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14 de dezembro de 2018

Die Antwoord e Zef: a subcultura do branco pobre da África do Sul

Com o fim do apartheid na África do Sul, novas políticas foram criadas visando o apaziguamento das diferenças étnicas entre negros e brancos naquele país. É nesse ponto que a subcultura Zef ganha espaço. Atualmente é associada ao trio de rap Die Antwoord que orgulhosamente representa o estilo.

Yo-Landi Visser e uma de suas camisetas escrito "ZEF"/ Divulgação.

"Zef é o estilo azarão da África do Sul. Zef tem sido um insulto há muito tempo na África do Sul. Significa que você é um pedaço de merda" - Ninja, Die Antwoord

O Zef surge como consequência do empobrecimento dos brancos da África do Sul. Para entender como os brancos empobreceram precisamos voltar um pouco no tempo e contar de forma breve a história da colonização do país.

Os colonos holandeses chegaram na África do Sul no século 17 com o desejo de estabelecerem-se numa terra fora dos domínios britânicos, assim, ocorreu uma migração em massa de agricultores (os Voortrekkers), os "pioneiros", que desenvolveram sua própria linguagem e identidade. Os descendentes destes colonos são chamados de "Afrikaners". Em 1948 eles chegaram ao poder e o Apartheid foi instaurado.

O apartheid foi  um regime de segregação racial (1948 a 1994) onde os direitos da maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo de minoria branca. Ocorria a divisão dos habitantes em grupos raciais: "negros", "brancos", "de cor" e "indianos". Na década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania. Serviços públicos como saúde, educação e outros eram oferecidos de forma inferior aos negros enquanto os brancos ficavam com os melhores serviços.

Muitos Afrikaners trabalhavam na indústria do ouro na década de 1970, enriquecendo e levando um estilo de vida ostentatório. Apesar de uma vida financeira confortável, eram pouco educados e escolarizados. O termo "Zef" era usado para descrever a paixão destas pessoas pelo Ford Zephyr customizado de forma extravagante. O estereotipo do Zef era um bigode de morsa (bigodes super grandes) e um corte de cabelo mullet. 

Em 1994 ocorrem as primeiras eleições democráticas e consequentemente o fim do apartheid. A vida destes brancos muda radicalmente, levando-os ao empobrecimento. Sua cultura virou tabu, foi sendo desmantelada ganhando um significado de 'vergonha'. 

A recente geração de afrikaners de Joanesburgo reapropriou e parodiou esta cultura marginalizada. A cena cresceu em torno de  Die Antwoord, com Ninja, Yo-Landi e o DJ Hi-Tek que fazem rap em inglês, na língua Africaans (africânere dialetos locais.

"Zef é: você é o pobre mas você é extravagante. Você é pobre mas você é sexy, você tem estilo" - Yo-Landi

Zef: o visual do branco que entrou em decadência social com o fim do Apartheid

Características

O Zef envolve elementos que remetem à ostentação, como o uso de grillz nos dentes e a um visual barato associado à classe média baixa. 


As características do estilo Zef. / Reproduçao


Mullet, cuecas boxers estampadas, lentes de contato sclera, tatuagens de baixa qualidade, corte/penteado High Top Fade (o penteado do Ninja), jóias douradas, roupas over-sized (grandes para o corpo da pessoa), camisetas curtas estilo cropped (leia matéria aqui), pinturas no rosto e referências aos anos 1980 (as cores verde e rosa são frequentes) são habituais no visual do Die Antwoord.


Yo-Landi cheia de colares dourados e 
seu famoso corte de cabelo mullet. / Divulgação

Os estilos de Yo-Landi e Ninja passam a impressão de um visual de rua, marginalizado, casual, simplório e às vezes 'esquisito' e brega. As roupas de Yo-Landi costumam ter também um jeito infantilizado.


É importante salientar que o visual do grupo de rap remete a uma versão mais exagerada, uma paródia do comportamento 'pouco educado' dos Zefs que já foram bem de vida e perderam poder aquisitivo. Suas roupas com aparência de baratas e de modelagem simples se contrastam com os elementos de ostentação, como os acessórios em ouro.
A dupla estrelou o filme "Chappie" (2015) de Neil Blomkamp e manteve o visual Zef em cena associando-o a elementos cyberpunks e pós apocalípticos nas cenas de luta.


Fotos: Divulgação

Embora o Zef exista há décadas, foi com Die Antwoord que esta subcultura ficou mundialmente conhecida através da abordagem sarcástica dos artistas musicais. 

Seguimos no caminho de escrever sobre subculturas e estilos alternativos fora do eixo Europa / Estados Unidos. O Zef é apenas um dentre muitos.


E você, o que acha de 
Die Antwoord e do estilo Zef?



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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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1 de maio de 2014

O estilo da cantora Brooke Candy

Antes de iniciarmos nossa análise sobre Brooke Candy, vamos explicar o porquê do tema: vivemos uma carência absurda de representantes femininas no rock. Fica difícil lembrar algum nome que abalou a cena por sua atitude em tempos recentes. Sentimo-nos órfãs da rebeldia que parece ter ficado a cada dia mais no passado. Praticamente, a estética se tornou a mesma para todos. Quase comum.

