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6 de maio de 2016

O Riot Grrrl como referência: do rock ao pop dos anos 90 à atualidade

É impressionante o alcance que teve o movimento Riot Grrrl nos anos 90, mesmo permanecido underground. São meninas que conseguiram influenciar uma geração inteira, provocando inclusive mudanças de comportamento na cena musical de massa. Elas iniciariam um apagão a mídia em protesto as deturpações feitas pela imprensa, mas suas inquietudes sobre o mundo ultrapassariam qualquer barreira se espalhando e atingindo em cheio uma legião de garotas.

"Eu sempre digo às garotas que dizem querer iniciar uma banda mas não possuem nenhum talento: bom, nem eu tenho. Quer dizer, eu posso fazer uma melodia, mas qualquer um que segurar num baixo pode descobrir isso. Você não tem que ter poderes mágicos de unicórnios." Kathleen Hanna 


Influências
Começando pelo próprio Rock, houve uma enorme abertura com bandas formadas só por mulheres, ou com alguma musicista na formação, seja no vocal ou liderando apenas um instrumento. Esse conceito seria visto com força em todas as vertentes. No heavy metal, um destaque são as meninas da Kittie (leia mais aqui), que alcançariam forte evidência no meio underground e alternativo.


Indo ao indie, teríamos a continuação e maior abertura da carreira de várias artistas. Kim Gordon seguiria no Sonic Youth e depois na união com Julie Cafritz em Free Kitten. A xará Kim Deal apareceria no Pixies e com sua gêmea Kelley na The Breeders. Já no Smashing Pumpkins veríamos D'arcy Wretzky e posteriormente Melissa Auf Der Maur, ex-Hole. 

Clipe da música "Little Trouble Girl"do Sonic Youth: parceria entre Kim Gordon e Deal
Gordon, Deal, Wretzky e Auf Der Maur: todas baixistas

Porém, o efeito mais significativo seria encontrado (vejam só!) na própria indústria musical mainstream. Como não conseguiram persuadir as riots originais, abriu-se espaço para cantoras que desnudavam suas almas em letras escritas de forma desbocada ou poética, onde percorriam temas que iam desde uma decepção amorosa a abusos sexuais. Era a vez das garotas de atitude. E foi um impacto e tanto, não só nas mensagens que as canções passavam, mas também na composição estética delas. 

Muitas ficariam famosas por apenas um hit ou conseguiriam consagrar o álbum inteiro, é o caso do furioso "Jagged Little Pill" de Alanis Morissette. Um marco em sua carreira até hoje. Elas vinham de todas as partes - do country ao pop - misturando vários tipos de sons. Havia uma liberdade criativa super bem aceita pelo público daquele momento. 
Alguns nomes expressivos: Fiona Apple, Bjork, PJ Harvey, Sinead O'Connor, Tori Amos, Liz Phair, Jewel, Meredith Brooks, Anni Di Franco. 

PJ Havey, Bjork e Tori Amos: "Nós temos peitos. Nós temos 3 buracos. É o que temos em comum."
"Vocês não deveriam moldar suas vidas sobre o que vocês acham que nós (artistas) pensamos o que é legal, e no que nós estamos vestindo e no que nós estamos dizendo e tudo." Parte do discurso de Fiona Apple após receber prêmio no MTV Awards de 1997

Shirley Manson no Garbage, Gwen Stefani pelo No Doubt, Dolores O'Riordan no The Cranberries, Justine Frischmann na Elastica, Linda Perry com 4 Non Blondes e Veruca Salt seriam bastante reconhecidas por causa do lançamento de grandes hits musicais, sendo até trilha de filme. 

Curiosidade: o espírito riot iria tão longe que alcançaria até os homens. No clipe "Beautiful Girl" de 1992, o grupo INXS abordaria a questão do padrão de beleza feminino e as doenças causadas por ele. 


