Destaques

8 de julho de 2022

Cyber Vampire: A nova coleção da loja Reversa!

 A nova coleção da loja Reversa se chama Cyber Vampire. Ela nasceu com o clima de revival e nostalgia do começo dos anos 2000, época em que filmes futuristas com vampiros ficaram muito populares, como Blade, Anjos da Noite e a Rainha dos Condenados. A Cyber Vampire é o encontro de dois mundos: o mundo da tecnologia cyberpunk, mais distópico, e o retrô clássico vampiresco.



O visual Cyber se utiliza de referências na ficção científica, o cenário distópico do futuro da humanidade, arrasado por desastres nucleares e vírus ameaçadores (como o vírus responsável pela pandemia de 2020). 

Gavin Baddeley em seu livro ‘Goth Chic – Um guia para a cultura dark’ (2002), diz que o surgimento do Cyber enquanto subcultura, não pode ter sido anterior a 1995, o que justifica a década de 2000 ter visto uma representação cinematográfica do cyber. A grande sacada da loja Reversa foi perceber que a temática vampiresca não entra em confronto com a distopia cibernética.


Naquele período de final da década de 1990, os cybers contrastavam de forma extrema com os góticos românticos, coisa que não ocorre na coleção Cyber Vampire. A união destes dois universos se mostra muito viável e aprazível aos olhos.

 



As duas influências estão presentes no vermelho das peças associado aos vampiros e ao sangue, no uso de tules e transparências para um toque moderno, o veludo mais clássico e os puxadores que em maioria utilizam o símbolo da coleção Vampire Heart, que é o ankh estilizado em formato de coração, criação exclusiva da marca, além de estampas mais futuristas como a do casaco Moon Virus e do moletom Neon Skull (fotos acima).


As principais cores são o preto e o vermelho. A cor preta predomina como base para o vermelho sangue.




O romantismo retrô vampiresco se revela uma abordagem estética em harmonia com os resultados catastróficos dos avanços científicos de um futuro distópico pós-apocalíptico. As roupas femininas possuem um certo grau de exibição corporal através do uso de saias curtas e materiais característicos da moda fetichista, por exemplo o tule, o pêlo e o verniz (plástico brilhante das botas de plataforma).





Sobre os acessórios, eles são bastante exagerados tendo gargantilhas, correntes, tudo pode ser adornado com grandes spikes, remetendo à agressividade e distanciamento social. No lugar das botas também podem ser usados pesados coturnos.




Me contem o que gostaram da coleção, quais suas peças preferidas? 



* Post Publicitário



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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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22 de junho de 2022

Nova coleção da loja Dark Fashion trás 29 peças!

A coleção nova da loja Dark Fashion está disponível no site, corre ver tudo pois está um luxo! São 29 peças (uma coleção enorme ) presando o de sempre: Estilo conforto e qualidade!



Nosso cupom na loja é SUBCULTURAS

Acesse o site e clique em LANÇAMENTOS no menu, para ver todas as peças!

Selecionei algumas fotos para vocês! Clique para aumentá-las.








Vocês reconhecem essa saia? É a parte de baixo do vestido Aurora (clica aqui)! Que criei em parceria com a loja para a coleção Dark Glamour de 2020.




Sobre esse vestido abaixo, já recebi o meu e como sempre só tenho elogios à Dark Fashion, o veludo é extremamente macio e molinho, não é um veludo duro e pesado, parece uma pluminha que dá vontade de ficar passando a mão! <3 É fininho e muito confortável. Não tinha visto ainda esse veludo em nenhuma loja alt brasileira. É lindíssimo ao vivo e muito confortável e como todas as peças mais ajustadas da marca, possui forro para não marcar tanto o corpo e a roupa de baixo. 






Me conta aí quais as peças favoritas de vocês!



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21 de maio de 2022

Shibari e BDSM como “arte e empoderamento”: Como o neo/liberalismo se infiltra discursivamente no feminismo.

