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27 de novembro de 2017

Levando o Punk para as massas: icônica exposição dedicada à banda Nirvana está em cartaz em São Paulo.

Está em cartaz desde o dia 12 de setembro deste ano a exposição “Nirvana: taking punk to the masses” no Lounge Bienal, dentro do parque do Ibirapuera, em São Paulo. A exposição passou antes pelo Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Visitei a exposição no dia 03 de novembro e trago aqui um pouco das minhas impressões sobre o evento.



O foco da exposição era mostrar como o Nirvana levou o punk às massas, ou seja, como fez com que um estilo musical pós-contracultural se tornasse popular. Isso não é muita novidade pra quem é fã da banda, mas de qualquer forma vale a pena visitar a exposição pelos itens que citarei a seguir.

© Nandi Diadorim

Pra quem já leu os livros do Charles Cross sobre o Kurt Cobain – o mais famoso é o Heavier than Heaven (Mais pesado que o céu, no Brasil) – vai reconhecer muita coisa por lá. As primeiras fitas K7 da banda, os encartes dos primeiros shows, as artes gráficas feitas pelo próprio Kurt – para a banda ou não – fotos raras, primeiros setlists, letras de músicas escritas a mão; isso tudo você já viu nestes livros. Mas ver ao vivo é bem diferente, um pouco emocionante até. Eu como fã inveterada da banda, sei que essa foi a oportunidade que eu tive de chegar mais perto deles.

© Nandi Diadorim

Existem algumas raridades na expo também: entrevistas em vídeo que nunca foram ao ar, fotos nunca antes publicadas, muito material de áudio e vídeo sobre a cena de Seattle (e não apenas do Nirvana), infelizmente muitos sem legendas. Muitas roupas usadas por Kurt e Krist também estão expostas.

© Nandi Diadorim
© Nandi Diadorim

Quanto a mim, as peças que mais me tocaram foram as guitarras (talvez por eu ser guitarrista também). Não quero soar tão espiritualista assim, mas as guitarras do Kurt guardam muito da energia dele; é possível quase sentir isso, tantos anos depois. Fiquei arrepiada de ver elas lá!!

© Nandi Diadorim


Entre guitarras lindas, impecáveis e bem cuidadas, como a famosa Fender Mustang, estão lá também as guitarras completamente destruídas nos shows; ou ao menos parte delas. Kurt destruía elas sem dó nem piedade. Dá quase pena de olhar pra elas, sobreviventes da história.

© Nandi Diadorim
Outra peça impressionante é a boneca do In Utero, usada nos shows dessa turnê, em duas versões diferentes, em tamanho real. Também estão lá um baixo do Krist Novoselic e um pedaço da bateria usada pelo Dave Grohl.


Além das peças, ambientes especiais também foram criados: uma sala imitando o cenário do Unplugged MTV, com cortinas e os candelabros usados no programa; e um espaço para fotos imitando a capa do Nevermind, onde você pode perseguir uma nota de dólar fictício (risos!).

© Nandi Diadorim

É claro que eu bati uma foto minha fazendo isso...
© Nandi Diadorim

Só não curti muito uma espécie de dark room (não entrei) que capturava sua imagem reagindo ao som da banda. Achei desnecessário, fora que você cedia seus direitos de imagem ao entrar na sala.
Em suma, uma exposição que vale muito a pena, você sendo um grande fã ou não. Se você não é um grande fã, você conhecerá a trajetória da banda. Se você é um grande fã, você vai pirar com os instrumentos e as raridades.



Pra quem quer dar uma olhada:
apressem-se, a exposição encerra dia 12 de dezembro!
Paz, amor e empatia!










Autora:
Nandi Diadorim.

Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul.
Guitarrista em uma banda de punk rock.
Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.






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Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens das mesmas foram feitas por nós baseadas na ideia e contexto dos textos. 

25 de fevereiro de 2016

Resenha: livro Kim Gordon, A Garota da Banda


"Eu sempre quis me rebelar" 

Lançado em 2015, Kim Gordon, Girl in a Band: a Memoir, conta a trajetória da baixista do Sonic Youth em detalhes e sem romantismos pela própria, transparecendo o ser humano que há por trás da máscara de um ídolo. Com mais de trinta anos de estrada, seu nome surge como um dos principais divulgadores do feminismo na cena indie americana, transformando ativismo em música e também na força para continuar num meio onde o seu gênero era visto com dúvidas.


