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27 de novembro de 2016

Joe Corré, filho de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren queima históricas peças Punks criadas por seus pais.


"O Punk se tornou ferramenta de marketing para vender algo que você não precisa. A ilusão de uma escolha alternativa. Conformidade em outro uniforme." - Joe Corré


god save the queen shirt vivienne westwood
Joe Corré queima a camiseta "God Save the Queen", criação de seus pais na década de 1970.

Como já havíamos noticiado aqui no blog no começo do ano, Joe Corré, filho de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren anunciou que queimaria a memorabilia punk herdada de seus pais, que chega ao valor de pelo menos 5 milhões de libras.

O motivo?
A cooptação da subcultura punk pelo mainstream.

Durante todo o ano de 2016 comemorou-se os 40 anos da subcultura Punk. Dentre estas comemorações o "Punk London" foi cheio de exposições, debates e palestras em museus, na British Library e no British Film Institute. Tudo aprovado e abençoado por ela, a "God Save the Queen", Rainha Elizabeth II.

"A rainha ter dado a bênção aos 40 anos do Punk foi a coisa mais assustadora que ouvi. É a apropriação da cultura punk e alternativa pelo mainstream... Ao invés de um movimento por mudanças, o punk se tornou uma peça de museu ou de atos de tributo. O punk nunca, nunca significou ser nostálgico - e hoje você pode aprender como ser punk num workshop no Museu de Londres." - Joe Corré 


Neste sábado 26 de novembro (data do aniversário de 40 anos da subcultura na Inglaterra), Corré queimou sua memorabilia num barco no rio Tâmisa acompanhado de sua mãe Vivienne Westwood. Em terra, houve protestos de punks querendo sabotar o ato que foi transmitido por live streaming.

 Joe Corré burning punk memorabilia
memorabilia punk queimando

Além de simbolizar revolta com a apropriação da cena musical pelo mainstream, bonecos de políticos ingleses como David Cameron, Theresa May e George Osborne foram queimados vestindo as roupas históricas dos primórdios da moda punk, junto com pôsteres, álbuns, cartazes e outras peças de época.

memorabilia punk on fire
Na faixa vermelha, corporações como Monsanto, Bayer e McDonalds são criticadas.

A hipocrisia está no centro desse ato de Joe Corré. Ele disse que nos últimos 40 anos houve um sequestro da anarquia no Reino Unido. Corré pediu aos que assistiam ao espetáculo para confrontar tabus e não tolerar hipocrisias ao mesmo tempo em que ele e sua mãe alertavam sobre os perigos de uma mudança climática. Sempre engajados em causas sociais e políticas, mãe e filho aproveitaram para colocar o lado ativista em prática pedindo que as pessoas adotem energia verde, que seria o primeiro passo para um mundo livre e "a coisa mais importante que você poderia fazer em sua vida".

Dizeres no barco: "Extinção! Seu futuro"

"Londres está sendo socialmente limpa e transformada num parque temático para corporações, cadeias de lojas e especuladores que não pagam seus impostos. Algumas pessoas estão muito preocupadas com o preço desses artefatos, mas a conversa que precisamos ter é sobre valores. O Punk proporcionou uma oportunidade para que a geração dos anos 1970 criasse uma saída - não confiando na mídia, não confiando nos políticos, investigando a verdade por si mesmos - o "faça você mesmo". O punk está morto e é hora de pensar em outra coisa". - Joe Corré

Esta fala de Joe Corré sobre o Punk estar morto e ser a hora de pensar em outra coisa, se liga com a fala de Kathleen Hanna sobre o movimento Riot Grrrl. Ela também não curte a nostalgia sobre e alegou que ao invés de tentar reviver o movimento Riot era melhor a geração atual criar um novo movimento. Fica aí a reflexão sobre estarmos mesmo cooptados pelo mainstream, sobre deixarmos de questionar e simplesmente aceitar o status quo, e sobre não estarmos criando coisas novas, apenas relendo o passado.


Vivienne Westwood apoiou o ato do filho e convidou os presentes para enfrentar a hipocrisia da política e das grandes corporações. Pediu que todos se engajem em causas ambientais. Um "faça você mesmo" a mudança, chega de ficar à mercê dos poderoso$.
 climate revolution


Durante o ano, tanto John Lydon quanto fãs de punk questionaram porque ao invés de queimar, Joe Corré não vendia as peças e doaria o dinheiro à caridade?
Corré respondeu dizendo que "quem irá comprar as peças?" - que por serem relíquias, são caras - "Elas vão parar na parede de algum banqueiro". Pelo valor, as peças não seriam compradas por punks reais e sim pela elite. Justamente a elite que explora o mundo.