O rap e hip hop também conseguiu espaço. Artistas como Mary J Blige, Missy Elliott, Lauryn Hill, Lil Kim, Queen Latifah e mais nomes dariam voz as mulheres esquecidas de tais subculturas. 

Lil Kim, Lauryn Hill, Missy Elliott e Foxy Brown

Quase na virada da década, surgiria Peaches, Brody Dalle no The Distillers e Amanda Palmer no The Dresden Dolls. Ela voltaria depois com sua carreira solo num período que daria uma nova guinada a bandas punks atuais: The Gossip com Beth Ditto, Tacocat, Warpaint, Big Nils, Pussy Riot, Potty Mouth e outras. Vale destacar também Kate Nash no britpop contemporâneo. 

Um dos símbolos das Pussy Riots é o uso da máscara de esqui customizada no rosto. Provavelmente a inspiração viria de Kathleen Hanna no filme "No Alternative Girls" de Tamra Davis, de 1994.
Amanda Palmer em estilo "Lick my Legs" de PJ Harvey
"Eles dizem que mulheres não tocam guitarra tão bem quanto os homens... Eu não toco guitarra com a porra da minha vagina. Então, qual diferença faz? Brody Dalle
Em entrevista ao The Guardian, Kate Nash fala sobre seu projeto Girl Gang, um canal no youtube com intuito de ser ponto de encontro da nova geração de feministas. Foto: Lindsey Byrnes  
Beth Ditto, ícone queer, com camiseta da X Ray Spex. Mostrando que a influência vem de longe

Na América do Sul o sentimento não ficou por fora. Cássia Eller chegava ao topo com a reveladora "Malandragem", composta por Cazuza para Angela Rô Rô. A cantora reascendeu a força das mulheres como artistas no rock brasileiro. Era a perfeita representação da "Pagu" de Rita Lee nos palcos.

Cassia Eller no álbum Marginal de 1992

Para surpresa, Shakira também fez coro aos questionamentos noventistas. O famoso álbum "Pies Descalzos" simboliza a necessidade de expressar o inconformismo da cantora. Repare que o clipe da canção "Pies Descalzos, Sueños Blancos" parece uma mistura de "You Oughta Know" de Alanis Morissette com "Heart Shaped Box" do Nirvana. 


Estética
Um ponto bem interessante. Ao mesmo tempo em que existia a Heroin Chic, na música as meninas tiveram uma liberdade visual incrível, apresentando-se como queriam o que dava ênfase na verdadeira personalidade da artista. A moda grunge tinha força e influenciou de diversas formas: a desconstrução do que era feminino é provável que tenha sido a maior delas. As roupas eram iguais aos dos homens: t-shirt, calça ou bermudão com camisa de flanela amarrada na cintura, tênis ou coturno. Não havia preocupação com padrão de beleza, eram desencanadas de maquiagem, cabelos arrumados (quando tinham) e depilação. 

4 Non Blondes: a desconstrução de gênero da moda grunge também era feito nas mulheres
Dolores O'Riordan de cabelo curto platinado, moda na época. Dependendo da composição, sua estética ficava andrógena. 
Justine Frischmann quando namorou Damon Albarn, vocalista do Blur, confundindo os gêneros
Sinead O'Connor chegou ao topo de cabelo raspado, sem maquiagem e braços tonificados.

Por outro lado teve as que aproveitaram para se expressar com exagero, numa onda clubber, o que também é transgressor visto que na moda "menos é mais" para a mulher. Excesso de maquiagem, com bastante cor, glitter e batom vermelho, minissaias curtíssimas, vestidos e botas à la anos 60. Uma versão adiantada da lady drag.

PJ Harvey
Shirley Manson
Shirley e D'Arcy Wretzky
Gwen Stefani: "Quando eu finalmente fui capaz de passar um batom vermelho, eu fiquei superanimada."

