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30 de outubro de 2017

Neo Paganismo: Conheça Wicca, a bruxaria moderna│ Dia das Bruxas (Halloween)

A bruxaria ou aparentar-se com o estereótipo de uma bruxa está em voga na moda alternativa. A bruxaria tem sido romantizada e usada como uma estética visando a diferenciação. Ocorre que nem sempre quem adota um “visual pagão” tem identificação com o paganismo. Sabemos que no Brasil, o Halloween é chamado de "Dia das Bruxas", aproveitando esta nomeação da data falarei um pouco sobre Neo Paganismo e Wicca, a bruxaria moderna.

O Paganismo não tem hierarquias nem mestres, é indispensável que cada indivíduo, cada grupo, faça as suas investigações, suas recolhas de mitos e rituais que o ajudam a orientar o seu caminho.


Bruxaria
Quando os Celtas invadiram a Europa quase mil anos antes de Cristo, trouxeram suas próprias crenças. Séculos depois, mesmo com o advento do Cristianismo na Europa, a bruxaria continuou a ser praticada pois havia certa tolerância por parte dos romanos, chegando certos ramos a incorporar elementos do Panteão Greco-Romano, especialmente na Bruxaria Italiana (Stregheria). Foi somente na Idade Média que a Bruxaria foi relegada às sombras com o domínio da Igreja Católica e a criação da Inquisição, cujo objetivo era eliminar de vez as antigas crenças que eram diferentes do Cristianismo. Durante a Inquisição, o medo fez com que muitas bruxas permanecessem no anonimato para resguardar suas vidas e famílias. Muitos dos conhecimentos, de escritos (livros foram queimados) passaram a ser transmitidos oralmente e assim, muito se perdeu.

A Igreja tradicional chegou a transformar várias deusas pagãs em diabos masculinos não somente para corromper as deidades da Religião Antiga como também para apagar o fato de o aspecto feminino ter sido objeto de adoração. Em 1320, a Igreja (a pedido do Papa João XXII) declarou oficialmente que a Bruxaria e a Antiga Religião dos pagãos constituíam um movimento herético e uma "ameaça hostil" ao Cristianismo. Os Pagãos nunca foram cristãos, portanto foi um grande desrespeito considerar pagãos como heréticos. Dentre os atos que pessoas consideradas heréticas sofreram estavam tortura, estupros, forca, fogueira, prensagem até a morte, espichamento do corpo até ser desmembrado, afogamento, decapitação e o esquartejamento entre outras atrocidades. Somente em 1951 as leis contra a bruxaria foram revogadas na Inglaterra, possibilitando que aos poucos os bruxos se revelassem, o que coincide com as primeiras publicações sobre Wicca.

Não é correto dizer que a Wicca de hoje é a mesma Bruxaria de séculos atrás. No presente, ela é um redescobrimento, sendo parte do chamado Neo-Paganismo.


Milhares de mulheres foram torturadas por suspeita de "praticarem bruxaria" e outras milhares foram mortas porque entendiam de ervas/chás, ciclos femininos e medicina natural.


Paganixmo x Neo Paganismo x Wicca
O paganismo é um imenso leque de caminhos e ali se incluem os neo pagãos. O neo paganismo é um termo inclusivo que abraça wiccanos, bruxas, druidas, xamanistas, adoradores da deusa entre outros. Surge na década de 1960, coincidindo com os movimentos sociais pró meio ambiente. Acredita que a natureza é sagrada e tem se tornado cada vez mais ecológico. Já o paganismo tenta reconstruir através de
fontes históricas as antigas religiões pagãs. O neo paganismo não se preocupa tanto com autenticidade histórica.
De um modo geral, o que distingue a Wicca tradicional dos neo-pagãos é o grau de influência de tradições esotéricas (como a Ordem Hermética da Aurora Dourada e Ordo Templi Orientis de Aleister Crowley)
, o traço comum entre esses movimentos é o conhecimento secreto ou oculto que está disponível apenas para um pequeno grupo e somente através de um estudo intenso.
Fonte