Tudo isso está sendo documentado para um filme e segundo Corré, 80% dos fundos serão doados para causas ambientais e de mudança climáticas. Mas ele não queimou toda sua coleção, alguns itens de valor sentimental permaneceram, como as roupas que ele ajudou sua mãe a costurar quando ainda era um garotinho.

"O Punk tem sido castrado e neutralizado pelo setor corporativo e pelo Estado. Pendurado, esticado e esquartejado. Os jovens de hoje, jovens zangados, precisam de soluções reais, não do uniforme agora conformista, higienizado e esterilizado do punk. Não tem mais moeda. O Punk perdeu toda a sua mordida."- Joe Corré

Independente de ser contra ou a favor, algumas coisas são fato: a família continua com atitude punk. Continua questionando a forma que a sociedade funciona. Continua cutucando e abordando temas relevantes.

De alguma forma, Corré e Westwood mantém vivo o legado questionador dos primeiros punks. Talvez seja realmente a hora um engajamento em causas sociais que nos identificamos. A mudança pode vir de baixo, já que os de cima -  políticos e grandes corporações - não vão eles mesmos acabar com o próprio poder.  
Punk realmente não é nostálgico, como abordei neste artigo, os jovens dos anos 70 ironizavam o passado e queriam viver de forma diferente de seus pais. Não usavam a moda, criavam uma anti-moda. Não ligavam para o conceito tradicional de beleza: as meninas cortavam cabelos curtos e faziam maquiagens chocantes. Os rapazes rasgavam roupas. 

Queimar a memorabilia acabou sendo um ato punk! 
Punks desconstruíam conceitos. A queima desconstrói a importância histórica de um objeto, da roupa de museu; desconstrói o conceito de "relíquia", algo simbólico que deve ser salvo e guardado.
O ato foi provocativo. 
Foi mais um capítulo digno de registro dos criadores da subcultura Punk na Inglaterra.

Marketing ou não, eles aproveitaram para dar um alerta real sobre problemas ambientais que nossa geração enfrentará arduamente nas próximas décadas, enfrentaremos o caos se fecharmos os olhos. 
O "no future" será nosso fardo se não mudarmos o presente.



E você, achou polêmico? É a favor, contra, tem questionamentos? Acha que o punk está morto? Acha que virou marketing e moda esvaziada de sentido? Opine à vontade!



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30 de setembro de 2016

Punk Inglês 1976 - 1979 │A história e estética da primeira geração Punk

O ano de 2016 é de celebração aos 40 anos do Punk. Esta postagem é sobre a história e a estética da cena britânica de 1976 a 1979, tendo como foco os primeiros punks. O período é chamado por alguns como a "única e verdadeira época punk".


Outros artigos em homenagem aos 40 anos do punk:
CBGB - O berço do movimento Punk
Punk: a influência das lojas de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren na estética da subcultura



Icônica foto da época: 
Soo Catwoman - O cabelo, que imitava orelhas de gato, anos depois seria relido por Prodigy. Maquiagem "gatinho" nos olhos, típica das meninas punks da época. Brinco de caveira e choker com correntes e alfinetes. Estrela na bochecha, lábios contornados.

Punk Fashion 1976 1979
®Ray Stevenson

A música Punk deu seus primeiros passos nos Estados Unidos com bandas proto-punks como The Stooges, MC5, Television, Dead Boys, Velvet Underground, Patti Smith entre outras. Embora desde 1974 os Ramones tocassem no CBGB [aqui], seu primeiro álbum saiu apenas em 1976. Para os americanos, o visual também tinha carga de importância, tanto que o visual dos Ramones foi deliberadamente criado por eles, cheio de simbologias propositais. A diferença entre o visual dos EUA e do Reino Unido é que em Londres havia o exibicionismo. A diferença entre as cenas é que nos EUA era sobre a música a ser tocada e na Inglaterra era um movimento social. E foi através de um show dos Ramones em Londres que o som punk chega no Reino Unido em 1976.


