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24 de outubro de 2019

10 anos de Moda de Subculturas: Conheça a arte de Aline Lacroc, ilustradora do nosso zine Dark Pin-up!

Hoje vocês vão conhecer um pouco mais do trabalho ilustrativo da Aline Lacroc! Foi ela quem criou as ilustrações para o zine Dark Pin-up que em meados de novembro começará a ser enviado aos que colaboraram  com a Vakinha do aniversário dos 10 anos do Moda de Subculturas.

Conheci a Aline anos atrás através de seu blog Estilo Retrô Rock, onde desde julho de 2009 postava sobre seu estilo de vida, decoração, DIY, moda e cultura retrô e vintage. Há alguns anos ela desenha pin-ups, fazendo inclusive trabalhos de estamparia para lojas. Como admiradora do seu traço e da forma que ela aborda as temáticas nos desenhos, com pin-ups em atitudes super divertidas, convidei para colaborar com o projeto de aniversário do blog e agora, chamo vocês pra acompanhar a entrevista com ela pois vale a pena conhecer a artista por trás da arte! 
E fiquem de olho no Instagram dela para acompanhar as datas disponíveis para trabalhos comissionados.



Conta pra gente como você adentrou na arte do desenho? Frequentou algum curso?
Comecei a brincar de desenhar quando era mais nova e assistia animes na TV Manchete. Eu colecionava revistinhas e mangás e copiava os personagens para criar minhas próprias histórias. Nunca fiz curso de desenho, mas tenho vontade.
Muitas vezes olho desenhos mais antigos e vejo muitos erros que na época não percebi, isso significa que eu melhorei de lá para cá. Acho muito importante estudar anatomia, proporção, perspectiva, técnicas e materiais, para depois então, pensar em ter um estilo próprio. Eu tenho tanto para aprender mas minha rotina de mãe e meu trabalho me deixam com pouco tempo para praticar infelizmente.



Quais suas inspirações artísticas?
Minhas maiores inspirações vem do antigo tatuador Sailor Jerry, grande referência do estilo Old School, da ilustradora e também tatuadora Quyen Dinh. Já na comic art minha inspiração vem da russa Sveta Shubina como referência atual e das antigas artes de Eric Staton com suas mulheres poderosas em corsets e botas de cano longo. Me inspiro também nos cartoon antigos de Dan Decarlo.

Como foi o processo até chegar no estilo de desenho que faz hoje? E como você descreveria seu estilo de criação?
Dos desenhos que fazia copiando HQs até o bico que arranjei em um estúdio de tatuagem, tudo me influenciou a criar um estilo próprio.
Gosto de mesclar elementos da tatuagem old school com o mundo das pin-ups mid century. Não procuro fazer arte realista como alguns artistas de pin-ups consagrados como Gil Elvgren, pois gosto mais do  estilo cartoon . As HQs antigas eram impressas em poucas cores, com muito uso de traços grossos e sombras em nanquim preto e eu procuro manter essa característica no meu trabalho também. Atualmente meus temas preferidos são halloween, pin-ups e bondage.



Você pretende desenvolver produtos físicos ligados à seus desenhos, como pôsteres, adesivos, papelaria..?
Seria um sonho! Gostaria muito de desenvolver estes produtos, mas precisaria contar com ajuda de parceiros que já trabalhassem nessa área de produtos, pois desenvolver todo o processo é algo bem complexo e demanda tempo. Um exemplo de parceria que deu certo foi quando a marca retrô Rocket Clothing me chamou para desenvolver algumas estampas de camisetas.