Referência além da música
A ideologia percorreu a arte indo, claro, muito além da música. Os filmes com sua rapidez em documentar o espírito de uma geração, trouxe ao mercado longas com foco em assuntos que se aprofundavam nos conflitos internos causados pela nossa criação, falando sobre amizade entre garotas, transtornos mentais, religião, romance hétero ou lésbico, sexo...praticamente tudo. 

Exemplos: Virgens Suicidas, Jovens Bruxas (leia aqui), Adoráveis Mulheres, Now and Then, 10 coisas que odeio em você, Rebeldes, Garota Interrompida e entre outros.

"Uma por todas e todas por uma." Now and Then

Nas artes plásticas, Tracey Emin foi um nome que se consagrou. Controversa para alguns críticos, seus trabalhos não se intimidam diante de temas tabus ao corpo da mulher, o que a levou receber o título de enfant terrible. Em 2012, em exposição no Brasil, declarou ao Estadão a respeito do Feminismo: "Não é preciso mais ser como na década de 1970, mas com novo foco. Muitos acreditam que hoje já não é mais importante ser feminista ou uma artista feminista, mas é importante sim, porque muitas mulheres ao redor do mundo passam por situações horríveis, são enterradas vivas."

Isso é como uma feminista se parece. Tracey Emin
Obras da artista retratando o sexo feminino

Essa é uma pequena amostra do que significou a década de 1990 às mulheres daquela geração. Fase onde muitas puderam usufruir certa liberdade de expressão e terem o direito de quebrarem padrões de comportamento num mercado opressor perante a imagem das artistas, o que refletiu na vida de muitas meninas fora desse meio. Que a gente consiga alcançar esse espírito de novo vinte e cinco anos depois.

Aquela nostalgia! <3


Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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17 de janeiro de 2016

A coleção de Courtney Love para Nasty Gal

Mal foi anunciado e logo era apresentado no site a coleção que Courtney Love fez em parceria com a Nasty Gal. Fazia tempo que a cantora tentava lançar uma marca de roupas, mas só agora surgiu a oportunidade de concretizar a ideia. 


A Nasty Gal é uma loja online de sucesso e que vem se destacando muito atualmente, graças a visão de sua dona, Sophia Amoruso. A criação da empresa ocorreu de forma bem alternativa, em 2006: passando por sérios perrengues, chegando ao ponto de furtar lojas e catar lixo, aos 22 anos a americana decide criar no ebay um brechó virtual. A partir daí, Sophia começa a construir sua marca que hoje é um império multimilionário. A história rendeu um livro chamado Girl Boss que narra essa trajetória. 


 
A coleção
Pelo editorial, as criações refletem totalmente a estética de Courtney, o famoso kinderwhore dos anos 90 que já deciframos aqui.


Vestidos de cetim, meias arrastão, tiaras, rendas, transparências, chokers e sapatos mary jane. O que era comprado antes por cinco doláres em brechós, hoje chega repaginado com preços de grife. Alguns itens já estão esgotados!


O estilo de Courtney: coroas, cetim e renda!


Sobre a colaboração, Courtney declarou para o site da Nasty Gal: "Fomos ao meu closet e mostrei algumas peças especiais que guardei. Eu sempre pego o vintage e readapto. O ponto inicial da coleção foi "lingerie encontra o mundo real". Eu não queria que fossem peças retrôs, queria que fossem modernas, cools e atualizadas. Pegamos minhas peças originais da década de 90 e modernizamos no estilo contemporâneo. Minha peça preferida é o body de renda, estava esperando pelo menos 10 anos pra fazer um!"

Courtney usando a coleção dos pés à cabeça na festa de lançamento.

 Vestidos em cetim ao estilo camisola, super kinderwhore!

Courtney complementa: "Eu gosto do trabalho ético da Sophia. Ela entende as minhas referências. Temos histórias semelhantes de como nos tornamos mulheres que estávamos no comando fazendo as coisas."



 Peças inspiradas em lingerie. À direita, o body de renda, peça preferida da cantora.