Kim expõe com franqueza os momentos de felicidades e raiva, emite opiniões com a mesma sinceridade de uma punk quem não tem medo de errar, talvez um cutuque na sociedade atual. Com atitude vanguardista, tendo como referência a banda The Slits, em especial Viv Abertine, sua figura foi fundamental para que as Riot Grrrls deslanchasse no anos 90. Tudo se interliga, né?

Enquanto eu deixava sua biografia em estado crítico (sente o resultado), Kim estava indo ler Clarice Lispector! Via Instagram
kim gordon

O livro ganhou tradução e está sendo vendido no Brasil pela editora Rocco, da qual fizemos essa parceria. Trechos saíram na mídia internacional alguns gerando até polêmica. No clipe da marca Wildfang, há participação dela fazendo leitura e contracenando com Evan Rachel Wood. Nessa resenha, destacarei pontos tentando evitar o máximo de spoiler.

Rock e Feminismo

Escolher trabalhar com arte não foi uma tarefa simples para Kim. Ela passou pelas mesmas resistências de quem tem interesse na profissão sendo até questionada de como iria sobreviver. Primeiro se envolveu com artes plásticas e depois veio a música, da qual ocorreu de forma punk, aprendendo a tocar no do it yourself. Um detalhe que chama a atenção é a idade que Gordon inicia o Sonic Youth, aos 28 anos, o que é um chute nessa pressão bizarra de estar com a vida feita antes dos 30. Essa não seria a única barreira a ser quebrada, logo teria que passar pela interrogação de "como é ser a garota da banda?".  


“Foi então que soubemos que, para as grandes gravadoras, a música importa, mas muito se resume ao visual da garota. A garota ancora o palco, suga o olhar masculino, e, dependendo de quem ela é, lança seu próprio olhar de volta para a plateia". Págs. 11 e 12. 


Kim representa uma geração de meninas que não seguiam os padrões de pensamento e comportamento "idealizados" às mulheres (ser comportada, direita, bonita, educada, etc...). Muitas se identificaram com o rock pois este oferecia a liberdade de serem como quisessem, podiam exercer funções que rompiam com padrões sociais, mesmo com o machismo dentro da cena. 

"Essa música é para todas as garotas que não querem ser mães, ou amantes, ou putas"

O rock de certa forma empoderava as mulheres dando-lhes o poder da "atitude", palavra muito comum na cena rock feminina dos anos 90 que atualmente pode ser explicada como sendo um mix de "autoconfiança/opinião/pró-atividade". Foi assim que o Feminismo se desenvolveu no meio, de forma orgânica, de vivência e não de "teorias". Mas de uns anos para cá, essa atitude decaiu e uma certa passividade se tornou mais presente. Só há pouco tempo, meninas do rock têm resgatado o movimento, porém percebe-se ainda uma timidez, como se existisse um receio de se autointitularem feministas. A questão de peitar os dogmas sociais é algo que muito não se vê entre as artistas atuais, tirando exceções. 

Ouça Free Kitten, trabalho paralelo que formou com Julie Cafritz em 1992.


Influencia na Moda

A ligação de Kim com a moda é mais profunda do que se imagina. A mãe era costureira, o que despertou desde pequena o interesse pelo tema. Há passagens no livro com observações bem legais durante a moradia em Nova Iorque, ela captou muita coisa que serve de registro. Na verdade, como uma boa artista, suas observações se aprofundam ao comportamento humano e de forma inteligente soube compreender como a roupa faz parte dessa análise complexa.

A conexão foi tão forte que nos anos 90, formou parceria com Daisy Cafritz (sim, irmã da Julie) e lançou a marca X-Girl que hoje mudou de conceito após ser vendida a uma empresa japonesa. Kim deu uma sorte imensa pois antes do lançamento da loja, no clipe "Sugar Kane", conseguiu fazer um desfile no showroom de Marc Jacobs com peças da sua coleção Grunge para Perry Ellis, reunindo uma jovem modelo que estagiava na revista Sassy, a atriz Chloë Sevigny. Mais tarde, no primeiro desfile da X-Girl, ambos participariam do evento. 