Assim, o ramo neo pagão que mais tem se desenvolvido, sendo neste momento o mais representativo, é designado Wicca (Bruxaria ou A Arte). A divulgação pública da Wicca começou no fim dos anos 1940 e inicio dos anos 1950 na Inglaterra, com a publicação por Gerald Gardner das obras "High Magic's Aid", "Witchcraft Today" e "The Meaning of Witchcraft". O primeiro destes livros foi redigido em forma de ficção devido às leis anti-bruxaria vigentes no Reino Unido até 1951. Embora muito criticado na época por quebrar a longa tradição secretista da Bruxaria, com as publicações, Gardner deu início a um movimento de expansão que até hoje não parou, incentivando a divulgação de conhecimentos até então secretos e a uma estruturação básica para uma forma de manifestação religiosa individual. A Wicca tem base em algumas tradições populares europeias, em ensinamentos de diversas escolas ocultistas, em técnicas usadas pelos xamãs e várias outras fontes. No original, as denominações utilizadas para esta prática são "Witchcraft", "Wicca", "The Craft" ou "The Old Religion", sendo os praticantes geralmente conhecidos por "Bruxos" (
Witches) ou "Wiccanos" (Wiccans).


A WICCA

Wicca tem natureza xamanística, positiva, com duas deidades maiores reverenciadas e adoradas em seus ritos: A Deusa (o aspecto feminino e ligada à antiga Deusa Mãe em seu aspecto triplo de Virgem, Mãe e Anciã) e sou consorte, o Deus Cornífero (o aspecto masculino). É panteísta (o Universo, a Natureza e Deus são a mesma coisa) e politeísta (vários deuses).
Frequentemente, a Wicca inclui a prática de várias formas de Alta Magia com propósitos de cura psíquica ou física, neutralização de negatividade e crescimento espiritual, e ritos para a harmonização pessoal com o ritmo natural das forças da vida marcadas pelas fases da lua e pelas quatro estações do ano.


A roda do ano wiccana
Reprodução (Pinterest)


Deusa e Deus
Para Wiccanos todo o Universo foi criado por uma Grande Mãe. Há também culto ao Deus dos Animais e da Fertilidade, também conhecido como Deus de Chifres ou Cornífero. Os chifres representam a fertilidade, coragem e todos os atributos positivos da energia masculina, representando também a ligação com as energias cósmicas. Hoje a figura do Deus Cornífero é bastante problemática, pois com o Cristianismo ele foi usado para personificar a figura do Diabo, entidade criada pelas religiões cristãs. Este não é reconhecido e muito menos cultuado pelas Bruxas. Quando falamos em fertilidade na bruxaria, não é apenas a reprodução sexual, mas a fertilidade da terra, da natureza, dos animais. A fertilidade da terra é o que nos dá os alimentos.

Existe um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida. Sendo eles:

O Princípio Feminino ou Grande Mãe - representa a Energia Universal Geradora, o Útero de Toda Criação. É associada aos mistérios da Lua, da Intuição, da Noite, da Escuridão e da Receptividade. É o inconsciente, o lado escuro da mente que deve ser desvendado. A Lua nos mostra sempre uma face nova a cada sete dias, mas nunca morre, representando os mistérios da Vida Eterna. Na Wicca, a Deusa se mostra com três faces: a Virgem (ou donzela), a Mãe e a Anciã, sendo que esta última relacionada à Bruxa no imaginário popular. A Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da energia feminina, o poder da menstruação na mulher, e é também a contraparte feminina presente em todos os homens, reprimida pela cultura patriarcal.

Deusa Triplice representada nessa fotografia:
as fases da mulher (jovem, mãe e anciã)


O Princípio Masculino ou Deus Cornífero - da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento e trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe, todos os dias, o Deus nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Fechando o ciclo do renascimento que coincide com os ciclos da Natureza e mostra os ciclos da nossa própria vida. Do útero da Deusa todas as coisas vieram, e para ele tudo retornará. As mulheres são mães de todos os homens e tem poder de promover o renascimento espiritual e de toda a Humanidade.

Festival na Sardenha, Itália,onde homens reencenam ritos pré-cristãos
em homenagem à fertilidade da terra/agricultura.