Você já criou ilustrações para loja de roupas 'Rocket Clothing", como tem sido a experiência? Você também já criou pingentes com seus desenhos pretende investir mais em criação ligada à moda?
Trabalhar com a Rocket Clothing foi uma experiência incrível. Precisei aprender um pouco mais sobre ilustração digital para adequar os desenhos ao formato de impressão das camisetas. Fiquei muito orgulhosa do resultado final, principalmente porque a marca se preocupa muito com qualidade e acabamento dos produtos.
Já criei também alguns pingentes próprios de forma artesanal e até aprender todo o processo foram muitas peças pro lixo. Tenho em mente criar mais peças como essas, com temáticas mais góticas e fetichistas por exemplo. A escassez de produtos voltado para a moda rocker em geral me faz ter muita vontade de criar minhas próprias peças. Atualmente já temos algumas marcas como referência aqui no país que trazem moda retrô, rocker, gótica e rockabilly para um público que cresce cada vez mais e poder fazer parte disso é muito bom.


Falando em moda, você é uma das meninas que criaram os primeiros blogs de tematica retrô no Brasil. Hoje blogs pessoais já sairam de moda em detrimento de redes sociais como o Instagram, como você adentrou no estilo de vida retrô?
Tenho uma paixão muito grande pela história e o estilo mid-century, bem como a cultura do rockabilly. Acho que o estilo de vida tem muito a ver com as preferências musicais da pessoa, sempre gostei de rock e isso influenciou tudo  na minha vida.
Foi muito bacana ter o blog Retrô Rock e conhecer pessoas do país todo pela internet (e algumas pessoalmente), mas sinto que essa fase pra mim já passou. Ainda mantenho o blog no ar pois existem muitos posts que foram feitos com base em pesquisas que fazia na época para recontar um pouco da história dos anos 1950.
Agora meu hobbie passou a ser os desenhos e me sinto mais realizada assim. De qualquer forma, as amizades permaneceram e são justamente as mesmas pessoas que curtiam o blog que curtem minhas ilustrações. Pelo instagram é possível ter contato não só com o público quanto com outros artistas do mundo todo e de várias sub-culturas diferentes. 



Em 2017, a Aline criou estes adesivos super fofos pra ajudar na castração de gatinhos! Eu fui uma das que os comprei e hoje guardo-os com muito carinho! Tenho muito cuidado e admiração com quem cria arte alternativa! Então não deixem de acompanhá-la, de repente você pode ter a chance de comprar um de seus materiais quando disponíveis!

Espero que tenham gostado! Me digam nos comentários!




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Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas. 
É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos. 

2 de outubro de 2019

Conheça um pouco mais sobre a Revista dos 10 anos do Moda de Subculturas

Tá chegandoooo!! A primeira revista brasileira dedicada à moda das subculturas! E tem @thequeenofhurts na capa!! Fotografada por @carol_sakuma.
Clica aqui pra conhecer a Vakinha


📍 Escolher a capa de uma revista não é tarefa fácil! São tantas pessoas incríveis, tantos assuntos fascinantes!

Quis na capa uma pessoa que fosse ligada à esse universo, queria colocar uma modelo alternativa! A Sarah produz ensaios super diversificados e muitas vezes surpreendentes, mostrando-se multifacetada e que moda é genuína expressão do self.

A contracapa, tem a Marie Devilreux, @dressedtokillyou! 😍
Agradeço muitíssimo à #glamourghoul brasileira por encontrar tempo entre ensaios e shows ao redor do mundo pra responder minhas vinte perguntas da entrevista 😅

Ao longo destes dez anos, o blog teve o compromisso de tratar moda alternativa com seriedade, tentando afastar ao máximo a ideia de que usar visual é futilidade, mostrando subculturas e como seus estilos foram construídos visando a auto-expressão. Confere alguns spoilers das páginas:





A revista Moda de Subculturas e os zines são sobre pôr a mão na massa e produzir conteúdo de forma independente. Isso é o que nos une: manter viva a essência da cultura alternativa apesar de todas as adversidades do caminho!

Algumas das matérias que você vai encontrar:
- O legado contracultural dos Hippies;
- As origens das culturas vintage e retrô,
- Breve história da Moda Fetichista;
- Modern Primitives;
- A influência da Cultura Pop nas subculturas;
- Mulheres Trans nas Subculturas;
- Pin-ups negras;
- Medievalismo;
- Anarcofeminismo;
+ História da Moda;
+ Dança;
+ Arte...

