Destaques

29 de abril de 2014

O trabalho visionário de Nicola Formichetti e sua parceria com a Diesel

A parceria entre Nicola Formichetti com a Diesel vem nos chamando a atenção ultimamente. Desde que virou diretor criativo da empresa, nota-se que alguns assuntos podem ser relevantes ao cenário alternativo e que ainda não foram enfatizados como deveriam, ou simplesmente analisados com mais detalhe.
Sobre Formichetti, seu currículo é bem chamativo. Está nesse circuito há mais de uma década, com passagens pela revista Dazed and Confuzed e em grifes como Thierry Mugler. Possui multifaces na moda, mas seu grande reconhecimento é como stylist. Foi ele quem alavancou a carreira de Lady Gaga cuidando de seu visual por três anos a partir do clipe Bad Romance. E de sua ex-assistente, a stylist Anna Trevelyan (ela comandou a última campanha da Melissa e hoje é um dos nomes mais influentes na área).

Formichetti é nipo-italiano, morou em Londres e diz "Não se pode julgar uma pessoa pela forma que está vestida, nem por aquilo que faz, porque talvez não tenha dinheiro para expressar-se como gostaria." 


Formichetti foi o responsável por criar o visual de Gaga...

... e deu um empurrão na carreira de Anna Trevelyan para os holofotes da moda.


Quando trabalhou na revista Dazed and Confused, Nicola, que nasceu no Japão, criou editoriais como este, com a participação de Kyary Pamyu Pamyu entre outras cantoras japonesas e chinesas.
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Em entrevista à Elle Americana, ao ser perguntado se gostaria de fazer roupas relevantes, deu a seguinte opinião: “Eu estou na moda há dez anos e acho que o sistema é um pouco antiquado. Eu quero fazer coisas novas. Há tantas coisas que eu tenho visto por um longo tempo, quero dar espaço aos jovens, quero criar coisas que são excitantes, quase como Rick Owen fez (coleção Verão/13)”.

Nicola gosta de abrir portas para pessoas que por algum motivo a indústria continua a ignorar. Chegou a declarar à Vice que não trabalha por dinheiro e sim por amor e criatividade. É provável que por esse motivo, nas suas atuações como stylist ou diretor criativo, não é dado só espaço a corpos mainstream. Encontram-se curvas de todos os tipos, acompanhados de tattoos, cabelos coloridos e sem distinção de raça, gênero ou deficiências.


Em suas campanhas para a Diesel, Formichetti dá espaço à pessoas que não tem o rosto ou o corpo padrão. 
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Uma das pessoas que Nicola abriu as portas foi Rick Genest, o Zombie Boy. Descoberto em 2010 quando Nicola era diretor criativo da Mugler, Rick virou sensação, estrelou a campanha da marca e logo participou de vários desfiles e de claro, um clip com a cria estética de Formichetti: Lady Gaga.


Só que essa não é uma visão nova. Em toda linha histórica da moda, sempre existiu alguém que foi visionário, que não se importava em romper padrões. Em 1947, Diana Vreeland – considerada a maior editora de moda - ao ver expressões de choque por colocar uma modelo de biquíni no editorial da Harper’s Bazaar, diria tal frase: “É esse tipo de pensamento que faz a sociedade voltar mil anos!”.
Nas passarelas o espírito perpetuaria em estilistas como YSL, Westwood, Gaultier, McQueen e outros mais. O que impressiona é que, mesmo depois de tantos exemplos importantes, uma parte da indústria parou em certas questões sociais, chegando ao ponto de retroceder e necessitar de gente como Nicola para repetir, ou relembrar, o discurso de Vreeland. Colocar alguém que não carrega os estereótipos fashion ainda pode ser considerado uma ousadia.

Há barreiras a se quebrar, e Nicola sabe muito bem disso, pois sente na pele. Quando indagado pela Elle sobre encontrar uma garota incrível e que vai ser um futuro sucesso, porém ver que as grifes ainda não querem emprestar roupas (atitude comum no Brasil) responde: “É meio frustrante. Mas de certa forma, eu sou atraído por isso. Sinto-me atraído por alguém que é um pouco estranho. Fico animado por estar com eles e fazer algo junto, é quase como dizer: "f *da-se" à indústria. Eu não me importo. Mais ou menos como: Se você não nos quer dar roupas, eu não me importo, temos McQueen de qualquer maneira”.

É comum novos artistas que carregam em sua essência o alternativo, sofrerem preconceito da indústria pelo o tipo de imagem que propagam. Incompreendidos e sem oportunidade, muitos acabam não saindo do underground. Alguns não se importam, mas outros carregam a decepção por não terem tido a chance de conquistarem um espaço maior e serem mais reconhecidos pela sua arte.
Sabendo o quanto as referências de moda podem interferir no comportamento do ser humano, é importante que o consumidor questione a indústria. Afinal, se somos diferentes, por que não transmitir isso? E é nesse ponto que o mercado alternativo aparece.

Na abertura de sua exposição em Londres, Gaultier fala a em entrevista a Globo que “a Inglaterra e o Japão são os países com maior individualidade. Existe um culto a diferença”. Não à toa, na mesma entrevista à Elle citada acima, Nicola conta que é obcecado pelo Japão e que o próprio fundador e presidente da Diesel, Renzo Rosso, vive por lá.

A maioria das grandes tendências atuais sai desses países e são copiadas ao redor do mundo, exatamente pelo fato da busca ao “diferente” e que, de certo modo, terminará no encontro do “novo”. Interessante é que esses países também concentram enorme força no mercado alternativo, por justamente não terem problema em aceitar o incomum.

O incomum na campanha Diesel Tribute/Leather
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Fechando esse ciclo, vamos mostrar algumas imagens do último desfile da Diesel + Formichetti, que aconteceu no início de Abril em Veneza, Itália. Reparem na quantidade de elementos punks, bondage e grunge na coleção. E também na sua nova queridinha, a rapper Brooke Candy, uma das garotas-propagandas da marca. 

Desfile, clique para aumentar.




Campanha Diesel Accessories com Brooke Candy.

Ao contrário de outros estilistas que "usam" as subculturas, Formichetti tem um genuíno interesse e respeito, e de forma nenhuma suas campanhas tratam os alternativos como seres repulsivos; ao contrário, ele aprecia explorar o lado mais original de cada um deles.

Leia também, posts do blog relacionados ao tema Formichetti, Mugler, Zombie Boy:
- Mugler e Zombie Boy
- Zombie Boy, Hard to be Passive
- Moda Conceitual, Artistas, Thierry Mugler
- Em busca da diferença



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25 de abril de 2014

Recado aos Leitores do MdS: Atualizações!