A ligação com o Feminismo
Grandes religiões como a Cristã, Islâmica e Judaica apresentam uma longa sucessão de figuras paternas e de valores patriarcais. Essa ênfase no masculino estende-se a todos os domínios da sociedade ocidental. Durante séculos os valores femininos foram relegados ao segundo plano, chegando a serem identificados com o mal, com o demônio. Homem e mulher não são superiores um ao outro, se complementam. A Deusa também é importante para os homens, a opressão dos homens pelo patriarcado é menos óbvia mas não menos trágica, já que estes são encorajados a identificarem-se com um modelo de pensamento ou estilo de vida que é nocivo para eles também.
A sociedade Celta, por exemplo, era Matrifocal, o nome e os bens da família eram passados de mãe para filha. Homens e mulheres tinham os mesmo direitos, sendo a mulher respeitada como Sacerdotisa, mãe, esposa e guerreira, participando das lutas ao lado dos homens. Por isso, durante algumas épocas a bruxaria andou ao lado do feminismo, onde algumas mulheres acabaram se identificando com A Arte.  



Outras características da Wicca:
- Amor e respeito pela Natureza. A conscientização ecológica é uma necessidade e acaba sendo praticamente uma obrigação para tudo dar certo.
- A concepção de "pecado original" inexiste. Os wiccanos não aceitam o conceito arbitrário do pecado original ou do mal absoluto, não acreditam em céu ou inferno. Creem que quando morrem vão à Terra de Verão (ou Terra da Juventude Eterna), onde recobram as forças e se tornam jovens novamente.
- O direito de agir como bem quiser, desde que isso não prejudique a ninguém.
- O conhecimento de que, com treinamento e intenção apropriados, as mentes e os corações humanos são totalmente capazes de realizar magia.
- A importância da conscientização e celebração dos ciclos solar e lunar e também de outros ciclos em nossas vidas.
- Um total compromisso com o crescimento, evolução e equilíbrio pessoal e universal. Espera-se que o pagão realize esforços intermitentes nessas direções.
- Não praticam qualquer forma de baixa magia, magia negra ou "mal". Não cultuam nenhum diabo, demônio ou qualquer entidade do mal.
- Não tentam converter membros de outras fés ao Paganismo. Respeitam as religiões e acham que a pessoa deve ouvir o "chamado da Deusa" e desejar verdadeiramente, dentro de seu coração, sem qualquer influência externa ou proselitismo, seguir o caminho Wiccano.


O dogma principal da Arte Wicca é o Conselho Wiccaniano,
um código moral simples e benevolente:
SEM PREJUDICAR NINGUÉM, REALIZE SUA VONTADE.


Em outras palavras: você é livre para fazer o que quiser, contanto que de forma alguma, prejudique alguém - nem mesmo você! A Lei Tripla (Lei de Três) é uma lei karmica de retribuição que se aplica sempre que você faz alguma coisa, boa ou má. Não que você será "castigado" por um ato mau, porém, quando você envia uma energia, o curso natural dela é voltar à você. Assim, caso envie algo negativo, essa força fará seu caminho, se fortificando, e retornando.


Magia

A magia na wicca é uma força que combina a energia psíquica com os poderes da vontade. Um dos elementos mais importantes na prática da magia é a sensação. É também muito importante usar a visualização criativa, também conhecida como "imaginação desejada". Sem a sensação e a visualização criativa é extremamente difícil (se não totalmente impossível) a magia funcionar. A escolha da forma (ou formas) de magia a ser praticada depende somente da preferência pessoal do bruxo e/ou da tradição wiccana.

Para que a magia funcione apropriadamente, um bruxo deve trabalhar em perfeita harmonia com as leis da Natureza e da psiquê. A lua e cada um de suas fases são a parte mais essencial, sendo extremamente importante que os encantamentos e os rituais sejam realizados durante a fase lunar apropriada. É importante corpo e mente saudáveis e capacidade de aceitar a responsabilidade pelas suas próprias ações. É impossível obter magicamente resultados positivos se seu nível de energia estiver baixo ou se seu corpo estiver contaminado. Para ser capaz de produzir poder, o corpo físico deve ser mantido em condição saudável.

A nudez na bruxaria
Aqui no Brasil, país de cultura judaico-cristã que prega a culpa, é comum considerarem o nudismo algo repugnante. A objetificação e a sexualização do corpo feminino está nos olhos do outros. A nudez na bruxaria é vista sem objetificação. Com pureza, ser livres de medos e tabus. Pra isso é preciso ter o coração livre de conceitos de culpa pra poder tanto se libertar quanto evitar julgamentos sobre o corpo alheio. É preciso libertar a mente destes bloqueios repressivos.



