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29 de abril de 2019

Kenned Flautas Negra: conheça o fotógrafo que registra a cena alternativa em Angola.



Em 2017 a cena pós punk da cidade de Luanda, em Angola, fascinou boa parte dos alternativos brasileiros. O motivo foi a viralização de uma foto no Facebook de autoria do fotógrafo Kenned Flautas Negra. Na época, vi que um dos rapazes estava marcado na foto, e contatei-o, o que resultou numa das postagens de maior repercussão aqui no blog, a "Como é ser alternativo em Angola". Sempre que relembro esta postagem ela é muito compartilhada. Não sei o motivo pelo qual cada uma das pessoas se interessa em específico pelos góticos de Luanda, mas posso levantar algumas suposições.

Créditos: Kenned Flautas Negra

Apesar da internet, pouco nos chega de informação sobre as cenas alternativas que ocorrem nos países daquele imenso continente chamado África. A curiosidade de saber que num país historicamente tão próximo ao Brasil, a Angola, o gótico se faz presente, nos faz perceber que na cultura alternativa existe algo de universal, algo que não tem fronteiras, gerando uma sensação de irmandade, identificação e união por interesses em comum apesar das distâncias.

Embora mais da metade da população brasileira seja afro-descendente, temos pouca representatividade negra nas cenas alternativas brasileiras e os angolanos se tornaram mais uma referência para os que buscam se inspirar e se empoderar por aqui.

Um outro ponto que levanto, é o da cultura do "Faça Você Mesmo", algo que no Brasil, com o acesso à lojas alternativas nacionais e internacionais, com o acesso à roupas de lojas departamento onde conseguimos encontrar peças com cara de alternativas, perdemos muito do hábito de customizarmos e fazermos nossas próprias roupas. Os angolanos mantém viva a cultura DIY tendo um contato muito próximo com a roupa, fazendo com que elas carreguem um significado não apenas estético mas emocional, o de criar algo com suas próprias mãos. Vi algumas pessoas associarem o hábito ao que eram as subculturas em seus primórdios, como se os angolanos fossem um exemplo a ser seguido ao manterem viva uma cultura em extinção.

Customização / Créditos: Kenned Flautas Negra

Hoje trago novamente os angolanos ao blog, desta vez com o responsável pelas imagens de sucesso e que viralizaram, o fotógrafo Kenned Flautas Negra. Bateu a vontade de conhecer mais sobre quem está por trás do registro - que com certeza tem um poder histórico - da cena alternativa de Luanda. Acompanhem:

Moda de Subculturas: Como descobriu o interesse pela fotografia? 
O interesse pela fotografia surgiu quando estava a cursar Arquitetura numa de fotografar as casas para se inspirar, aprofundei a paixão.

MDS: E o que você mais gosta de fotografar?
Gosto de fotografar tudo que me chama atenção, e me deixam fotografar.

MDS: Você tem sido o responsável por registrar a cena gótica angolana. Você também é gótico?
Acho que sou gótico ainda. Registro góticos para contar histórias naqueles que virão depois de nós.

Créditos: Kenned Flautas Negra


MDS: Já foi convidado para fazer alguma exposição ou lançar livro? Se não, tem alguma vontade de fazer?
Já sim, exposição coletiva denominada "Visões" com a Lwiana de Almeida. Mas não era nada ligado a cena gótica, era ligado a fotografia de rua em foco a mulher rural e urbana.

Créditos: Kenned Flautas Negra


MDS: Como sua Arte representa a Angola? Tem algo específico que você gostaria que as pessoas de outros países prestassem atenção? 
Tento ser mais "sujo" possível de modo o pessoal saber que a coisa é feita na "banda". As minhas fotos contam histórias, "se não ouviu não viu bem..."

