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6 de maio de 2016

O Riot Grrrl como referência: do rock ao pop dos anos 90 à atualidade

É impressionante o alcance que teve o movimento Riot Grrrl nos anos 90, mesmo permanecido underground. São meninas que conseguiram influenciar uma geração inteira, provocando inclusive mudanças de comportamento na cena musical de massa. Elas iniciariam um apagão a mídia em protesto as deturpações feitas pela imprensa, mas suas inquietudes sobre o mundo ultrapassariam qualquer barreira se espalhando e atingindo em cheio uma legião de garotas.

"Eu sempre digo às garotas que dizem querer iniciar uma banda mas não possuem nenhum talento: bom, nem eu tenho. Quer dizer, eu posso fazer uma melodia, mas qualquer um que segurar num baixo pode descobrir isso. Você não tem que ter poderes mágicos de unicórnios." Kathleen Hanna 


Influências
Começando pelo próprio Rock, houve uma enorme abertura com bandas formadas só por mulheres, ou com alguma musicista na formação, seja no vocal ou liderando apenas um instrumento. Esse conceito seria visto com força em todas as vertentes. No heavy metal, um destaque são as meninas da Kittie (leia mais aqui), que alcançariam forte evidência no meio underground e alternativo.


Indo ao indie, teríamos a continuação e maior abertura da carreira de várias artistas. Kim Gordon seguiria no Sonic Youth e depois na união com Julie Cafritz em Free Kitten. A xará Kim Deal apareceria no Pixies e com sua gêmea Kelley na The Breeders. Já no Smashing Pumpkins veríamos D'arcy Wretzky e posteriormente Melissa Auf Der Maur, ex-Hole. 

Clipe da música "Little Trouble Girl"do Sonic Youth: parceria entre Kim Gordon e Deal
Gordon, Deal, Wretzky e Auf Der Maur: todas baixistas

Porém, o efeito mais significativo seria encontrado (vejam só!) na própria indústria musical mainstream. Como não conseguiram persuadir as riots originais, abriu-se espaço para cantoras que desnudavam suas almas em letras escritas de forma desbocada ou poética, onde percorriam temas que iam desde uma decepção amorosa a abusos sexuais. Era a vez das garotas de atitude. E foi um impacto e tanto, não só nas mensagens que as canções passavam, mas também na composição estética delas. 

Muitas ficariam famosas por apenas um hit ou conseguiriam consagrar o álbum inteiro, é o caso do furioso "Jagged Little Pill" de Alanis Morissette. Um marco em sua carreira até hoje. Elas vinham de todas as partes - do country ao pop - misturando vários tipos de sons. Havia uma liberdade criativa super bem aceita pelo público daquele momento. 
Alguns nomes expressivos: Fiona Apple, Bjork, PJ Harvey, Sinead O'Connor, Tori Amos, Liz Phair, Jewel, Meredith Brooks, Anni Di Franco. 

PJ Havey, Bjork e Tori Amos: "Nós temos peitos. Nós temos 3 buracos. É o que temos em comum."
"Vocês não deveriam moldar suas vidas sobre o que vocês acham que nós (artistas) pensamos o que é legal, e no que nós estamos vestindo e no que nós estamos dizendo e tudo." Parte do discurso de Fiona Apple após receber prêmio no MTV Awards de 1997

Shirley Manson no Garbage, Gwen Stefani pelo No Doubt, Dolores O'Riordan no The Cranberries, Justine Frischmann na Elastica, Linda Perry com 4 Non Blondes e Veruca Salt seriam bastante reconhecidas por causa do lançamento de grandes hits musicais, sendo até trilha de filme. 

Curiosidade: o espírito riot iria tão longe que alcançaria até os homens. No clipe "Beautiful Girl" de 1992, o grupo INXS abordaria a questão do padrão de beleza feminino e as doenças causadas por ele. 


O rap e hip hop também conseguiu espaço. Artistas como Mary J Blige, Missy Elliott, Lauryn Hill, Lil Kim, Queen Latifah e mais nomes dariam voz as mulheres esquecidas de tais subculturas. 

Lil Kim, Lauryn Hill, Missy Elliott e Foxy Brown

Quase na virada da década, surgiria Peaches, Brody Dalle no The Distillers e Amanda Palmer no The Dresden Dolls. Ela voltaria depois com sua carreira solo num período que daria uma nova guinada a bandas punks atuais: The Gossip com Beth Ditto, Tacocat, Warpaint, Big Nils, Pussy Riot, Potty Mouth e outras. Vale destacar também Kate Nash no britpop contemporâneo. 

Um dos símbolos das Pussy Riots é o uso da máscara de esqui customizada no rosto. Provavelmente a inspiração viria de Kathleen Hanna no filme "No Alternative Girls" de Tamra Davis, de 1994.
Amanda Palmer em estilo "Lick my Legs" de PJ Harvey
"Eles dizem que mulheres não tocam guitarra tão bem quanto os homens... Eu não toco guitarra com a porra da minha vagina. Então, qual diferença faz? Brody Dalle
Em entrevista ao The Guardian, Kate Nash fala sobre seu projeto Girl Gang, um canal no youtube com intuito de ser ponto de encontro da nova geração de feministas. Foto: Lindsey Byrnes  
Beth Ditto, ícone queer, com camiseta da X Ray Spex. Mostrando que a influência vem de longe

Na América do Sul o sentimento não ficou por fora. Cássia Eller chegava ao topo com a reveladora "Malandragem", composta por Cazuza para Angela Rô Rô. A cantora reascendeu a força das mulheres como artistas no rock brasileiro. Era a perfeita representação da "Pagu" de Rita Lee nos palcos.