Dave Vanian, The Damned. 
Punk Fashion 1976 1979
 
No começo de 1976 tanto na América quanto no Reino Unido, o punk não tinha um nome, eram apenas bandas do underground. A palavra "punk" era gíria para prostituta e abuso sexual nas prisões. Hollywood usava-o em filmes gangsters para escapar da censura. A palavra sendo usada para música apareceu em 1970 quando o jornalista americano Nick Tosches da revista Fusion usa-a para citar New York Dolls, Iggy and Stooges e Velvet Underground. Mas era genérico, o nome demoraria um tempo pra pegar... o punk americano se manteria invisível (underground) por anos. O nome só pegou mesmo após o lançamento da Punk Magazine que em sua terceira edição, em abril de 1976 traria Ramones na capa.

Em Londres, jovens de classe média em sua maioria ficavam juntos pra passar o tédio, indo ao "lado errado" da King´s Road, numa região menos próspera da rua que já havia abrigado a loja "Bizarre" de Mary Quant na década de 1960. Lá eram localizadas as lojas de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren [aqui].


Vivienne Westwood vestindo criação em latex e ao lado de sua vendedora,
Jordan, que usa make "cat eye".
Punk Fashion 1976 1979
 
As bandas se apresentavam na boate Roxy, Vortex e no 100 Club e foi nele que em setembro de 1976, ocorreu o primeiro festival internacional punk que fez o movimento sair do underground e ir pro mainstream. Lá tocaram Sex Pistols, Siouxsie and the Banshees, The Clash, Buzzcocks, The Jam, The Stranglers e The Damned. Outras bandas da época eram Eddie and the Hot Rods, Chelsea, UK Subs, X-Ray Spex, Cherry Vanilla, The Slits, GBH e Vibrators.


No contexto histórico, em ambos os países havia recessão e falta de inspiração política aliado à crise do colapso do modernismo sessentista e o avanço da tecnologia. A  euforia hippie de mudar o mundo havia ido embora, estes encaravam a maturidade. Crescidos na sombra do otimismo hippy, do sonho utópico, os punks, filhos ou irmãos de hippies, criavam uma rebelião contra o que veio antes deles: pessoas mais velhas controlavam a música, a moda e a mídia, tudo estava careta. Em 1973, Rocky Horror Picture Show havia surgido como um alento, o filme retratava o lixo e a decadência da sociedade da época.

E devido à esse controle dos "mais velhos e caretas", a ideia de Do it Yourself é aplicada em termos de música e mídia. As bandas decidem criar as próprias gravadoras e os fãs criam as próprias mídias (zines) pra falar sobre punk criando independência da mídia dominante. O DIY também seria aplicado no visual.


A mistura estética punk: 
roupas estranhas que chocavam a sociedade


Os primeiros punks britânicos eram uma turma pequena, que ia a determinados lugares, dentre eles um local lésbico/bi que existia há tempos em Londres. Lá se sentiam livres para vestir roupas "estranhas" que não podiam usar em outros lugares. Tinham estilos variados unidos pelo espírito da ousadia, na época, quem saía da norma enfrentava confrontos com a sociedade. Embora os looks fossem diversos há pontos em comum que vou listar abaixo:

-
Como vimos no post sobre as lojas do casal Westwood e McLaren, lá eram vendidas peças deliberadamente destruídas e desconstruídas. Estilos de fetiche, harness, calças bondage, peças em PVC, vinil ou látex, tudo com um valor bem alto.

- As lojas de Westwood e McLaren não eram o único local de compras, cada um criava o próprio look com roupas que eram descartadas do mainstream, de brechós, centros de caridade, roupas bregas e de anti-moda. E aí o conceito DIY (faça-você-mesmo) entra em ação, pois havia modificação ou desconstrução de peças prontas para ficar ao gosto da pessoa.

- As coleiras de couro e as coleiras de spikes usadas como gargantilha eram de fato coleiras de cachorro. Só depois este tipo de peça foi feita como peças de moda. 

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Inventavam personas como Johnny Rotten ou Soo Catwoman ou Poly Styrene.

- As meninas punks eram duronas e trazem os cabelos curtos de volta, já que ter cabelos longos era associado ao período escolar e a regra era não parecer hippy: sem cabelo comprido, sem peças boho, sem calça boca de sino. 


- Calças para ambos os sexos eram retas, baggy ou drainpipes (justinhas).