A parceria lhe rendeu uma amizade com o estilista. Aqui, Gordon estrelando com Coco a campanha Inverno 2015 de Marc Jacobs.

Kim também posou para Saint Laurent a convite de Hedi Slimane. Muitos a consideram um ícone de moda, mas rejeita o título.


Nova Geração

É interessante vê-la citando seus ídolos e influencias, sendo que ela é o mesmo para muita gente. Não bastasse estimular garotas a montarem suas bandas de rock, acabou criando uma dentro de casa: sua filha Coco Gordon Moore criou a Big Nils em 2010, com influencias que vão de punk ao pop e já fez homenagem a Kathleen Hanna cantando "Rebel Girl" da Bikini Kill. Coco, que completa 22 anos em Primeiro de Julho, foi capa da revista britânica Dazed and Confused em 2015, onde revela a paixão pela arte e gostar de levar uma vida mais reservada.

"Estou grávida de uma menina, espero que ela seja uma Riot Grrrl"

Big Nils com Coco nos vocais

Mãe e filha

Quase não temos biografia de mulheres no rock disponíveis no país, portanto super recomendo a leitura, principalmente aos que querem conhecer a cena pelo olhar de quem faz parte dos bastidores. O livro termina, mas Kim Gordon continua produzindo e jajá vem projeto novo sendo lançado por aí, fãs fiquem ligados!

Onde Comprar o livro: 



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Pedimos que leiam e fiquem cientes dos direitos autorais abaixo:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
 

2 de fevereiro de 2016

Documentário: "Hit So Hard" - Patty Schemel (Hole) e as mulheres bateristas

Lançado em 2012, Hit So Hard é uma compilação de arquivos guardados por Patty Schemel. Aos 29 anos, em pleno retorno de Saturno, a americana vê sua vida mudar completamente ao se tornar a baterista oficial do Hole, bem no auge da era grunge. Suas histórias percorrem os bastidores mais internos, incluindo de dentro da casa dos próprios Cobains. É um documentário sincero, mostrando suas vitórias e fraquezas, igual a qualquer ser humano. 


Patty vai além, sendo o exemplo de tabus que não ficam parados nos anos 90, são assuntos que afetam o Rock até na atualidade. Ela descreve como foi se revelar lésbica nesse meio, inclusive há uma fala da cantora Susan Gottlieb (Phranc) onde joga a observação da sociedade achar que não há mais o que se lutar pelos direitos homoafetivos, que a liberdade sexual já foi conquistada e no entanto ela conhece no mínimo uns dez jovens LG's que não se sentem encaixados e sim, isolados do mundo.



O grande fio condutor desse documentário é a sua carreira como baterista. Ela conta que foi atraída pelo instrumento porque não havia mulheres tocando e achava aquilo super masculino, o que a levou a querer fazer também. Meninas são ensinadas a se sentar de pernas fechadas e a terem movimentos suaves, a bateria destrói esse conceito, pois as pernas ficam abertas e os braços fazendo movimentos enérgicos. 

"Eu escolhi a bateria porque não via mulheres tocando..." Patty Schemel 


Hoje, Schemel é considerada umas das melhores bateristas, só que essa trajetória não foi nada fácil. Passou por um grave assédio moral do produtor Michael Beinhorn durante as gravações de Celebrity Skin da qual a levou a uma séria recaída de drogas, tudo detalhado nas filmagens.


Em meio a todo o caos vivido, a lembrança em destacar que quase não há mulheres bateristas rende uma bela homenagem a diversos nomes pioneiros da cena, como Alice de Buhr (Fanny), Gina Shock (The Go-Go's), Karen Carpenter (The Carpenters), Debbi Peterson (The Bangles) e Kate Schellenbach (Lunachicks). Algumas aparecem dando depoimentos e afirmando essa falha na indústria que não é preenchida. A vida de Schemel representa não só a ela mas também toda uma geração de meninas que vem literalmente ajudando a construir para o futuro da música. Sua atitude não poderia ser mais punk rock!