A Roupa Preta
A cor negra na bruxaria não tem nenhuma ligação com o mal, como se costuma pensar erroneamente. Ela representa o Útero Universal, do qual nasceu toda a Luz, a escuridão da Terra onde germinam as sementes. Ela isola as energias negativas, sendo ótima para ser usada quando se tem contato com grandes multidões ou pessoas negativas, pois impede que a sua energia seja "vampirizada". Isso vale pra Bruxas (ou pessoas) que trabalharam sua energia. Pode acontecer de pessoas não-bruxas, ou pessoas que tem energias desequilibradas, ao vestir preto, ao invés de repelir vampirização, absorvam a energia das outras pessoas. Por isso é necessário o autoconhecimento, treinamento, pra ter energias equilibradas e usar a cor à seu favor. Porém, não se deve usar somente a cor negra, pois precisa-se da vibração de todas as cores.



Ecologia e Natureza
A Wicca é muito ligada à natureza, por isso há o interesse por questões ambientais, não apenas enquanto base material da vida humana, mas como uma dimensão sagrada. O respeito a natureza é um valor intrínseco e fundamental no Neo Paganismo. Os indivíduos que se identificam com bruxaria, são pessoas que considerem o homem e todas as outras criaturas viventes, bem como os espaços onde habitam, como sagrados.
A árvore é um dos símbolos sagrado para vários deuses e deusas. Representa a vida e a Imortalidade. É o símbolo mais poderoso e majestoso da vegetação e teve papel importante em várias lendas da antiguidade. A árvore nos dá flores, frutos, sombra, além de necessárias para existir água. Onde não há árvores, os rios secam e a natureza morre.



Individualismo
Wicca é uma escolha pessoal para aqueles que sentem que a sua percepção do sagrado não se enquadra nos esquemas tradicionais. É algo muito individual para se sujeitar a conjuntos de regras e crenças que outros determinaram. As poucas regras existentes na Wicca têm um caráter essencialmente funcional e não são vistas como mandamentos, mas como simples normas de relacionamento entre pessoas que partilham interesses comuns. São princípios genéricos ligados a valores ecológicos e individuais. Cada membro deve decidir, praticar e dirigir as suas práticas e rituais. Quem vai parar na Wicca, são pessoas que consideram o homem e todas as outras criaturas viventes bem como os espaços onde habitam como sagrados.

No neo paganismo nota-se uma ausência de proselitismo. Os Pagãos não divulgam sua religião de porta em porta, como de um modo geral, não dão evidências explícitas de pertencer a este movimento. Optam por ter uma atitude discreta, pois pensam que a aproximação ao Paganismo deve resultar de uma escolha individual ditada por interesses e necessidades interiores. Esta discrição também se deve à falta de aceitação, ao medo e à desconfiança que a sociedade tem em relação aos Pagãos. Assim sendo, a Wicca não tem convertidos: a pessoa se descobre pagã. Normalmente as pessoas já tinham a visão de mundo da bruxaria mas não sabiam (por falta de informação).


Dica:
Programa da TV Brasil Wicca: Cânones e Tradições, clique na imagem pra assistir.



Fontes do texto:
A feitiçaria moderna, Gerina Dunwich.
A Dança Cósmica das Feiticeiras, Starhawk.
Dreaming the Dark, Starhawk.
https://www.hackcraft.net/wicca/onWiccaAndWicca/
https://neo-paganism.com/
https://www.acemprol.com/origens-da-bruxaria-wicca-t8846.html


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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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22 de maio de 2016

Os 20 anos do filme Jovens Bruxas (The Craft)

Neste ano o filme Jovens Bruxas (The Craft) comemora 20 anos. Embora não tão conhecido pela nova geração, quem está na faixa dos 30 anos deve ter assistido na época de lançamento ou em reprises. O filme foi lançado em 1996 e contava com Neve Campbell (Bonnie) e Fairuza Balk (Nancy) duas atrizes que estavam se destacando em filmes adolescentes. Completam o elenco Robin Tunney (Sarah) e Rachel True (Rochelle).



Traduzido como "Jovens Bruxas", o título original é "The Craft", esta é uma das denominações da bruxaria entre seus praticantes. A década de 1990 foi quando a Wicca se tornou popular e mais aceita como uma religião estabelecida, pessoas começaram a finalmente ter orgulho de se assumirem pagãos após décadas tendo que se esconder devido ao preconceito.
Assim, a prática vai ganhando jovens adeptas e por conta do interesse das adolescentes, muitos covens proibiram menores de 18 anos. Esses adolescentes procuram então os livros pra se informar, sendo "O Guia Essencial da Bruxa Solitária" de Scott Cunningham um dos mais populares. O mainstream se interessa pelo tema, com diversas lojas comercializando produtos, de pentagramas à livros das sombras. Ao mesmo tempo haviam equívocos sobre a prática, como os que diziam que wicca e satanismo são interligados - não são.

