Nicho no Brasil não costuma ser valorizado. Por que resolveu investir no alternativo?
R: Não costumava ser muito valorizado, mas hoje vejo que esse nicho só cresce. Para nossa felicidade ser alternativo está na moda! Acho isso muito bom, pois traz mais olhares para eventos como o
Bazar Noir. Mas no início foi mesmo muito difícil. Eu decidi investir sem visar muito o lucro inicialmente, eu queria mesmo era oferecer a este público algo que não existia e também algo que eu gostava de realizar. Mas depois comecei a profissionalizar o evento e visar lucro. Batalhei muito pra conseguir estabilizar tudo. Hoje, depois de 7 anos, posso dizer que o Bazar Noir está dando super certo!
Como e quando começou o processo de criação do evento?
R: A ideia surgiu pensando na falta que o Rio tinha de um mercado de moda mais alternativo, as poucas lojas que existiam eram caríssimas na época e a única feira alternativa quase nunca acontecia na cidade. Toda a criação do evento inicialmente foi em parceria com o Flavio Watson, que apesar de não trabalhar mais na produção, é meu amigo e
DJ do Bazar até hoje. Ele ajudou em todo o processo de criação, foi ele quem criou nosso nome e logo.
Alguns dos produtos em exposição:
Você tem alguma ajuda ou faz tudo sozinha?
R: Apesar deu ser a única produtora oficial do evento, tenho muita ajuda do meu “namorido”, Levy Fernandes. Ajuda-me demais mesmo! Desde criar planilhas para organizar contas até arrastar mesas e cadeiras, pendurar banners e coisas assim. Além disso, hoje eu conto com uma equipe de produção maravilhosa. A Deborah Lobo é responsável pela parte financeira no dia do evento e também pela maquiagem das modelos do nosso desfile, a Leticia Soares é responsável pela produção do desfile, o
DJ DvogT é nosso
DJ residente responsável por controlar e organizar todos o
DJs e o funcionamentos dos
sets durante o Bazar e temos também o nosso “DOOR” Felipe Bastos. Todos ajudam muito, dão idéias para os temas das edições e participam bastante de tudo.
Nota-se que o evento tem crescido durante esses anos. Só na última edição foram 38 expositores. E por que ainda é tão escasso ter espaço para o alternativo se existe um grande número de consumidores?
R: Acredito que o espaço para os eventos mais alternativos e
underground tem crescido muito ultimamente. Vejo muita diferença de uns anos para cá, além de ter mais consumidores devido à moda estar um pouco voltada para esses estilos diferentes, acho que estão valorizando mais essas tendências. Para você ter uma ideia, há 5 anos, tínhamos 15 expositores e um público em torno de 150 pessoas, hoje temos em torno de 40 expositores e um público em torno de 400 pessoas por edição. Mesmo assim concordo que ainda tem pouco espaço para os eventos alternativos, principalmente na grande mídia como jornais, revistas, TV. Não sei explicar o porquê, já que o público consumidor só cresce. Prefiro acreditar que é gradativo e que em breve teremos o espaço que merecemos.
Você já deve ter visto muitos tipos de marcas. Um dos maiores problemas que se encontra é conseguir se manter neste tipo de mercado, inclusive marcas que ficaram conhecidas fecharam as suas portas anos depois. Você consegue decifrar os motivos que dificultam a permanência?
R: Sim, vi muitas marcas acabarem, muitos estilistas novos desistirem e muita gente também mudar de estilo, desistir do alternativo para investir em algo mais vendável. Acho que realmente é um mercado menor, mas como já disse, tem crescido muito. Há alguns anos, acho que era mais difícil manter uma grife num estilo alternativo do que agora, acho que hoje tem mais consumidor. Mas ainda assim é um mercado difícil de trabalhar, no meu ponto de vista, o grande problema é que o público roqueiro, gótico,
dark, alternativo em geral, não é um público que possa pagar caro nas peças, então as grifes tem que ter um bom senso na hora de colocar os preços de venda, é claro que tem que valer o trabalho da marca e dar lucro, mas também se forem produtos caros não vão vender para este consumidor, pelo menos é isso que tenho percebido nestes anos de experiência.