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23 de janeiro de 2015

Kurt Cobain: uma pensata sobre a camiseta estampada com a carta de suicídio

Semana passada, saiu a intrigante notícia de que os sites Ebay e Etsy estavam comercializando t-shirts estampadas com a carta de suicídio de Kurt Cobain e que já haviam vendido 200 mil unidades do produto custando 25 dólares cada.


Quando li de primeira, de cara senti estranheza, era algo bizarro demais para ser verdade. Talvez por ser grande fã de Cobain e conhecer bem a finalidade da carta, tenha sentido tal impressão. Só que de longe fui a única. Logo em seguida soube da petição acusando as empresas de “glamourização das doenças mentais”, e assim, os produtos foram retirados do mercado.

Entre as justificativas do porquê ser falta de respeito, Julian Godinez, criador da petição, descreve que “a doença mental e o comportamento suicida não é uma questão de moda, e não se destina a ser glamourizada ou ser ostentada numa camiseta”.
De fato, essa não é uma estampa qualquer. Não é um simples papel com escritas. A carta representa uma das últimas angústias do cantor. Para algumas pessoas – porque há de tudo – pode parecer uma bobagem, um alarde à toa, mas não é. Doenças mentais têm crescido de forma surpreendente no mundo, a depressão já é chamada de o mal do século. As taxas de suicídio vêm aumentando, inclusive no Brasil, país que tanto vende a imagem da felicidade. Os sorrisos estão ficando cada vez mais forçados.

Mesmo com os altos índices, essas doenças ainda são vistas na sociedade com estigmas supernegativos. Além da tortura física, como depressivo e suicida, Kurt também sofreu, e ainda sofre, do martírio moral. A eterna culpa de ter sido um fraco, já que ele era um homem bem sucedido na profissão que escolheu, era casado e com uma filha. Desse modo, observa-se o desconhecimento sobre o assunto. Não podemos também esquecer o que a família passa. No dia de sua morte, o sofrimento de Kurt pode ter acabado, mas os dos seus parentes foi o início.


Talvez pelo fascínio que os ídolos causam, exista gente, principalmente adolescente, que ache “cool” ter a imagem de depressivo, bipolar, etc, pois de algum jeito ficam mais próximos de seus admiradores. Ou até mesmo isso lhes traga empatia por saber que ambos sentem coisas semelhantes. Porém, é preciso enxergar o lado cruel dessa história. Não é glamour ter transtorno mental. Quem sofre sabe o quão duro e incapacitante é estar nela. A idade vai passando e as frustrações se acumulam. A vida perde o sentido e passa num piscar de olhos!

Se você sofre de depressão ou conhece alguém nessa condição, indico a página Acabe com o Estigma, onde há relatos pessoais sobre o tema. Os testemunhos reais podem servir de conforto para quem está lutando contra o transtorno. E claro, procure ajuda médica, é necessário para enfrentar a situação. Nós também estamos a disposição caso queiram relatar sua história. 

No livro "Kurt Cobain, a construção do mito", Charles R. Cross dedica o penúltimo capítulo abordando o tabu que aos poucos vem sido quebrado. Chega a ser irônico noticiar esse assunto diante de um músico que odiava tanto a imprensa quanto a moda. Ele provavelmente ficaria espantado ao ver fãs usando a camiseta. Fica a questão para se pensar: Será que os transtornos mentais sofrem tanto preconceito que banalizam sem ter a devida noção???

20 de agosto de 2014

O Grunge e a Moda Masculina

Logo após a publicação do post sobre moda Grunge, sabíamos que haveria a necessidade de retornarmos ao assunto. Alguns detalhes ficaram de fora e queríamos analisar ainda mais esse período, do qual tem sido de grande influência atualmente.

Antes de esmiuçarmos a estética, gostaríamos de citar que foi feita parte das pesquisas do livro Kurt Cobain - A construção de um mito. Não o tínhamos usado como base no primeiro texto, e muitas coisas da qual havíamos descrito, foi confirmado. A leitura dele comprovou que nossas pesquisas estão no caminho certo, com pouquíssimos erros. Recomendamos o exemplar para os interessados no assunto. Ele será usado como referência neste texto, mais as análises pessoais.