Discussão iniciada a partir destes stories postados em nosso Instagram:




Shibari e BDSM como “arte e empoderamento”: Como o neo/liberalismo se infiltra discursivamente no feminismo.


Se Shibari é arte eu não sei. Porém a palavra “empoderamento” em sua origem e significado nada te ver com “poder individual feminino” ou algo do tipo - essa é a liberalização, deturpação do termo.

“Empoderamento” surge no sul global, quando mulheres se organizaram de forma criativa e efetiva para saírem de circunstâncias de pobreza e miséria. Coletivamente. Mulheres agindo de forma autônoma, política, econômica pelo bem delas e do entorno = empoderamento feminino.

Ao se apropriar e deturpar pautas e ideias revolucionárias feministas, o liberalismo intenciona transformá-las em discursos ocos, sem efeito de transformação político-social e, ao refletirmos sobre eles com mais profundidade, encontramos lacunas e dúvidas.

O “feminino” - interpreto como “para mulheres”. A historiadora Gerda Lerner, no livro A Criação do Patriarcado, diz que a mulher (o sexo feminino) foi o primeiro ser escravizado - dentro de todo tipo de coisas que vocês imaginam por escravidão. Técnicas de crueldade foram testadas nelas primeiro para que os homens pudessem aplicar as técnicas que deram certo nos seus inimigos conquistados em guerras. E como vimos, a origem do shibari se dá visando imobilizar, humilhar e torturar presos publicamente.

“Mulheres” são uma classe sexual, significa que possuem experiências de opressão em comum apesar das diferenças de raça, classe social e geografia. Um dos medos comuns às mulheres ao redor do globo é o da violência sexual que as torna hipervigilantes, como explica Graham no livro Amar para Sobreviver. Aquela história de "intuição" (feminina), que dizem ser algo "natural" ou "místico" nada mais é do que uma espécie de memória genética do medo constante, que pela hipervigilância gera uma capacidade de “prever” situações de perigo. Não há nada místico nisso, é estratégia milenar de sobrevivência.

Partindo do entendimento que a violência sexual contra a mulher envolve controle social, moral, psicológico, econômico, político e cultural, mulheres sempre sofreram violências masculinas, a novidade moderna é que no liberalismo elas "consentem" em performar de forma erótica violências históricas contra sua classe sexual.

Hitler tinha como símbolo pessoal o chicote. Ele gostava de ver mulheres fortemente amarradas. Não à toa que parte da referência estética da subcultura fetichista são quepes e sobretudos de couro ou vinil na modelagem da moda alemã fascista da década de 1940. Isso de forma alguma significa que seus adeptos são fascistas, ou nazis… no entanto, é preciso que seus adeptos tenham consciência que estão sujeitos à crítica política, e justamente por isso, desenvolveram suas defesas, as mais famosas delas são: “consentimento” e o argumento de “liberdade individual” - é aqui que chegamos ao liberalismo, pois “Liberdade individual” não significa sempre progressismo. Bugou, né? Pois é, este é um dos alicerces da política neoliberal.

"As políticas antirracistas, antifascistas e anticapitalistas dependem de um entendimento de que os oprimidos não buscam, precisam ou querem sua opressão. Somente aqueles que são homens brancos detentores de riqueza estão em qualquer posição de exercer consentimento verdadeiro a um sistema político que rotineiramente degrada, explora e controla todos os outros. O sadomasoquismo utiliza essa noção politicamente manipulativa de consentimento para se justificar." [Jeffreys*]

A construção social de hierarquia de poder, da relação dominante-dominado é típica do capitalismo, do patriarcado, do racismo. Reproduzir essa lógica na relação sexual é validar a existência de classes (a que deve ser oprimida e a que deve ser opressora) no âmbito privado. Embora muitas destas pessoas se denominem antissistema, antiopressões e até estejam envolvidas com movimentos sociais na vida pública.*

Teóricas do feminismo liberal SABEM que a opressão feminina é pelo sexo (suas obras apontam isso), no entanto, colocam a carga de responsabilidade de resolver as opressões históricas sobre os ombros da individua, da mulher. Por isso a corrupção do termo "empoderamento", foi uma bela saída discursiva para continuar mantendo as mulheres reproduzindo a filosofia patriarcal sem se dar conta.