Créditos: Kenned Flautas Negra


Kenned Flautas Negra está traçando seu caminho artístico. É fato que ele já possui imagens históricas em suas mãos, registros documentais da uma cena alternativa local que podem continuamente circular em exposições. Com intenção de ser diverso, captar as variadas nuances dos lugares que circula, o fotógrafo tem tudo pra continuar fascinando a todos, capturando a luz e eternizando momentos com a certeza de que já deixou sua marca na história da cultura alternativa.



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31 de outubro de 2018

Ensaio Fotográfico: Ritual

É bem comum que a gente se depare com ensaios de temática pagã que remetem à um cenário europeu. Mas e que tal num cenário brasileiro de clima tropical semi-árido? Parece nada a ver? Não é bem isso que se revela na sessão fotográfica "Ritual", que mostramos nesta postagem.


O ensaio foi realizado na cidade de Pacatuba, Ceará. Tomei conhecimento através do Instagram de uma das meninas, a blogueira e body piercer Mayara Soares (@oh.maygoth). E achei maravilhosa a proposta de não querer reproduzir um imaginário europeu, mas sim uma ideia de bruxas brasileiras mesmo, com todas as nossas peculiaridades regionais. 



Lidiane Góes, Ramona Rodrigues, Samantha Freitas e Mayara Soares estão vestidas iguais, dando uma uniformidade a atemporalidade ao visual das "bruxas" que vestem a cor negra, uma cor muito significativa. A cor negra na bruxaria representa o Útero Universal, do qual nasceu toda a Luz, a escuridão da Terra onde germinam as sementes, como contamos na nossa postagem sobre o Neopaganismo/Bruxaria Moderna. O toque de modernidade se revela na maquiagem escura nos olhos e na boca.


No ensaio, as modelos interpretam o ritual pagão dedicado ao Deus Cornífero, bem ilustrado nas fotografias com as caveiras.





Gostaríamos de parabenizar o fotógrafo de moda Leonardo Pequiar (@leonardopequiar) pelo trabalho assim como a liberação da postagem das fotos.



E você, o que achou do ensaio?




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1 de setembro de 2017

Ursula Decay fala sobre suas personagens alternativas em entrevista exclusiva // Interview with Ursula Decay

Tenho várias referências artísticas e ilustradores que admiro. O que mais me atrai é um pouco tanto do estilo das ilustras quanto do tema que o artista geralmente aborda em seu trabalho - normalmente procuro trabalhos que mostrem um pouco de rock, cultura pop japonesa e estilos alternativos.

For English version scroll down

Copyright (c) Ursula Decay

AriannaOlga Veitch, conhecida na internet como Ursula Decay, é uma ilustradora americana que sempre retrata alternativos em seus desenhos e quadrinhos - um reflexo de seu jeito de ser e de seus gostos. Achei seus trabalhos no Tumblr e Deviant Art e me apaixonei na hora! Ela sempre posta desde desenhos isolados de seus personagens até tirinhas em quadrinhos, sempre retratando com fidelidade e riqueza a moda alternativa atual. Curiosa que sou, entrei em contato com ela e trouxe uma entrevista exclusiva para vocês conhecerem-na melhor:

AriannaOlga Veitch-arte-alternativa
Copyright (c) Ursula Decay


Como você descreveria o seu estilo (como se veste e como faz arte)?
Ursula: Minha arte é altamente inspirada em quadrinhos dos anos 1980 e 90, modas de várias subculturas e música alternativa. Gosto de muitos estilos diferentes, então não tenho um visual definido. Amo os penteados dos anos 50, mas também adoro moicanos, então costumo ter um lado da cabeça raspado e alguns cachos. Adoro meias detonadas e camisetas velhas de banda, então tem um pouquinho de punk nisso. Um monte de coisas de Halloween, um monte de coisas de filmes de terror e eu não poderia me esquecer do meu amor por pastel goth!

Quais são suas maiores influências e o que a fez tornar-se artista?
U: Filmes de ação viciantes, claro! Faster Pussycat Kill Kill, Kill Bill, Death Proof, Mad Max, Natural Born Killers, subculturas em geral. Já passei por tudo quanto é estilo no colégio: gótico, punk, skater, grunge... até mesmo uma fase scene! Eu virei artista porque era algo que eu sempre fiz. Venho de uma família de artistas, meu pai e todos os meus irmãos fazem arte.