Leitores que chegam ao blog via Facebook, um recado: desde fevereiro o face só está enviando atualização de páginas para somente de 2 a 6% dos fãs!! 
A forma mais garantida de receber nossas atualizações é clicar em "receber notificações". Temos consciência de que esse tipo de ação fica floodando as notificações de vocês, mas é um "mal" necessário.
Outra forma de receber as atualizações de nossa página no face é SEMPRE curtir ou compartilhar algum post de seu interesse. Assim, a rede social entende que você gosta da gente. Mas precisa ser um ato frequente, senão o face põe novamente a fanpage no esquecimento.



Se você tem um email @gmail, você automáticamente tem uma conta blogger. Se desejar, basta entrar em http://www.blogger.com e colar o link do MdS onde diz "Lista de Leitura" - "Adicionar". Sendo possível também clicar em "participar deste site" no gadget à esquerda desta página. Essas são formas SUPER garantidas de você receber todas as nossas atualizações!

Como gmail, blogger e google são a mesma empresa, estamos criando uma conta do blog na rede social G+, acreditamos que dessa forma será mais garantido ainda os fãs do blog terem acesso às atualizações. Assim que estiver tudo certo, divulgaremos!

Outra opção é ter conta em um site leitor de feed (alternativas ao estilo do finado google reader) e adicionar o link do blog lá.

Como o blog não tem uma frequência fixa de postagens pois muitos de nossos posts exigem algum tempo de pesquisa, outra forma é vocês "favoritarem" nosso link ou colocarem como link de fácil acesso no navegador de vocês.

Já nos foi questionado mas no momento não temos interesse em oferecer atualizações por email. Como muitas de nossas pesquisas são autorais e exigem uma autorização prévia de cópia, por email, ficamos sem esse controle. 

Uma forma muito garantida é sempre vir aqui nos visitar, comentar e demonstrar interesse divulgando os posts que vocês gostam! 

Estamos com postagens muito legais em vista, e vocês não podem perder! =)

Att,
Sana e Lauren

23 de abril de 2014

Dica de Loja: Futurstate e a moda gótica industrial

Hoje vou dar a dica de uma loja que fica em Toronto, no Canadá, a FUTURSTATE. É uma marca que conheço há tempos e ainda não havia escrito exclusivamente sobre, mas já havia falado dela aqui no blog em 2010 no post sobre a FAT.


A FUTURSTATE se baseia na estética gótica industrial. As modelagens tem toque futurista e militar, assim como uma silhueta inspirada na moda da década de 1940. A coleção que ilustro abaixo é a feminina mais recente, de silhueta ajustada e muito "limpa" com um toque de Dieselpunk.

O que eu gosto nessa loja, além de as roupas serem todas pretas e intercambiáveis (todas combinam com todas) é a simplicidade estilosa, já que à primeira vista parecem peças básicas mas quando se olha mais de perto, há todo um trabalho de recortes e modelagens formando os detalhes que são o diferencial. Não tem aquela coisa de roupa super elaborada, pra "balada" que o pessoal cisma em achar que moda alternativa TEM que ser somente assim... não tem! Taí a prova que dá pra ter peças limpas e ainda assim, alternativas. A moda alternativa pode e deve ter uma variedade estética pra todos os momentos da vida. Reparem que todas as peças podem ser usadas no nosso clima aqui do Brasil (isso porque o Canadá tem um inverno super frio).




Conta o que você achou do estilo da loja!


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Os Novos Produtos da Devas!

A loja Devas é parceira do blog e já fiz resenha sobre seus produtos [aqui]. Acho o trabalho da marca de um capricho só! É tudo artesanal, então não tem um igual ao outro! E muito bem feitinho, os meus vieram embalados em caixinhas que depois você pode manter lá, guardadinho, um mimo! Só tenho elogios a tecer pra proprietária, a lolita Mariane, e à criatividade dela, sempre me surpreendendo. Separei umas peças recentes pra mostrar pra vocês!

O chifre à la Maleficent foi feito pra Ísis, também nossa parceira, proprietária da Miniminou (tem vários produtinhos da Devas lá); o adereço de cabelo é bem marcante e que tal a tiarinha de coroa de renda?


Pra quem quer decorar a casa: abajour de renda, bem barroco e corsage com rosas e passarinho <3



Cartolinhas super delicadas em renda, laços e flores e uma das coroas de flores mais lindas que já vi!!


Vamos valorizar o artesanato alternativo nacional! =D

16 de abril de 2014

Baby Boomers: Como eles estão revolucionando o conceito de juventude

Como vimos no post anterior, a chamada geração Baby Boomer, tinha uma sede de mudança e de rompimento com padrões sociais. Eles queriam ser e viver completamente diferente de seus pais, assim saíam as ruas exigindo direitos e liberdade; deram origem à várias subculturas e mudanças estéticas e comportamentais. Esta geração, que está hoje entre os 50 e 70 anos continua mudando o mundo, mas desta vez, com relação aos limites de idade.


Particularmente, acho impossível não associar as grandes mudanças da década de 1960 com o feminismo. Durante muito tempo, em nossa sociedade (machista), quando a mulher entrava na menopausa não contava ao marido, pois era algo vergonhoso. O fim da capacidade de procriar significava o fim de seu sentido de existência. Há 10 mil anos atrás, quando o homem deixou de ser nômade, o machismo "nasceu". Com a moradia fixa e divisão de trabalho na agricultura, os filhos se tornaram força de trabalho, assim, as mulheres, geradoras filhos, viviam grávidas ou amamentando, nasce aí, o conceito de "mãe" e "sexo frágil", e neste contexto fazia sentido a mulher não trabalhar.
Depois de alguns mil anos, quando doutrinas monoteístas surgiram, a ligação da mulher com a natureza e pela capacidade de gerar a vida, incomodava, e aspectos negativos passam a ser associados à elas. A maternidade que ao mesmo tempo é uma dádiva é também o maior peso que as mulheres carregaram ao longo da história. Num determinado ponto, ser mãe era algo tão idolatrado, que nos tempos da renascença criou-se mentalidade que esta era a única forma da mulher se realizar na vida. A frase "uma mulher não está realizada se não vira mãe", vem desde essa época. Romper com pensamentos que nos são ensinados há 500, 10 mil anos não é nada fácil e coube aos Baby Boomers dar se não o primeiro, o mais forte passo em direção às mudanças.