“Por exemplo, feministas liberais se recusam a problematizar a prostituição, pornografia ou objetificação sexual, dizendo que essas atividades são uma escolha da mulher. Da mesma forma, o BDSM é visto completamente acriticamente, como apenas mais um item no menu sexual que as mulheres consentem ativamente em participar e obter prazer. O BDSM é entendido pelas feministas liberais como empoderador e transgressivo.” [Kiraly; Tyler]**

"A noção de que as mulheres podem consentir em uma cultura patriarcal precisa de uma crítica cuidadosa. As mulheres são socializadas desde o nascimento para agradar aos homens; internalizam a ideia de que devem sexo aos homens, e que eles devem apreciá-lo. Se o “consentimento” é entendido como um “sim” entusiasmado ou simplesmente não dizer “não”, faz pouca diferença quando consideramos como mulheres e homens são guiados em contrastar papéis masculinos e femininos com papéis de relações de poder e autonomia." **

"Na política feminista liberal, e é comum ouvir a afirmação de que poder escolher é o objetivo do feminismo e que as mulheres não devem julgar umas às outras pelo conteúdo de suas “escolhas”.

Essa retórica da escolha-como-libertação concentra-se no indivíduo, ignorando assim as maneiras pelas quais nossas escolhas são limitadas por nosso ambiente. Também evita os desafios de tornar a vida pessoal política, e de tomar uma posição que pode ser percebida como impopular, não sexy ou excludente." **

"Da mesma forma, nem todas as mulheres do mundo têm capital social ou financeiro ou estabilidade para poderem ‘escolher’ o que vão e não vão fazer, fato que o feminismo liberal, como um movimento principalmente branco de classe média, tende a ignorar convenientemente. Em uma sociedade onde o desejo sexual é definido principalmente como desejo masculino, que tipo de escolhas sexuais que as mulheres podem realmente fazer?"**

Construção do nosso imaginário sexual e erótico:


Nossos gostos são moldados. Não tem essa de “eu SEMPRE gostei disso”. Sempre?

Se o amor não foi o mesmo ao longo dos séculos e nem tem o mesmo significado em diferentes sociedades da atualidade, o que dizer do erótico e sensual? Também é algo que somos ensinados pela sociedade, com referências.

Tendo consciência disso, existem grupos de lésbicas e gays ao redor do mundo que não querem permitir visuais BDSM nas Paradas do Orgulho, por conta de crianças que lá aparecem com suas famílias. Todo ano acontece a tentativa de restringir esse tipo de vestuário e todo ano a resposta é: pode ter esse visual na Parada porque tudo depende do “consentimento". Porém sabemos que o cérebro em formação da criança tudo absorve e forma referenciais.

O modelo de sexualidade atual foi construída pelos homens do passado. Revistas femininas (hoje sites) em suas matérias ensinam mulheres a conquistar homens. E ocultam um detalhe: a sexualidade feminina anatomicamente é completamente diferente da masculina. O prazer sexual da mulher não precisa de homem para acontecer, pois sua anatomia separa prazer e reprodução, em uma das mais geniais criações da natureza: o prazer feminino é clitórico, é lá que estão as terminações nervosas e isso ocorre porque a natureza é inteligentíssima: pela vagina passa um bebê. Se houvesse terminações nervosas na vagina, a dor do nascimento seria insuportável. Para os homens não há essa divisão, e por isso criaram narrativas, invenções e mitos e o que mais quiserem inventar até os dias de hoje da mulher frígida, sem interesse, pudica e as mulheres acreditam porque a elas foi negado o conhecimento do próprio corpo. Acreditam porque foram colonizadas pelo imaginário erótico masculino. Não à toa, as empresas de brinquedos eróticos fálicos tem agora mulheres / influenciadoras como divulgadoras.