Jovens Bruxas não é um grande filme, mas tem seus momentos. E parte disso se dá porque a Sacerdotisa Pat Devin foi consultada para dar mais veracidade à trama, incluindo as cenas dos rituais. Uma coisa que não é real é "Manon", a deidade que elas invocam nos rituais.



A história (pode conter spoilers)
Na história temos quatro adolescentes, cada uma com um problema pessoal que as fazem se sentir angustiadas. Todas elas passam por bullying e procuram na bruxaria um modo de tentar fugir desses problemas.
Temos Nancy, Bonnie e Rochelle que estudam juntas. Nancy sofre em um lar superviolento, com um padrasto alcoólatra e uma mãe passiva, ela tem um relacionamento tóxico com as amigas; Bonnie tem um grave problema de pele que deixa cicatrizes grandes, grossas e feias que a fazem se esconder em roupas fechadas; Rochelle sofre bullying por ser negra e ter cabelos cacheados. Assumidamente bruxas, para unir os quatro elementos, elas precisam de mais uma menina no coven e é aí que a nova aluna, Sarah, aparece. Sarah veio de outra cidade, onde já tinha tentado suicídio cortando os pulsos devido ao bullying e os problemas que causava com seus poderes telecinéticos.


Numa das aulas, Sarah demonstra seu poder de telecinese sendo observada por Bonnie que convence as outras de que a nova aluna era o elemento que faltava. Receosa, Sarah se junta ao grupo e as quatro meninas vão à loja de uma bruxa, onde a mesma percebe que Sarah é uma bruxa natural, seu poder vem de dentro naturalmente. Isso provoca inveja de Nancy, pois a obsessão desta era ter muito poder. 


Mulheres costumam ser vistas como delicadas e fracas. Na cena em que o motorista de ônibus diz: "cuidado com os estranhos" e Nancy responde "nós somos os estranhos", vemos que mulheres podem também ser "poderosas e perigosas" além das aparências delicadas. Haja visto que crianças no ônibus as olhavam com certo medo e curiosidade por elas apresentarem uma atitude diferente das outras presentes.


A partir daí, as quatro passam a fazer rituais visando atingirem seus objetivos. E é daqui que jogo alguns pontos de observação sobre A Arte:
Na Wicca existe um código moral simples e benevolente que é o seguinte: "sem prejudicar ninguém, realize sua vontade". Em outras palavras: você é livre para fazer o que quiser, contanto que, de forma alguma, prejudique alguém - nem mesmo você! Essa é a famosa Lei de Três, que se aplica sempre que você faz alguma coisa, boa ou má. Não que você será "castigada" por um ato mau, porém, quando você envia uma energia, o curso natural dela é voltar à você. Assim, caso envie algo negativo, essa força fará seu caminho, se fortificando e retornará. 


"magia é acreditar, magia é como natureza, o bem e o mal estão no coração da deusa"

Elas também fazem feitiço manipulativo, um tipo de feitiço que bruxas experientes não indicam, mas que novatos procuram. Esse tipo de feitiço é perigoso porque interfere no livre arbítrio, um direito primordial das pessoas. Num feitiço manipulativo de amor, como o feito por Sarah, interfere-se na vontade do outro, sendo comum o enfeitiçado virar um "zumbi", ou seja, uma pessoa completamente dominada pelo enfeitiçador.
Nancy deseja "todo o poder de Manon" (Manon é um Deus fictício) e assim recebe, mas usa para o mal todo esse poder que recebeu.


Bonnie pede pelo fim de suas cicatrizes e Rochelle castiga a moça racista. Tudo passa a correr como elas desejam. Elas se sentem fortes e empoderadas.


No decorrer do filme, vemos as consequências ruins que todas sofrem por terem feito escolha pela magia "do mal" e pela manipulativa. Elas mexeram com o equilíbrio e as coisas estão retornando em triplo.


Quando Sarah, a bruxa natural, percebe o quanto erraram, se arrepende e passa a reverter os feitiços, o que irrita as colegas. E é aí que acontece o clássico embate entre o bem (Sarah) e o mal (Nancy), entre o poder natural e telecinético de Sarah e o poder adquirido para o mal e manipulativo de Nancy.