Sobre Courtney, Sophia declara: "Ela é provocativa, sincera, livre, selvagem e um ícone do rock. Ela tem um estilo singular. Numa época em que celebridades têm personal stylists, pessoas que têm estilo próprio se destacam. Ela é musa de estilistas há décadas e nunca levou crédito pelas inspirações". 

As coroas, um dos modelos de choker e um body chain. 


Muitas jovens da geração atual não conhecem a carreira de Courtney, e ao ser perguntada sobre como ela se apresentaria para estas meninas, ela respondeu na lata:

 "Escuta cara, eu apenas quero que mais garotas toquem guitarra!"


O kinderwhore tem sido nos últimos anos muito difundido em coleções de moda por causa do resgate da década de 90. Desde que assumiu a Saint Laurent, em quase todo desfile Hedi Slimane homenageia a cantora. Ao menos agora com a nova empreitada, Courtney colhe os frutos financeiros de seu estilo, só faltando a Kat Bjelland. ;)




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30 de junho de 2015

Tendência: óculos Kurt Cobain (Kurt Cobain's sunglasses)

Sim, eles estão de volta! E demoraram um pouco até. Quando lançamos o post Grunge, tinha certeza de que uma hora ou outra os óculos do Kurt iriam vir como modismo, pois os anos 90 estão em alta - novidade! – e o acessório foi um elemento marcante no visual do cantor.

kurt cobain's sunglasses

Na época causou uma dúvida danada a origem, mas o que tudo indica, Kurt usava um modelo oitentista do designer Christian Roth, que poderia ser verdadeiro ou fake. Talvez pela ascensão do músico na mídia, grifes como Chanel resolvem apresentar armações semelhantes, é o caso do seu desfile Primavera 93.

À esquerda, modelo Christian Roth. E o estilo Chanel no rosto de Claudia Schiffer.

Kurt com seus pares.

 Courtney Love e a ex-baixista do Hole, Melissa Auf der Maur.

É bem provável que ambos sejam versões dos óculos Audrey, criado em 1963 por Oliver Goldsmith em homenagem a atriz. O modelo ganhou fama internacional ao surgir branco no rosto de Hepburn para o filme How to Steal a Milion de 1966, mesmo ano de lançamento de Koko, armação igual ao Audrey só que na cor preta. Como os anos 90 sofreram forte influência da estética sessentista, isso pode explicar a ligação entre as décadas.

Criações Oliver Goldsmith ao estilo Mod

Em 2013, Dries van Noten segue o tema de sua coleção e resolve trazer uma releitura do estilo grunge, esse seria uma das tentativas de retorno do acessório. Apesar do original Audrey ter se tornado um clássico, é provável que só agora, com o desfile masculino Saint Laurent, os óculos de Kurt virem modismo. Ele já vem aparecendo nas faces de celebridades e anônimos, inclusive sendo vendido em sites da China.

Rihanna e seu vintage Versace e Miley Cyrus com vintage Chanel.

Donita Sparks da L7 com armação colorida:

Desfile Dries Van Noten Verão 2013.

Acne Studios modelo Mustang

Surgindo em novas cores na coleção de Saint Laurent Verão 2015.
Yves Saint Laurent Kurt Cobain's sunglasses

Há um bom tempo que tenho vontade de adquirir um, vamos ver se agora finalmente consigo meu modelito! :D

E vocês, gostam do modelo? Teriam um?


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7 de outubro de 2014

As ligações estéticas de Pulp Fiction, O Profissional e Geração Maldita

Três filmes que muito alternativo venera estão completando num curto espaço de tempo 20 anos! São eles: Pulp Fiction, O Profissional e Geração Maldita. O que mais impressiona é o quanto possuem fortes ligações estéticas entre as personagens principais. Assim, a gente aproveita a data para fazer uma análise dessas misturas.