- A estética pessoal de Vivienne Westwood acabou influenciando a estética das meninas punks: os cabelos curtos armados, o estilo de maquiagem nos olhos, batom escuro e sobrancelhas desenhadas com lápis colorido
.


Cabelos sempre curtos: A menina da esquerda deixa uma pontinha preta na franja e Catwoman desenha um morcego com tinta preta nos cabelos descoloridos, as asas do morcego são os "chifres" (ou orelhas de gato). Sobrancelhas raspadas ou redesenhadas; delineado de desenho livre, pulseira de spikes.

Punk Fashion 1976 1979


Jordan com cabelos pra cima como a noiva de Frankenstein e cat eye exgerado acompanha batom e brincos de cruz invertida. Ao lado, a maquiagem geométrica tribal foi feita por Vivienne Westwood. Veste colar de pérolas e twin set cor de rosa, ironizando as peças conservadoras.


Punk Fashion 1976 1979


Siouxsie Sioux que viria a formar a banda Siouxsie and the Banshees era da turma dos primeiros punks. A maquiagem nos olhos era de desenho livre, sem regras.

Punk Fashion 1976 1979

Cada menina criava seu desenho de cat-eye: Garota imita o penteado de Catwoman e faz um cat eye "pra cima"; Moça com cabelos curtinhos e franja assimétrica bicolor. Já os cabelos curtos cor de rosa e boca sem batom destacam a maquiagem dos olhos de Debbie. Brincos de argolas.

Punk Fashion 1976 1979
 2.®Paul Revere

Trecho do documentário The Year of Punk (1978mostra duas meninas se maquiando e conversando com a jornalista. O original "maquia e fala"/"se arrume comigo" haha! Elas fazem tudo com lápis de olho, até os lábios. Tipo quando não encontravamos batom preto pra vender ;D




As mulheres fizeram parte do punk desde o início:
Chrissie Hynde, dos Pretenders de cabelos curtos e blusa de Westwood.
Viv Albertine/The Slits usam peças de Westwood, cintos de tachas/spikes, calças justas, cardigã e blazer: a moda punk era variada (pena não poder ver as cores). 


Punk Fashion 1976 1979

 Casacos ou blazers adornados com correntes, alfinetes, zípers eram comuns assim como mini saias.
Punk Fashion 1976 1979

O punk era aberto a qualquer pessoa que se identificasse. Negros(as) e asiáticos(as) estavam presentes no nascimento do punk, mostrando que ao contrário do que muitos pensam, havia diversidade. Aliás, elementos estéticos que hoje são usados no Afropunk já existiam nessa época, entre eles, os black powers coloridos.

Punk Fashion 1976 1979
®Derek Ridgers

 
A maioria das fotos da época é preta e branca, mas os punks usavam cores. 

Cabelos curtos e coloridos; maquiagem de olhos e/ou boca marcados; blazers com bottons; peças xadrez; tricôs; jaquetas pretas; camisas.

Punk Fashion 1976 1979

Cabelo rosa curto com corte em "chifres" acompanha maquiagem cat eye com cor de rosa, jaqueta lotada de bottons, correntes e coisas aleatórias como chupeta e absorvente interno, calça vermelha, meias coloridas e scarpin; 
Sid Vicious e Johnny Rotten mostrando um pouco das cores punks; jovens passam o tempo na King´s Road. Como podem observar em várias meninas, o uso de meias calças era bem comum.

Punk Fashion 1976 1979
1. ®Derek Ridgers, 1977.

Camisas todas riscadas e usadas soltas eram comuns, assim como o uso de meias arrastão com calcinha por cima. As meninas da foto à esquerda usam salto alto, o scarpin era um dos calçados mais comuns entre as punks assim como sandálias de salto. Na foto à direita: cabelos platinados também eram habituais assim como o uso de listras e tricôs.


Punk Fashion 1976 1979
2.®Jonathan Player

 Siouxsie com blusa listrada e calças justas; à direita, conversa com Jordan e usa blazer, meia calça e sandálias de salto com meia. Jordan usa blusa de tricô da loja SEX com calça e bota.
Punk Fashion 1976 1979


Os meninos punks compartilhavam elementos estéticos em comum com as garotas como os cabelos curtos, blusas rasgadas e com mensagens, muitos bottons em blusas, blazers e jaquetas. Correntes, alfinetes, pingentes, óculos escuros, chokers ou colares entravam como acessórios assim como as gravatas soltas. As calças tanto podiam ser retas quanto baggy ou justinhas. Nos pés, coturnos, botas ou Converse All Star.