📍Terá entrevistas com a Sarah Amethyst (capa), Marie Devilreux, Kemp von Sellessen, Mothmouth (blogueira do Through the Looking Glass), Henrique Kipper, Carol Sakuma, Liisa Ladouceur...

Espero que vocês gostem do material e principalmente que continuem conosco pelos próximos anos!! São 10 anos (r)existindo como um dos poucos sites/blogs brasileiros sobre moda e cultura alternativa. Chegamos até aqui e TUDO é possível graças à vocês!

Tenho postado as atualizações sobre o projeto dos 10 anos do blog no nosso Instagram, especialmente nos Stories, não deixem de nos seguir!


Faltam menos de 15 dias pra acabar nossa Vakinha, você já garantiu seu material?
Já estou preparando brindes a todos que estão contribuindo! 💖 




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10 de julho de 2018

A história de Tura Satana: de artista burlesca a ícone do cinema cult!

Tura Satana já era bad girl antes mesmo do termo existir. Isso numa época onde ter esse tipo de imagem era algo extremamente negativo, uma ofensa. Mas assumiu o papel de mulher que dominava sua própria vida, não se comportando com a delicadeza e fragilidade que o período pedia, pelo contrário, exacerbava seu instinto agressivo, na maioria das vezes exibindo pela força física. E haja força, pois passou por muitos altos e baixos!


Tura Yamaguchi nasceu em 10 de Julho de 1938, em Hokkaido, no Japão. Descendia de filipinos pelo lado paterno e uma mistura de indígenas e escocês pela mãe. Aos quatro anos sua família muda-se para os Estados Unidos onde depois se estabelece em Chicago. Criada num bairro pobre, seria uma fase superdifícil onde o sentimento anti-asiático predominava, o que a levou a sofrer muito bullying na escola. Quando estava próxima de completar 10 anos, sofreu um estupro coletivo de uma gangue de adolescentes. Seria depois desse episódio que seu pai a ensinaria artes marciais, como aikido e karatê.


Com apenas 13 anos, seus pais a casariam com John Satana, um amigo da família, só que duraria pouco tempo. Precoce e com o corpo já desenvolvido, Tura faria uma identidade falsa e começaria a trabalhar posando em trajes de banho como modelo e chegando a aparecer nua em um filme. Mas foi na carreira como dançarina exótica que inicia-se o destaque, conhecida pelo nome de 'Galatea, a Estátua que Ganhou Vida', virou stripper e viajava pelos Estados Unidos fazendo seu show burlesco de clube em clube. Tornou-se uma superestrela da arte, chegou a ser eleita uma das 10 melhores dançarinas burlescas do século 20. 


Através da dança que Tura recebe diversos convites para estrelar programas de TV e filme. Participou de uma série chamada 'Hawaiian Eye', em shows como 'The Man From UNCLE' e também nos filmes 'Irma La Douce' e 'Who's Been Sleeping in My Bed?', ambos de 1963. Suas apresentações burlescas integravam acrobacias, arte marcial e bastante humor. Numa entrevista, revela como as pessoas iam a loucura quando ela girava os tassels um para cada lado e um de cada vez. Esses movimentos são muito comuns em shows burlescos atuais, mas na sua época foi uma atitude precursora! Em uma das sessões no clube Pink Pussycat, acaba conhecendo Russ Meyer, o diretor de "Faster, Pussycat! Kill, Kill!", longa que a imortalizaria no cinema. 