Produtos caríssimos. Mesmo mulheres não-héteros promovem acessórios fálicos sem se dar conta que esse é o discurso do prazer sexual masculino. E apenas recentemente na história surgiram brinquedos exclusivos ao clitóris, constantemente vendidos como "auxiliares" à penetração – mesma visão masculina da sexualidade feminina.

O fato do prazer sexual da mulher não precisar de homem pra acontecer, fez com que os homens criassem narrativas de que quem estava errada era a mulher. Freud chegou a dizer que o prazer clitórico era infantil e que a mulher adulta deveria ter “prazer vaginal” (invenção que se propaga ainda hoje). Mulheres chegaram a fazer cirurgia para retirada do clítoris na tentativa de “transferir” o prazer para a vagina. Algo impossível de acontecer dada o já explicado funcionamento da anatomia feminina que separa prazer e reprodução.

E porque fiz essa digressão imensa sobre sexualidade feminina?

Para mostrar como as mulheres ainda hoje não sabem como funciona sua anatomia e reproduzem o discurso masculino sobre o que e como seria a sexualidade feminina.

Ora, se isso acontece com o físico, imaginem com o imaginário? Podemos chamar isso de colonização do imaginário sexual e erótico.

E o BDSM entra nisso na medida em que é quase impossível afirmar qual desejo feminino “natural” ou “liberado" sem a influência da visão masculina.

Digo "quase" porque mulheres conscientes desta questão têm tentado descobrir.



Domme: Empoderada por ser dominante?


A "dominadora" não domina, pois está a serviço do homem masoquista.

Um homem submisso ainda é o centro porque a dor é o prazer dele. Uma dominatrix está dando exatamente o que ele quer. A domme emula a situação real de dominação masculina e submissão feminina, pois a coisa mais humilhante que homens podem imaginar em nossa sociedade é ser tratado como uma mulher.

Mesmo quando parceiros não heterossexuais se envolvem no BDSM, eles ainda estão replicando a dinâmica de poder da heterossexualidade: o dominante e o dominado.

Fora do âmbito privado, o homem submisso retorna à posição de poder enquanto as mulheres devem enfrentar subordinação social e sexual em sua vida cotidiana.**

O homem submisso é um mito e tem origem na pornografia.

O livre arbítrio é um mito para as mulheres num sistema patriarcal.

A moda cria uma imagem extremamente glamourosa dessa cultura.

“Se uma parte está sendo objetificada a outra está objetificando; porque ela tem o poder, a agência de objetificar. Isso automaticamente a coloca numa posição de hierarquia e de superioridade”.**

Frígida, conservadora, "mal comida", são xingamentos de cunho sexual que mulheres recebem ao apontar a incoerência discursiva dessa "arte". Mas ora, não é exatamente assim que as mulheres que não obedecem aos desejos dos homens foram chamados ao longo da história??

O que há de progressista em xingar mulheres da maneira mais secular conhecida: controlando sua sexualidade?

Nada de novo. Eles estão conservando um discurso milenar.

As mulheres podem controlar os homens? Se elas pudessem dominar os homens fora do espaço de controle, haveria femicídio? Violência doméstica?

Se as mulheres criassem suas próprias formas de expressar sua sexualidade, elas usariam de sugestões controladas de violência sendo elas o sexo que desenvolveu a hipervigilância como forma de sobrevivência?

Por que a agressão não é permitida fora destes espaços privados “consentidos”?

Resposta: porque existe uma moral social estabelecida a respeito da não violência. Porque socialmente sabe-se o que é violência.