Cassia Eller no álbum Marginal de 1992

Para surpresa, Shakira também fez coro aos questionamentos noventistas. O famoso álbum "Pies Descalzos" simboliza a necessidade de expressar o inconformismo da cantora. Repare que o clipe da canção "Pies Descalzos, Sueños Blancos" parece uma mistura de "You Oughta Know" de Alanis Morissette com "Heart Shaped Box" do Nirvana. 


Estética
Um ponto bem interessante. Ao mesmo tempo em que existia a Heroin Chic, na música as meninas tiveram uma liberdade visual incrível, apresentando-se como queriam o que dava ênfase na verdadeira personalidade da artista. A moda grunge tinha força e influenciou de diversas formas: a desconstrução do que era feminino é provável que tenha sido a maior delas. As roupas eram iguais aos dos homens: t-shirt, calça ou bermudão com camisa de flanela amarrada na cintura, tênis ou coturno. Não havia preocupação com padrão de beleza, eram desencanadas de maquiagem, cabelos arrumados (quando tinham) e depilação. 

4 Non Blondes: a desconstrução de gênero da moda grunge também era feito nas mulheres
Dolores O'Riordan de cabelo curto platinado, moda na época. Dependendo da composição, sua estética ficava andrógena. 
Justine Frischmann quando namorou Damon Albarn, vocalista do Blur, confundindo os gêneros
Sinead O'Connor chegou ao topo de cabelo raspado, sem maquiagem e braços tonificados.

Por outro lado teve as que aproveitaram para se expressar com exagero, numa onda clubber, o que também é transgressor visto que na moda "menos é mais" para a mulher. Excesso de maquiagem, com bastante cor, glitter e batom vermelho, minissaias curtíssimas, vestidos e botas à la anos 60. Uma versão adiantada da lady drag.

PJ Harvey
Shirley Manson
Shirley e D'Arcy Wretzky
Gwen Stefani: "Quando eu finalmente fui capaz de passar um batom vermelho, eu fiquei superanimada."

Referência além da música
A ideologia percorreu a arte indo, claro, muito além da música. Os filmes com sua rapidez em documentar o espírito de uma geração, trouxe ao mercado longas com foco em assuntos que se aprofundavam nos conflitos internos causados pela nossa criação, falando sobre amizade entre garotas, transtornos mentais, religião, romance hétero ou lésbico, sexo...praticamente tudo. 

Exemplos: Virgens Suicidas, Jovens Bruxas (leia aqui), Adoráveis Mulheres, Now and Then, 10 coisas que odeio em você, Rebeldes, Garota Interrompida e entre outros.

"Uma por todas e todas por uma." Now and Then

Nas artes plásticas, Tracey Emin foi um nome que se consagrou. Controversa para alguns críticos, seus trabalhos não se intimidam diante de temas tabus ao corpo da mulher, o que a levou receber o título de enfant terrible. Em 2012, em exposição no Brasil, declarou ao Estadão a respeito do Feminismo: "Não é preciso mais ser como na década de 1970, mas com novo foco. Muitos acreditam que hoje já não é mais importante ser feminista ou uma artista feminista, mas é importante sim, porque muitas mulheres ao redor do mundo passam por situações horríveis, são enterradas vivas."

Isso é como uma feminista se parece. Tracey Emin
Obras da artista retratando o sexo feminino

Essa é uma pequena amostra do que significou a década de 1990 às mulheres daquela geração. Fase onde muitas puderam usufruir certa liberdade de expressão e terem o direito de quebrarem padrões de comportamento num mercado opressor perante a imagem das artistas, o que refletiu na vida de muitas meninas fora desse meio. Que a gente consiga alcançar esse espírito de novo vinte e cinco anos depois.

Aquela nostalgia! <3


Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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3 de maio de 2016

A História do Movimento Riot Grrrl: punk e feminismo na década de 1990

Em 2016, o movimento Riot Grrrl completa 25 anos. A data vem trazendo novidades que resgatam a memória através de documentários, biografias e exposições, além dos grandes retornos de bandas da época. Para completar, no dia 9 de Abril foi instituído em Boston o "Riot Grrrl Day". 

bikini kill
Kathleen Hanna, Bikini Kill - 1992



O espírito
Apesar de ter nascido em 1990, o fato é que suas raízes se iniciam no punk setentista. Os homens esbravejavam ao mundo as injustiças que sofriam de uma sociedade capitalista e as mulheres queriam fazer o mesmo. Porém, não era só o preconceito da classe dominante que iriam enfrentar; o de dentro da subcultura também. De tantas bandas que poderiam ser citadas, cada uma com sua importância, uma em específica globaliza a inquietude: X-Ray Spex.