Patti Smith, poetisa, punk, viveu um romance com o fotógrafo gay Robert Mapplethorpe, diz: "eu gosto de envelhecer". Ninguém representa mais o conceito "bitch" (termo comumente associado à mulheres de personalidade e que incomodam) que a amada/odiada Courtney Love. Doro Pesch rompe padrões e se mantém solteira, algo que na geração de seus pais, era negativo para uma mulher. "Swifties" é o termo que surgiu pra designar solteiras acima de 50 anos.



Quando começa a mudar? 
Quando as mulheres passam a ter força de trabalho, lá pela virada do século XIX para o XX e logo depois o direito ao voto. Mas a mudança definitiva foi a invenção da pílula anticoncepcional nos anos 60. Pela primeira vez, em 10 mil anos, a mulher pode escolher ou não ter filhos, não ficava mais refém de ficar a vida toda parindo sem poder trabalhar. E este grande passo, se deu na geração Baby Boomer.

Se este fato não tivesse ocorrido, talvez nossa idéia de subculturas e cultura alternativa fossem totalmente diferentes, já que com métodos contraceptivos e inseridas no mercado de trabalho, as mulheres ganharam um voz na sociedade e tinham poder de decisão sobre suas vidas. Sem isso, não haveriam garotas tão ativas nas subculturas, não haveriam as primeiras rockstars, a contracultura, a mini-saia, a era disco e nem as famosas groupies!

Cada um à seu modo, dentro de suas subculturas, os baby boomers Iggy Pop, Alice Cooper e Ed Vedder, influenciaram gerações com suas músicas.



Revolucionando o conceito de juventude
Tudo que pensamos sobre ser coisa jovem ou velho, está virando do avesso.
Hoje, aos no mínimo 50 anos, esta geração está colocando em pratica uma nova revolução: "seja quem você quiser após os 50 e tenha a idade que a cabeça mandar".
"Velho" não é de jeito nenhum a palavra adequada pra se referir à eles, que não lembram nada a imagem física e mental que temos de "avós", seja a plastificada Madonna ou a naturalíssima Jane Birkin.

 Para os baby boomers, a moda não é mais limitada pela idade.  advanced style

Quem tem 60 anos hoje, quer no minimo viver até os 80. A Google está criando uma empresa voltada a fazer estudos anti-envelhecimento e já há estudos para gerar medicamentos geroprotetores, que retardam o processo de envelhecimento. Uma das motivações para estas pesquisas não é somente "rejuvenescer" por causa da beleza, mas sim também porque se todos os boomers resolverem se aposentar ao mesmo tempo, os sistemas previdenciários de muitos países quebrariam, pois não haveria forma de sustentar tanta gente. Então pros governos, é interessante e importante que as pessoas mais velhas tenham e mantenham saúde, vitalidade e interesse em continuar trabalhando.

O Baby Boomers tem entre 50 e 70 anos, são pessoas ativas 
e não lembram em nada a antiga imagem de "avós".


Quebradores de regras por excelência
Como inventores da juventude, suas cabeças não reproduzem a decadência do corpo. As limitações que seus pais lhes impuseram foram rompidas uma a uma. A internet e as redes sociais ajudaram ainda mais a revolução, pois a web elimina idade, permitindo que as pessoas se identifiquem umas com as outras pelos interesses em comuns, assim, as faixas etárias deixam de ter divisões. No mundo de hoje, graças aos Baby Boomers, idade não é fronteira para nada.

"Se vestir de acordo com a idade" não significa nada para os Boomers,
que adoram romper com as regras impostas pela sociedade.

Para os que acompanham os artistas dessa geração, pouco importa a idade. Não faz diferença. Boa energia, vitalidade, criatividade, ousadia... e trabalhos que ainda influenciam o modo como pensamos.

Cabelos coloridos, minissaia, couro, botas de cano alto... 
as regras ditadas pela moda caindo uma a uma...


O Manifesto de Sue Kreitzman*
Sue Kreitzman é uma artista plástica e culinarista. É filha do primeiro ano de nascimento dos Baby Boomers. Ela tem uma casa incrível em Londres (como vocês podem ver no vídeo) e fez um manifesto, que transcrevo abaixo.

"Não use bege, ele pode te matar.
Ouse ser vulgar.
Evite minimalismo como uma praga.
Ignore os preceitos de "medonho" e "bom gosto".
viva e trabalhe "fora da caixa"
Ou - se você precisa viver dentro da caixa - decore-a com brilho, guirlandas com ornamentos vistosos e jogue tralhas e fascinantes inutilidades em todos os cantos.
Nós somos espalhafatosos.
Nos somos desprezíveis.

Nós somos velhas selvagens e alguns poucos velhos selvagens
e estes são os mantras que vivemos"

Um pouco de sua casa artística e ela lendo o manifesto:





O Estilo na terceira idade
A Sue é uma das seis senhoras entre 73 e 91 (são parte da Geração Silenciosa) anos que fazem parte do documentário Fabulous Fashionistas. Notem que estas senhoras não nasceram dentro das datas consideradas geração Baby Boomer, nasceram até 20 anos antes, porém é preciso levar em conta que enquanto os Baby Boomers estavam entre os 15 e 25 anos, estas senhoras estavam na faixa dos 30/40, então elas viveram toda a revolução, talvez não tenham feito parte diretamente mas as conquistas dos Boomers as afetaram indiretamente pra toda vida. A ideia fundamental de Fabulous Fashionistas é deitar por terra estereótipos de velhice, não apenas no que diz respeito ao visual mas também à moda, há quem aponte o documentário como uma “semente da revolução”.
As participantes do documentário:
Sue Kreitzman, 73 anos; Jean Woods, 75 anos (falo dela a seguir), cabelos brancos, ama coturnos Dr. Martens e as lojas Topshop e Urban Outfitters - voltadas para os adolescentes; Gillian Lyne, 87 anos, ama mini-saias e trabalha sem parar desde os 40 como coreógrafa responsável pelo Cats e pelo Fantasma da Ópera; Daphne Selfe, 85 anos, é modelo, um tempo atrás umas fotos dela circularam no facebook. Ela foi redescoberta com 70 anos, e tem contrato com uma grande agência de modelos internacional. As outras duas participantes são Bridget Sojourner, 75 anos e Jean Barker ou Baronesa Trumpington de 91 anos. Vocês podem assistir o doc completo aqui (não consegui incorporar no post):http://tune.pk/video/973051/Fabulous-Fashionistas-2013