Lançado em 1965, o filme inicia-se com Tura, sua amiga Haji (Rosie) e Lori Williams (Billie) dançando enlouquecidamente. Logo surge Varla, sua personagem, uma femme fatale sexualmente agressiva, que provocava e encarava a todos com sua habilidade em artes marciais. O figurino era polêmico: blusa e calça justíssimas, um enorme decote V, cintura alta marcada ainda mais com cinto e bota cano longo. Da cabeça aos pés o visual era todo preto. Além da famosa franja Pin-Up e o delineado preto. Tura contou que sofreu pois as gravações eram no deserto e estava superquente. Como era de se esperar, o filme não foi bem recebido. "Você tem que lembrar que isso foi durante o período do amor no mundo, a violência de Varla não era aceita", diz Tura. As críticas foram tão ruins, que as atrizes seriam aconselhadas a retirar o trabalho dos seus currículos. 



"Querida, nós não gostamos de tanta ternura, tudo o que a gente faz é pesado." - Rosie.

No final da década de 1970 e início de 80, Tura descobre a existência de um fanclube mundial de Varla. Nesse momento, tanto a personagem quanto o longa passam a serem considerados cults e com fãs espalhados pelo mundo. Tura vira uma estrela de filmes lado B. Depois de Pussycat apareceria em mais dois, The Astro-Zombies (1968) e The Doll Squad (1973), sendo o último referência para Charlie's Angels. Após a filmagem, é hospitalizada depois que toma um tiro de um ex-namorado. 

No filme Irma La Dolce

Desiste da carreira no cinema e de dançarina burlesca, passando a trabalhar como enfermeira durante quatro anos num hospital. Depois trabalhou no Departamento de Polícia de Los Angeles como operadora de rádio. Em 1981, casou-se com o ex-policial Endel Jurman da qual viveria até seu falecimento. No mesmo ano, sofre um grave acidente de carro que a deixaria com problemas na coluna e nos próximos dois anos fazendo quase quinze cirurgias. 

Apesar de afastada dos cinemas, Tura mantém seu reconhecimento no underground, então vira empresária registrando sua própria imagem e assim vendendo produtos de merchandising, como camisetas, virando desenho em quadrinhos, máscaras de Halloween. Era frequentemente convidada para participar de convenções de filmes lado B e para jurada de eventos burlescos. No dia 04 de Fevereiro de 2011, falece aos 72 anos deixando duas filhas, Kalani e Jade, e seu legado nas subculturas com seu icônico estilo e supercopiado entre as Pin-Ups e demais admiradoras!

Curiosidades

- Tura usou até o fim o famoso look preto, junto com o delineado gatinho que acentuava seu olho asiático e o longo cabelo preto com franja Pin-Up. As longas unhas ovais pintadas de vermelho também eram uma marca.


- Tura chegou a ser noiva de Elvis Presley! Morando em Los Angeles, conheceu o astro com apenas 16 anos numa noite descontraída na praia, onde ficaram conversando até o sol raiar. Tura conta que só voltaram a se ver depois de meses e os encontros eram secretos por causa do Colonel Tom. Elvis era muito tímido e o teria ensinado a dar beijo francês e até certas práticas sexuais. Mesmo não tendo se casado, ela ficou com o anel de noivado.

- Nos anos 90, havia uma banda de metal chamada Tura Satana, mas que depois trocou o nome por questões legais. Na década de 80, outra banda que se influenciou pelo filme de Russ Meyer foi o grupo de hard rock Faster Pussycat. 

- Referência ou não, o estilo de Tura é visto na cena hard rock e metal dos anos 80. Amy Winehouse também teria um quê de semelhança quando a atriz usou o famoso beehive com olhos delineados de gatinho.


- Madonna também se inspirou na personagem Varla para o clipe 'Girl Gone Wild' de 2012. Dita von Teese, que é superfã de Tura, ficou feliz com a homenagem da cantora.



- Antes de falecer, Tura tinha o sonho de lançar sua biografia e documentário. Como não deu tempo, seu amigo e diretor Cody Jarret mobilizou uma campanha de financiamento e conseguiu angariar o valor em 2017, para que o trabalho seja enfim realizado! Essa é mais uma prova de que a cena alternativa consegue se mobilizar para manter o legado de pessoas importantes e não deixar sua cultura desaparecer. 