Quando Poly Styrene introduz a música "Oh Bondage! Up Yours!" dizendo a seguinte frase: "Some people think little girl should be seen and not heard, Oh Bondage! Up Yours!/ Algumas pessoas pensam que as garotinhas só devem ser vistas e não ouvidas, Oh submissão! Vai tomar no c*!", ali encontramos o espírito do que iria refletir quase 20 anos depois. E o que diferencia as duas gerações então? O feminismo. Mesmo com a segunda onda dos anos 60, as punks inglesas agiam conforme o que vivenciavam, não havia noção da ideologia. "Nos sentíamos naturalmente feministas sem falar sobre", revelou Ari Up, vocalista da The Slits. O Riot Grrrl chegou para unificar tudo.




Início
O cenário do rock nos anos 1980 não era nada favorável as mulheres, tanto no underground quanto no mainstream. No post As Mulheres no Heavy Metal, é debatido sobre o apelo sexual ser mais explorado pela indústria do que o talento musical. O pouco de liberdade que se tinha fez queixos caírem com Chrissy Amphlett do The Divinyls cantando "I touch myself", um hino a masturbação feminina. Parcerias como a de Annie Lennox e Aretha Franklin em "Sisters are doing it for themselves", seria um respiro perante ao machismo do mercado.

A mídia mainstream definia em suas capas o feminismo como morto, utilizava manchetes sensacionalistas sobre o julgamento de assédio sexual do caso Clarence Thomas e Anita Hill, enquanto ocorria o assassinato de 14 alunas na Universidade de Montreal, onde o atirador dizia: "quero as mulheres". Diante das atrocidades e opressões sofridas, o sentimento de revolta se aflora.

Revista Time de 1989.
A revista questiona: Existe futuro pro feminismo?


Punk Singer: Rebel Girl, You're the Queen of my World
Kathleen Hanna é uma jovem interessada em estudos feministas que procura desenvolver seu conhecimento por leituras de Kathy Acker, a arte de Jenny Holzer e Barbara Kruger. Iniciada no curso de fotografia da Faculdade Evergreen em Olympia, capital do estado de Washington, faz amizade com Tammy Rae que a apresenta ao rock de bandas como Sonic Youth e Pixies. A atração pela música fica cada vez mais forte.
Durante o período de estudo, uma amiga com quem dividia moradia sofre tentativa de estupro no próprio local, resultando em ferimentos físicos e psicológicos na vítima. Comovida pela situação, em 1989, Kathleen arma um desfile protesto na biblioteca da faculdade, onde vestidos estampam frases que narravam o episódio de violência, caminhando entre palavras de repulsa. O efeito repercute ainda mais em sua vida.
Hanna conhece o fanzine Jigsaw de Tobi Vail, a única garota que falava de feminismo e punk rock. Amigos dão a ideia de um “Revolution Girl Style Now!” (revolução ao estilo das garotas), com a intenção de fazer garotas tocarem instrumentos. Então em 1991, é lançado o primeiro trabalho do Bikini Kill, formado por Kathleen Hanna nos vocais, Tobi Vail na bateria, sua amiga Kathi Willcox no baixo e por último, Billy Carren na guitarra. Ali inicia-se um novo movimento que envolvia arte e política. 

bikini kill
O zine Jigsaw e a banda Bikini Kill

A cena dos shows punks tinha a plateia feminina suprimida pelos moshs e rodas punks, muitas eram agredidas e acabavam indo parar no fundo sem poder entreter-se direito. Quando Kathleen Hanna dizia: "girls to the front" (garotas na frente), isso nunca tinha ocorrido antes na música, marcando uma nova era onde as meninas iam para frente do palco, numa estratégia de segurança para evitar assédio e poderem curtir à vontade. Os homens podiam estar presentes, mas atrás, nunca dominando o ambiente. Punks tentavam afrontar as integrantes e por isso ter garotas na frente também era uma estratégia de segurança às musicistas não serem agredidas. A música não era um escape, era um fundamento. Elas cantavam com raiva, algo que não era comum mulheres das bandas fazerem.

Kathleen Hanna: "Todas as garotas pra frente! Não estou brincando."

"Todos os rapazes, sejam legais uma vez nas suas vidas. Vão para trás, para trás, para trás."


O movimento
Em 1991, as bandas Bikini Kill e Bratmobile se mudam para Washington DC. Instaladas na capital americana, Jen Smith (Rastro!/ The Quails) e Tobi Vail criam o zine Riot Grrrl da qual na primeira leva, conta com escritas de Kathleen Hanna, Allison Wolfe e Molly Neuman. Junto ao zine, começam a fazer reuniões de ajuda para mulheres desabafarem abusos que sofriam, oferecendo palestras e atividades de artes. 

Riot Grrrl é uma garota assertiva, resoluta, com engajamento político em questões feministas. Os vários “Rs” do Grrrl, são ideia de Tobi Vail que lembram um som gutural que remete à raiva, à garotas raivosas. Na tradução literal: "garotas amotinadas" ou "motim de garotas": “She´s a grrrl she can do anything she wants" (ela é uma garota, pode fazer o que quiser); "every girl is a riot girl" (toda garota é uma Riot Grrrl)”

Inspirada pelos acontecimentos nessas reuniões, Kathleen Hanna escreve o Manifesto Riot Grrrl na segunda edição do fanzine Bikini Kill, edição conhecida também por 'Grrrl Power'.

