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10 de julho de 2018

A história de Tura Satana: de artista burlesca a ícone do cinema cult!

Tura Satana já era bad girl antes mesmo do termo existir. Isso numa época onde ter esse tipo de imagem era algo extremamente negativo, uma ofensa. Mas assumiu o papel de mulher que dominava sua própria vida, não se comportando com a delicadeza e fragilidade que o período pedia, pelo contrário, exacerbava seu instinto agressivo, na maioria das vezes exibindo pela força física. E haja força, pois passou por muitos altos e baixos!


Tura Yamaguchi nasceu em 10 de Julho de 1938, em Hokkaido, no Japão. Descendia de filipinos pelo lado paterno e uma mistura de indígenas e escocês pela mãe. Aos quatro anos sua família muda-se para os Estados Unidos onde depois se estabelece em Chicago. Criada num bairro pobre, seria uma fase superdifícil onde o sentimento anti-asiático predominava, o que a levou a sofrer muito bullying na escola. Quando estava próxima de completar 10 anos, sofreu um estupro coletivo de uma gangue de adolescentes. Seria depois desse episódio que seu pai a ensinaria artes marciais, como aikido e karatê.


Com apenas 13 anos, seus pais a casariam com John Satana, um amigo da família, só que duraria pouco tempo. Precoce e com o corpo já desenvolvido, Tura faria uma identidade falsa e começaria a trabalhar posando em trajes de banho como modelo e chegando a aparecer nua em um filme. Mas foi na carreira como dançarina exótica que inicia-se o destaque, conhecida pelo nome de 'Galatea, a Estátua que Ganhou Vida', virou stripper e viajava pelos Estados Unidos fazendo seu show burlesco de clube em clube. Tornou-se uma superestrela da arte, chegou a ser eleita uma das 10 melhores dançarinas burlescas do século 20. 


Através da dança que Tura recebe diversos convites para estrelar programas de TV e filme. Participou de uma série chamada 'Hawaiian Eye', em shows como 'The Man From UNCLE' e também nos filmes 'Irma La Douce' e 'Who's Been Sleeping in My Bed?', ambos de 1963. Suas apresentações burlescas integravam acrobacias, arte marcial e bastante humor. Numa entrevista, revela como as pessoas iam a loucura quando ela girava os tassels um para cada lado e um de cada vez. Esses movimentos são muito comuns em shows burlescos atuais, mas na sua época foi uma atitude precursora! Em uma das sessões no clube Pink Pussycat, acaba conhecendo Russ Meyer, o diretor de "Faster, Pussycat! Kill, Kill!", longa que a imortalizaria no cinema. 



Lançado em 1965, o filme inicia-se com Tura, sua amiga Haji (Rosie) e Lori Williams (Billie) dançando enlouquecidamente. Logo surge Varla, sua personagem, uma femme fatale sexualmente agressiva, que provocava e encarava a todos com sua habilidade em artes marciais. O figurino era polêmico: blusa e calça justíssimas, um enorme decote V, cintura alta marcada ainda mais com cinto e bota cano longo. Da cabeça aos pés o visual era todo preto. Além da famosa franja Pin-Up e o delineado preto. Tura contou que sofreu pois as gravações eram no deserto e estava superquente. Como era de se esperar, o filme não foi bem recebido. "Você tem que lembrar que isso foi durante o período do amor no mundo, a violência de Varla não era aceita", diz Tura. As críticas foram tão ruins, que as atrizes seriam aconselhadas a retirar o trabalho dos seus currículos. 



"Querida, nós não gostamos de tanta ternura, tudo o que a gente faz é pesado." - Rosie.

No final da década de 1970 e início de 80, Tura descobre a existência de um fanclube mundial de Varla. Nesse momento, tanto a personagem quanto o longa passam a serem considerados cults e com fãs espalhados pelo mundo. Tura vira uma estrela de filmes lado B. Depois de Pussycat apareceria em mais dois, The Astro-Zombies (1968) e The Doll Squad (1973), sendo o último referência para Charlie's Angels. Após a filmagem, é hospitalizada depois que toma um tiro de um ex-namorado. 