Espero que tenham gostado de conhecer a história de Tura!




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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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31 de dezembro de 2017

A História de Bettie Page: A Rainha das Pin-ups

Ícone para várias subculturas, a modelo Bettie Page teve uma carreira curta, de apenas sete anos. Neste período se tornou a mais importante modelo pin-up da década de 1950 posando em fotos sensuais e de fetiche. Até hoje é difícil separar quem ela era da personagem que interpretava nas fotos. Sua vida pessoal foi cheia de tragédias, chegando a ser presa por esfaquear uma mulher. Fique agora com nosso artigo - e também uma homenagem - a uma das  pioneiras da revolução sexual feminina.

Em sete anos de carreira o visual de Bettie Page nunca mudou, 
isso deixou sua imagem atemporal.
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Bettie Mae Page nasceu em 22 de abril de 1923 em Nashville, Tennessee (EUA) em uma família de baixa renda que se alimentava somente de feijão, macarrão e batatas fritas. O pai abusava sexualmente das irmãs de Bettie, ela, se negando a ceder, o deixava acariciar suas pernas em troca de 10 cents. A mãe, analfabeta, fugiu com os filhos mandando as garotas para um orfanato. Lá, Bettie e sua irmã eram maltratadas, passavam o tempo sonhando com Hollywood e imitando as poses das atrizes. Logo Bettie se casaria com o namorado Billy Neale e em 1944 começa a fazer testes para o cinema. O casamento duraria pouco, após retornar da segunda guerra, com ciúme, Neale a ameaça com uma faca; ela decide se divorciar.


A jovem Bettie Page.
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Bettie era apaixonada por dança e ia aos bailes sozinha, este hábito permanece até mesmo quando se muda para Nova Iorque em 1947, onde passa a trabalhar como secretária e conhece o homem que ela chama de "amor de sua vida",  o peruano Carlos Garcia Arrese, exímio dançarino que a ensinou mambo, tcha tcha tcha e até samba! O romance acaba quando Page descobre que ele já era casado. A partir daí ela decide correr atrás de ser modelo, mas não era magra o suficiente para a agência Ford Models. Ao passear por Coney Island em outubro de 1950, é abordada pelo policial e fotógrafo amador Jerry Tibbs que a convida para modelar como pin-up. É ele quem sugere que ela corte uma franja pois sua testa seria "muito grande". E assim, aos 27 anos começa a carreira de modelo de Bettie. Para conseguir trabalho, ela alterava sua idade para 22 anos.


Num de seus primeiros trabalhos como modelo.
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A franja curta historicamente sempre existiu, sendo inclusive moda na década de 1950 para adolescentes. Foi com Bettie que o penteado ganhou um status mais significativo culturalmente por ser uma franja "cheia" e curvada em direção à testa.
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Na década de 1950, existiam os Clubes de Fotografia, onde fotógrafos amadores e profissionais poderiam treinar técnicas em modelos que se ofereciam gratuitamente ou por um valor irrisório para posar. No Clube que Bettie posava, haviam 40 fotógrafos, além de outras quatro modelos.


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Mas Bettie se destaca pelo carisma e possuía pose, traje e expressão, fatores que definem ser uma pin-up. O que a tornou um destaque entre todas as outras modelos era a combinação de safadeza e boa moça. Bettie sempre sorri em todas as fotos e vídeos enquanto seu corpo sensualiza ou rebola incansavelmente.


Bettie sempre estava sorrindo, ela se tornou a rainha das Pin-ups.
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Embora no Brasil cabelos escuros sejam um padrão de beleza admirado pela cultura de massa, na América da década de 1950 era algo exótico.
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Inteligente, não fumava nem bebia e fazia suas próprias roupas de fotografia. Todas as lingeries e biquínis era ela mesma quem desenhava, adorava costurar! É por isso que vemos somente Bettie usando determinadas peças e não vemos outras mulheres da época, já que seus figurinos dizem respeito a si mesma e não à moda do período.