 Página do zine contendo o Manifesto escrito por Kathleen Hanna
kathleen hanna
Segue tradução de trechos selecionados:
PORQUE nós devemos assumir os meios de produção parar criarmos nosso barulho.
PORQUE vendo nosso trabalho como sendo conectado com as vidas reais e as políticas das nossas amigas é essencial que entendamos estamos impactando, refletindo, perpetuando ou ROMPENDO com o status quo.
PORQUE nós não queremos assimilar o padrão de outra pessoa (garotos) de o que é e o que não é.
PORQUE nós estamos interessadas em criar formas não hierárquicas de ser E fazer música, amigos e comunidades baseadas em comunicação + entendimento, ao invés de competição + bom/ruim categorizações.
PORQUE nós odiamos o capitalismo de todas as formas e temos como nosso principal objetivo compartilhar informações e nos mantermos vivas, ao invés de dar lucros sendo legal de acordo com os padrões convencionais.
PORQUE eu acredito com todomeucoraçãocabeçacorpo que garotas constituem uma força revolucionário que podem, e irão, mudar o mundo de verdade. 

O blog Cabeça Tédio fez uma ótima tradução do Manifesto, peço que acessem esse link pra ler por completo. 

Algumas bandas Riot Grrrl: Bikini Kill, Bratmobile, Heavens to Betsy, Team Dresch, Excuse 17, Huggy Bear, Slant 6, Skinned Teen, Emily's Sassy Lime, 7 Year Bitch, Jack of Jill e Sleater-Kinney.


Feminismo e Política
O Riot Grrrl Convention aconteceu em meados de 1992 e reuniu mulheres de toda a América para discutir temas como identidade sexual, autopreservação, racismo, consciência, abuso doméstico, como sobreviver a abuso sexual e assuntos que se encaixavam ou não na comunidade punk. Lá apoiavam umas as outras e trocavam ideias sobre empoderamento feminino. Muitas das participantes acabaram criando novos movimentos Riot em suas cidades espalhando as ideias feministas por todo o país.


Kathleen Hanna queria que as garotas se tornassem donas de seus corpos, ela repudiava o que chamou de “fascismo corporal", quando as meninas são chamadas de “inapropriadas”. Usando o DIY do punk para empoderamento, encorajando mulheres a resistir e subverter a dominância do que a sociedade construiu como "feminilidades”, ajudaram a combater os gender roles no punk, dando autoestima às garotas. Levavam em conta o mantra feminista: "o pessoal é político" – frase que combate a cultura do estupro, da heteronormatividade, o direito ao próprio corpo e outras questões femininas de esfera política. O corpo absorve e reflete as informações do ambiente no qual está inserido, assim, pode ser considerado um índice das mudanças em curso na sociedade.

Usando o corpo como tela para palavras de protesto.

A atitude de Kathleen traz à memória a obra de Barbara Kruger.
Seu corpo é um campo de batalha

Zines
Com raízes na cultura dos zines (revistas feitas à mão com recortes e colagens), o Riot Grrrl inspirou mulheres a escreverem e se auto-publicarem. Em 1993, zines como Girls Germs, Satan wears a Bra, Girly Mag e Quit Whining se tornaram os primeiros do movimento. Segundo Johanna Fateman do Le Tigre, os zines eram um instrumento pré-internet para a formação de cenas locais.

bikini kill satan wears a bra girl germs

Para ajudar na distribuição destes zines, Erika Reinstein e May Summer criaram o Riot Grrrl Press na primavera de 1993, arrecadando fundos para comprar fotocopiadoras e computadores. Ocorre uma revolução de zines de garotas sem precedentes na história! Agora elas tinham uma produção e distribuição de uma mídia feminina independente que fazia com que tivessem controle sobre suas próprias imagens e também combatia a apropriação midiática do movimento, podendo chegar a uma grande audiência sem ter de se render à imprensa mainstream.

Os zines, como mídia alternativa, faziam o que a mainstream não fazia: empoderava garotas e ensinava feminismo. Vejamos algumas páginas:

"Com licença ♥ Oi, eu apenas queria dizer que eu não vou *sorrir *agir como burra *esconder meu corpo *fingir *mentir *ficar quieta por você. Tudo que faço, faço por mim e não vou mais deixar você rir de mim, tirar sarro de mim, me assediar, me abusar ou me estuprar. Porque sou uma garota e eu e minhas amigas não temos medo de você."


"Nunca deixe eles te silenciarem. Garota você é sensacional, o que você tem a dizer é importante. É relevante. Você é inegável, você é capaz, indescritível, revolucionária. VOCÊ É UMA LINDA."

feminismo
"Lute de volta - Mulheres não desejam ser estupradas. Ninguém pede pra ser estuprada! Mulheres devem ser capazes de andar na rua sem serem assediadas! Mulheres desejam respeito! E nós vamos conseguir!"
feminism
A cena já chamava atenção da mídia que andava atiçada devido ao Grunge. Pela proximidade de ambas subculturas, os holofotes de Seattle refletem nas Riot, só que o efeito surte em uma matéria com falsas informações no jornal USA Today e Washington Post. Irritadas pela repercussão mentirosa, em protesto iniciam um apagão na mídia por distorcerem a cena. Tal engajamento persiste até o final do Bikini Kill, em 1997.