Punk Fashion 1976 1979

As roupas do The Clash eram de Alex Michon e Krystyna Kolowska. A banda, ao contrário do niilismo dos Pistols, tinha letras políticas.

Joe Strummer todo de preto e Paul Simonon com blusa arrastão de tricô.
Punk Fashion 1976 1979


Como observado acima, o visual dos meninos do The Clash refletia a moda punk da época: variedade de estilo e muitas misturas! As fotos abaixo mostram que a banda ia do visual com elementos rockabilly de Joe Strummer, passando por calças ajustadas, camisas e peças sociais desconstruídas. Nos pés coturnos e sapatos sociais.


Punk Fashion 1976 1979
3.®Sheila Rock

Já o Sex Pistols devido à relação com a loja SEX [aqui], tinha o visual tão impactante quanto a música. Mas assim como todos na época, misturavam estilos. Na foto abaixo, podemos observar Johnny Rotten usando tanto um visual Teddy Boy quanto camisa e blazer cheio de alfinetes e pingentes.  

Punk Fashion 1976 1979
3.®Ray Stevenson

A banda Sex Pistols em dois momentos: nas imagens podemos observar uma variedade de elementos comuns, mas não necessariamente repetindo exatamente o mesmo look sempre.

Punk Fashion 1976 1979


Sid Vicious e seu visual vanguardista que se tornaria icônico. Ele só entra pra banda em fevereiro de 1977.  Acompanhado de Nancy Spungen, o casal usava cor preta com frequência:
Sid usando estampa animal; arrastão (com seu icônico colar de cadeado); junto com Nancy usando calças justas, casaco de couro preto, blusa com simbologia nazista e Nancy com calça de couro preto, top com fechamento frontal em zíper; ambos usam cinto com studs e argola.


Punk Fashion 1976 1979

Em 1 dezembro de 1976, devido à entrevista dos Pistols com Bill Grundy o punk se torna um fenômeno nacional. Foi a partir daí que jovens de Londres e do interior do país começaram a querer ser parte daquilo e copiar o visual dos pioneiros.




Em 1977, o visual era resumido pela mídia a um estereótipo sobre como os punks supostamente deveriam aparentar. Em 1978 este estereótipo chega aos EUA. Naquele ano dezenas de lojas surgem para vender o look aos jovens agora seduzidos pela rebeldia transgressora. 

As fotos do post e outras mais estão em nosso Pinterest.


Declínio e fim da primeira geração/cena punk 

Vários acontecimentos fizeram com que os primeiros punks declinassem na Inglaterra. A entrevista que Sex Pistols deu a Bill Grundy, chocou parte da população que passou a agredi-los com frequência, os fãs eram hostilizados na rua e ao mesmo tempo, quanto mais mídia em cima deles, mais adolescentes queriam ser punks. 

Os clubes que traziam shows das bandas começam a ser frequentadas por jovens "paraquedistas" que conheceram o punk através da mídia. Nos primeiros shows punks a plateia tinha atitude, dançavam de forma agressiva, mas pacífica. Os "paraquedistas de fim de semana", não sendo parte do grupo punks inicial, viam aquela dança e interpretavam que o punk (a pessoa) era agressivo. Esses jovens passam a ser os novos punks, agressivos nos shows e nas ruas. Os punks originais logo ficam desanimados pela violência que estava se formando na cena advinda destes novos adeptos.

Com cada vez mais jovens aderindo, o punk se torna algo imenso em torno de um ano e meio depois de ter surgido. Surgiram diversas bandas que imitavam as bandas pioneiras, e estas bandas se revoltam com a "falta de originalidade".  

O público punk inicial começa a parar de ir aos shows - o clima havia mudado. O pessoal que criou o movimento vai indo cada um pro seu canto, alguns deles iriam para o que se tornaria depois a cena pós punk/ gótica. Aliado a isso, em outubro de 1978, Nancy Spungen é morta por um traficante enquanto Sid estava dopado de drogas. Sid morre de overdose em 02 de fevereiro de 1979. Johnny Rotten sai dos Pistols e é aí que muitos consideram ser o fim da cena punk original.