Patti Smith, Wendy O. Williams, Poly Styrene e as Runaways dominaram a década de 1970. Nos anos 1980, Nina Hagen. Tivemos o feminismo das Riot Grrrls, garotas grunges dos anos 90, como Bikini Kill, 7 Year Bitch e L7. Na mesma fase, a ira de Courtney Love e Kat Bjelland. Amy Lee nos anos 2000 era como uma donzela melancólica. Já as garotas do heavy metal andam comportadas, viraram "Divas" e "Deusas"; nesse meio quem se destaca pela atitude é Shamaya da banda Otep.
No Brasil, temos a grande Rita Lee e a Pitty. Dentre os homens a escala é maior, desde Elvis Presley, passando por Sex Pistols, Alice Cooper, Kiss, Rob Zombie, as loucuras estéticas do glam metal até algo mais próximo, como Slipknot e Marilyn Manson. Daí em diante, tudo na estética rocker masculina é revival, nada novo.

Porém começamos a observar nos últimos anos, que essa quebra de regras não sumiu por completo, tem voltado com força em mulheres do cenário pop. A maravilhosa Amy Winehouse era puro estilo e atitude. Lady Gaga abusa da ousadia, mas é boa moça como a cultura de massa gosta. Foi então que nos deparamos, em situações diferentes, com a rapper americana Brooke Candy.

A Lauren vem observando há algum tempo algumas meninas do gueto. Elas vinham lhe chamando a atenção pela estética e clips chocantes. Segundo o que percebeu, a Brooke tem aquela atitude bitch que não vemos mais no rock com frequência. Mulheres da pesada, “força da natureza” a la Courtney Love, com posicionamentos que intimidam o mainstream.

Já a Sana, conheceu a cantora no começo do ano, enquanto lia uma reportagem sobre a geração Y e suas misturas estéticas. Durante a leitura, uma fotógrafa é citada e uma visita ao seu site, acabou a levando até Brooke. Impressionada com a estética da moça, a associou com algumas tendências de moda alternativa que via surgir, porém não sabia qual fonte de inspiração. Ao olhar a rapper, tudo fez sentido.


blue-hair
Brooke Candy

Sabemos que a Brooke é de um universo muito diferente do nosso, então pedimos que abram a mente, deixem os pré-julgamentos de lado, porque a moça apareceu com um estilo autêntico, corajoso e sim, alternativo. Bem mais, aliás, do que muitos que se dizem alternativos. A geração contemporânea parece não ter tanto o espírito rebelde e provocativo das anteriores. 
Nós amamos pessoas que desafiam romper padrões, pois nada mais é do que a verdadeira essência do rock n’roll. Como autoras do MdS e duas garotas do rock, apreciamos artistas que provocam e conseguem levar a cultura, a música e a moda adiante. Resolvemos então ousar e causar, falando dessa rapper que ainda não vimos ser abordada na cena alternativa daqui. Afinal, polemizar, quebrar tabus e trazer novas visões é o que a gente gosta de fazer!


Brooke Candy

Brooke Candy é uma rapper de apenas 23 anos que se auto-intitula “Freak Princess” de Los Angeles. Ela se enquadra na gíria americana "ratchet", que define garotas do gueto com toque de high trash (algo como “alto lixo”, uma analogia com “alta moda”) e imagem de stripper em looks abertamente sexuais. De fato, Brooke é uma ex-stripper crescida nos bastidores da indústria pornô californiana (Wendy O. também tinha) e se tornou conhecida pelo seu tumblr pessoal onde divulgava fotos polêmicas. Ela tocava em pubs norte-americanos e aos poucos começou a se destacar como artista underground.

Foi através das fotos que postava em seu tumblr pessoal 
que seu estilo começou a se destacar no underground.
brroke-candy-style-tumblr

Brooke aprecia o universo trash. Quentin Tarantino e John Waters (Cry Baby, Pink Flamingos) estão entre seus diretores preferidos. Com um visual mega diferente, carregado em exageros e elementos excêntricos, Brooke parece não possuir o menor receio de alternar a sua estética, muitas vezes beirando ao ponto da androginia, pois quem não a conhece, pode confundi-la com uma Drag Queen. Ela não tem limites para se expôr, boa parte de seus clipes são proibidos no Youtube. Se fosse para defini-la, com certeza não iriam faltar palavras como extremo e over.


Brooke adora flertar com a androginia.

Numa entrevista, Brooke revelou: "Fui obcecada por Marilyn Mason. Ele é um gênio. Ele tinha cabelos longos e se transformou em transexual/artista performático com muita originalidade. Courtney Love é alguém que eu respeito. Amy Winehouse é a mulher mais emblemática para mim. Ela foi a artista mais original do nosso tempo e era tão genuína, verdadeira e trágica. Sua voz era tão emotiva e de coração partido. Posso me relacionar com sua intensa tristeza. Ela é alguém que eu literalmente amo..."