Arianna na vida real: ela mesma é como suas criações
(imagens de acervo pessoal da artista)



Pode nos contar um pouco mais sobre os seus personagens Oliver e Veruca? O que a fez criá-los e o que eles representam para você?
U: Oliver e Veruca são personagens que eu criei originalmente para um jogo de Dungeons and Dragons dos meus amigos quando estava estudando Arte. Eles eram bandidos num mundo apocalíptico futurista, tipo Blade Runner com Mad Max e 5th Element. Eram caras maus que, no fundo, eram bons. Quando criança, em todos os filmes da Disney que eu via sempre gostava mais dos vilões do que dos personagens principais e sempre me perguntava: "Como que eles se tornaram vilões? Eles já foram bonzinhos?"  Então, hoje em dia Oliver e Veruca são desse jeito: duas pessoas que fazem coisas horríveis, estão numa gangue e levam uma vida selvagem. Mas eu queria humanizá-los e mostrar porque eles são como são. Até porque é bem legal desenhar esses delinquentes!

Da esquerda para a direita: Glam (de Munrou), Oliver e Veruca.
Copyright (c) Ursula Decay

Crazy-Axe-Girlfriend-byUrsula-Decay
Copyright (c) Ursula Decay

O que você planeja para sua carreira artística? Algum conselho para quem quiser ser artista?
U: Quero fazer meus próprios quadrinhos e publicá-los de algum jeito, seja como webcomics ou como volumes físicos. Isso seria um sonho! Agora, um conselho: ARTE É DIFÍCIL! É um negócio difícil de sustentar alguém financeiramente. Você tem que ser forte porque as pessoas criticarão duramente sua arte. Você não pode comparar-se aos outros pois isso só te machucará. Precisa treinar o tempo todo se quiser melhorar e você tem que amar muuuito isso!

Copyright (c) Ursula Decay

Seus trabalhos e demais informações para contato podem ser encontrados no seu TumblrDeviant ArtInstagram, na sua fanpage e seu canal do YouTube.


Copyright (c) Ursula Decay


 Interview with Ursula Decay
 
I admire several artistic references and illustrators, what appeals to me is both the style of the illustrators and the theme their work addresses - I usually look for works which shows rock n roll, Japanese pop culture and alternative styles. 
Arianna Olga Veitch, known on the internet as Ursula Decay, is an American illustrator who always portrays alternative people in her drawings and comics - a reflection of her way of being and her tastes. I found her work on Tumblr and Deviant Art and fell in love with! She uploads since isolated drawings of her characters to comic strips, always portraying with fidelity and richness the current alternative fashion. Curious that I am, I contacted her and brought an exclusive interview so you can get to know her better!

How would you describe your style (the clothes you wear and the way you make art)?
U: My art it highly inspired by old 80′s and 90′s comics, fashion from various subcultures and alternative music, I like a lot of different styles of fashions, so I'm all over the place with my wardrobe. I love the hairstyles of the 50's but I also love mohawks, so I usually have some part of my head shaved with some sort of pin curl, I love distressed holey stockings and old ripped band tees so there's a little crust punk, A ton of Halloween stuff, a ton of horror movie stuff, and I can't forget my love for pastel goth!

Copyright (c) Ursula Decay

What are your biggest influences and what made you become an artist?
U: Cheesy action movies for sure! Faster pussycat kill kill, Kill Bill, Death Proof, Mad Max, Natural Born Killers, Subculture as a whole. I went through all the styles back in high school: goth, punk, skater, grunge... even a cringy scene phase! I became an artist because It's something I’ve always done, I come from a family of artist my father and all my siblings make art.