Blogs revolucionários:
Advanced Style - Um blog simples e direto, Advanced Style de Ari Seth Cohen, é focado em street style, mas não de jovens, de senhoras e senhores acima de 60 anos. É dele as fotos de rua que ilustraram o post. A revolução que o Advanced Style fez foi levantar a questão de moda na terceira idade. Como já falamos, antes, as pessoas mais velhas eram anuladas na sociedade e nem se pensava em falar de moda sobre elas. Em tempos atuais, estudos vem sendo feitos sobre esse nicho de mercado que tende a crescer, pois todos nós envelheceremos e como adoramos moda, precisamos ser representados por marcas no futuro.
Trailer do filme que Ari fez sobre as senhoras que aparecem em seu blog. Aproximadamente a partir dos 2:00min, elas dizem frases interessantes como: "gosto de estar mais bem vestida que o resto das pessoas"; "se as pessoas não gostam de como estou vestida, eu não dou a mínima"; "Porque as pessoas tem tanto medo de fazer o que as outras pessoas não estão fazendo?" (da incrível Iris Apfel); "Eu não quero me parecer com todo mundo"; "Por um lado todos se parecem com todos e por outro, todos pensam que são indivíduos...".




The Idiosyncratic Fashionistas
Jean e Valerie são donas do blog The Idiosyncratic Fashionistas. Vocês podem ver elas falarem sobre seus estilos no vídeo abaixo. Segundo elas, "envelhecer "graciosamente" é um conceito ultrapassado. Preferimos envelhecer com verve. Este blog documenta os nossos esforços para viver de acordo com esse lema, em fotos e ensaios."
No vídeo abaixo, é engraçado quando Valerie (a de azul) fala que antigamente shorts curtos se chamavam simplesmente "shorts curtos" e não "hot pants". E isso é verdade, a moda relê roupas do passado e muda os termos pra parecer que são peças novas. Mas no fundo, é a mesma coisa...



E aqui, um video do blog delas, ensinando a fazer um turbante com uma legging (de pés fechados). Estas senhoras não deixam nada a desejar em termos de criatividade!




* Trecho atualizado dia 18/04/2014
Fontes, Consultas: "Super 50´s" - Revista Elle, agosto 2013; e "Age Free", Elle, fevereiro 2014.
Fotos Google e Advanced Style.


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14 de abril de 2014

Baby Boomers, Geração X e Y: como os jovens lidam com a moda e o consumo.

O conceito de adolescência e juventude como conhecemos hoje surgiu na década de 1950, naquela época teddy boys, rockers e beatniks já davam as caras. Antes disso, os jovens tinham pouca importância social e os comportamentos associados à esta faixa etária eram vistos como negativos. Assim, ao sair da infância, o jovem já era logo vestido de forma a parecer o mais maduro e adulto possível, desta forma poderiam participar ativamente da sociedade.
Tanto na época Revolução Francesa quanto no Movimento Romântico do começo do  século XIX, houveram  jovens que provocaram uma certa rebelião e contribuíram pra associar o comportamento juvenil à algo socialmente indesejável.
Desde o surgimento do conceito de juventude, três gerações tem sido estudadas. Sendo elas os Baby Boomers, a Geração X e a Geração Y.

Baby Boomers
São pessoas nascidas entre 1946 e 1964, frutos do crescimento populacional do pós guerra. Esses foram adolescentes/jovens entre os anos 1960 e 1970, duas décadas marcadas por revoluções comportamentais, protestos contra ditaduras, a primeira e segunda ondas do feminismo e o surgimento de subculturas.
Devido à industrialização, esses jovens podiam estudar e trabalhar meio período e o dinheiro que recebiam eram gastos com eles mesmos, gerando uma certa independência dos pais e fazendo com que passassem a consumir produtos de seus interesses. Surgiu assim, um mercado de consumo voltado especificamente para esta faixa etária. Eles moravam com os pais, mas pela primeira vez podiam expressar seus gostos pessoais  e ter opiniões sobre sua própria vida.
O rádio se tornou um eletrodoméstico popular, assim, a música passa a ser de extrema importância para os Baby Boomers. O rock é um dos sons que embala o divertimento dessa geração que curtia se reunir em grupos, passear ao livre e viajar de automóvel. Ideológicos, faziam de tudo pra se comportar de forma diferente de seus pais e pregavam mais liberdade no modo de vestir.
Manifestações juvenis que ocorreram em vários países, conhecidas como as revoluções de “Maio de 1968”, reivindicavam liberdade, paz, amor, eram contra ditaduras e as antigas regras da sociedade. Havia uma ânsia de romper com os valores das gerações anteriores e emancipar o indivíduo. Se nos anos 1950 ser elegante era regra, para a geração dos anos 60 isso era obsoleto. Assim, a capital da moda, de Paris, se transfere pra Londres. A revolução na Moda começa com os jovens, uma dessas revoluções foi a minissaia. As roupas agora não duravam tanto, o que fez delas mais baratas e comprando mais, poderiam diversificar seus visuais. Essa juventude fez do próprio corpo a mídia e a auto expressão. Se a roupa antes era usada como proteção e como adorno, eles as transformaram  em um novo meio de comunicação e de identidade.

Alguns movimentos juvenis originados nesta geração:
Hippies: ao contrário de seus pais, viviam uma vida descompromissada. Sua moda era colorida, alegre, com peças soltas, longos vestidos, estampas florais e artesanais. O vestuário masculino, tão sério entre os homens dos anos 50 e 60, nos jovens hippies ganhou leveza e adornos. Eram em sua maioria jovens de classe média e que sempre teriam a casa dos pais pra voltar caso algo desse errado. No começo dos anos 70 eles já estavam desaparecendo, tanto porque muitos viraram adultos quanto porque sua moda foi cooptada pelo mainstream. Um outro fato que pode ter dado fim ao movimento foi o brutal assassinato da atriz Sharon Tate pela seita hippie de Charles Manson.




Punks: a crise do petróleo nos EUA e a modernização da indústria trouxe desemprego. Na Inglaterra, o governo de Margaret Thatcher pôs fim ao serviço gratuito de saúde, ao salário mínimo, à distribuição de leite nas escolas entre outras coisas. Os operários viam seus filhos com futuro incerto. Assim, surgem os punks, jovens que eram chamados de “lixo da sociedade industrial”. Ao contrário de hippies e beatniks, os punks não queriam mudar o mundo, queriam gritar sua revolta e chocar a todos com visuais agressivos. Não se preocupavam com a beleza e o senso estético. Roupas com conceitos desconstruídos, alfinetes, elementos S&M, mistura de símbolos do nazismo, comunismo ou anarquismo visavam contrastar com a estética tradicional do resto da sociedade. Com o faça-você-mesmo eles criaram as próprias gravadoras, as próprias bandas e fanzines sem depender de empresas. A estética punk influenciou subculturas que vieram depois. Sua moda foi vendida como grife por Malcom McLaren e Vivienne Westwood e posteriormente lojas de departamento passaram a vender roupas inspiradas no movimento, o chamado “punk de boutique”.