Festivais Feministas
É criado o festival L7's Rock for Choice, organizado pela banda L7, que aconteceu de 1991 a 2001 e tinha como objetivo divulgar e arrecadar fundos para os movimentos de liberdade de escolha sobre o aborto (Pro-Choice).

Ed Vedder, entusiasta do feminismo, escreve Pro Choice em seu braço
durante a apresentação da música Porch no MTV Unplugged
.

No evento de 1993, a banda L7 arma um desfile protesto semelhante ao que Kathleen Hanna havia feito na faculdade. Elas percebem o viés cultural e a força da ligação Rock + Moda tem, utilizando-as como ferramenta política de suas ideologias, visão muito parecida com as Sufragistas nas primeiras décadas do século XX.


Já no ano 2000, é criado o Ladyfest na cidade berço do movimento Riot, Olympia. Independente, sem fins lucrativos, unia bandas, DIY, ativismo, straight edge e tinha como objetivo aumentar a visibilidade das mulheres na cena indie e underground juntando com ideias feministas do movimento Riot.


Kurt Cobain
Enquanto há o debate controverso sobre homem ser denominado de feminista ou pró-feminismo, em documentários colocam Kurt como seguidor da ideologia. Inclusive no Punk Singer, falam que o músico saiu da arte-punk feminista. Ao estourar o Grunge no mainstream, sendo o principal alvo o Nirvana, tudo que acerca o grupo fica em evidência. Kathleen Hanna era grande amiga do cantor, que se apaixonou por Tobi Vail e o introduziu ao estudo feminista. Mesmo após a separação, Kurt continuaria presente fazendo seus protestos contra misoginia em letras de música ou discursos. Ele também participaria do evento "Mia Zapata Benefit" em homenagem a cantora do The Gits, Mia Zapata, estuprada e morta após sair de um bar em 1993.

Panfleto anunciando show das bandas Nirvana e Bikini Kill.
Havia forte amizade entre Kurt e as meninas.

Se a baterista Tobi Vail namorou Kurt, vale relembrar que Kathleen Hanna está por trás de uma das maiores músicas de rock de todos os tempos: Smells Like Teen Spirit. Kathleen pichou a frase na parede de seu quarto, inspirando Kurt a escrever a canção. Legal como as minas feministas se interligam com uma icônica música grunge, né? 

A parede pichada por Kathleen Hanna. Falamos mais dessa ligação aqui.


Riot Grrrl vs Grunge Girls
O assunto mais polêmico! Houve um desentendimento no Lollapalooza de 1995 quando Courtney encontrou Kathleen Hanna nos bastidores do show do Sonic Youth e lhe deu um soco. O motivo até hoje é controverso. Alguns dizem que Hanna fez comentários negativos sobre Frances, outros afirmam que não havia absolutamente nada entre as duas. Quem sabe Love tinha ciúmes da relação de Hanna e Tobi Vail, ex- namorada de Kurt? Não há uma conclusão. Mas uma coisa é certa: as cenas eram contemporâneas e as garotas grunge feministas interagiam com a cena Riot Grrrl, pois Seattle e Olympia eram cidades próximas, uma amostra são as bandas L7, 7 Year Bitch e Babes in Toyland que ficam entre as duas subculturas.

Direções opostas, mas havia semelhança nos sentimentos
"As mulheres são o futuro do rock n' roll. Pegue algumas guitarras!" - Courtney Love


As Riots e a moda
O Riot Grrrl é considerado o primeiro grupo feminino (ou predominantemente) da história ocidental do street style, já que poucos homens eram permitidos a participar e acabavam sendo mais "decorativos" do que ativos. Elas usavam a feminilidade de forma provocativa, subvertendo os estereótipos de feminino. Nas bandas Riot de Olympia, predominava um visual retrô de influência anos 1960 com um mix da moda mainstream do momento (mostramos aqui), como baby looks e saias evasê com coturno ou all star. Usavam também roupas de segunda mão, t-shirts, moletons, tatuagens, piercings. As Riots eram muito diversas esteticamente porque o movimento era focado em música e no feminismo e não tanto numa moda específica. Utilizavam a indumentária como forma de protesto, se a regra era ser "#bela, recatada e do lar", elas subvertiam usando minissaias, vestidos curtos e lingerie. Estética bem similar ao que as The Slits faziam em 1970!

Bikini Kill: o uso de vestidos com ar retrô anos 60 ou que acompanhavam a silhueta do momento eram frequentes. Sendo curtos, usados com botas ou tênis.


O uso de saias era habitual, vale lembrar que no rock, pra se igualar aos homens, muitas mulheres optavam por usar calças ou o extremo oposto, as fãs de Hard Rock apostavam na clássica minissaia justíssima com apelo sexual, e as Riot quebram isso, vestindo saias curtas mas evasê ou de pregas e/ou com meia calça, fazendo da peça divertida, provocativa e empoderadora no palcoOs tecidos, estampas e formato das camisetas equivalem à moda dos anos 1990, nas baby looks ou t-shirts.
 