Jovens Bruxas não é apenas um filme bobo de sessão da tarde, ele é legal pra observar como a Wicca se tornou popular entre adolescentes na década de 1990, trás um figurino que mostra a mistura entre mainstream + rock n roll/punk/gótico, ilustra como algumas pessoas que têm dons naturalmente mágicos podem canalizar para o bem ou para o mal e sofrer suas consequências e outra coisa que ainda é atual: jovens que sofrem por serem diferentes da regra e buscam por aceitação. No caso delas, buscaram a autoestima através da magia para que as curasse de seus problemas físicos e emocionais, para que parassem de se autoculpar e se autodestruir. 

Nancy é o perfeito exemplo de Bad Girl dos anos 90.
Uma curiosidade é que Fairuza Balk era wicanna na vida real.


Sobre o visual: uma vez contei aqui no blog que na década de 1990, os alternativos não usavam só roupa preta o tempo todo, usavam roupas com cores ou cores + preto. Um visual todo preto era reservado à góticos, uma certa linha do metal ou do punk e por quem queria chocar. A gente vê isso no filme. Embora praticantes de Wicca, apenas a Nancy é fortemente percebida como uma gothic-rocker que usa preto o tempo todo, as outras meninas usam moda mainstream normal com pinceladas alternativas relacionada à magia ou em cenas especificas como a que as quatro usam preto e branco numa desconstrução dos uniformes - usando chokers e batons escuros - ou nas cenas de rituais onde ao menos uma peça preta é usada por todas. As meias pretas até as coxas também eram moda na época assim como as gargantilhas, saias longas retas e a maquiagem vamp.


Válido citar a trilha sonora super rock n roll: Heather Nova, Julianna Hatfield, Jewel, Elastica e até Letters to Cleo.

E vocês, já assistiram o filme? 
O que acharam? 



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18 de março de 2015

As bruxas estão soltas! (Witchy e o Boho Witch)

Que a estética subcultural é explorada pelo mainstream desde seu início (coisa que ficou mais forte nesta década), a gente já sabe. Mas e quando o estereótipo de uma religião se torna moda vendida em lojas de departamento?

É o que temos visto acontecer com a bruxaria, religião de várias vertentes que os alternativos costumavam abraçar por não se identificarem com os ensinamentos de religiões mais tradicionais. 

A banda The Black Belles canta uma letra chamada "Witch", que fala sobre o estereótipo de bruxa: "Ela tem um longo cabelo preto/E um grande carro preto/Bem, eu sei que você está pensando/Mas você não vai chegar longe/Ela vai fazer você coçar/Porque ela é a bruxa"


A relação com o feminismo
A bruxaria é essencialmente feminina. Quando pensamos nas séries sobre zumbis e vampiros, tão idolatradas ao longo da última década, notamos que os homens são os personagens principais, dominantes, líderes e as histórias giram em torno de ação e sexo. 
Já as histórias com bruxas, são sobre a mulher se ajustar ao mundo, relações interpessoais com outras mulheres, com o seu eu interior e retratadas como pessoas fortes, capazes de superação. Não ficam à margem e sim, assumem posições de liderança sobre suas vidas.
Quando as garotas ou mulheres se identificam com a arte da magia e adentram nos estudos, é provável que haja emancipação feminina, que elas entendam o ambiente, seus corpos e que podem ser líderes.

Mulher poderosa! Desfile Jean Paul Gaultier, Haute Couture 2014, 
com tema bruxaria.