A massa de jovens que conheceu o Punk pela mídia e o interpretou de forma diferente dos primeiros punks, tem sua carga de importância:
eles deram prosseguimento à subcultura fazendo surgir o Street Punk, o Anarcopunk, além das cenas Hardcore, Horror Punk, Psychobilly entre outras

Se os primeiros punks se afastaram da cena por causa das cópias, a própria cena aos poucos se reinventou. Sem a mídia, o punk poderia ter ficado por lá mesmo e tido uma vida curta, não teria se tornado internacional e chegado até nós. Em contrapartida, devido à esta mesma mídia as subculturas aos poucos vão tendo seus significados ideológicos esvaziados.

Punk Fashion 1976 1979
®Steve Johnston

Em termos de moda, acho importante comentar algo que não vejo ser muito abordado no Brasil, foi uma observação minha confirmada com uma informação que adquiri com um punk britânico que fez parte do grupo inicial: o look punk de jaqueta preta, jeans rasgado, coturno acompanhado de moicano colorido  não apareceu antes de os punks originais desaparecerem. Já haviam pessoas de corte moicano na sociedade, porém não da forma que membros da segunda onda do punk rock, que acontecerá a partir de 1980, trarão fortemente como visual de punk de moicano que virou o que hoje entendemos como o estereótipo do visual clássico.


"Punk is not Dead"
O punk mudou a moda: a partir dele sucessivas tendências para atrair os jovens são criadas. 
O punk foi integrado à moda, não morreu. 
O punk mudou a sociedade mais do que qualquer outro movimento juvenil do século XX, influenciou o mainstream, a cultura pop, várias subculturas que vieram depois e deixou como legado a mistura de estilos visuais num mesmo look. 
No fundo todos somos um pouco herdeiros tanto da atitude quanto da moda. Quando dizemos que "misturamos estilos" - não estamos sendo nada originais, é uma herança punk. 


"O punk é levantar e ir à luta pelo que acredita"
-
John Lydon


No nosso canal do youtube, colocamos um vídeo resumindo 
este artigo, assistam abaixo:



Até o fim do ano vai ter muito mais artigos em homenagem à essa maravilhosa subcultura! Não deixem de seguir nossas redes sociais pra ficarem atualizados com as novidades! ♥

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29 de setembro de 2016

Kate Moss usando peças da SEX e da Let it Rock (lojas Punks de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren)

Em editorial de comemoração aos 25 anos da revista Dazed & Confused, Kate Moss veste roupas das lojas Punks de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, a SEX e a Let it Rock [veja nosso post sobre as lojas aqui]!

Fiquei muito feliz com o timing, pois acabei de postar sobre as lojas e uma super modelo e uma super publicação aparecem usando as famosas peças que entraram pra história da moda! Assim podemos todos nós ver as roupas punks daquele período sendo usada nos dias de hoje! E não é que são atemporais?

Sendo a maioria das peças da época, podemos ver a estética punk inglesa em seus primórdios. Hoje ao olhar as fotos, aparentam ser looks suaves ou "normais", mas precisamos colocar nossa mente lá no fim dos anos 1970 pra entender que eram visuais rebeldes e inovadores. As peças parecem ser "punk de boutique", e realmente são, pois a estética punk de Vivienne e Malcolm nasceu numa boutique. ;)

Ah, as peças vieram do acervo de um colecionador: Kim Jones, o diretor artístico da menswear da Louis Vuitton!
Atentem para o cat eye, típica maquiagem das meninas punks, em versão atualizada

Minha foto preferida: ela veste a blusa Venus [que citei no post] da Let it Rock
com saia de couro da SEX. Não é incrível pensar que isso é o look punk inicial? :D

Novamente um top da Let it Rock e saia de couro da SEX. 
Notem a meia arrastão, as lojas do casal também vendiam este tipo de peça. 

Kate veste trench-coat Louis Vuitton, mas a saia e o sutiã são da SEX, observem os spikes na borda do sutiã! Pois é, até isso é punk inicial! E os scarpins também são da loja, as primeiras meninas punks usavam esse tipo de calçado. 

Foi bem legal escolherem a Kate pra esse editorial, ela é um ícone da moda britânica e a gente sabe da personalidade rebelde que ela tem! No look abaixo: sutiã, capa e saia, tudo da SEX.