Bettie vestindo biquinis feitos por ela:
uma das primeiras mulheres a usar a peça.
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À direita Bettie num maiô, traje de praia padrão habitual para as mulheres da década de 1950; à direita, numa de suas lingeries. 

Sendo uma das poucas a usar biquíni, a marca Charmands a chama para tirar fotos com seus biquínis, mas a empresa copiou todas as suas peças e as vendeu em um catálogo. Page nunca recebeu um centavo pelo roubo de suas criações.

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Sua fama como pin-up a fez modelar para as principais revistas sensuais e de fetiche da época: Beauty Parade, Wink, Titter, Flirt e até fotonovelas de Robert Harrisson. Fez fotos com outras pin-ups e dançarinas burlescas da época, como Tempest Storm.

Bettie com Tempest Storm no filme Teaserama

No entanto, era década de 1950, e a moralidade imperava. A sociedade da época vivia um medo da pornografia e da delinquência. Sexo era tabu, nudez era algo obsceno.Todas as revistas de nudez e fetichismo circulavam em segredo. Bettie percebeu a oportunidade de ganhar mais dinheiro quando passou a posar nua por até 20 minutos em sessões de fotos. Numa das vezes chegou a ser denunciada, indo parar na delegacia acusada de obscenidade e desordem. 


As medidas corporais de Bettie eram: 91 cm de busto, 60 de cintura e 94 de quadril. Ia a academia 3x por semana.
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Em janeiro de 1955 esteve nas páginas da revista Playboy em uma de suas mais conhecidas fotos: ao lado de uma árvore de natal. O acontecimento levou Bettie aos olhos de um público maior e Hugh Hefner a intitulou a "The Miss Pin-Up Girl of the World". 
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Foi através do editor Robert Harrisson que ela conheceu o fotógrafo Irving Klaw e se tornaria sua modelo mais famosa. Klaw tirou pelo menos 1500 fotos de Page e as vendia para soldados. Criava também filmes 16 mm sob temática fetichista onde Bettie ganhava cerca de $150 por filme. A irmã de Klaw, Paula, se torna amiga e admiradora de Bettie e dá à modelo um par de calçados altíssimos para ser usado exclusivamente por ela nas sessões de fotos. Através da dupla, Bettie se torna a rainha do Bondage, suas fotos e vídeos eram enviadas pelo correio aos interessados.


Com Irving e Paula Klaw.

Segundo Bettie, todas as fotos bondage que fez eram atuação, seguia as instruções de Irving e Paula para interpretar uma personagem. Nas fotos abaixo ela usa o sapato de saltos altíssimos que Paula dava à ela nas sessões fotográficas. As fotos S&M eram as mais vendidas de Klaw.
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Em 1955, o FBI bate à porta e Klaw vai a julgamento por pornografia onde é sentenciado a destruir todas as suas fotografias, mas sua irmã esconde os negativos com as fotos de Bettie, ela já sabia que aquelas fotos seriam históricas. Assim salvou-se as fotos de não serem destruídas, no entanto, o acontecimento destrói a carreira de Klaw que opta por não mais trabalhar no segmento.

Uma pin-up foi muito importante na carreira de Bettie, a também fotógrafa Bunny Yeager, que fez fotos de Page em 1954 quando a modelo estava com 32 anos (e dizia ter 24). É dela boa parte dos ensaios externos mais famosos da carreira da modelo: em praias, parques e com animais. Yeager foi autora da foto com temática natalina que foi parar na Playboy de janeiro de 1955.

Com Bunny as fotos de fetichismo visando o público masculino ficam em segundo plano. Yeager faz as fotos de Bettie ganharem um ar mais sofisticado, exótico e numa variedade de temas.

Bettie Page com Bunny Yeager na famosa sessão de fotos.