Para começar, a gente relembra que o estilo Grunge era uma mistura de moda regional com elementos Punk. O estado de Washington tem entre suas características as baixas temperaturas, daí se entende o porquê do uso frequente de roupas de frio, como luvas, gorros, sobreposições, ceroulas por baixo de bermudas ou calças, casacos. A famosa camisa de flanela com estampa de xadrez vinha dos lenhadores canadenses e se popularizou pelos seguintes motivos: clima, fronteira entre os países e o trabalho com madeira. Aberdeen, cidade onde Kurt nasceu, tem como principal fonte de renda a produção madeireira. Inclusive o próprio pai do cantor trabalhava na indústria.

A camisa de xadrez era amarrada na cintura para quando esfriasse vesti-la novamente. 
A peça acabou virando modismo como vemos abaixo.

Foi comentado no outro post, que Neil Young pode ter sido grande referência na moda grunge. 
Reparem a camisa do músico e de Dave Grohl como são semelhantes

O Punk surgia por ser o gosto musical favorito deles. Isso não quer dizer que não se curtia metal, mas o punk de fato se destacou na influência. E assim como a música, havia a estética. Coturno, jaqueta de couro, correntes, cintos de ilhóses, all stars, jeans rasgados, camisa de banda ou com estampas satíricas, eram também vestimentas desses jovens.
As bandas grunge eram compostas por meninos pobres, eles não tinham dinheiro para comprar roupas novas - o que até se assemelha em parte ao período Punk. Mesmo depois de terem poder aquisitivo, também não havia o interesse de investir, já que eles não ligavam para isso e eram contra as produções exageradas do Glam Metal. Como bem disse na época James Trumam, editor-chefe da revista Details, “o grunge não é anti-moda, é sem moda”.

Observem que nessa imagem o visual do Nirvana estava mais pra Punk do que Grunge

Elementos da estética
O grunge é considerado a última subcultura de rebeldia a desconstruir a Moda. No século XXI, as modas alternativas que têm surgido apenas releem o que já foi criado. E com as estéticas alternativas sendo consumidas e comercializadas em massa pelas grifes mainstream, com o acesso à Internet, as ideologias foram substituídas por estéticas vazias de significado.

Na década de 90, a cena grunge desconstruiu a moda à seu jeito. Numa época em que tudo ainda era exagerado, eles usavam roupas baratas, duráveis e atemporais. Indo contra toda a estética chamativa e modista da década de 1980.
 
Sopreposições de blusas manga longa e curta: A alteração do clima entre 20º graus de diferença no mesmo dia pode ser a causa já que a manga longa protege os braços e o tronco recebe uma camada extra de aquecimento com o uso da camiseta. No caso específico de Kurt Cobain, ele vestia por frio e por vergonha do corpo magro, numa tentativa de disfarce.


Camisetas de bandas ou com estampas satíricas: A primeira era usada muitas vezes como divulgação de bandas ignoradas pela mídia mainstream. A segunda eram provocações tanto à mídia quanto à sociedade retrógrada. Ideias vinda dos punks.

Semelhança: Johnny Ramone com camiseta do golfinho Flipper e Cobain em referência a banda punk

Eddie Vedder e Mark Arm

Kurt com camisetas dos Stooges e Hole. Assim como a banda de sua esposa, Courtney Love, o músico abria espaço para grupos femininos divulgando as por meio de blusas, entrevistas e aberturas de shows do Nirvana.

Na capa da Rolling Stone, Kurt satiriza a publicação com a frase: "Revistas corporativas ainda são um saco"

Correntes laterais e cintos de ilhoses: elementos do movimento Punk.

Kurt adorava usar correntes nas laterais das calças

Influência: cinto de ilhós em Joey Ramone e Krist Novoselic

Casacos e jaquetas curtas ou longas, de couro, flanela, lã, jeans, militar, cardigãs, suéteres, paletós: Eram vestidos para espantar o frio. Poderiam ser usados com camiseta por baixo ou como sobreposições.




Jeans: rasgados ou com emendas, ou cortados para virarem bermudas, lembra o "faça você mesmo" do Punk. Eram também usadas jardineiras do mesmo material.

Calças e bermudas rasgadas ou customizadas

 Layne Stanley e Dave Grohl com jardineiras

Bermudas jeans/cargo/largas: As bermudas iam desde as calças jeans cortadas, até bermudas de moletom e de tecido. Independente do material, o formato delas era largo e quadrado.