Heavy Metal: as origens do heavy metal datam entre os anos 1960 e 1970. Dos americanos do Steppenwolf que primeiro se referiram ao termo “heavy metal” às letras soturnas e depressivas de bandas como Black Sabbath, surgida em Birmingham, berço da Revolução Industrial inglesa, uma cidade na época considerada sombria. Os metallers são herdeiros estéticos inicialmente dos rockers, dos hippies e posteriormente incluíram elementos da moda punk em suas vestimentas. Sentiam repulsa pela palavra "moda" e evitavam ser associados à ela. O visual base era típico de classe operária: jeans, camiseta, botas e jaqueta.

Góticos: surgidos entre 1979 e 1984, eram jovens introspectivos, niilistas, hedonistas com interesses  sombrios, filosóficos e literários. Sua moda era uma mistura de decadência e elegância. Muito preto, referências da moda medieval e vitoriana desconstruídas e incluíam também elementos usados pelos punks. Os góticos eram mais passivos em comparação com punks e metallers, pois eram mais interessados em questões existencialistas. Os góticos nutrem paixão por moda (gótica, claro!) e acessórios e adoram enfeitar-se.


Geração  X
São pessoas nascidas entre 1965 e 1980 (alguns estendem até 1984). A principal característica desta geração é ter ambos os pais trabalhando e terem crescido em lares onde a TV era o principal entretenimento, sendo assim era comum a adoção da estética de ídolos de vídeo clips. Ao invés de parques e praças, preferiam seus quartos (a clássica “fulano não sai do quarto”) e eram mais introspectivos. Se os Baby Boomers adoravam protestos e se agrupar nas ruas, a geração X preferia o vídeo game.  
A revolução foi substituída pela angústia e que tudo continuaria como sempre, sem mudanças significativas na sociedade. Assim, surge  o movimento Grunge e as Riot Grrrls.
Já tendo nascido conhecendo o rock, o hippie, o punk e o gótico, essa geração se identifica com tais subculturas um pouco pela ideologia, um pouco pela aparência e muito pela música. Como novas possibilidades de vestimentas surgem, é possível que o vestuário destes jovens seja mutável. Assim, interesses ideológicos podem ficar em segundo plano já que existe uma grande variedade estilos que possibilitam criar looks diversificados e a beleza novamente não tem tanto foco, ser diferente também inclui ser estranho, esquisito. Além das subculturas já citadas, esta geração viveu também o Hard Rock, o New Wave e as ondas Clubber, Cyber e Raver.

Clubbers e grunge


Geração Y
É a geração jovem atual, também chamada de Millennials, são nascidos entre o começo dos anos 1980 até aproximadamente os anos 2000. São jovens que nasceram cercados de mídia e tecnologia. A sociabilidade é contrastante, podendo ter mil amigos numa rede social e poucos relacionamentos reais fora do mundo virtual. Lidam com as novidades de forma veloz, o que é novo hoje, amanhã pode já ser obsoleto. O excesso de informação recebida faz o jovem se concentrar apenas no que lhe interessa, nem sempre absorvendo o que é importante. 
Se a geração X tinha pouco interesse em revoluções, a geração Y tem menos ainda, suas revoluções são virtuais e pouco palpáveis. Assim como nas gerações anteriores, os debates sobre feminismo ressurgem mas especialmente em blogs e fóruns on-line.
Um mundo virtual moldável e que pode ser retocado lhes dá conforto, já que a beleza e estar dentro de padrões estéticos é importante. É comum que jovens se destaquem virtualmente com uma aparência idealizada e, como a vida real não permite retoques, precisam de segurança e auto-estima para sustentarem a vida que criaram virtualmente, assim, a Moda entra como a principal máscara para esta geração, pois a “roupa certa” impede que eles sejam rejeitados pelos semelhantes. É comum que a cada hora adotem um padrão estético, ao mesmo tempo que usam da moda mainstream também procuram se diferenciar se inspirando na moda das subculturas revivendo estilos do passado à seu modo. 
Grupos que surgiram desta geração: emos e scene kids - muito ligados à moda, aparência e beleza, cada um à seu modo e com algum interesse em chamar a atenção pelo looks. E mais recentemente o hipster e alguns subestilos de moda alternativa que estão em desenvolvimento como pastel goth.

Para a geração Y ter beleza e corpo padrão é importante, pois a imagem que projetam na web precisa ser transferida pra vida real. A mistura de estéticas subculturais é muito comum.

Tribos Urbanas ou Subculturas?
Há debates ainda hoje sobre a nomenclatura ideal, porém o termo “tribos urbanas” tem sido cada vez menos usado, pois há os que digam que “tribo urbana” num sentido mais antropológico, se refere à grupos com certa hierarquia e contestadores da ordem. Com o desenvolvimento destes grupos ficou claro que nem todos estavam aí pra contestar a ordem. A palavra subcultura tem sido considerada a melhor nomenclatura pra se referir à estes movimentos, pois estes jovens tem como base a classe operária ou classe média e são afetados pelos mesmos problemas que a sociedade em que estão inseridos enfrenta (como desemprego, transportes, consumo e etc), mas de alguma forma vivem em paralelo e tem seus próprios meios de diferenciação. 

As Subculturas e a Moda
Muitos jovens que se identificam e passam a fazer parte de subculturas usam a moda tanto como diferenciação e identificação de grupo como muleta para suas inseguranças. Como as gerações mudam, antigamente um punk sempre seria um punk e um gótico sempre seria um gótico, mas de tempos pra cá surgiram os “simpatizantes”, que são uma parte bem maior da juventude que não compartilha totalmente os ideais do grupo, mas gostam da música e especialmente da estética quando lhes convém, um dia podem estar góticos, no outro grunge no dia seguinte mais metal. 