No filme Irma La Dolce

Desiste da carreira no cinema e de dançarina burlesca, passando a trabalhar como enfermeira durante quatro anos num hospital. Depois trabalhou no Departamento de Polícia de Los Angeles como operadora de rádio. Em 1981, casou-se com o ex-policial Endel Jurman da qual viveria até seu falecimento. No mesmo ano, sofre um grave acidente de carro que a deixaria com problemas na coluna e nos próximos dois anos fazendo quase quinze cirurgias. 

Apesar de afastada dos cinemas, Tura mantém seu reconhecimento no underground, então vira empresária registrando sua própria imagem e assim vendendo produtos de merchandising, como camisetas, virando desenho em quadrinhos, máscaras de Halloween. Era frequentemente convidada para participar de convenções de filmes lado B e para jurada de eventos burlescos. No dia 04 de Fevereiro de 2011, falece aos 72 anos deixando duas filhas, Kalani e Jade, e seu legado nas subculturas com seu icônico estilo e supercopiado entre as Pin-Ups e demais admiradoras!

Curiosidades

- Tura usou até o fim o famoso look preto, junto com o delineado gatinho que acentuava seu olho asiático e o longo cabelo preto com franja Pin-Up. As longas unhas ovais pintadas de vermelho também eram uma marca.


- Tura chegou a ser noiva de Elvis Presley! Morando em Los Angeles, conheceu o astro com apenas 16 anos numa noite descontraída na praia, onde ficaram conversando até o sol raiar. Tura conta que só voltaram a se ver depois de meses e os encontros eram secretos por causa do Colonel Tom. Elvis era muito tímido e o teria ensinado a dar beijo francês e até certas práticas sexuais. Mesmo não tendo se casado, ela ficou com o anel de noivado.

- Nos anos 90, havia uma banda de metal chamada Tura Satana, mas que depois trocou o nome por questões legais. Na década de 80, outra banda que se influenciou pelo filme de Russ Meyer foi o grupo de hard rock Faster Pussycat. 

- Referência ou não, o estilo de Tura é visto na cena hard rock e metal dos anos 80. Amy Winehouse também teria um quê de semelhança quando a atriz usou o famoso beehive com olhos delineados de gatinho.


- Madonna também se inspirou na personagem Varla para o clipe 'Girl Gone Wild' de 2012. Dita von Teese, que é superfã de Tura, ficou feliz com a homenagem da cantora.



- Antes de falecer, Tura tinha o sonho de lançar sua biografia e documentário. Como não deu tempo, seu amigo e diretor Cody Jarret mobilizou uma campanha de financiamento e conseguiu angariar o valor em 2017, para que o trabalho seja enfim realizado! Essa é mais uma prova de que a cena alternativa consegue se mobilizar para manter o legado de pessoas importantes e não deixar sua cultura desaparecer. 


Espero que tenham gostado de conhecer a história de Tura!




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31 de dezembro de 2017

A História de Bettie Page: A Rainha das Pin-ups

Ícone para várias subculturas, a modelo Bettie Page teve uma carreira curta, de apenas sete anos. Neste período se tornou a mais importante modelo pin-up da década de 1950 posando em fotos sensuais e de fetiche. Até hoje é difícil separar quem ela era da personagem que interpretava nas fotos. Sua vida pessoal foi cheia de tragédias, chegando a ser presa por esfaquear uma mulher. Fique agora com nosso artigo - e também uma homenagem - a uma das  pioneiras da revolução sexual feminina.

Em sete anos de carreira o visual de Bettie Page nunca mudou, 
isso deixou sua imagem atemporal.
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Bettie Mae Page nasceu em 22 de abril de 1923 em Nashville, Tennessee (EUA) em uma família de baixa renda que se alimentava somente de feijão, macarrão e batatas fritas. O pai abusava sexualmente das irmãs de Bettie, ela, se negando a ceder, o deixava acariciar suas pernas em troca de 10 cents. A mãe, analfabeta, fugiu com os filhos mandando as garotas para um orfanato. Lá, Bettie e sua irmã eram maltratadas, passavam o tempo sonhando com Hollywood e imitando as poses das atrizes. Logo Bettie se casaria com o namorado Billy Neale e em 1944 começa a fazer testes para o cinema. O casamento duraria pouco, após retornar da segunda guerra, com ciúme, Neale a ameaça com uma faca; ela decide se divorciar.