A variedade e o exotismo entram em cena.

Yeager faz fotos sofisticadas de Bettie.


O começo do fim
Sem Irving Klaw, Bettie continua a trabalhar com os clubes de fotografia. Numa ocasião é embebedada e durante uma sessão de fotos nuas, é fotografada de pernas abertas. As fotos são vendidas. Arrasada, Bettie decide sair de Nova Iorque. Aos 34 anos passa a se achar velha para ser modelo. Desaparece e deixa tudo para trás.

O desaparecimento
Bettie optou por se esconder, não queria ser encontrada. A modelo sempre foi religiosa, mas não via a nudez como pecado. Em 1958 chora em frente à uma igreja acreditando que Deus a estava castigando, se compromete com a religião recebendo Jesus como seu salvador. Joga fora todas as suas meias, lingeries, biquínis e vai para a Faculdade Bíblica com o intuito de se tornar missionária. Em 1966 viaja para Miami e conhece Harry Lear, com quem viria se casar em 1967, é nesta época que o fanatismo religioso toma seu auge, já que passa a alegar ouvir vozes o tempo todo. Enlouquece ameaçando Lear e os filhos dele com uma faca caso parassem de olhar a imagem de Jesus pendurada na parede. Lear consegue escapar, chama a polícia e Bettie é internada na ala psiquiátrica do hospital Jackson Memorial onde fez tratamento de choque. Ao sair da instituição em 1978, num surto psicótico dá de 20 a 30 facadas na proprietária do apartamento que alugava. Alega insanidade, recebe pena de 10 anos na cadeia Estadual além de ter que ir três vezes por semana ao psiquiatra sob o diagnóstico de esquizofrênica paranoide.

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Foto do fichamento de Bettie Page em 1972.

Após esse período, Page retorna à Los Angeles e passa a viver na pobreza com ajuda do seguro social do governo, pois nunca recebeu dinheiro pelos direitos de suas fotos.

Enquanto o mundo vivia a revolução sexual da década de 1960 com Hippies, minissaia, moda unissex, pílula anticoncepcional, Bettie Page, pioneira da liberdade sexual feminina estava escondida. É aí que começam os primeiros indícios que ela se tornaria um ícone cult. Como ninguém sabia de seu paradeiro, começou-se a espalhar a ideia de que a ex-modelo havia se suicidado.

Na década de 1970, a década da nudez, a pornografia deixa de ser crime, as leis são revisitadas, a década de 1950 passa a ser romantizada, filmes como "Grease" são lançados, surge uma nova onda Rockabilly e a geração jovem da época redescobre Bettie. A imagem de Page começa a surgir em diversos produtos de consumo.

Bettie era chamada de Dark Angel pelos fãs que julgavam ela ter se suicidado.
Na década de 1960 se tornou símbolo da liberdade sexual feminina.


Na década de 1980, a imagem de Page domina a cultura pop, ela influencia fortemente as garotas de diversas subculturas que redescobrem suas fotos e passam a imitar seu visual. Aumenta a presença de sua imagem em souvenirs e objetos de consumo.  


Olivia de Berardinis pinta quadros de Bettie para meninas que admiravam a modelo.


Após 30 anos sem ter sua imagem impressa, Dave Stevens publica a The Rocketeer Magazine. 

Nos anos 1980 e 90 a imagem de Bettie Page abre caminho para fotógrafos e estilistas de Moda influenciando nomes como Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler e artistas como Madonna, inspirada por Page no clipe da música "Human Nature".

Tudo começa a mudar em 1992 quando Steve Brewster cria um fã clube dela, o Bettie Scouts Club e decide por si mesmo encontrar Bettie viva ou morta. Passa a viajar pela América procurando-a e coloca anúncios em diversas publicações até descobrir o seu irmão, que faz a intermediação de uma carta que Brewster escreve para ela em abril de 1992. A resposta vem em dezembro do mesmo ano. Bettie estava viva!