Para que um estilo de vida ou a estética subcultural chame a atenção da moda, é necessário que esta conquiste as pessoas tradicionais.  E a forma disso acontecer é amenizando os aspectos mais "pesados" das modas das subculturas.
Num eterno ciclo, assim que a moda mainstream absorve elementos da moda alternativa, seus reais adeptos sentem desprezo e partem em busca de novos elementos de diferenciação, pois o sistema capitalista lucra em cima de estéticas que seriam individuais e originais transformando-as em estética de massa. Atualmente com as tendências de moda sendo criadas e vendidas cada vez mais rápido em lojas de fast-fashion, diversas estéticas alternativas são cooptadas ao mesmo tempo, fazendo com que a própria estética alternativa também tenha uma velocidade maior de diversificação. 
A dupla “moda” e “juventude” ainda caminhará junta por muitas gerações. 

Além dos escritos de autoria própria, também consultei os trabalhos Acadêmicos de Mariane Cara (Gerações juvenis e a moda: das subculturas à materialização da imagem virtual) e Elisabeth Murilho da Silva (Moda e rebeldia: as estratégias de diferenciação das culturas juvenis).
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5 de abril de 2014

Grunge: A sujeira que fisgou a Moda

Dois mil e quatorze começa com uma data importante para o Grunge: os 20 anos do falecimento de Kurt Cobain, por suicídio, no dia 5 de Abril. Diversas homenagens já foram divulgadas, começando pelo aniversário do cantor, 20 de Fevereiro, onde se oficializou o “Dia Kurt Cobain”, com uma estátua do músico – bem esquisita, aliás – em sua cidade natal, Aberdeen. Mas o destaque fica pela entrada do Nirvana no Rock N’ Roll Hall of Fame, no próximo dia 10.

Resumo do Grunge
Como muitos já devem saber, a história do Grunge surge no final dos anos 80, indo totalmente contra ao Glam Metal e seus excessos de maquiagens e laquês. As bandas rejeitavam apresentações de palco complexas e com alto orçamento, dando preferência a performances mais "básicas". Com forte influência no Punk, as canções passam a ter conteúdo agressivo e niilista, definições que dariam continuidade ao comportamento desses jovens. A cidade de Los Angeles sai de cena para a entrada de Seattle e outras menores, como Tacoma, Aberdeen, Montesano e Olympia.

Interessados em algo novo, os olhos da indústria se voltam para o estado de Washington, e assim as portas começam a se abrir para os grupos de rock locais. Foi então que, em 1991, o Grunge atinge o auge com o lançamento do álbum Nevermind, tornando a música “Smells like teen spirit” o ápice daquela geração. Os holofotes se viram para o Nirvana, entretanto, outras também ajudariam a crescer o cenário, como Mudhoney, Melvins, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden.

Algumas bandas da época: 
Pearl Jam, Alice in Chains, Mudhoney e Soundgarden.
bandas grunge

A partir daí o mundo não só passa a conhecer, mas a idolatrar esse estilo desalinhado. Algumas atitudes continuariam, como o abuso de drogas sofrido publicamente pelos ídolos, só que a preocupação com a aparência e os ataques de estrelismo da década de 80 não teriam mais nenhum valor. Ao contrário, seriam motivo de deboche. O documentário Hype é ótimo para quem quiser aprofundar na parte musical.

Sobre a Roupa
O interessante em se observar a vestimenta dessa fase, era ver que nada mais era do que as roupas utilizadas no dia a dia. Ou seja, iríamos vê-los assim no palco, na fila para comprar o pão ou na hora de dormir. Não tinha diferença. E quanto mais barato fosse, melhor. Não só porque não ligavam para a estética, mal se tinha dinheiro para investir em equipamentos, imagina em roupa! Tanto que, muitos compravam suas roupas em bazares de segunda mão, o que poderia ser o motivo de algumas serem maiores do que o tamanho do usuário.

O símbolo que logo vem a cabeça quando pensamos em “estilo grunge” é a camisa de flanela com estampa de xadrez. Essa é uma peça regional, vestida por longa data pelos moradores locais. Sua origem vem dos lenhadores canadenses por sua forma utilitária de material barato e durável. Isso facilita entender o porquê do item ser tão comum. Seattle é próximo ao Canadá, inclusive Aberdeen fica a poucos quilômetros da fronteira com o país. São cidades onde as temperaturas costumam ser bem baixas, o que facilitou a popularização do tecido por lá.

Existe também uma versão curiosa ligada ao canadense Neil Young, considerado “Avô do Grunge”. A camisa de flanela -e outras peças usadas pelo músico bem antes dos anos 90 - levantaram suspeitas de sua influência no movimento. De fato, se prestarmos a atenção, realmente há fortes semelhanças entre os dois. Por isso, deixamos a critério de cada um sua conclusão.
Curiosidade: Na carta de suicídio do Kurt Cobain, ele cita uma frase da música Hey Hey, My My de Neil Young: "It's better to burn out than to fade away" // "É melhor queimar do que se apagar aos poucos".


Além da camisa xadrez (muitas vezes amarradas na cintura, pois a temperatura em Seattle pode oscilar em 20 graus no mesmo dia, portanto é conveniente ter sempre uma peça de manga comprida por perto), outros itens também fazem parte do vestuário grunge. Devido à recessão econômica e a filosofia anti-materialista, a compra em brechós e lojas do Exército da Salvação eram comuns. Bermudões largos ou ao estilo cargo, ceroulas usadas sob as calças (devido ao tempo instável), calças jeans rasgadas, tênis all star, coturnos, gorros, mitenes, peças em couro sintético, casacos de lã e camisetas superlargas com escritas – que Kurt adorava usar, algumas até com provocações - seriam a última moda dessa geração que detestava grifes e prezava pelo o conforto, na contramão da estética chamativo que existia na década de 80..

James Truman, editor-chefe da revista Details, disse que: "O grunge não é "anti-moda", é "sem moda". O Punk era anti- moda. O grunge não está fazendo uma declaração (de moda) e é por isso que a Moda ficou louca por ele."

Na primeira capa do Nirvana na Rolling Stone, Kurt Cobain posa com uma camiseta escrita: “Revistas corporativas ainda são um saco”.
bandas grunge nirvana


A Moda Grunge Feminina
Até determinado momento não houve uma "moda grunge feminina". O estilo era unissex. As mulheres dessa cena não eram vistas como objetos sexuais igual as do Heavy Metal e Glam Metal. O mesmo tipo de roupa usada pelos garotos era também pelas garotas: calças e blusas mais largas ou rasgadas, sobreposições, muita estampa xadrez, vestidos com estampas florais, nenhuma maquiagem e cabelo natural.
Mas num dado momento, quando Courtney e Kat surgem com o Kinderwhore, as meninas que se identificavam com elementos mais femininos e atrevidos viram adeptas. Então passa-se a ter duas linhas: a unissex e o kinderwhore.