Copyright (c) Ursula Decay
 
Can you tell us more about your characters Oliver and Veruca? What made you create them and what do they represent for you?
U:
Oliver and Veruca were characters I had originally created for a Dungeons and Dragons game my friends held back in art school. They were criminals in a futuristic apocalyptic world think Blade Runner x Mad Max x 5th Element. They were bad guys who deep down were good . As a kid in every Disney movie, I watched I always loved the villains more than the main characters and always wondered what made them become a villian? were they ever good? so today Olly and Veruca are very much that, 2 people who do horrible things are in a gang and lead a wild life but I wanted to humanize them and show why they are the way they are . Plus it's pretty fun drawing these gutter punks!
 
Copyright (c) Ursula Decay
 
What do you plan for your art carreer? Any tips for anyone who whants to be an artist?
U:
I want to make my own comics and publish them somehow either as a webcomic or in print, that would be my dream job! As for advice ART IS HARD! it’s a hard bussness to make a living in. You have to have a tough skin because people will judge your art harshly. You have to not compare yourself to others cause that will only hurt you. You need to practice all the time if you want to get better and you have to reallllly love it!

Copyright (c) Ursula Decay

Her work and other contact information can be found on Tumblr, Deviant Art, Instagram, fanpage and YouTube channel.


Autora: Annah Rodrigues
Estudante de Design, técnica em Multimídia e ilustradora freelancer.
Uma colcha de retalhos ambulante: gosta desde rock e cultura alternativa até coisas de época e animes.
Usa sua introversão e sentido de (des)encaixe para refletir sobre coisas aleatórias nas horas vagas e desbrava aos pouquinhos a cena alternativa de São Paulo.
Instagram | Deviant Art | Art Blog | Fanpage




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Artigo de Annah Rodrigues em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens das mesmas foram feitas pela autora baseadas na ideia e contexto do texto.

9 de fevereiro de 2017

Tribal Style: a versão alternativa da Dança do Ventre

Tatuagens com motivos florais, piercings, cabelos coloridos, headpieces, bodychains, toda sorte de arranjos com pedrarias, moedas, pingentes, medalhões e flores sintéticas, maquiagem artística bem carregada nos olhos, trajes que levam tecidos pesados, da renda ao veludo, do negro ao translúcido, do opulento ao minimalista... de qualquer modo, é impossível não olhar para uma dançarina de tribal duas vezes e tentar decifrar o que ela tenta nos transmitir através de sua postura imperiosa, da sua dança carregada de uma energia quase palpável. Em movimento, ela transborda sensações e sentimentos; a música, quase sempre instrumental, parece pulsar do seu corpo, em sintonia com a alma.
Rachel Brice
A precursora mundial do estilo tribal de dança do ventre

Profundo, não? Foi assim que me senti ao assistir uma performance de dança tribal pela primeira vez. Foi como prestigiar um monólogo, mas na dança, o verbo é dispensável, sendo a ausência de vozes - tanto na letra da música quanto na boca da artista - carregada de significados. Seus olhos expressivos já nos dizem tudo o que precisamos saber. E nossos olhos, famintos de curiosidade, percorrem a performance com atenção, sentindo aquela estranheza inicial e em seguida despertando nossa emoção. No palco, deixamos de ser quem somos no dia a dia para incorporarmos nossa persona criativa.

Ligada aos nossos valores antigos e sagrados, o estilo tribal traz elementos contemporâneos em sua forma de pensar a dança ao mesmo tempo em que a resgata como uma prática ritualística das nossas raízes antropológicas - nas palavras de Joline Andrade, bailarina e especialista em Estudos Contemporâneos sobre Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), "uma dança que representa a atualização estética da fusão contemporânea entre o moderno e o ancestral"; ou, no dito popular: mais do que uma dança, um estilo de vida!

Joline Andrade (BA) é professora, bailarina, produtora e pesquisadora em dança tribal.


Mas afinal, o que é a dança tribal?