A jovem Bettie Page.
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Bettie era apaixonada por dança e ia aos bailes sozinha, este hábito permanece até mesmo quando se muda para Nova Iorque em 1947, onde passa a trabalhar como secretária e conhece o homem que ela chama de "amor de sua vida",  o peruano Carlos Garcia Arrese, exímio dançarino que a ensinou mambo, tcha tcha tcha e até samba! O romance acaba quando Page descobre que ele já era casado. A partir daí ela decide correr atrás de ser modelo, mas não era magra o suficiente para a agência Ford Models. Ao passear por Coney Island em outubro de 1950, é abordada pelo policial e fotógrafo amador Jerry Tibbs que a convida para modelar como pin-up. É ele quem sugere que ela corte uma franja pois sua testa seria "muito grande". E assim, aos 27 anos começa a carreira de modelo de Bettie. Para conseguir trabalho, ela alterava sua idade para 22 anos.


Num de seus primeiros trabalhos como modelo.
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A franja curta historicamente sempre existiu, sendo inclusive moda na década de 1950 para adolescentes. Foi com Bettie que o penteado ganhou um status mais significativo culturalmente por ser uma franja "cheia" e curvada em direção à testa.
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Na década de 1950, existiam os Clubes de Fotografia, onde fotógrafos amadores e profissionais poderiam treinar técnicas em modelos que se ofereciam gratuitamente ou por um valor irrisório para posar. No Clube que Bettie posava, haviam 40 fotógrafos, além de outras quatro modelos.


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Mas Bettie se destaca pelo carisma e possuía pose, traje e expressão, fatores que definem ser uma pin-up. O que a tornou um destaque entre todas as outras modelos era a combinação de safadeza e boa moça. Bettie sempre sorri em todas as fotos e vídeos enquanto seu corpo sensualiza ou rebola incansavelmente.


Bettie sempre estava sorrindo, ela se tornou a rainha das Pin-ups.
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Embora no Brasil cabelos escuros sejam um padrão de beleza admirado pela cultura de massa, na América da década de 1950 era algo exótico.
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Inteligente, não fumava nem bebia e fazia suas próprias roupas de fotografia. Todas as lingeries e biquínis era ela mesma quem desenhava, adorava costurar! É por isso que vemos somente Bettie usando determinadas peças e não vemos outras mulheres da época, já que seus figurinos dizem respeito a si mesma e não à moda do período.

Bettie vestindo biquinis feitos por ela:
uma das primeiras mulheres a usar a peça.
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À direita Bettie num maiô, traje de praia padrão habitual para as mulheres da década de 1950; à direita, numa de suas lingeries. 

Sendo uma das poucas a usar biquíni, a marca Charmands a chama para tirar fotos com seus biquínis, mas a empresa copiou todas as suas peças e as vendeu em um catálogo. Page nunca recebeu um centavo pelo roubo de suas criações.

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Sua fama como pin-up a fez modelar para as principais revistas sensuais e de fetiche da época: Beauty Parade, Wink, Titter, Flirt e até fotonovelas de Robert Harrisson. Fez fotos com outras pin-ups e dançarinas burlescas da época, como Tempest Storm.

Bettie com Tempest Storm no filme Teaserama

No entanto, era década de 1950, e a moralidade imperava. A sociedade da época vivia um medo da pornografia e da delinquência. Sexo era tabu, nudez era algo obsceno.Todas as revistas de nudez e fetichismo circulavam em segredo. Bettie percebeu a oportunidade de ganhar mais dinheiro quando passou a posar nua por até 20 minutos em sessões de fotos. Numa das vezes chegou a ser denunciada, indo parar na delegacia acusada de obscenidade e desordem. 