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Finalmente encontrada, estava lisonjeada por ter um fã clube, mas prefere se manter fora dos holofotes. Dave Stevens é quem passa a ajudá-la neste momento, quando leva-a a uma loja onde haviam diversos produtos sobre ela. Espantada, se impressiona pelas pessoas admirarem seus trabalhos tanto tempo depois. Stevens a coloca em contato com Hugh Refner que faz uma festa privada em sua homenagem na mansão Playboy, o que rendeu uma das raras fotos da ex-modelo já idosa.


Bettie Page, à direita, em festa em sua homenagem na mansão Playboy.

Com Anna Nicole Smith e Pamela Anderson na festa de 50 anos da Playboy em 2003.

Hugh Hefner, que fez seus milhões em cima da objetificação do corpo feminino*, oferece a ela um agente para cuidar dos direitos autorais**, para que a partir de então Page receba dinheiro do uso de sua imagem. A partir daí, cada produto com a imagem de Page precisa ser autorizado por ela mesma. Em 1996, é lançada sua única biografia autorizada. Finalmente a ex-modelo passa a ganhar dinheiro devidamente.

Desde que foi encontrada Bettie se negou a ser fotografada e filmada, ela morava na periferia de Los Angeles. Nas palavras dela: "preferia estar escondida."
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Bettie falece em 11 de dezembro de 2008 aos 85 anos após um ataque cardíaco que havia a deixado em coma. Um fato curioso é ela ter falecido no mesmo ano em que Maila Nurmi e no mesmo dia do aniversário da intérprete de Vampira. Fica aquela questão: elas foram contemporâneas, será que conheceram o trabalho uma da outra? A curiosa ligação de vida e morte não é só o que as une já que ambas tiveram um vida difícil e foram resgatadas por subculturas.


Na cultura pop: Madonna, Beyonce, Christina Aguilera e Katy Perry foram algumas das que se inspiraram no visual da pin-up.


Dita von Teese revelou: Eu a admiro e a estudei muito de perto. Quando comecei em 1990 queria ser sósia de Bettie Page. Queria ser uma fetish star famosa como ela. Não era o cabelo preto e a franja que a faziam memorável, pra mim era o senso de humor brincalhão, era o jeito aventureiro.



Bernie Dexter é uma pioneira modelo pin-up da contemporaneidade. Se tornou conhecida na década de 2000 por sua semelhança com Page.
À direita, caminha ao lado de Tempest Storm no funeral de Bettie.




Bettie é amada e serve de inspiração para muitas de nós brasileiras, especialmente no estilo de cabelo e também por ser a primeira referência visual para ensaios fetichistas.  

Rosana (Bettie From Hell) tem fisionomia que lembra a Bettie Page, Sarah Amethyst e Larissa (Murder Queen) em ensaios fetichistas.


Desde os anos 1990 até hoje, Bettie Page cresceu sua influência na cultura pop, com inúmeros exemplos de artistas e modelos se inspirando em sua imagem. Sem contar sua importância em diversas subculturas como a gótica, punk, rockabilly e pin-up. Sua figura ganhou novo fôlego na última década com a popularização da internet. Mas a relação de Bettie e as subculturas é um assunto tão vasto que prefiro abordar em detalhes num futuro post. A imagem de mulher livre em plena década de 1950, revolucionária a seu modo, se tornou e permanece icônica para várias gerações.


"Quero que as pessoas se lembrem de mim como eu era nas fotos".
Com certeza é assim que Bettie Page repousa em nossa memória. 


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Texto escrito por Sana Skull, proibida a utilização de trechos sem autorização prévia da autora, cite o link em caso de referência.

*Há controvérsias se Hugh Hefner a ajudou ou a explorou.
** Direitos de Imagem

Fonte: entrevistas documentadas em primeira pessoa com Bettie Page. 
Autoria: Idealização, texto e seleção de imagens de Sana Skull.


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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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