É difícil definir a dança tribal assim, em uma frase, sem dar margem à interpretações errôneas. Se a dança do ventre já recebe uma visão um tanto ofuscada pelos brasileiros, que dirá o tribal! Mas tem um artigo da Mariana Quadros (aqui) sobre os mitos do tribal que tenta esclarecer algumas confusões criadas entre os leigos no assunto. Reforço aqui os pontos do nosso interesse: dançar tribal não é fazer carão, colocar uma música dramática e se aventurar em peripécias abdominais utilizando um figurino preto, assim como também não podemos chamar de tribal qualquer fusão com dança do ventre.


Para compreender esta dança é preciso ir a fundo em seu histórico, matrizes e referências. Para este estudo, apresento um recorte adaptado do trabalho Processos de Hibridação na Dança Tribal: Estratégias de Transgressões em Tempo de Globalização Contra Hegemônica de Joline Andrade:
Numa tentativa de acompanhar a liquidez das informações no mundo contemporâneo, a dança tribal é uma linguagem que, tendo como referência a dança do ventre, surge como uma proposta de agregar diferentes manifestações de danças étnicas das mais variadas regiões do mundo, mesclando conceitos e movimentos de estilos como o flamenco, a dança indiana, danças do Hip Hop e até mesmo posições do(a) yoga, para transpô-las numa estética contemporânea atualizada.¹
O grupo The Indigo Belly Dance Company (2003 - 2013) ficou conhecido no mundo todo após sua turnê Le Serpent Rouge (2007 - 2009), que tinha como principal característica a pegada vaudeville. Fundado por Rachel Brice (a do meio), o grupo era composto também por Mardi Love (à esquerda) e Zoe Jakes (à direita). Mardi Love foi a principal responsável pela estética dos figurinos clássicos de Tribal Fusion; Rachel Brice fundou a escola física e online Datura e Zoe Jakes integra a banda Beats Antique, sendo uma das principais referências em world music.

vaudeville Rachel Brice

Em resumo, ainda segundo a Joline, a dança tribal "é relativamente recente no mundo da dança, mas bebe na fonte de diversas culturas antigas e mistura tudo numa alquimia contemporânea." O estilo surgiu como uma forma de expressão inovadora no final da década de 1960, na Califórnia (EUA), durante os movimentos contraculturais do Woodstock, em meio a episódios sociais, culturais, políticos e econômicos, chegando ao Brasil em meados da década de 1990. Tatuagens e estilos ancestrais de adornos corporais estavam em voga e, desta forma, outros jovens que viviam estilos de vida alternativos se interessaram pela dança, dando forma à linguagem exótica que conhecemos hoje.

Carolena Nericcio é a mãe do American Tribal Style® Belly Dance, estilo que tem como principal característica
a improvisação coordenada em grupo.


Somos uma só Tribo!

Em 2008, Luciana Carlos Celestino trouxe uma importante contribuição para o meio acadêmico sobre a dança tribal: o artigo Sementes, espelhos, moedas, fibras: a bricolagem da dança tribal e uma nova expressão do sagrado feminino, utilizado como uma das principais referências em trabalhos posteriores, onde aponta que "se compreendermos a dança além de uma manifestação estética e/ou artística, poderemos ver a conexão entre a criação poética e o envolvimento que vivenciam as dançarinas"; afirmando ainda que "ao entrarem em contato com a dança, as dançarinas têm uma intenção clara de resgatar valores ligados ao feminino".²


Em síntese, o tribal traz muito da singularidade de cada dançarina. Nossas experiências pessoais bem como nossas vivências artísticas tornam-se estudos complementares de corpo e arte que contribuem para a construção de um vocabulário artístico. Na dança, imprimimos nossa personalidade, encontramos nosso estilo e, por fim, desenvolvemos uma identidade artística. Esta liberdade de criação ocasionou no desenvolvimento de inúmeras vertentes e nomenclaturas diferentes, mas cabe aqui ressaltar que, antes de tentar rotular uma performance, fazemos todas parte da mesma tribo. Confira a seguir alguns estilos de fusão que se destacaram ao longo dos anos, seus precursores e, também, alguns dançarinos de destaque em nosso país:

ATS® e ITS
ATS® é a sigla para American Tribal Style®, estilo criado por Carolena Nericcio; enquanto que ITS é a sigla para Improvisational Tribal Style, cujo conceito é o mesmo - de improvisação coordenada em grupo - mas o estilo varia conforme o grupo. Na foto: à direita temos o grupo Widlcard Bellydance e, à esquerda, o grupo Unmata, ambos de ITS.