As medidas corporais de Bettie eram: 91 cm de busto, 60 de cintura e 94 de quadril. Ia a academia 3x por semana.
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Em janeiro de 1955 esteve nas páginas da revista Playboy em uma de suas mais conhecidas fotos: ao lado de uma árvore de natal. O acontecimento levou Bettie aos olhos de um público maior e Hugh Hefner a intitulou a "The Miss Pin-Up Girl of the World". 
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Foi através do editor Robert Harrisson que ela conheceu o fotógrafo Irving Klaw e se tornaria sua modelo mais famosa. Klaw tirou pelo menos 1500 fotos de Page e as vendia para soldados. Criava também filmes 16 mm sob temática fetichista onde Bettie ganhava cerca de $150 por filme. A irmã de Klaw, Paula, se torna amiga e admiradora de Bettie e dá à modelo um par de calçados altíssimos para ser usado exclusivamente por ela nas sessões de fotos. Através da dupla, Bettie se torna a rainha do Bondage, suas fotos e vídeos eram enviadas pelo correio aos interessados.


Com Irving e Paula Klaw.

Segundo Bettie, todas as fotos bondage que fez eram atuação, seguia as instruções de Irving e Paula para interpretar uma personagem. Nas fotos abaixo ela usa o sapato de saltos altíssimos que Paula dava à ela nas sessões fotográficas. As fotos S&M eram as mais vendidas de Klaw.
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Em 1955, o FBI bate à porta e Klaw vai a julgamento por pornografia onde é sentenciado a destruir todas as suas fotografias, mas sua irmã esconde os negativos com as fotos de Bettie, ela já sabia que aquelas fotos seriam históricas. Assim salvou-se as fotos de não serem destruídas, no entanto, o acontecimento destrói a carreira de Klaw que opta por não mais trabalhar no segmento.

Uma pin-up foi muito importante na carreira de Bettie, a também fotógrafa Bunny Yeager, que fez fotos de Page em 1954 quando a modelo estava com 32 anos (e dizia ter 24). É dela boa parte dos ensaios externos mais famosos da carreira da modelo: em praias, parques e com animais. Yeager foi autora da foto com temática natalina que foi parar na Playboy de janeiro de 1955.

Com Bunny as fotos de fetichismo visando o público masculino ficam em segundo plano. Yeager faz as fotos de Bettie ganharem um ar mais sofisticado, exótico e numa variedade de temas.

Bettie Page com Bunny Yeager na famosa sessão de fotos.

A variedade e o exotismo entram em cena.

Yeager faz fotos sofisticadas de Bettie.


O começo do fim
Sem Irving Klaw, Bettie continua a trabalhar com os clubes de fotografia. Numa ocasião é embebedada e durante uma sessão de fotos nuas, é fotografada de pernas abertas. As fotos são vendidas. Arrasada, Bettie decide sair de Nova Iorque. Aos 34 anos passa a se achar velha para ser modelo. Desaparece e deixa tudo para trás.

O desaparecimento
Bettie optou por se esconder, não queria ser encontrada. A modelo sempre foi religiosa, mas não via a nudez como pecado. Em 1958 chora em frente à uma igreja acreditando que Deus a estava castigando, se compromete com a religião recebendo Jesus como seu salvador. Joga fora todas as suas meias, lingeries, biquínis e vai para a Faculdade Bíblica com o intuito de se tornar missionária. Em 1966 viaja para Miami e conhece Harry Lear, com quem viria se casar em 1967, é nesta época que o fanatismo religioso toma seu auge, já que passa a alegar ouvir vozes o tempo todo. Enlouquece ameaçando Lear e os filhos dele com uma faca caso parassem de olhar a imagem de Jesus pendurada na parede. Lear consegue escapar, chama a polícia e Bettie é internada na ala psiquiátrica do hospital Jackson Memorial onde fez tratamento de choque. Ao sair da instituição em 1978, num surto psicótico dá de 20 a 30 facadas na proprietária do apartamento que alugava. Alega insanidade, recebe pena de 10 anos na cadeia Estadual além de ter que ir três vezes por semana ao psiquiatra sob o diagnóstico de esquizofrênica paranoide.

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Foto do fichamento de Bettie Page em 1972.

Após esse período, Page retorna à Los Angeles e passa a viver na pobreza com ajuda do seguro social do governo, pois nunca recebeu dinheiro pelos direitos de suas fotos.