Nas fotos abaixo, a moda grunge feminina em diversas variações com as bandas Bikini Kill e L7.
grunge bands female grunge bands L7 bikini kill
 grunge female bands


O Grunge na Moda Mainstream
Ironicamente, contrariando a anti-moda (ou falta dela!), o Grunge apareceria nas passarelas. Anna Sui abusaria de xadrezes com listrados nas peças. Marc Jacobs marcaria sua fama na indústria ao ser demitido da luxuosa grife Perry Ellis após apresentar uma coleção com cardigãs de crochê sobre vestidos esvoaçantes e suéteres de mendigo sobre calças refinadas. Em uma entrevista ao portal WWD, Courtney Love surpreendeu ao dizer que Jacobs enviou ao casal peças da coleção, mas que “eles haviam queimado, pois eram punks e não gostavam desse tipo de coisa”. Hoje, a cantora aparece com frequência nos desfiles do estilista e define sua evolução na moda como pré e pós-Birkin.

Na primeira imagem, desfile de Anna Sui. Na seguinte, Twiggy posando com uma roupa da coleção para a Vogue Itália de 93.
anna sui twiggy grunge

O famoso editorial feito por Steven Meisel para a Vogue Americana de 92. Tops como Naomi Campbell, Nadja Auermann e Kristen McMenamy fizeram parte da produção com roupas da Perry Ellis que rendeu a Marc Jacobs sua demissão da marca.

grunge marc jacobs


Vale comentar aqui sobre a forma absurda que o Grunge alterou a moda masculina quando chegou ao mainstream. Ele veio com as calças cargo, bermudas e calças largas, jeans estonado. Os homens nos anos 80 e começo dos anos 90, costumavam usar calças mais justas, retas e pouco informais. O grunge inseriu a casualidade e o streetwear com força na moda masculina. Se hoje os homens usam e abusam de uma informalidade absurda em seus trajes, isso é um reflexo da amplitude que o estilo grunge tomou após ter sido absorvido pelo mainstream. Quando analisamos a moda masculina recente, essa informalidade e permanência é marcante.

Outro reflexo da impactante presença da moda grunge masculina foi quando o estilo começou a adentrar naturalmente em estéticas subculturais mais fechadas, como na cena heavy metal. Nos anos 90, o mundo hiper masculino do Heavy Metal fez uma pausa. O grunge dava aos homens o que o heavy metal não dava: a oportunidade deles serem angustiados, infelizes e emocionalmente fragilizados. É comum os headbangers menosprezarem o grunge, pois este tirou deles a mídia e o espaço na Mtv. Mas num dado momento, a moda grunge se tornou tão dominante que sua estética acabou absorvida pelos mesmos headbangers que os criticavam. Na foto abaixo, da banda Slayer, reparem no visual de Tom Araya (à direita): jeans largos e de lavagem estonada, camiseta, jaqueta xadrez e cabelos desgrenhados. Ele se vendeu ao grunge? Não, mas a informalidade do grunge atravessou barreiras estéticas das subculturas mais fechadas, tamanho seu impacto na moda.

 slayer grunge


O grunge no cinema
O filme Vida de Solteiro (Singles em inglês) de 1992 é o retrato do guarda-roupa grunge. Protagonizado pelo os atores Bridget Fonda e Matt Dillon, o figurino mostra o tamanho destaque na cena na época. Aliás, boa parte das roupas utilizadas por Dillon pertenciam ao baixista do Pearl Jam, Jeff Ament. A banda também participa do filme, incluindo Chris Cornell, vocalista do Soundgarden.

Na segunda foto, a participação de Eddie Vedder e Jeff Ament no filme com Matt Dillon. Os membros do Pearl Jam ainda eram suficientemente desconhecidos para aparecer no filme como extras. Na última, o casal de atores com Chris Cornell.

grunge movies pearl jam soundgarden

Houveram outros filmes que retratavam a moda e a juventude da época, podemos citar Drugstore Cowboy de 1989, Um Som Diferente de 1990, Jovens Loucos e Rebeldes de 1993, Caindo na Real e O Balconista de 1994,  Sexo, Rock e Confusão de 1995, Kids também de 1995 e mais recentemente, Os Reis de Dogtown de 2005.

grunge movies

Vale citar também o "Patricinhas de Beverly Hills" onde as personagens fashionistas criticavam e tentavam mudar o estilo grunge da nova colega de sala, porém o curioso é que as duas patricinhas ocasionalmente aparecem com visuais grunge de grifes, como vestidos ao estilo kinderwhore e peças em xadrez.
grunge movies  clueless


O "Casal Grunge"
Com o grande sucesso de Cobain, Love juntou-se a ele virando o casal referência do visual grunge. Os vestidos baratos comprados em lojas de esquina muitas vezes foram reutilizados nas brincadeiras de Kurt. Casaram-se de pijama e um vestido comprado num brechó da polêmica atriz Frances Farmer. A dupla foi considerado Lennon e Yoko Ono da época e seguiram com a genética através da filha, Frances Bean.


O perfeito casal grunge. No dia do casamento com Dave Grohl, baterista do Nirvana. Após o nascimento de Frances. A família no VMA de 93.

Courtney Love mostrando referências com sua banda Hole. Kurt usando vestidos em dois momentos. Na última foto, a estampa do tecido lembra muito ao de Love na terceira foto.

O casaco que Courtney usa das fotos abaixo parece ser o mesmo que Kurt usou no álbum "Unplugged". Na ponta, o casaco relido no desfile Saint Laurent do ano passado.

O desdém de Kurt pelo seu estilo pessoal ter virado moda de massa, é visível no seu hábito de ironizar o fato. Kurt usou muitos elementos femininos na sua estética, era uma forma de provocar o sexismo. Um de seus óculos mais conhecidos, foi uma criação de Christian Roth em meados de 80. Na Primavera 93 da Chanel, observa-se que o grunge teve influências na coleção. Modelos semelhantes a de Kurt foram apresentados na passarela da grife. Vinte anos depois, Dries Van Noten se inspira no músico para o tema de seu Verão e a armação ressurge.


Não só as passarelas recebem referências. A Heroin Chic surge como um novo movimento estético na Moda. São modelos de aparência abatida, pálidas, com olheiras enormes e corpo bem magro. Lembram os sintomas visíveis da dependência de drogas, no caso a heroína, muito comum no anos 90. O ícone máximo foi a top Kate Moss, que sofreu duras críticas pois diziam que sua magreza influenciava jovens a se tornarem anoréxicas. 