Liberdade / sexual / escolha: nós fazemos escolhas, mas estas são moldadas e restritas pelas condições de desigualdade em que vivemos. Só faria sentido celebrar sem críticas o poder de escolha em um mundo pós patriarcado.

A “escolha” do feminismo liberal têm dificultado desafiar as instituições que atrasam o progresso das mulheres. Se você “escolhe” sua opressão, por que vai lutar coletivamente contra as opressões?

Ao sugerir que as mulheres já conquistaram sua liberdade, aniquilam qualquer possibilidade de revolta feminina e abalo do sistema.

O feminismo liberal está na mídia, artistas, na boca de influencers. E veio pra ficar enquanto o neoliberalismo atuar. Privilegiando escolhas individuais acima de tudo, não desafia o status quo. **

Para finalizar, deixo claro: existe uma variedade de subculturas dentro do termo “fetichismo”, creio ter ficado claro de qual falamos aqui especificamente.

A intenção principal neste texto é gerar reflexão. E isso toma minutos, horas, dias...


Aviso:

Manipulação emocional não tem espaço aqui. Mensagens  com tentativa de manipulação psicológica, assédio moral ou constrangimento não responderei e serão devidamente printadas e salvas para análise jurídica.

Esta mulher que vos escreve é intelectualmente insubmissa.


Referências:

LEIDHOLDT, Dorchen. “Where Pornography Meets Fascism”. WIN, 15 de março de 1983.

**Kiraly, M. & Tyler, M. 2015. Freedom fallacy: the limits of liberal feminism, Ballarat, Vic, Connor Court Publishing.

*SHEILA, Jeffreys. The Lesbian Heresy: A Feminist Perspective on the Lesbian Sexual Revolution. Spinifex Press, 1993.


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9 de fevereiro de 2022

A sofisticada cooptação da cultura alternativa pelo mainstream através de artistas como Anitta e Luisa Sonza ( + Cultura da Pornificação)

Nos últimos dias, circularam algumas notícias envolvendo a relação entre mainstream e cultura alternativa. Os temas são:

1. Anitta: Lançou clipe cheio de referências ao rock, gótico e cultura pop. Anitta foi emo quando adolescente e logo depois se lançou como artista do Funk. 

2. Luisa Sonza: Apareceu com roupas inspiradas na cultura hard rock e usando marcas alternativas nacionais e internacionais. 

3. Moda terror: Um post da FFW sobre uma "trend alert" de halloween fora de época foi bastante compartilhado. Ao que parece muitos alternativos curtiram por se sentirem representados.



Moda Mainstream x Moda Alternativa

Quando lancei o blog em 2009, havia o diferencial de mostrar a relação entre moda alternativa e moda mainstream. Foi isso que fez o blog ascender e se tornar um sucesso, era uma abordagem diferente. Eu mal falava de história das subculturas, isso veio depois. 

Ao longo destes 12 incansáveis anos por diversas vezes apontamos que a cooptação da estética alternativa/subcultural pelo mainstream é uma forma de despolitizar e, em alguns casos, enfraquecer o potencial revolucionário dos grupos alternativos.

Isso não é pensamento aleatório da minha cabeça, existem autores, teóricos e publicações que falam deste processo que ocorre há décadas. Quem acompanhou no twitter uma thread sobre Wokeísmo do perfil Pensar a História sabe do que falo. 

A melhor forma de você conter a rebeldia juvenil revolucionária é oferecendo produtos que a faze sentir "representada" e acolhida, aceita socialmente. E se assim se sentem, qual o motivo de lutar contra o sistema


Caso a caso

1. Anitta:

Fez um clipe com influencia e visual do rock, do gótico e da cultura pop americana. Usou marcas, roupas e visuais que carregam símbolos da cultura alternativa e de algumas subculturas. 

