máscara de esqui customizada no rosto. Provavelmente a inspiração viria de Kathleen Hanna no filme "No Alternative Girls" de Tamra Davis, de 1994.
Amanda Palmer em estilo "Lick my Legs" de PJ Harvey
"Eles dizem que mulheres não tocam guitarra tão bem quanto os homens... Eu não toco guitarra com a porra da minha vagina. Então, qual diferença faz? Brody Dalle
Em entrevista ao The Guardian, Kate Nash fala sobre seu projeto Girl Gang, um canal no youtube com intuito de ser ponto de encontro da nova geração de feministas. Foto: Lindsey Byrnes  
Beth Ditto, ícone queer, com camiseta da X Ray Spex. Mostrando que a influência vem de longe

Na América do Sul o sentimento não ficou por fora. Cássia Eller chegava ao topo com a reveladora "Malandragem", composta por Cazuza para Angela Rô Rô. A cantora reascendeu a força das mulheres como artistas no rock brasileiro. Era a perfeita representação da "Pagu" de Rita Lee nos palcos.

Cassia Eller no álbum Marginal de 1992

Para surpresa, Shakira também fez coro aos questionamentos noventistas. O famoso álbum "Pies Descalzos" simboliza a necessidade de expressar o inconformismo da cantora. Repare que o clipe da canção "Pies Descalzos, Sueños Blancos" parece uma mistura de "You Oughta Know" de Alanis Morissette com "Heart Shaped Box" do Nirvana. 


Estética
Um ponto bem interessante. Ao mesmo tempo em que existia a Heroin Chic, na música as meninas tiveram uma liberdade visual incrível, apresentando-se como queriam o que dava ênfase na verdadeira personalidade da artista. A moda grunge tinha força e influenciou de diversas formas: a desconstrução do que era feminino é provável que tenha sido a maior delas. As roupas eram iguais aos dos homens: t-shirt, calça ou bermudão com camisa de flanela amarrada na cintura, tênis ou coturno. Não havia preocupação com padrão de beleza, eram desencanadas de maquiagem, cabelos arrumados (quando tinham) e depilação. 

4 Non Blondes: a desconstrução de gênero da moda grunge também era feito nas mulheres
Dolores O'Riordan de cabelo curto platinado, moda na época. Dependendo da composição, sua estética ficava andrógena. 
Justine Frischmann quando namorou Damon Albarn, vocalista do Blur, confundindo os gêneros
Sinead O'Connor chegou ao topo de cabelo raspado, sem maquiagem e braços tonificados.

Por outro lado teve as que aproveitaram para se expressar com exagero, numa onda clubber, o que também é transgressor visto que na moda "menos é mais" para a mulher. Excesso de maquiagem, com bastante cor, glitter e batom vermelho, minissaias curtíssimas, vestidos e botas à la anos 60. Uma versão adiantada da lady drag.

PJ Harvey
Shirley Manson
Shirley e D'Arcy Wretzky
Gwen Stefani: "Quando eu finalmente fui capaz de passar um batom vermelho, eu fiquei superanimada."

Referência além da música
A ideologia percorreu a arte indo, claro, muito além da música. Os filmes com sua rapidez em documentar o espírito de uma geração, trouxe ao mercado longas com foco em assuntos que se aprofundavam nos conflitos internos causados pela nossa criação, falando sobre amizade entre garotas, transtornos mentais, religião, romance hétero ou lésbico, sexo...praticamente tudo. 

Exemplos: Virgens Suicidas, Jovens Bruxas (leia aqui), Adoráveis Mulheres, Now and Then, 10 coisas que odeio em você, Rebeldes, Garota Interrompida e entre outros.

"Uma por todas e todas por uma." Now and Then

Nas artes plásticas, Tracey Emin foi um nome que se consagrou. Controversa para alguns críticos, seus trabalhos não se intimidam diante de temas tabus ao corpo da mulher, o que a levou receber o título de enfant terrible. Em 2012, em exposição no Brasil, declarou ao Estadão a respeito do Feminismo: "Não é preciso mais ser como na década de 1970, mas com novo foco. Muitos acreditam que hoje já não é mais importante ser feminista ou uma artista feminista, mas é importante sim, porque muitas mulheres ao redor do mundo passam por situações horríveis, são enterradas vivas."

Isso é como uma feminista se parece. Tracey Emin
Obras da artista retratando o sexo feminino

Essa é uma pequena amostra do que significou a década de 1990 às mulheres daquela geração. Fase onde muitas puderam usufruir certa liberdade de expressão e terem o direito de quebrarem padrões de comportamento num mercado opressor perante a imagem das artistas, o que refletiu na vida de muitas meninas fora desse meio. Que a gente consiga alcançar esse espírito de novo vinte e cinco anos depois.

Aquela nostalgia! <3


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