Com a evolução do estilo e influência da moda skate, os modelos cargo se tornam mais comuns tanto nas bandas grunge quanto em outros estilos musicais dentro do rock.


Bermudas/Ceroulas curtas: em algodão fino, com elástico no cós, em estampas de listra ou xadrez podendo ser usadas com ceroulas longas por baixo. Aliás, essas próprias bermudas podem ser ceroulas curtas, conhecidas no Brasil como "cuecas samba canção".



Ceroulas: esta é uma das mais interessantes desconstruções feitas pelos rapazes. A ceroula, peça feita pra ser usada por baixo das roupas e não aparecer, era usada à mostra, sob bermudas. Foi algo novo na história da moda. Devido ao clima frio, as ceroulas tinham  propósito de fornecer um aquecimento extra às pernas, mas com a oscilação de temperatura em Seattle, a peça ganhou a função de uma espécie da "meias calças" masculinas.

As ceroulas estão na emblemática capa do álbum Ten, do Pearl Jam. 
Jeff Amment e Ed Vedder costumavam usá-las.

Ceroulas no Alice in Chains e Soundgarden. Aliás, vale uma análise da primeira imagem do Alice in Chains... notaram a mistura de elementos estéticos do Heavy Metal com o Grunge?

 Kurt, Layne e David Grohl  usam ceroulas (ou legging?).

Pochete: considerando o uso das bermudas ao estilo ceroula e sua ausência de bolsos, a pochete era um acessório necessário.

Membros do Alice in Chains e Soudgarden usando pochete

Calçados: o que prezava era o conforto e o preço, por isso a popularização do tênis All Star, Vans, Keds. O coturno Doc Martens, segundo o livro de Charles Cross, teve destaque porque a esposa de Chris Cornell trabalhava numa das poucas lojas de Seattle que revendiam o calçado. Por isso o uso pelas bandas Soundgarden, Pearl Jam e Alice in Chains, já que ela os empresariava. E só para enfatizar, Kurt nunca usou o modelo. 

Kurt de All Star e Vans numa foto caseira com Frances

Alice in Chains

 Eddie Vedder de Doc Martens

Óculos: além de armações femininas, eram também utilizados em formatos redondos e Ray-Bans.

Layne e Kurt com seus modelos


Cabelos: normalmente longos por influência do Heavy Metal, mas sempre usados de forma despenteada e muito natural.


Cabelos coloridos: assim como os punks, os grunges adoravam colorir os cabelos. Era uma forma de rebeldia e diferenciação.

Tonalidades como rosa, azul e vermelho se popularizaram na década

Chapéus: gorros por causa do clima frio, bonés, bandanas, chapéus de copa alta e abas largas ao estilo renascentista usados especialmente por Jeff Ament do Pearl Jam.


Dave Grohl e Vedder usando bonés

Jeff Ament usou de tudo: bandanas, às vezes acompanhadas de bonés por cima, chapéus de copa alta e gorros de lã

A revolução na moda masculina mainstream
Uma das grandes revoluções do movimento, além da musical, foi o impacto na moda masculina. Até hoje o grunge influência esse segmento, que tornou a moda masculina bastante informal por mais de duas décadas. É muito difícil nos dias de agora, um rapaz ou um homem que não tenham tido uma calça ou uma bermuda cargo em suas vidas, e/ou que não tenham saído na rua de bermudão, t-shirt básica e tênis: herança da informalidade grunge!
Pra entender essa revolução, é preciso retornar um pouco no que era a moda mainstream masculina nos anos 1980: as bermudas costumavam ser jeans ou no estilo social. Por mais informal que fosse, ainda era formal.

Enquanto nos palcos o Glam Metal era rejeitado, fora deles, os grunges batiam de frente com a cultura yuppie, aquele clássico profissional urbano dos anos 1980 (papel de Michael J Fox no filme "O Segredo do meu Sucesso"). O estilo foi um contraste ao terno e gravata que representava o auge da economia americana. Se os homens daquela década andavam que nem robôs engravatados, em 1990, eles queriam ter a liberdade de usar no trabalho o mesmo que na rua. Conforto era a palavra da vez. O tênis teve grande destaque na época, pois oferece enorme mobilidade para todos ///s gêneros. Quanto mais simples e prático fosse, melhor. 