Sendo o foco nas protagonistas, vamos falar de Mia Wallace, Mathilda e Amy Blue, interpretadas respectivamente por Uma Thurman, Natalie Portman e Rose McGowan. Elas possuem um reflexo bem evidente da década em que foram feitas as filmagens. Adivinha qual era? Anos 90! Sim, o próprio. Fora o estilo grunge, o auge do período eram as roupas minimalistas, com predominância de cores neutras, pouquíssimas estampas e quando se tinha, no máximo listras, floral, xadrez. Se prestarem atenção no figurino, vão reparar que ele era básico, com peças que a moda curte definir como "clássicas". Vestidos em linha A, short jeans, jaquetas e roupas de alfaiataria.

A clássica camisa branca de Mia Wallace:

O visual de Mathilda também flerta com o Grunge:

O minimalismo alternativo de Amy Blue:

Casacos usados pelas personagens. De início, Mathilda usa um cardigã de crochê branco, mas quando começa a por em prática seu plano de vingança, troca por um modelo militar:

Também são pinçados modismos da época, como as gargantilhas, ou chockers, sendo uma tira de veludo ou uma tira de nylon com pingente. Mas a maior interação mesmo entre ambas é o cabelo! O corte Bob usado pelas estrelas, nasceu nos anos 20 e foi eternizado por grandes nomes da época. Além dos fios, era acrescentado olhos pretos e lábios avermelhados formando assim o visual Vamp, utilizados por Mia Wallace e Amy Blue. Mas como a estética de períodos tão distintos se uniram? Porque a década de 90 teve o seu olhar nos anos 60 e esta última, referências dos 20.

Gargantilhas com pingente. Mathilda e sua versão de veludo que está super em alta! 
Um grande acerto da figurinista Magali Guidasci:

O famoso corte "Bob" das protagonistas:

O papel de Maria de Medeiros em Pulp Fiction, também usa corte parecido, que lembra os da década de 1960:

Make vamp e unhas vermelhas de Mia e Amy. Seria mera coincidência? Talvez não. Pulp Fiction teve enorme repercussão na época, conseguindo alavancar até a carreira dos atores, a exemplo de John Travolta que andava esquecido. Portanto, é provável sim a influência.

Um dos quartos ambientados por Geração Maldita possui decoração Optical Art, movimento criado nos anos 60:

O que pontuava a diferença delas era o assunto abordado em cada longa, que ainda assim, não se distanciavam muito. Mia Wallace é esposa de um chefão mafioso que num erro, tem uma overdose inesperada e por pouco fatal. Mathilda, uma menina de onze anos que viu sua família sendo morta, é acolhida por uma matador profissional onde passa a alimentar o desejo de vingança aos assassinos de seus parentes. E Amy Blue, que foge de situações extremamente bizarras depois que ela, seu namorado e um rapaz que conhecem, se envolvem numa confusão quando matam o dono de um estabelecimento.

No caso de Mia Wallace, o figurino tinha como referência o visual dos mafiosos italianos. Como revelou a figurinista Betsy Heimann em entrevista à Elle, "Mia Wallace é uma versão feminina de Cães de Aluguel (filme anterior de Quentin Tarantino)". Já Mathilda, refletia uma menina pobre pré-adolescente com gosto por acessórios irreverentes. Das três, era a que mais usava cor e misturava estilos. Amy Blue se interligava as subculturas, com um forte pé no grunge, provavelmente por ser uma jovem cansada do mundo. Ela também tinha uma queda por peças excêntricas, como os óculos brancos de gatinho e um isqueiro de caveira. Podemos dizer que Mia era um reflexo dos anos 90 mais chique, a la Calvin Klein, enquanto Mathilda e Amy tinham a vibe alternativa/underground. 

O visual minimalista de Mia Wallace:

O mix de irreverência noventista de Mathilda:

E o Grunge de Amy Blue. Reparem que tanto ela como Mathilda, usam bota e meia:

Os óculos e o bafônico isqueiro de caveira:

Ou seja, o que unia todas essas personagens era a influência da época em que se passavam as filmagens, assuntos abordados que se entrelaçavam aos mesmos universos (sexo, drogas, violência), classificação de gênero (drama, policial, trash) e mulheres que não temiam ir além, com falas sarcásticas (Mia e Amy) ou que estava na transição ao perder a força sua inocência (Mathilda).