Kate Moss no início da década nas duas primeiras fotos e Stella Tennant encarnando o Heroin Chic num editorial.

Com a morte de Cobain, o estilo desapareceu durante um período das coleções. Desde então, o que vemos é um revival crescendo em meados de 2000. Inclui-se na lista o próprio Marc Jacobs, grande fã do tema, fez para sua marca no Inverno/2006. E até recentemente, como o segundo desfile de Hedi Slimane para a Saint Laurent Inverno/2013. Fora esse universo, ainda há os licenciamentos, exemplo dos calçados All Star com escritas e desenhos de Cobain.

Desfile Marc Jacobs Outono/Inverno 2006. Love e o designer juntos no desfile Primavera/Verão 2011.

Kurt usando All Star na sua época. A versão atual com desenhos e letras do cantor.

As releituras entre os famosos demonstram como o Grunge ainda se mantém vivo. A própria Frances Cobain volta e meia aparece usando vestidões soltos e floridos com bota ou camisetas e saias compridas, cabelos coloridos e os lábios avermelhados como os da mãe. Dizem que seu atual namorado, o músico Isaiah Silva, é a cara de Kurt. Usando camisas xadrezes, t-shirt, jeans e all star, fica bem difícil não comparar. E quando o pinta o cabelo de vermelho, mais ainda. Essa é a prova de como um comportamento consegue transcender sua geração. A nova juventude que o diga!

Frances recebendo referências dos pais na infância e pré-adolescência.

Antes e depois: Courtney e Frances com o mesmo tom de cabelo e usando batom vermelho. A influência dos vestidinhos de florais fica evidente na filha. Kurt Cobain inspirando Isaiah Silva, namorado (ou noivo?) de Frances, no cabelo e nas roupas. 

E a nova releitura do casal no dia-a-dia.
 frances bean cobain

O visual sujo e desalinhado também conquistou as celebridades atuais. Miley Cyrus, Lindsay Lohan, Vanessa Hudgens, Mary-Kate Olsen e Kristen Stewart.

   
O grunge na moda alternativa atual
Como a linha que separa as tendências da moda mainstream da moda alternativa está cada vez mais tênue, o estilo também é encontrado em coleções alternativas. Nas releituras atuais, duas coisas são notáveis: as silhuetas são modernas, mais ajustadas e a mistura com o estilo hipster é frequente.
Analisando imagens:
O primeiro casaco lembra os cardigãs que Kurt usava; o vestido xadrez é levemente solto mas o que surpreende é a maquiagem da modelo, idêntica à que Frances Bean Cobain usa atualmente; o terceiro e quarto vestido lembram muito as roupas de Kathleen Hanna da banda Bikini Kill.
alternative fashion grunge

O meião era moda nos anos 90, as toucas parecem fortalecer o estereótipo. Notem a silhueta moderna ajustada dos dois primeiros looks que trazem estampa floral, alcinha e xadrez. Sapatos de plataforma são atuais assim como as releituras do coturno e do all star. Camisetas com frases eram comuns na época, no cropped tops, diz: "Trash" ("lixo" em português). 

alternative fashion grunge

  Nos dizeres das blusa, "O Grunge está morto", já anunciava Kurt Cobain ironicamente. Nada se cria, tudo se copia.
alternative fashion grunge kurt cobain

O vestido ao estilo Kinderwhore, floral miúdo ganha um esqueleto modernoso.
E o look seguinte me surpreendeu. Slayer? Não é o heavy metal o estilo que ignora o grunge? Ao mesmo tempo, coincide com nossa análise da imagem da banda mais acima.
alternative fashion grunge

O Grunge hipster. O vestido floral soltinho ganha bolsa moderna e chapelão hipster. Assim como o vestidinho de onça. Sapatos ao estilo Jeffrey Campbell... existe algo mais hipster do que eles? 
alternative fashion grunge


A Decadência do Grunge
É possível dizer que a decadência começou com a morte de Kurt Cobain em 1994. Logo depois, o Pearl Jam cancelou sua turnê de verão em protesto contra a empresa Ticketmaster, que havia encarecido os ingressos de seus concertos. Boicotar a empresa fez com que não tivesse quase nenhum show deles nos EUA durante três anos. Em 1996, o Alice in Chains fez as suas últimas apresentações com o seu vocalista, Layne Staley, que posteriormente morreu de uma overdose de heroína (no mesmo dia que Kurt!) em 2002. Naquele mesmo ano, o Soundgarden e o Screaming Trees lançaram seus últimos álbuns de estúdio. O Soundgarden se separou no ano seguinte, mas se reuniu recentemente, tanto que o show da banda no Lollapalooza Brasil será nesse fim de semana. Apenas o Pearl Jam continuou a gravar e fazer turnês com o sucesso nesses últimos 20 anos.

O Post-Grunge
A herança sonora do grunge gerou bandas como Candle-box, Three Doors Down, Goo Goo Dolls, Puddle of Mudd, Stone Temple Pilots, Bush, Shinedown, Seether, Nickelback, Three Days Grace, Creed e Silverchair. Green Day e Foo Fighters também sofreram influências. Estas bandas não tinham raízes underground mas foram fortemente influenciados pelo o que o grunge havia se tornado: uma forma popular de fazer um rock sério, introspectivo e mentalmente difícil. 

Aos fãs de Kurt Cobain, o canal Bis apresentará neste mês de abril, quatro documentários:
Dia 05/04, às 23h00 - Nirvana: Ultimate Review (Inédito)
Dia 12/04, às 21h30 - Kurt Cobain: About A Son (Inédito)
Dia 19/04, às 21h30 - Kurt & Courtney
Dia 26/04, às 21h30 - Especial Kurt Cobain

E está em cartaz na França a exposição "Kurt Cobain - The Last Shooting" na Addict Galerie em Paris. Trata-se de uma série de retratos do cantor tiradas pelo fotógrafo Youri Lenquette algumas semanas antes de sua morte. A sessão foi improvisada numa noite de fevereiro e tem uma particularidade: Kurt Cobain, que era avesso à fotografias, foi quem contatou o fotógrafo e escolheu um revólver 22 como acessório principal para sua mise-en-scène. As imagens são um pouco perturbadoras pois nos fazem refletir que Kurt premeditava sua morte e ironizava pela última vez a sociedade que ele repudiava, já anunciando o seu fim de forma teatral.
kurt cobain last shooting nirvana

* Informação atualizada dia 15/04/2014 e 17/08/2014.
Leia também: O Grunge e a Moda Masculina


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