Yuppie X Grunge: os jovens não queriam mais aparentar como o personagem de Michael J Fox em "O Segredo do meu Sucesso". Eles queriam ter a liberdade de usar a mesma roupa na rua e no trabalho. O ator River Phoenix, ídolo da geração, e seu visual informal no almoço de nomeados ao Oscar, de 1989.


O grunge e o feminismo 
Se o heavy metal e o hard rock investiam em letras misóginas, sobre mulheres como objetos sexuais e violência, o grunge já tratava a mulher com certa "igualdade". Se as fãs de hard rock queriam ser "escolhidas" pelos caras das bandas, as garotas fãs de grunge viam os músicos como rapazes que entendiam, ou que tentavam entender, as complicações do que era ser uma garota no mundo. O que ajudou nesse processo foi que as bandas grunge surgiram praticamente juntas com o movimento da 3º onda feminista: as Riot Grrrls.
No destaque da cena, estava à banda Bikini Kill, da qual tinha uma grande ligação com o Nirvana. Kurt se apaixonou por Tobi Vail, e assim passa a ser apresentado com um outro olhar ao feminismo. Ao mesmo tempo Dave Grohl namorava Kathleen Hanna, que um dia escreveu na parede do quarto do cantor tal frase: “Kurt smells like teen spirit”. 

O envolvimento próximo com as Riot Grrrls ocasiona diversas interferências, incluindo a estética. Tanto Cobain, quanto Eddie Vedder e Layne Stanley, passam a usar entre suas vestimentas roupas consideradas femininas pela sociedade, como vestidos, saias e sutiãs. Também se maquiavam e pintavam suas unhas de vermelho. A atitude ia em protesto, provocação e deboche aos preconceitos machistas e sexistas, que tanto ataca as mulheres. Kurt passa a defender ainda mais a causa quando se torna pai de uma menina e a sua irmã, Kim Cobain, assume ser lésbica. 

Kurt vestindo roupas femininas. 
Era uma forma de protesto e deboche contra o sexismo existente dentro e fora do meio do rock

Ed Vedder e Dave Grohl de sutiã

 Nirvana de saia

Além da roupa, o uso de elementos femininos, como batom e pintar as unhas, faziam parte da provocação

Os conhecidos óculos do cantor

Layne Stanley também usou armações semelhantes


Ed Vedder: Durante sua vida, a empatia com as lutas feministas se revelavam já nas letras que escrevia para o Pearl Jam, letras estas que não eram contra mulheres nem para mulheres, mas sim, letras que contam historias sobre mulheres e meninas com problemas de saúde mental, relacionamentos e envelhecimento. Ele também já contou sobre o privilégio de ter nascido homem e branco, assim como o lado prejudicial da masculinidade. Defensor do "pro-choice", já declamou mensagens anti estupro, contra agressões e acredita que a escolha reprodutiva feminina é uma questão de direitos humanos. Também fez parte do projeto "Every Mother Counts" sobre a saúde de mães carentes ao redor do mundo. Eddie, pai de duas meninas, diz que a paternidade alimentou sua ira pelo mundo ao redor e as injustiças que ele vê. Ele aprecia artistas e músicas que falam sobre o emancipação feminina.


Ed Vedder, vocalista de uma das poucas bandas sobreviventes da era grunge, ainda se mantém fiel ao estilo, é comum vê-lo vestindo sobreposições diversas, camisas xadrez, calças jeans ou cargo e cabelos naturalmente desgrenhados.



A moda masculina grunge em outras subculturas
A estética grunge foi algo que pegou tão forte que invadiu outras subculturas. No hard rock, Axl Rose pode ser visto no clipe Dead Horse usando camisetas de flanela xadrez tanto amarrada na cintura quanto vestida, assim como no clipe Estranged. Destacamos o vídeo Don´t Cry, onde o backing vocal Richard Shannon Hoon (Blind Melon) está vestido completamente no estilo grunge. 


Num outro momento do clipe, quando Axl está deitado num consultório, existe um boné escrito "Nirvana". Esses vídeos foram feitos no ano de 1992, auge do grunge. Na época, Axl se declarou fã de Kurt Cobain.