Bratmobile: também um exemplo da mistura do retrô sessentista com o estilo alternativo da época com blusa baby look, estampa de bicho e até blusa em vinil usada com calcinha e meia calça colorida com arrastão por cima.


Sleater-Kinney: dentre as três, a banda que tinha um visual mais anos 90, com saias usadas com meia calça e botas e peças clássicas/atemporais.  
 

Há de se falar sobre a maquiagem, pouco usada ou não elaborada. Naquela época, estar bem maquiada era uma obrigação social às mulheres, assim, não usando maquiagem ou a usando de forma desleixada, elas desafiavam as convenções de beleza exigidas. A ideia de uma feminilidade padronizada produz efeitos negativos na autoestima das adolescentes e elas queriam quebrar isso. 

Tobi Vail

As Riots queriam tomar o poder dos seus corpos que havia sido entregue à objetificação sexual e regras de comportamento. Em uma sociedade que ojeriza o pêlo corporal da mulher, elas passam a não se depilar e exibir sem receio. Quando Kathleen cantava de sutiã ou calcinha à mostra, era um modo de dizer que aquele corpo tinha uma dona e que nenhum homem tem direito a invadi-lo (abusar ou estuprar), e não haveria imposições da indústria sobre como deveria ser sua estética e a forma de expor sua sexualidade.



O som
A música surgiu como uma extensão do protesto feminista das Riots. Sendo punks, seguiram o lema "faça você mesmo" aprendendo a tocar os instrumentos sozinhas. Elas queriam mostrar que Rock também era para mulheres e incentivá-las a montarem suas bandas. 

"Temos raiva da sociedade que diz: garotas são burras, garotas são más, garotas são fracas."

Até hoje é difícil encontrar mulheres bateristas, esse é um dos maiores dilemas para quem quer montar uma banda só de meninas. Inclusive tal questão é destacada no documentário Hit So Hard da Patty Schemel.

Duas minas no comando da batera: Molly Neuman e Tobi Vail

Allison Wolfe
Bratmobile


Musas femininas (e feministas), influências e referências
Kim Gordon, baixista da banda Sonic Youth, era admiradora do movimento e se tornou amiga das garotas do Bikini Kill. Ela cita muito a experiência em sua autobiografia, A Garota da Banda.

 "Estou grávida de uma menina. Espero que ela seja uma Riot Grrrl" 

Kim convidou Kathleen para participar do clipe "Bull in the Heather". Era na fase em que o Bikini Kill mantinha o apagão na mídia. Gordon achou que seria um jeito de trazer a cantora ao mainstream como forma de provocação, mesmo arriscando Hanna a sofrer retaliação do meio Riot.


“Mulheres são anarquistas e revolucionárias naturais, porque elas sempre foram consideradas cidadãs de segunda classe, tendo garra pra criar seu próprio caminho. Quero dizer, quem fez todas as regras de nossa cultura? Os homens - homens brancos da sociedade corporativa. Então por que uma mulher não pode se rebelar contra isto?" - Kim Gordon

Joan Jett: é considerada a musa inspiradora do movimento. Em 1994, Jett produz em sua gravadora e faz backing vocals para um single da Bikini Kill, enquanto que sua banda The Blackhearts trás faixas com Kat Bjelland (Babes in Toyland), Donita Sparks (L7) e Kathleen Hanna. Nas fotos, Jett com Bikini Kill e Kathleen Hanna.



A decadência
“Precisamos nos fazer visíveis sem usar a mídia mainstream como ferramenta. A mídia corporativa cooptou e trivializou um movimento de garotas raivosas que poderia ser verdadeiramente ameaçador e revolucionário. A mídia distorceu as visões de nós mesmas criando hostilidade, tensão e inveja num movimento supostamente sobre apoio de garotas. Numa época que Riot Grrrl se tornou a próxima tendência, precisamos tomar de volta o controle de nossas vozes.”

A mídia mainstream as tornou um espetáculo, o foco saiu do feminismo e autoprodução para o senso de moda punk. Muitos as consideravam apenas jovens que queriam chamar a atenção. O movimento decai em 1997 quando a mídia tenta desacreditar e apagar jovens feministas da cena política e passou a jogar umas contra as outras e a criar tramas sexistas. Com o tempo as meninas foram marginalizadas na cena que se tornou hostil e até perigosa para elas.


Girl Power
A palavra "girl power" promovida pelos zines Riot para superação de abusos e violência, encorajando mulheres a formar bandas e experimentar com música foi cooptado pelo mainstream. O caso mais famoso é o do grupo Spice Girls, que esvaziou do termo seu significado original - para as Spice, o “girl power” era focado em moda e romance heterossexual onde a mulher dominava o relacionamento. Sendo populares, nunca disseram que o termo teve origem no movimento Riot Grrrl. Hanna chegou a dizer numa entrevista que a diferença entre o feminismo das Riot e o das Spice Girls é que o das inglesas era um produto, marketing.