Abertura ao paganismo
Se uma gótica ou uma headbanger se assume bruxa (usando o visual tradicional de suas subculturas), é bem comum pensarem que ela "faz sacrifícios humanos/ animais no cemitério e tem pacto com o demo!". Ainda existe um longo caminho pra retirar esse pensamento medieval da cabeça das pessoas.
Só que, é mais fácil hoje alguém se revelar pagã do que há 20 anos atrás, o preconceito diminuiu muito! Fora que as pessoas estão mais espiritualizadas do que seguindo fielmente os preceitos de uma religião, tanto é que muitos dizem raramente rezar, participar de cultos e ler a bíblia ou outros textos sagrados.
Esse tipo de novo comportamento frente às religiões acaba abrindo espaço para o "paganismo cultural", que são os "Wiccan Wannabes", que leram um ou dois livros e já se dizem parte da religião. Essa é uma faca de dois gumes, pois pode ser tanto uma porta para que se adentre aos conhecimentos e estudos quanto ser apenas uma forma de status, o uso da imagem da religião para se destacar no grupo.
Na verdade, o que faz muitos se atraírem pela bruxaria é justamente a ausência de um manual a ser fielmente seguido, não existe uma bíblia, um texto sagrado único e obrigatório. Ela permite que cada pessoa escolha uma linha (tradicional, celta, wiccan, teutônica, etc) e ao adquirir conhecimentos por livros, ensinamentos de sacerdotisas ou covens - possa estudar e desenvolver suas habilidades. Tudo depende da dedicação da pessoa aos estudos. Existe uma certa "independência" de grupo, é possível ser uma Bruxa Solitária.

 Lembram da época que ostentar um pentagrama no visual era super incomum?
(cinto da Black Frost)

Por muitos anos, a imagem que se fez da estética da bruxa da subcultura gótica, foi a medieval. Como nesse vestido da Dark Fashion.

Quando se trata da cena alternativa, o pentagrama (invertido ou não) nunca saiu de cena, especialmente da Black Metal. Mas é inegável que recentemente se tornou um símbolo queridinho, muito fotogênico e bastante amenizado, quase fofo... tanto que foi adotado por Pastel Goths. Mas será que todos que o usam realmente tem ligação ideológica ou sabem os significados?


Assim como a bruxaria, o ocultismo também tem sido explorado há algumas estações nas roupas alternativas. Muitos alternativos realmente se interessam por esses temas e querem demonstrar... mas que eles viraram comércio, sim, viraram. Afinal, Moda é também, consumo. E a demanda gera mais produtos. 

A marca Killstar, uma das pioneiras em trazer símbolos ocultistas 
como estampa.


A estética da bruxa cool que vemos atualmente, não é de nenhuma subcultura específica e por vezes, nem religiosa. É apenas um visual formado da união de tendências mainstream. Tem sido bastante associada com hipsters, com as adeptas do "gótica suave" e por fashionistas buscando uma imagem de "misteriosas".
Claro que acaba existindo o lado ótimo que é a gente ter acesso à uma estética que curtimos (na verdade, roupas pretas, nada mais do que isso!) mas até que ponto assim como as estéticas das subculturas, a arte da magia é colocada numa arara de loja como mero produto a ser consumido pela massa e depois descartado?

Bruxas na TV
Bruxas sempre fascinaram o imaginário popular! Hoje, algumas meninas alternativas adotaram releituras da  estética dos anos 90 - uma das maiores referências dessa turma é o filme Jovens Bruxas (The Craft, 1996) que misturava moda mainstream jovem da época com trevosidade. Fairuza Balk era a "it girl" da minha adolescência e agora, é resgatada pela nova geração. 
Só que a além do filme Jovens Bruxas, tinha a Kim do Bruxa de Blair 2 Livro das Sombras, ambas garotas alternativas, que tinham o visual e praticavam bruxaria de fato. Além disso, aquela década teve filmes com bruxas bem clichés, como Convenção das Bruxas, Abracadabra - Hocus Pocus; além do histórico bruxas de Salém, do divertido Da Magia à Sedução e os seriados Charmed e Sabrina the Teenage Witch. Enfim, foi bruxa pra todo o lado!

  

Recentemente, no mainstream
Entre 2012 e 2013 uma nova trend começou a se destacar: o Boho. Outra trend que começou junto foi a do uso de chapéus. Na época uma das grifes a fazer boho em peças negras + chapéus foi Ann Demeulmeester em sua coleção Fall Winter 2013-14: 



Aqui, Lorella Signorino AW ’11, Mother of London e Valentino, fall 2014.


Meadham Kirchhoff (spring 2014) fez suas bruxas mix de boho + anos 90. E ruivas. Sim, na era medieval, o cabelo ruivo era visto como pacto com o demo, muitas mulheres e crianças ruivas foram mortas.