O lado sarcástico de Mia Wallace: "Quando você puder calar a p***a da boca por um minuto e compartilhar um silêncio confortavelmente".

Amy Blue tinha uma postura mais dark, suas citações eram provocativas e aborrecidas, um reflexo da juventude noventista e desiludida com a vida: "O mundo é um saco", "Eu acho que às vezes essa cidade está sugando minha alma".

1920, 1960, 1990: Décadas de feminismo e modas interligadas.
Uma coisa interessante é que na década de 90 aconteceu a terceira onda do feminismo. Não à toa, as mulheres da época no cinema e na música tinham uma certa ousadia e atrevimento como nos filmes citados na postagem.
Mas o que pouca gente sabe é que a moda noventista é releitura de 1960 e esta, releitura da moda de 1920, todas, décadas em que as mulheres romperam com padrões vigentes. Todo mundo já ouviu falar da revolução sexual de 1960, da segunda onda do feminismo e da criação da mini saia. Nos anos 1920, existiam as melindrosas, jovens sexualmente liberais que usavam saias curtas, cabelos na altura das orelhas e eram independentes. Além disso, usavam uma maquiagem "pesada", vamp: olhos e boca em tons escuros.

Comparação do corte "bob" nas três décadas:

A semelhança dos vestidos nas décadas: Em 1920 surgiram as regatas, a cintura era baixa e as saias na altura dos joelhos. Em 1960, as mangas regatas voltam e dependendo do ano, a cintura era baixa ou logo abaixo do busto, a bainha ia do joelho à super curta mini-saia. E finalmente na década de 1990, vemos mangas regatas novamente e cinturas abaixo do busto ou um pouco acima da cintura, as bainhas eram curtas.


A foto de uma de nossas Divas 90s, Gwen Stefani, liga a moda dos anos 1990 (vinil, gargantilha de spikes) diretamente com um vestido de corte anos 1920 (regata, cintura baixa com pregas), mas com mini saia (referência anos 60). Repare na semelhança do corte do vestido da década de 1920 com o de Stefani.


Na Moda Mainstream:
A década de 1990 foi minimalista, sem excessos, peças clássicas, básicas... mas nessa fase, as subculturas ganharam um certo poder e notoriedade dentro da moda mainstream, seja através do grunge, do kinderwhore e do movimento Riot Grrrl. Os estilistas, é claro, queriam aproveitar essa onda de rebeldia juvenil e "vender" essa imagem à seu público. 

Abaixo, desfile D&G de 1995, observe como as peças são simples (baby look, saias) mas os looks carregam referências subculturais com acessórios em vinil, cabelos coloridos, marias chiquinhas e maquiagem de olho e batom escuro que se associam com ao kinderwhore.


Aqui, temos o desfile de Betsey Johnson de 1996. Betsey é uma estilista de background punk e que desfila no mainstream. Digamos que ela faz uma moda alternativa um pouco mais cara, mas ainda assim, acessível. A referência punk no desfile a seguir é muito forte, nos faz associar com a estética e principalmente com a atitude de Amy Blue. Essa mesma estética acabou se tornando bem comum entre as meninas que curtiam rock em 1990.


Impressionante como tudo na moda se interliga e como ela consegue traduzir o comportamento de uma época específica. 

Qual desses filmes é o seu favorito?



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* Artigo original do Moda de Subculturas. Se quiserem usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, achamos gentil linkar o artigo do blog como respeito ao nosso trabalho. Tentamos trazer o máximo de informações inéditas em português para os leitores até a presente data da publicação.
Todas as montagens de imagens foram feitas por nós.
Fotos: Google.

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