Enquanto o mundo vivia a revolução sexual da década de 1960 com Hippies, minissaia, moda unissex, pílula anticoncepcional, Bettie Page, pioneira da liberdade sexual feminina estava escondida. É aí que começam os primeiros indícios que ela se tornaria um ícone cult. Como ninguém sabia de seu paradeiro, começou-se a espalhar a ideia de que a ex-modelo havia se suicidado.

Na década de 1970, a década da nudez, a pornografia deixa de ser crime, as leis são revisitadas, a década de 1950 passa a ser romantizada, filmes como "Grease" são lançados, surge uma nova onda Rockabilly e a geração jovem da época redescobre Bettie. A imagem de Page começa a surgir em diversos produtos de consumo.

Bettie era chamada de Dark Angel pelos fãs que julgavam ela ter se suicidado.
Na década de 1960 se tornou símbolo da liberdade sexual feminina.


Na década de 1980, a imagem de Page domina a cultura pop, ela influencia fortemente as garotas de diversas subculturas que redescobrem suas fotos e passam a imitar seu visual. Aumenta a presença de sua imagem em souvenirs e objetos de consumo.  


Olivia de Berardinis pinta quadros de Bettie para meninas que admiravam a modelo.


Após 30 anos sem ter sua imagem impressa, Dave Stevens publica a The Rocketeer Magazine. 

Nos anos 1980 e 90 a imagem de Bettie Page abre caminho para fotógrafos e estilistas de Moda influenciando nomes como Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler e artistas como Madonna, inspirada por Page no clipe da música "Human Nature".

Tudo começa a mudar em 1992 quando Steve Brewster cria um fã clube dela, o Bettie Scouts Club e decide por si mesmo encontrar Bettie viva ou morta. Passa a viajar pela América procurando-a e coloca anúncios em diversas publicações até descobrir o seu irmão, que faz a intermediação de uma carta que Brewster escreve para ela em abril de 1992. A resposta vem em dezembro do mesmo ano. Bettie estava viva!


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Finalmente encontrada, estava lisonjeada por ter um fã clube, mas prefere se manter fora dos holofotes. Dave Stevens é quem passa a ajudá-la neste momento, quando leva-a a uma loja onde haviam diversos produtos sobre ela. Espantada, se impressiona pelas pessoas admirarem seus trabalhos tanto tempo depois. Stevens a coloca em contato com Hugh Refner que faz uma festa privada em sua homenagem na mansão Playboy, o que rendeu uma das raras fotos da ex-modelo já idosa.


Bettie Page, à direita, em festa em sua homenagem na mansão Playboy.

Com Anna Nicole Smith e Pamela Anderson na festa de 50 anos da Playboy em 2003.

Hugh Hefner, que fez seus milhões em cima da objetificação do corpo feminino*, oferece a ela um agente para cuidar dos direitos autorais**, para que a partir de então Page receba dinheiro do uso de sua imagem. A partir daí, cada produto com a imagem de Page precisa ser autorizado por ela mesma. Em 1996, é lançada sua única biografia autorizada. Finalmente a ex-modelo passa a ganhar dinheiro devidamente.

Desde que foi encontrada Bettie se negou a ser fotografada e filmada, ela morava na periferia de Los Angeles. Nas palavras dela: "preferia estar escondida."
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Bettie falece em 11 de dezembro de 2008 aos 85 anos após um ataque cardíaco que havia a deixado em coma. Um fato curioso é ela ter falecido no mesmo ano em que Maila Nurmi e no mesmo dia do aniversário da intérprete de Vampira. Fica aquela questão: elas foram contemporâneas, será que conheceram o trabalho uma da outra? A curiosa ligação de vida e morte não é só o que as une já que ambas tiveram um vida difícil e foram resgatadas por subculturas.


Na cultura pop: Madonna, Beyonce, Christina Aguilera e Katy Perry foram algumas das que se inspiraram no visual da pin-up.


Dita von Teese revelou: Eu a admiro e a estudei muito de perto. Quando comecei em 1990 queria ser sósia de Bettie Page. Queria ser uma fetish star famosa como ela. Não era o cabelo preto e a franja que a faziam memorável, pra mim era o senso de humor brincalhão, era o jeito aventureiro.