Improvisation Tribal Style

Cia Exotika - ITS

Dark Fusion
Ariellah Aflalo (à esquerda) é a principal responsável por trazer a influência dark e gótica na dança do ventre e tribal, sendo uma das integrantes da formação original do The Indigo Belly Dance Company e idealizadora do festival Gothla de fusões dark e teatrais. Nas palavras de Gabriela Miranda (RS), à direita, o estilo Dark traz a expressão teatral, lírica e passional para a dança. A brasileira Mariana Maia (SP), no centro também é adepta do estilo.

 

Ariellah Aflalo e The Lady Fred


Indian Fusion
As fusões com dança indiana são também uma das principais vertentes da dança tribal. À esquerda, Naga Sita, conhecida pelas fusões ritualísticas com Art Nouveu através do seu grupo Apsara; no centro, Moria Chappell, a criadora do Odissi Fusion; e à direita, Collena Shakti, uma das principais referências em Indian Fusion Belly Dance.



Naga Sita


Urban Fusion
A Orchidaceae Urban Tribal é a principal referência em urban fusion. Dirigido por Piny, o grupo mescla movimentos do popping, waacking, vogue e dança contemporânea com dança do ventre.

Orchidaceae Urban Tribal


Tribal Brasil
Kilma Farias (PB) foi a primeira dançarina a realizar experimentações, desenvolver e sistematizar o estilo Tribal Brasil junto com a Cia Lunay, que fusiona a dança tribal com danças afro-brasileiras. Em seguida, surgiram outros pesquisadores na área, como Cibelle Souza (RN) - diretora da Shaman Tribal Co., e Nadja El Balady (RJ).

Shaman Tribal Co.

A cena também é deles

Uma das principais distinções entra o estilo tribal e a dança do ventre como a conhecemos popularmente é que, apesar de ressaltar a feminilidade, a dança tribal se destaca pela criatividade artística e técnica da bailarina, sem necessariamente torná-la sensual, desta forma, os homens também ganharam espaço na área, conquistando o público com o carisma masculino.
 
Illan Riviere Marcelo Justino Lukas Oliver
À esquerda, Illan Rivière; no centro temos Marcelo Justino (SP), também pesquisador em Tribal Brasil; e à direita, Lukas Oliver (SP). Além destes, no Brasil também temos o Luy Romero como uma grande referência masculina.

Illan Riviére


A Autora

Melissa Souza (Várzea Paulista/SP) é bailarina, professora, coreógrafa e produtora na área de Dança Tribal, blogueira-criadora do Tribal Archive e integrante do Movimento TranscenDance. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, atua também com assessoria de comunicação e mídias digitais para empreendedores e artistas. Dentre seus trabalhos recentes está a produção independente do Projeto Vídeo & Dança.

Blog: http://tribalarchive.com
Referências

¹ ANDRADE, Joline Teixeira Araújo. Processos de Hibridação na Dança Tribal: estratégias de transgressões em tempos de globalização contra hegemônica. Monografia (Curso de Pós Graduação em Estudos Contemporâneos sobre Dança) - Universidade Federal da Bahia, 2011.
² CELESTINO, Luciana Carlos. Sementes, espelhos, moedas, fibras: a bricolagem da dança tribal e uma nova expressão do sagrado feminino. In. XVI Semana de Humanidades da Universidade Federal do Rio grande do Norte, 2008.