Como uma moça da geração Y, Brooke mistura diversos elementos visuais de subculturas em seus looks, mas é tudo levado ao extremo. Abaixo, franja em V, cabelo rosa e azul, tranças, roupa de látex, elementos cyber e clubber, cores neon, plataformas gigantes, unhas imensas decoradas, maquiagem gótica. Uma pin-up radical, pós-apocalíptica!
 


Polêmica, sobre sua imagem over-sexualizada e hiper-agressiva, ela diz: "As mulheres ainda são sexualmente escravizadas em nossas mentes. Não deve haver dois pesos e duas medidas e eu sinto que homens e mulheres são iguais e devem ser tratados assim. Eu era muito atormentada quando estava crescendo, era uma pessoa muito triste. Nunca estava confortável comigo mesma, nunca". 

Brooke diz que quando virou stripper sua auto-estima melhorou: "eu não estou sugerindo isso para as meninas como uma forma de construir a sua confiança, não. Mas para mim, funcionou. Meu pai trabalha na pornografia e então eu estava em torno deste tipo de coisa desde muito nova. Eu disse a mim mesma: "Ok, eu estou empurrando os meus limites, vou me objetivar e não ser objetivada". Eu estava me objetivando para mostrar a outras mulheres que devem se sentir confortáveis com o seu maldito corpo. Quem se importa? Eu não tenho um corpo perfeito. Não há limites para a minha sexualidade e não me ligo mentalmente com os homens, é como se eles fossem um objeto sexual para mim, como muitas mulheres tem sido para os homens ao longo dos séculos. Por que eles não podem ser objetos sexuais para as mulheres? A  vagina é uma arma, ela detém o poder. As mulheres são tão poderosas, dão a vida."


Numa foto relembrando seus tempos de stripper, plataformas gigantescas ao estilo que Marilyn Manson usava nos anos 90!

Brooke já vem um tempo flertando com a moda. Teve o vídeo “Everybody Does” produzido pela revista Dazed And Confused e em “Das Me”, ela termina andando pela Rodeo Drive, um quarteirão famoso de LA por ter as maiores lojas de grifes do mundo. Quando começou a se destacar no underground, revistas de apelo mais alternativo como a Shön, a Wad, a Cream, a Tank e a Love Magazine colocaram o estilo de Brooke em suas páginas.

Sua coleção de plataformas é visível na primeira foto, a seguir, o mix de clubber + rapper. Abaixo, um streetwear colorido; látex e flores para a Love Magazine e finalmente com a amiga Mela Murder.


Seu nome tem ganhado bastante evidência depois que se juntou a Nicola FormichettiA amizade começou depois que ele a viu no clipe Genesis, da Grimes. O diretor criativo ficou impressionado com sua estética, achou a completamente louca. Se conheceram durante uma sessão de fotos e desde então, Formichetti tem trabalhado como stylist da rapper, abrindo as portas da cantora à moda mainstream, tornando parte da campanha de acessórios da Diesel.

Com Formichetti teve acesso a roupas de McQueen, Thierry Mugler, Gareth Pugh, Viktor e Rolf, ela diz que as criações dos estilistas são opulentas, mas ainda tem o fator estranho: “Eu estou em transição, saindo da armadura. Estou evoluindo para algo mais alta moda”.


Brooke com Nicola Formichetti e se apresentando no desfile da Diesel.

Brooke está começando uma nova fase, quer atingir um público maior e está trabalhando com Sia pra dar uma direção mais pop, acessível e comercial às suas polêmicas músicas. Se ela continuará nos surpreendendo com seu estilo, parece que sim, a julgar pelo teaser de seu novo clip Opulence, dirigido por ninguém mais ninguém menos que o icônico fotógrafo Steven Klein, sob o styling de Formichetti.


Brooke para Diesel nas duas primeiras fotos e com um visual mais amenizado em evento recente. Será que a autenticidade de seus looks continuará, agora que seu visual está sendo assistido por Nicola Formichetti, ou ela será transformada numa nova Lady Gaga? 


Na Moda Alternativa
O ghetto fabulous já começa a dar as caras aos poucos em algumas linhas da moda alternativa. O estilo de Brooke, amenizado, se revela até que bem vendável. A onda hipster, super vendida por lojas fast fashion chinesas, já se tornou comum e aos poucos as pessoas procuram novamente por diferenciação. Essa referência 90s, de cores fortes, cyber e clubber, já começa aos poucos a invadir o estilo dos alternativos. Não duvide que os lita inspired boots sejam substituídos por calçados de imensas plataformas num breve espaço de tempo!



EDIÇÃO 24/01/2018: Em recente entrevista, Brooke Candy revelou que rompeu com a gravadora por esta estar limitando sua criatividade. De fato, nos anos em que esteve sob contrato, a cantora amenizou bastante sua música e visual. A rapper ama o underground e a cultura alternativa, será que agora voltará com seu estilo extravagante? :)

EDIÇÃO 07/06/2019: Sim! Brooke Candy voltou a ter um visual super ousado, aumentou as tatuagens e continua super provocativa! Se afastar do mainstream fez ela voltar a ser ghetto fabulous!



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