Já na cena Heavy Metal, enfraquecida midiaticamente devido ao boom do cenário de Seattle, o estilo desleixado, “largado”, bermudas e calças cargo, camisas abertas sobre camisetas, meias e tênis, passaram aos poucos se tornar populares.
Na foto do Slayer, Tom Araya (à direita) usa jeans largos e de lavagem stonada, camiseta, jaqueta xadrez e cabelos desgrenhados.  Kerry King e Jeff Hanneman usam bermuda e calça cargo.


Pantera: Se você não conhecesse o som da banda e apenas visse essa foto, você poderia julgá-los como uma provável banda grunge? Exceto pela pose de mau, típica da cena metal, tênis all star, uma grande camisa xadrez, roupas com aparência de gastas, a ceroula por baixo da bermuda... são influência da moda grunge. Na foto ao lado Dimebag Darrell usa bermuda cargo e all star.


Estes são exemplos fortes de que a moda grunge se tornou tão dominante que sua estética acabou absorvida pelos headbangers, alguns deles ainda hoje criticam o estilo sonoro grunge, mas na questão da moda, a informalidade grunge atravessou barreiras estéticas das subculturas mais fechadas, tamanho seu impacto na moda.

Curiosidade: No filme Rockstar, o protagonista, cantor de Heavy Metal, termina num bar, cantando anonimamente suas fragilidades e angústias vestido no estilo grunge! Isso nos mostra bem o espírito da época: há o desencanto com os excessos da cena metal e a identificação com o novo estilo sonoro, que era o recente interesse dos jovens e da mídia musical.


O Grunge no Brasil:
No Brasil, a moda grunge também chegou ao mainstream e influenciou as criações da moda masculina, mas sua maior expressão se deu na moda jovem, especialmente entre os skatistas, já que o esporte ganhou novo fôlego naquela década pois havia sido criado o Circuito Brasileiro de Skate Profissional. Mas é válido citar que nos EUA já era comum os garotos usarem o skate como meio de transporte.

Esta cena do filme Clueless - Patricinhas de Beverly Hills mostra bem como o grunge e a moda skate se fundiram dando origem ao street wear jovem masculino típico da década de 90.


Análise final - Keep on rockin' in a free world:
Apesar da influência punk e metal na sonoridade, as bandas grunge traziam algo novo ao mundo masculino: letras sobre alienação social, injustiças, traumas pessoais, conflitos internos e existenciais. O grunge dava ao homem o direito de ser emocionalmente fragilizado e não ser criticado como "menos macho" por isso. As músicas atingiam em cheio os jovens da geração X, que estavam depressivos e descrentes sobre o futuro.

Um dos grandes motivos de admirarmos essas bandas, era o amor genuíno que eles tinham à arte e aos fãs, oferecendo uma conexão direta entre ambos. O próprio Pearl Jam estabeleceu um batalha judicial contra a empresa Ticketmaster por causa dos altos valores que eles cobravam nos ingressos. O grupo não achava justo pois sabia das condições financeiras dos seus fãs. Stone Gossard declararia no julgamento: "Todos na banda sabem como é ser jovem e não ter dinheiro". Isso mostrava o quanto se preocupam com o público como também não esqueciam o seu passado. Infelizmente, a luta não teve continuidade.

A geração atual se sente órfã de ídolos genuínos. Quando surge um novo artista apresentando uma proposta diferente, sempre vem aquela dúvida se aquilo de fato é verdadeiro ou puro marketing. Num mundo onde se vende a alma pela fama e ganha-se mais de 15 minutos de visibilidade por coisas inúteis, nos perguntamos se não está na hora de um basta. Aliás, essa era também a mesma indagação dos jovens na virada da década de 90. 

Como sabem, Kurt se matou pois sofria de forte depressão e um dos fatores que contribuíram para esse final, era por não aguentar a pressão de ser um músico famoso. É interessante relembrar o episódio diante dos acontecimentos atuais. Isso mostra o quanto devemos questionar e refletir sobre os valores impostos pela sociedade contemporânea. A frase máxima: "Eu possuo, logo existo", é realmente a vida que queremos ter?


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