Bernie Dexter é uma pioneira modelo pin-up da contemporaneidade. Se tornou conhecida na década de 2000 por sua semelhança com Page.
À direita, caminha ao lado de Tempest Storm no funeral de Bettie.




Bettie é amada e serve de inspiração para muitas de nós brasileiras, especialmente no estilo de cabelo e também por ser a primeira referência visual para ensaios fetichistas.  

Rosana (Bettie From Hell) tem fisionomia que lembra a Bettie Page, Sarah Amethyst e Larissa (Murder Queen) em ensaios fetichistas.


Desde os anos 1990 até hoje, Bettie Page cresceu sua influência na cultura pop, com inúmeros exemplos de artistas e modelos se inspirando em sua imagem. Sem contar sua importância em diversas subculturas como a gótica, punk, rockabilly e pin-up. Sua figura ganhou novo fôlego na última década com a popularização da internet. Mas a relação de Bettie e as subculturas é um assunto tão vasto que prefiro abordar em detalhes num futuro post. A imagem de mulher livre em plena década de 1950, revolucionária a seu modo, se tornou e permanece icônica para várias gerações.


"Quero que as pessoas se lembrem de mim como eu era nas fotos".
Com certeza é assim que Bettie Page repousa em nossa memória. 


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Texto escrito por Sana Skull, proibida a utilização de trechos sem autorização prévia da autora, cite o link em caso de referência.

*Há controvérsias se Hugh Hefner a ajudou ou a explorou.
** Direitos de Imagem

Fonte: entrevistas documentadas em primeira pessoa com Bettie Page. 
Autoria: Idealização, texto e seleção de imagens de Sana Skull.


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27 de dezembro de 2016

A história do Bullet Bra: das Sweater Girls à Madonna [Parte 1]

O cone bra (sutiã em cone) e o bullet bra (sutiã em bala) tem sido usados por adeptas de subculturas como a rockabilly, burlesco e entusiastas das décadas de 1940 e 1950. Mas a pessoa que reviveu e tornou a peça famosa mundialmente para toda uma nova geração foi Madonna, que usou um modelito criado por Jean Paul Gaultier no figurino que se tornou icônico em sua turnê Blond Ambition de 1990.

bullet bra

Na virada do século XX,  o espartilho deixou de ser usado e foi necessário a criação de novas peças para suporte do busto feminino. O sutiã como conhecemos hoje aparece por volta de 1906, embora em 1889, Herminie Caddole já havia criado seu “corpete para seios” com alças nos ombros. Vários motivos incentivaram a "queda" do espartilho e o surgimento do sutiã, um deles foi um novo estilo de vida feminino: a mulher ativa, que precisava de roupas que facilitassem seus movimentos na medida em que iam se inserindo no mercado de trabalho.

Em meados da década de 1930 surgem os sutiãs com bojo e em 1939 aparece o modelo em formato de cone que dominaria a underwear da década de 1940. Devido ao início da II Guerra Mundial, o governo americano introduziu o Utility Clothing Scheme [aqui], que racionava tecidos e obrigava que as roupas, incluindo as de baixo, fossem construídas para durar.

Modelos de Cone Bra (Sutiã de cone)
1940s 1950s decade

"Pasties" de cone e como nem toda mulher era dotada de seios fartos, os enchimentos surgiam como opção para cobrir o espaço vazio e ajudava a empinar ainda mais os seios. 

Em 1941 a marca Hickory lança seu modelo Perma-lift, um sutiã cone em forma de bala (bullet). Enquanto o formato de cone imperou na década de 1940, na década de 1950 o bullet bra viveu seu auge, promovendo seios separados, erguidos e pontudos. 

bullet bra


Bullet Bra
O bullet bra é um sutiã em formato de cone que cobre todo o busto. Era tradicionalmente feito de nylon ou cetim, sendo também chamado de "torpedo". A peça não tem arame mas é estruturado devido à costura e tamanho acurado, que se adaptava ao corpo separando e levantando os seios. O modelo típico tem costuras em círculos concêntricos ou espirais terminando na ponta do bojo, sendo suas possíveis referências e influência as balas e torpedos usados na II Guerra Mundial: cada seio era como um "projétil".