Em 2013, o sucesso de American Horror Story - Coven, que trazia figurino de grifes mainstream misturado com peças de brechós, conquista o público e talvez carregue a maior parcela de culpa na propagação da trend. A popularidade do tema abriu espaço para seriados como Witches of East End, Sleepy Hallow e The Originals, que aderiram à febre da bruxaria e da atuação de mulheres mais velhas em papeis principais.
 
wear black
"vista algo preto" diz a bruxa suprema Fiona

Há algo interessante a falar sobre AHS. Seu criador, Ryan Murphy gosta de subculturas, dos excluídos. Em uma entrevista, Jessica Lange disse "Se você reparar cada uma das quatro temporadas que fizemos, é sobre um desses grupos marginalizados. Pessoas que não são aceitas. Por isso eu acho que a série conquista o público, que trata de grupos diferentes, mas que, de alguma forma, estão sob o mesmo tipo de opressão."

Outra trend mainstream popularizada na mídia: a transparência.


Abaixo, reparem na semelhança de figurino do desfile Saint Laurent de outubro de 2012, com o figurino da série, que estreou um ano depois em outubro de 2013. Televisão e cinema são muito poderosos para disseminar um tendência e fixar uma moda na sociedade.

Look de Donna Karan se assemelha ao usado pela personagem Zoe Benson.

Foi a geração Y, que prefere reviver modas do passado ao invés de inventar modas novas e utilizar trends mainstream, que os primeiros traços desse interesse renovado por um "visual de bruxa" boho + 90s + American Horror Story apareceu entre os alternativos. O chapéu pontudo foi substituído por outros modelos. E o pentagrama se faz presente.


Além do estereótipo da roupa preta, o chapéu atualizado e o pentagrama não podem faltar.

Gareth Pugh, aliás, acabou de estilizar o tradicional chapéu pontudo 
em sua coleção spring 2015.

 


Wannabe Wicca & Boho Witch, semelhanças em linhas tênues
Se o Wannabe Wicca nunca praticou magia mas se interessa pelo visual, o que viria ser "Boho Witch"?
O Boho Witch não é um estilo em si, é só um nome que as pessoas dão à seus looks em blogs e mídias sociais. Acaba sendo a junção de boho (cigano e  o hippie) + roupa preta que também é trend.
E não é exatamente uma estética com traços subculturais. É  tipo o gótica suave e o health goth, roupas pretas num determinado corte/modelagem das tendências atuais. Não é alternativo no sentido de estar inserido dentro de uma subcultura ou de ser uma estética de nicho - como já dissemos, é de massa. Embora sim, os alternativos possam adotar como parte de seus guarda roupas, nada impede. É uma questão de gosto.

Sendo uma questão de gosto, junta-se isso com as pessoas hoje estarem mais interessadas em peças de roupas do que ideologias. Assim, acaba que ser bruxa ou não fica em segundo plano. É reflexo de uma sociedade com interesse alto pelo individualismo ao invés da identificação com um grupo.


A fascinação pelas bruxas.
Então você já sabe, uma bruxa de verdade pode estar vestida como uma headbanger ou de jeans e camiseta. Mas isso "não tem graça, nem glamú". Quem quiser ostentar um "look bruxa", vai usar um vestido preto e um chapéu. Bem... parece que nada mudou. O estereótipo da mulher que pratica bruxaria não foi quebrado, ao contrário, permanece. Foi apenas repaginado. Está fashion!

Bruxas explícitas: avise todo mundo que você é bruxa! O mundo precisa saber! É tão cool!! Tão diferente! Que graça tem se você não pode dizer isso, não é mesmo? (#ironia)

Peças da Killstar- Confesso que amei o moletom e a lancheira! *_*

Faca de dois gumes: a blusa, de marca alternativa, diz: "seja estranha, se torne uma bruxa, fique louca, não dê a mínima". A intenção, certamente, foi com bom humor, uma gozação, "entendedores entenderão". Mas é pra se pensar quando uma marca alternativa "incentiva" a perpetuação de um estereótipo que bruxas são pessoas estranhas, loucas e que não se importam com nada. Não podemos esquecer que muita gente que lê essa mensagem  pode super mal interpretar seu visual, alimentando o preconceito com alternativos e com a magia.



O que pensam dessa apropriação imagética de símbolos pagãos/religiosos na Moda? 
Convidamos as leitoras e as bruxas leitoras a opinar ;)


Autoconhecimento, feminismo, independência, empoderamento, estudos mágicos... Será que tudo isso vem junto quando compramos uma peça "witch inspired"?



P.S. Esse post não é revolta pessoal. É apenas um post de análise de mercado (mainstream x alternativo) mostrando os dois lados e levantando questionamentos.




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