Este zine é considerado o primeiro
registro Riot Grrrl do termo "Girl Power"

Em sua autobiografia, A Garota da Banda,
Kim Gordon fala sobre o "Girl Power":

"No final do dia é esperado que as mulheres sustentem o mundo, não que o aniquilem. É por isso que Kathleen Hanna, do Bikini Kill, é tão incrível. O termo girl power (poder feminino) foi cunhado pelo movimento Riot Grrrl, que Kathleen Hanna liderou nos anos 1990. Girl Power: uma frase que mais tarde seria cooptada pelas Spice Girls, um grupo criado por homens, cada Spice rotulada com uma personalidade diferente, lapidada e estilizada para poder ser comercializada como um perfil feminino falso. Coco [filha de Kim] era uma das poucas meninas no jardim de infância que nunca tinha ouvido falar delas, e essa é uma forma do poder feminino, dizer não à comercialização das mulheres!"

Curiosidades:
Em 2015 as Riots doaram zines, jornais, imagens, material pessoal para a Fales Collection na New York University’s Bobst Library para um arquivo histórico do Movimento Riot Grrrl.

Se hoje é comum ver mulheres em bandas de rock, há 20 anos a ideia de jovens meninas sendo protagonistas de bandas e de uma cena inteira foi algo realmente novo e radical!

Embora tenha havido mulheres na cena punk desde a década de 1970 - Siouxsie Sioux, Joan Jett, Patti Smith, Chrissy Hynde - o Riot é considerado o movimento que mais frequentemente creditou e trouxe punk e feminismo juntos. 

A palavra “Grrrl” entrou oficialmente para o Dicionário Oxford em 2001 como sendo um ativismo feminino de engajamento punk e diversas formas de produção cultural.

Se quiser saber um pouco mais sobre o feminismo na década de 1990, leia nosso post sobre a Revista Sassy e também o filme “The Fabulous Stains”, o qual influenciou Tobi Vail.

"Acho que toda garota deveria ganhar uma guitarra no seu aniversário de 16 anos."


Hoje com a banda The Julie Ruin, Kathleen Hanna aparece nas fotos abaixo com a baixista Kathi Willcox em 2015; com Joan Jett em 2013 e abaixo, no palco observem que Hanna, aos 46 anos, ainda mantém o estilo de usar "lingerie" com meias calças e Kathi um vestidinho, mostrando que ambas mantém o estilo pessoal da época Riot.

Joan Jett 2013 e The Julie Ruin 2015



O Movimento Riot Grrrl no Brasil
No Brasil, a banda Dominatrix capitaneada por Elisa Gargiulo é uma das maiores referências do movimento que chegou por aqui em 1995. Elisa organizou seis edições nacionais do LadyFest. As bandas Riot brasileiras usavam os primórdios da internet pra se divulgar, produziam zines e shows. Havia resistência de conhecidas bandas punks nacionais (com integrantes homens) com as meninas, chegando haver situações de extremo machismo e hostilidade com as jovens. Assim como no exterior, no Brasil havia a estimulação da rebeldia, da libertação de padrões corporais e ideais de beleza assim como o engajamento feminista.
Quero aproveitar e dizer: se algum de vocês, leitores (as), tem guardado algum zine Riot nacional dessa época, entra em contato com a gente, adoraríamos dar uma olhada (poder ser por fotos!) nessa relíquia! ;D

Para a revista Trip, Elisa Gargiulo declarou sobre o LadyFest: "A importância dessa festa é que ela divulga cultura feminista autogestionada. E a função da cultura feminista, assim com das Marchas das Vadias, é demonstrar um estilo de vida pra fora do patriarcado, rompendo com mitos como a rivalidade entre mulheres, o clássico "mulher não sabe tocar instrumentos", entre outras babaquices. A grande mídia e as corporações oferecem apenas um estilo de vida pras mulheres (e exclui da categoria 'mulheres' as de pele negra, as trans, as lésbicas etc). Eventos culturais feministas provam que existem milhões de mulheres ao redor do mundo vivendo experiências felizes e inspiradoras pra fora dessa lógica capitalista patriarcal"

Algumas bandas brasileiras: Cosmogenia, Kaos Klitoriano, Bulimia, Lava, Mercenárias, Menstruação Anárquica, Anti-Corpos, No Steriotypes, Cosmogonia, Letty, Trash No Star.


"Punk Rock não é só pro seu namorado",
da Banda Bulimia é um dos hinos Riot nacionais

♪♫ O que te impede de lutar? O que te impede de falar? Pare de se esconder
Você não é pior que ninguém / Punk rock não é só pro seu namorado /
Você sempre quis tocar / Você sempre quis andar de skate / Você que sempre quis quis quis /
Você não é um enfeite!
Punk rock não é só pro seu namorado / Faça o que tiver vontade / Mostre o que você pensa
Tenha a sua personalidade / Não se esconda atrás de um homem ♪♫
"Punk Rock não é só pro seu namorado" foi lindamente ilustrado por Jéssica Lisboa, acesse aqui pra ver.