Em 2019 lancei um zine sobre o estilo Dark Pin-up, nele eu trago uma teoria sobre a origem desse estilo e aponto uma característica fundamental: o uso de ícones do terror americano. 

Quem é da área de Museologia ou de História, estuda Memória. Estuda-se quais são os tipos de memória e como elas se formam. Existe uma que se chama memória afetiva. Anitta, para conquistar o público americano investe em ícones de memória afetiva daquele país: ícones da cultura pop. E já que vivemos num mundo que a cultura americana domina nosso imaginário e nossos gostos, mexe também com a memória afetiva dos que aqui vivem, pois nosso imaginário é colonizado por esses ícones.

Isso não é a toa, é estratégia. As pessoas aceitam muito melhor o que lhes trás boas lembranças.


Se a cooptação é boa ou ruim? 

Depende muito se você encara a cultura alternativa como algo político ou não. 

Depende se você tem uma percepção politica, social, econômica liberalizada ou de raiz/revolucionária. 

Depende como é sua filosofia de vida: seu discurso é coerente com sua prática? Ou isso pouco te importa?

Depende qual o espaço você abre em sua vida para a contradição.

Cada um terá suas respostas.


2. Luisa Sonza:

Apareceu usando roupas inspiradas na cultura hard rock e usando marcas alternativas nacionais e internacionais.

Não é novidade nenhuma que artistas do pop quando querem soar "diferentes" usam peças alternativas (a gente também fala há uma década sobre isso). A moda alternativa tem sempre uma novidade criativa ou algum clássico atemporal que serve ao mainstream.

A questão da Luísa é um pouco mais complicada e de difícil abordagem em stories.  Luísa é conhecida por ser, enquanto artista, uma mulher hipersexu4liz4da e objetific4da.

Luísa apareceu usando uma blusa da banda KISS e um shortinho escrito na bund4: "piss", em português significa 'mij0'. Luísa está cada vez mais pornificada.



Não é de hoje que mulheres alternativas reclamam de serem objetificadas e fetichizadas.

E numa cultura cada vez mais pornificada isso tende a ser naturalizado.

Por que criticam-se tanto as "pirigóticas", mas aceita-se uma mulher adulta pornific4da com símbolos alternativos que leva a fetichização da estética das mulheres alternativas a um público muito mais amplo? 

Qual o impacto desse tipo de estética e mensagem simbólica em crianças e jovens fãs da cantora? 

O perfil @recuseaclicar trata sobre o impacto da pornografia na mente e na sociedade. Vale a pena visitar.



É importante que se saiba que artistas pops e influenciadoras mulheres também ajudam a colocar a mulher como um seres desumanizados. Mulheres também fazem esse trabalho. Mulheres também desumanizam outras mulheres e a si mesmas. 

Mulheres são capazes de dissociar partes de seu corpo. Isso é sintomático de como mulheres são educadas para serem o objeto de olhar e não, a pessoa que olha. 

A estética que Luisa Sonza adotou mostra claramente como mulheres são divididas na sociedade machist4: a pública e a privada.

A estética que Luisa Sonza adotou mostra claramente como mulheres são divididas na sociedade machist4: a pública e a privada.

Observe na imagem ao acima símbolos que comunicam a cultura da pornografia.


Story que publiquei no Instagram do Moda de Subculturas 



Moda Alternativa

Existem brasileiras cantoras de rock, de metal, de música gótica, existimos nós, mulheres alternativas: somos nós que sustentamos as marcas alternativas. Somos nós que estamos aguardando ansiosas toda nova coleção. Somos nós que divulgamos, no boca a boca, na indicação.

As mulheres do rock, sempre questionadoras, desafiantes, insubmissas, que usavam e ainda usam esses visuais do rock/metal/gótico não tem espaço na mídia dominante. A mídia se utiliza de artistas pop, moldadas ao mercado, sem poder questionador e as veste com visual rebelde. Enquanto as questionadoras estão lutando pra sobreviver no pequeno espaço que lhes resta, sempre tendo que provar capacidade.