E finalizando com essa foto que a Kate usa um suéter da Louis Vuitton que é praticamente no mesmo estilo dos que Vivienne criou para a Seditionaries e os calçados são da Vivienne também, no já citado post que fizemos, postei um calçado bem semelhante. Afinal, sandálias de salto com studs vestiam os pés das meninas punks da época.



Bom, esse com certeza, pelo valor histórico, já é um de meus editoriais favoritos de todos os tempos! Eu tô praticamente chorando de emoção! Não é todo dia que podemos ver as peças punks originais de Vivienne  e Malcolm estampadas em revistas. Vida longa à estética punk! ♥


Vídeo com a história das lojas:


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26 de setembro de 2016

Punk: a influência das lojas de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren na estética da subcultura

É imprescindível falar das lojas de Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, especialmente a mais emblemática delas, a SEX, quando falamos da história do Punk britânico.
Neste ano de 2016 comemora-se 40 anos da subcultura Punk e diversos eventos têm ocorrido ao redor do mundo para celebrar a data. Portanto, a partir deste mês publicaremos diversos artigos sobre a subcultura.

Fachada da loja SEX, 1976

Malcolm McLaren se dizia fascinado por jovens rebeldes e em 1971, abre a loja Let it Rock na King´s Road, uma rua "moderninha" de Londres. A loja era localizada na parte mais decadente da rua e tinha foco em álbuns, memorabilia Rock n´ Roll e eventualmente moda para os Teddy Boys. McLaren alegou posteriormente que finalizou a loja tanto porque os Teddies eram conservadores e reacionários e ao mesmo tempo porque se negava a vender vários produtos por apego emocional. 



Malcolm na frente da Let it Rock vestido como um Teddy Boy. À direita, a moça loira é Vivienne Westwood, usando roupa autoral e incomum para a época.

Malcolm e Vivienne Westwood, então uma professora escolar, decidem começar a criar peças, como patches para motociclistas, aplicar studs nas roupas... eles criam duas camisetas super famosas, a “Vênus” e a “Rock”, com a palavra escrita com ossos de galinha presos com alfinetes. E foi exatamente aí que o casal e a moda punk começaram a entrar pra história da moda! Foi nessa época que surgiu o primeiro confronto com jornalistas, que queriam emprestar roupas para editoriais de moda, eles recusam. É aí que surge o conceito anti-Vogue e anti-fashion da dupla.


Em 1972 o negócio é reformulado com o nome de “Too Fast to Live Too Young To Die”, com foco em material de cultura Rock n Roll da década de 1960, peças em couro e t-shirts customizadas e desconstruídas, especialmente camisetas antigas - consideradas entediantes - passam a virar peças artísticas de anti-moda.
 
Fachada da loja, 1973.

Dois anos depois, em 1974, Malcolm vai à Nova Iorque para uma feira de negócios e lá conhece os glam rockers do New York Dolls. Na volta ao Reino Unido, funda com Vivienne a terceira identidade da loja, dando o nome de SEX, local que viria a ser considerado a primeira boutique de moda punk do mundo.

A SEX tinha letras em plástico cor de rosa fluorescente, algo completamente fora dos padrões da época. Houve uma mudança drástica no conceito: a loja não colocava produtos na vitrine e a intenção era vender roupas que nunca apareceriam nas páginas da Vogue. Hoje, vemos a ironia do destino: dezenas de lojas “cool” não colocam produtos na vitrine e a moda punk constantemente está relida e esvaziada de simbolismo nas páginas da Vogue e outras revistas mainstream. Até nisso o casal foi pioneiro!


A vendedora Jordan em dois momentos em frente a fachada da SEX.
Reparem também no arreio no manequim, acessório em moda hoje na cena alternativa.
Na SEX eram vendidas lingeries, roupas inspiradas em fetiche (pvc, borracha, couro), meias arrastão, calças baggy, t-shirts com imagens ofensivas, iconografia nazista e comunista e pornografia, se tornando um local atrativo para os desajustados, alguns se empregando no loja como Glen Matlock. Já Steve Jones e Paul Cook eram frequentadores. Assim, com Malcolm McLaren como empresário surge outro sex, desta vez os Sex Pistols. Johhny Rotten é quem mais absorve os aspectos bizarros da boutique SEX: o niilismo, o sarcasmo e a  hostilidade. Posteriormente, quando Sid Vicious entra pra banda, sendo um fã fanático da mesma, McLaren adiciona seus cabelos espetados e sua aparência de delinquente juvenil.