Sites consultados:
http://fcbd.com
http://www.jolineandrade.com
http://hibridaressonante.blogspot.com
http://www.marianaquadrostribal.com
http://www.tribalarchive.blogspot.com
http://cialunay.blogspot.com.br


Artigo de Melissa Souza em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens das mesmas foram feitas por nós baseadas na ideia e contexto dos textos. 


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22 de fevereiro de 2016

Os calçados conceituais Peter Popps

Recentemente me deparei com os calçados de Peter Popps. Fiquei boquiaberta com os designs inspirados em futurismo. A moda conceitual é algo que me atrai muito, não apenas por sua relação com a moda alternativa (como contamos aqui e aqui), como porque pra mim, criação de moda quando realmente criativa, não importa o estilo, se é inovador, perturbador ou intrigante, sempre me sinto atraída. Quando uma mente criativa tem os meios e as oportunidades de colocar uma ideia - por mais louca que pareça - em prática, podem sair coisas que colocam em xeque aquela máxima de que "não há mais o que se inventar pois tudo já foi inventado". 

Numa breve pesquisa, descobri que Peter Popps trabalhou por 24 anos na criação de calçados comerciais, até que um dia sentiu uma necessidade imensa de criar peças em oposição aos valores culturais do mainstream. Sobre isso, ele declarou:

"A liberdade que eu tinha quando comecei decaiu mais e mais. Hoje compradores não procuram por coisas novas, tudo é repetitivo. Me deixa louco ver cópias e mais cópias. Eu queria me rebelar contra isso e me desafiar."

Sua coleção consiste em designs feitos de modelagem 3D, através de muita tentativa e erro. A inspiração veio de assuntos contrastantes como por exemplo, ficção científica e bondage. Seus calçados não estão à venda, devido a todo processo de criação, por serem muito trabalhosos, o valor final seria extremamente elevado. A grande questão que fica é: seriam eles obras de arte da moda?

Os designs de sua coleção:
CUBE - inspirado por punk e bondage, nas contradições contemporâneas de revolução e obediência da humanidade. A intenção é provocar o "fetiche" da vulnerabilidade.
De couro, metal e studs.


CUBiC - inspirado pela fascinação de Peter pela era do espacial, sci-fi e comics. Ele cita Barbarella: "O que usaríamos no futuro?" 
De couro e poliuretano.


SWiNG - influenciado pela revolução e rebeldia, as similaridades e contradições da feminilidade e do feminismo. Elegante, este parece ser "andável".
De couro e poliuretano.


SPHERE - tem influência da moda na era espacial (uma época da década de 1960 onde criações futuristas se inspiravam na conquista do espaço. Desta época podemos citar os estilistas Pacco Rabanne, André Courrèges, Pierre Cardin entre outros), misturado com a escuridão do Gothic, unindo passado e futuro.
De couro e poliuretano.

CONE - inspirado por vanguardismo e forte feminilidade, nas contradições da sensibilidade e autoconfiança. Seu gatilho foi a frase de  Diana Vreeland: "Um sapato novo não te leva a lugar nenhum, é a vida que vocês está vivendo no sapato que te leva." Assim como  o SWiNG, parece ser possível dar passos nele.
De couro e poliuretano.


BOW - inspirado em bondage e na animalidade do homem. O corpo do calçado lembra as amarrações do bondage adornado com spikes elegantes, já o "chifre" remete à animalidade e agressividade.
De couro, metal e studs.


LACE-UP CiRCLE - novamente inspirado pela era espacial da década de 1960, sci-fi, bondage e avant-garde.
De couro, studs e poliuretano.



RiNG -  Para suas criações, Popps cita a frase "dê à eles o que eles nem imaginam que querem". Esta peça é inspirada numa futura locomoção por transporte magnético.
De couro e poliuretano.


CiRCLE -  este tem a mesma inspiração do calçado acima, inspirado na locomoção por magnético aliado ao sci-fi da era espacial.



E o que vocês acharam? 


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