Um artista pode dar visibilidade e trazer novos cliente, mas a fidelidade quem dá somos nós. 

Sem a consumidora alternativa uma marca deixa de ser alternativa. 

A moda alternativa tem suas próprias demandas e as demandas de seus consumidores.

A moda alternativa não precisa ser validada pelo mainstream. 

Nós não devemos reconhecimento ao mainstream.

Nós não devemos nada a eles. 

É o mainstream que precisa da moda alternativa.

Eles é que nos devem muito. 

Nos devem nossa história. 

Nos devem tudo que nos roubaram e enriqueceram com nossa criatividade.


A moda mainstream nos colonizou.

A moda mainstream nos colonizou.

Eles conseguiram o que queriam: nos dividiram, nos esvaziaram, nos cooptaram, colocaram o discurso deles sobre o nosso. 

Símbolos das subculturas podem ser muitos vendáveis. O mainstream lucra horrores, ganham status de cult, de lançadores de tendências. 

Aí você vai ver seus irmãos e irmãs alternativas e estão todos fodidos no underground. Vivem como classe trabalhadora. Por vezes precarizados. Por vezes trocando trabalho por produtos. Produzindo trabalho intelectual de graça.

Alguns deles e delas se disfarçam com a projeção de um estilo de vida burguês, porque ser pobre é um estigma.


A moda alternativa ainda existe? 

Até quando será possível falar de uma "moda alternativa" se tudo logo se torna mainstream?

Como é que o alternativo vende tanto no mainstream mas as pessoas alternativas são praticamente inválidas fora dele?


3. Moda terror: 

Um post da  FFW sobre uma "trend alert" de halloween fora de época foi bastante compartilhado. Ao que parece muitos alternativos curtiram por se sentirem representados.

Aqui retorno ao que escrevi nos stories anteriores: a cultura pop americana está inserida na cultura alternativa e, a cultura alternativa não precisa ser validada pelo mainstream. 

Se alternativos se sentem "representados" ou "validados" por umas blusinhas de terror vindas de grifes, olha sinceramente, é jogar a História Alternativa fora. 

Alternativos não precisam serem validados por ninguém. Aliás o propósito era justamente desenvolver um contaponto à aceitação social.

O propósito de ser alternativo era mostrar que as instituições, o sistema e sua coerção social que nos dirige à validação e aceitação, fossem quebrados.

Mas ao que tudo indica o pensamento liberal pós moderno se tornou o cavalo de troia da cultura alternativa.

Teve quem saiu por aí dizendo que estéticas subculturais são mortos vivos que sempre voltam pra assombrar. Mas essa frase está contida em um post nosso! É uma frase da historiadora Valerie Steele para a exposição Dark Glamour de 2008! A gente sabe muito bem quem consulta nosso conteúdo e nos invisibiliza. 

Nós já falamos do terror na moda mainstream diversas vezes, como no post do desfile da Moschino em 2019. Pena que nossos posts não são compartilhados como os do FFW não é mesmo? 

Quem dera tivéssemos tanto apoio e celebração quanto os sites mainstream.



Essa é outra luta dos perfis alternativos que não se rendem ao discurso liberal pós moderno: a luta contra a falta de memória, a manutenção da história alternativa, a disponibilidade em manter o contato entre os conhecimentos das gerações anteriores e os conhecimentos das novas gerações, a honestidade e a coerência entre pensamento e ação.

E sobre o terror, tão aclamado:

enquanto o discurso clássico e reproduzido é que ele é uma forma de lidar com a dureza da realidade ou de instinto de sobrevivência,  vocês já observaram quem sempre são as maiores vítimas?  Vítimas de serial killers, vítimas de acusações de bruxaria ou de estar possuído por demônios? Você sabe a resposta.

Dica: até matam os homens, mas as vítimas, o demônio é a mulher.




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