Com bojos generosos que podiam ser preenchidos com enchimentos inseridos dentro, o bullet bra da década de 1950 era mais extremo que os cone bras (sutiãs cônicos) da década de 1940. 
 
1950s bullet bra

Uma das mais conhecidas fabricantes do modelo foi a Maidenform, que desenhou seu modelo Chansonnette em 1949, com a assinatura da costura circular. Foi um modelo popular por mais de 30 anos. A campanha "I dreamed" dominou a década e ajudou a disseminar a marca. Mostrava mulheres em diversas situações e com atitude confiante usando apenas o sutiã na parte de cima do corpo.

bullet bra


As atrizes Lizabeth Scott, Martha Hayer, Jayne Mansfied,
Mamie von Doren ajudavam a disseminar a moda.
Lizabeth Scott, Martha Hayer, Jane Mansfied, Mamie von Doren.


As "Sweater Girls"
O termo Sweater Girl foi usado nas décadas de 1940 e 1950 para descrever atrizes como Lana Turner, Jayne Mansfield, Mamie von Doren, Agnes Moorehead, Marilyn Monroe e Jane Russell que usavam o bullet bra com suéteres justos. Os suéteres eram propositalmente juntos ao corpo para exibir a nova tecnologia dos sutiãs que separavam e empinavam o busto. A aparição de Lana Turner no filme They Won't Forget (1937) é considerado o primeiro caso de uma "sweater girl", um termo criado por publicitários de Hollywood para descrever o impacto da vestimenta.

Lana Turner no filme They Won't Forget (1937)

A exibição das curvas e o formato em ponta de bala dos seios, quando usados pelas jovens, chocavam a moral da época. O efeito era ainda maior se fossem usados com saias justas pelas mulheres adultas e com jeans, pelas mais novas.
The Wild One Britches
A personagem Britches interpretada por Yvonne Doughty no filme "The Wild One" (O Selvagem) de 1953,
também era uma Sweater Girl (foto embaixo, na ponta direita).

Na década de 1960, a peça entra em declínio devido a ascensão do desejo feminino por um look mais natural. Já no fim do século passado, em 1999, a marca de lingerie alternativa What Katie Did lança seu próprio bullet bra para um pequeno nicho de fãs de moda retrô. Atualmente, a peça já é mainstream como podemos observar em diversas artistas e editoriais de moda.

Cone Bra e Bullet Bra da marca What Katie Did.
Bettie Page e Dita Von Teese usando a peça.
Modelos alternativas posando com bullet bra

Sutiã meia taça estilizado com bojo bullet da marca Trashy Lingerie


O Bullet Bra de Madonna
O interesse no bullet bra foi retomado no fim do século passado após Madonna usar uma peça criada por Jean Paul Gaultier como figurino de sua turnê Blond Ambition de 1990. A versão do francês foi inspirada nos modelos da marca Perma-Lift da década de 1940. O estilista revelou que a primeira tentativa de confecção foi feita na infância em sua ursinha Nana, conforme pode ser visto [aqui] em entrevista a Lilian Pacce. Porém antes da famosa parceria, a pop star havia utilizado uma criação da marca Trashy Lingerie no clipe "Open Your Heart" e seguiria com a mesma na turnê "Who's That Girl" de 1987. A encomenda teria sido feita pela figurinista Marlene Stewart que trabalhava com ela na época. Talvez a diferença de reconhecimento do modelo de Gaultier para o da Trashy tenha sido o impacto causado pelas coreografias polêmicas do Blond Ambition, fazendo com que Madonna elevasse o efeito erótico e provocativo da peça. Até hoje, diversas pessoas chamam o bullet bra de "sutiã da Madonna". 


No clipe, a cantora usa um modelo preto com detalhes em dourado. O bico de lantejoulas cria o efeito de um tassel pastie, acessório muito utilizado no burlesco.

Na década de 1990, com a versão de JPG, o mais famoso:

Mais recente, com outro estilizado por Gaultier:

E vocês, gostam do cone e do bullet bra? Usariam?
Aproveito e convido vocês pra continuarem acompanhando, pois a seguir vem a Parte 2 deste artigo! Até lá! 


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