Experiência pessoal de uma das autoras desta postagem:
Eu (Sana) conheci o Riot Grrrl em 1997 quando o caderno Mais! do Jornal Folha de SP trouxe um especial sobre a história do Movimento. Ler aquilo mudou a minha vida. Eu já gostava de rock e já tinha pensamentos feministas, mas não sabia que aqueles pensamentos se chamavam "feminismo". A partir do momento que eu descobri que haviam outras garotas com o mesmo pensamento e que aquilo tinha um nome, pude nortear todo o resto de minha adolescência, me tornando desde então mais consciente sobre a cena rock/metal para as mulheres e questionado nosso papel na sociedade.

Mesmo eu sendo novinha, a matéria me marcou tanto que guardei o jornal. Quando hoje o releio, percebo algumas falhas, logo na capa elas são chamadas de Bad Grrrls (garotas más), mas já alertava pro pioneirismo: "desencadeia uma onda feminista inédita formada por adolescentes que protestam por meio do rock...para criar uma subcultura revolucionária". Esse jornal trouxe a história de todas as ondas do feminismo e foi aí que conheci as Sufragistas e também foi meu primeiro contato com a imagem de Bettie Page! A matéria tem 5 páginas (na foto abaixo, apenas 2) e já mistura grunge com Riot, arte e cultura pop. Notem o visual da banda Kit Kat Club na capa: vestidos retrôs, meia, tênis, coturno, como as Riots americanas.


Empolgada, fiz um zine Riot, depois talvez poste sobre ele aqui no blog :)

Considerações finais das autoras:
♀ Este artigo tem foco nas bandas fundadoras do Movimento, em parte pela dificuldade de encontrar material escrito e de imagens, mas existiam diversas outras e diversos outros tipos de engajamento! 

O documentário Punk Singer não deve ser levado como a única verdade dessa cena. O filme homenageia uma das criadoras, Kathleen Hanna, mas é preciso lembrar que o Riot se espalhou pelo país e pelo mundo. Cada menina, de cada cidade, moldava as pautas de acordo com sua localização. Muitas bandas ficaram no underground devido o apagão que fizeram na mídia, sendo necessário pesquisas mais profundas para encontrá-las. "Eu não era a líder de tudo, existia um monte de grupos diferentes que se reuniram em todo o país e em diferentes partes do mundo. Eu não tinha conexões com eles. Não tínhamos celulares ou internet. Como eu era supostamente a líder se embora eu não pudesse me engajar com todas essas pessoas?", relata Hanna em entrevista.

Há controvérsias sobre como classificar o Riot Grrrl. Embora haja ideologia + música + moda tornando-as uma subcultura, elas não seriam tribo de estilo pois o foco não era em moda. O uso mais comum é como sendo um "movimento de cultura juvenil", mas as próprias Riots não se assumem como um movimento. Optamos por usar no texto tanto 'subcultura' quanto 'movimento' pois não dá pra saber se essa falta de nomenclatura correta tem a ver com os poucos estudos sérios dedicados à elas, que falo a seguir.

Exceto por livros específicos lançados em tempos recentes, os livros sobre subculturas ou tribos (inclusive os publicados no fim da década de 1990) ou não citam as Riot, ou dedicam apenas um parágrafo à elas. Isso me intrigou muito durante o processo de pesquisa: por que um movimento juvenil feminino e feminista tão importante, mal aparece nos livros sobre cultura juvenil, subculturas e tribos urbanas? Isso se torna ainda mais bizarro quando percebemos a imensa influência das Riot entre bandas femininas e cantoras do rock surgidas posteriormente e até os dias de hoje. O lado bom é o atual resgate do movimento em documentários e livros escritos por mulheres que estudaram ou participaram da cena no passado.
É muito importante que a participação das mulheres no Rock não seja mais apagada da história e nem menosprezada como costuma ser. Então pra gente que é fã de Rock, se os livros 'sérios' as esquecem, é um imenso prazer ajudar a manter viva a memória destas meninas que meteram a cara no patriarcado, berraram com raiva, tiveram atitude e foram ativistas para os direitos das mulheres.


E finalizamos com a opinião de Kathleen Hanna
ao ser indagada se o Riot Grrrl ainda vive:

"Eu realmente não quero que o Riot Grrrl viva porque não me interessa fetichizar algo que já aconteceu. Estou interessada em mulheres que desejam fazer algo mais interessante do que nós fizemos, e que vão desafiar e criticar o que fizemos; e através dessa crítica venham com algo muito melhor. É isso que me anima, e não fan sites com fotos das bandas Riot Grrrls."

Então #ficadica da Hanna: criar algo que seja tão mais interessante do que o Riot Grrrl!
Contamos com o girl power de vocês ;D

Não deixem de comentar a postagem, dizerem o que acharam. ♥

Leia também:
O Riot Grrrl como referência: do rock ao pop dos anos 90 à atualidade

Para escrever este artigo, estudamos algumas fontes citadas abaixo, mas a ideia, formato de post e escrita foram elaboradas por mim (Sana) e pela Lauren em conjunto. Assim como os zines Riot, nosso blog é uma mídia independente feita por mulheres e precisamos de apoio pra continuar nossas pesquisas. Compartilhar e divulgar é permitido, sendo esta a forma mais justa de reconhecer e agradecer nosso trabalho. Obrigada e compartilhem o link se curtirem a matéria! ♥

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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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