O casal usando as camisetas da marca.
Uma faz referência ao estuprador de Cambridge e outra tem uma criança nua. 
Chocando a sociedade com temas polêmicos e ultrajantes. 

À esquerda Sid Vicious, que foi vendedor na loja, veste camiseta da SEX. 
À direita ele conversa com Vivienne Westwood.

Aqui podemos ver Siouxsie Sioux e Viv Albertine (The Slits) usando a blusa de seios que comentei no artigo dos 40 anos do estilo gótico. Viv usa cinto de tachas.

No mesmo artigo, alertei para o fato de que scarpins, stilletos e sandálias de salto eram usados pelas meninas punks, aqui dois deles, criações de Vivienne para a SEX.

Debbie e Siouxsie usando camisetas da marca.
O símbolo nazi era fashion statement, usado como ironia política, protesto.

A modelo e vendedora Jordan usando peças em látex.

Steve Jones, desconhecida, Alan Jones, Chrissie Hynde (The Pretenders) que foi vendedora da loja; Jordan (vendedora e modelo) e Vivienne Westwood na SEX em 1976.
@David Dagley
A SEX era frequentada por Adam Ant, Helen Wellington Loyd, Siouxsie Sioux, Boy George entre diversos outros músicos e artistas que vieram a se tornar conhecidos naquela década.

Algumas das t-shirts da loja

 Algumas das famosas camisetas "Destroy", também usadas pelos Sex Pistols

 
As peças da SEX usadas pelos Sex Pistols influenciaram o look punk inicial, pois muitas roupas eram vendidas devido à banda aparecer com elas nos shows e na mídia. A febre das t-shirts veio quando o grupo começou a usá-las.


Vivienne usando a camiseta "God Save the Queen"

Em 1976 a boutique troca de nome novamente, desta vez para Seditionaries, continuando a ser o coração punk de Londres, unindo todos os interessados na popularidade dos Pistols. É dessa época outras duas famosíssimas novas criações, as calças bondage - colocando tiras entre as pernas, segundo eles pra simbolizar uma geração "amarrada" que parecia não ter pra onde correr - entraram pra história assim como as calças com zíperes na região genital, também criada pelo casal.

Legendárias criações: calças, camisas e casacos bondage.

Este trecho de vídeo do documentário Punk Attitude, inicia-se com Siouxsie dizendo que o ponto de encontro na King´s Road era a loja do casal. A seguir, Marco Pirroni, do Adam and the Ants, diz que nunca havia visto ninguém parecido com a estética de Vivienne, cabelos platinados arrepiados, assim como Chrissie Hynde que confirma que nunca havia conhecido ninguém tão bizarro como o casal Vivienne e Malcolm.
Há de se atentar que a estética pessoal de Vivienne acabou virando a estética das meninas punks, os cabelos curtos armados, o estilo de maquiagem nos olhos, batom escuro e sobrancelhas desenhadas com lápis colorido.
No vídeo, Vivienne na Seditionaries mostra as calças bondage e uma calça com zíper na virilha. A seguir Chrissie Hynde completa dizendo que não crê que a estética punk teria acontecido sem Malcolm e Vivienne.




 
Boy George usando peças bondage da loja.

Mas o colapso da banda Sex Pistols e o punk ter virado mainstream desencanta o casal. Westwood, separada de McLaren em 1980, troca mais uma vez o nome da loja, desta vez para World´s End, nome que está ainda hoje, localizada exatamente no mesmo local de origem, sendo administrada pelo filho do casal, Joe Corré, que este ano declarou seu desejo de queimar a memorabilia punk original.

É interessante analisar o quanto as estéticas criadas pelo casal McLaren e Westwood influenciaram não apenas a estética da subcultura punk quanto o que veio depois na moda e em outras subculturas. A união de ousadia, choque e criatividade foi algo tão explosivo que sacudiu uma geração e virou os olhos da mídia para aqueles jovens atrevidos.

Este artigo é parte de várias postagens em homenagem aos 40 anos do Punk que publicaremos até o fim do ano. Espero que tenham gostado!

- Leia também: CBGB - O berço do movimento Punk

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*Artigo escrito por Sana.
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