Continuando com as marcas, como é a relação com elas em relação ao profissionalismo?
R: Costumo ter uma relação ótima com meus expositores. Prezo muito minha relação com eles, pois como eu sempre digo, eles são o
Bazar Noir. Estou sempre preocupada em saber se venderam bem, se gostaram da edição, se está tudo correndo direitinho e estou sempre disponível para ajudar e resolver problemas. Da parte deles raramente tive algum problema, todos cumprem o acordo de horários, valores, são muito profissionais. Eles sempre elogiam muito o evento e o nosso cuidado com os expositores. Fico muito feliz, acho que esse é o nosso diferencial com eles, sabem que no
Bazar Noir serão muito bem tratados. Temos expositores que estão com a gente desde a primeira edição do evento. E outros também que nos últimos anos se tornaram cativos, não perdem uma edição.
Quais são as suas maiores dificuldades para manter o Bazar? O que sente falta neste meio?
R: Sinto falta de um incentivo, como um patrocínio por exemplo. Já tentei correr atrás disso há alguns anos e não consegui, ultimamente confesso que nem tenho tentado, mas na época achei complicado pois as empresas só procuram patrocinar eventos que já são grandes e que tem muita visibilidade, enquanto na verdade quem mais precisa de patrocínio são as pequenas produções que ainda estão crescendo. Além disso, sinto falta de um espaço na grande mídia, a gente lutou muito no início do Bazar Noir, tínhamos um assessor de imprensa que conseguiu um certo espaço em jornais e revistas, como O Globo e Veja, mas sempre foi algo muito difícil, era em uma edição ou outra que rolava, e depois de um tempo ficou mais complicado ainda. Hoje eu parei de investir porque vejo que as grandes mídias ainda são muito fechadas pra eventos mais alternativos.
O que deve então ser investido para que possa crescer com este tipo de nicho no país?
R: Profissionalismo em primeiro lugar. Vejo por aí muita gente produzindo festinha e eventos alternativos como se fosse uma brincadeira, só pra ter “
status”. Enquanto se faz isso não se cresce. E muitos eventos também são um grupo de amigos, um ajudando o outro, ninguém paga ninguém. O
Bazar Noir começou meio assim, num esquema de amigos ajudando, mas você só cresce quando começa a profissionalizar. Tem que estabelecer hierarquias, salários fixos e organizar tudo de forma profissional. Uma outra dica é ter um diferencial e focar nele. O diferencial do
Bazar Noir sempre foi ter grifes mais voltadas para estilos bem específicos e alternativos, como o gótico por exemplo. Os
corsets sempre foram nosso carro chefe, pois são peças que você não encontra em nenhum outro lugar no Rio.
Como você descreve o consumidor que frequenta o bazar? O que ele procura?
R: O nosso consumidor procura o que é diferente, tudo aquilo que ele não vai encontrar no
shopping ou em outras feirinhas comuns. Por isso selecionamos muito nossos expositores. Para o evento não virar uma feirinha qualquer, o que você encontra no
Bazar Noir pode ter diversos estilos, mas com certeza, será diferente e original.
Você acompanha outros Bazares fora do Rio? Conhece algum? Caso sim, cite alguns nomes.
R: Por incrível que pareça, não conheço mais nenhum evento de moda realmente alternativo nem no Rio e nem fora dele. Havia o Mercado Mundo Mix, como citei antes, ele sumiu faz um tempo (
N.E.: o MMM ainda existe mas mudou o formato). Havia feiras que já foram alternativas e diferenciadas, mas hoje são só mais uma feirinha comum, na minha opinião.
Como empresária, você deve ter os seus objetivos. Quais expectativas queres alcançar com o Bazar Noir?
R: Que ele cresça cada vez mais! Meu objetivo é passar a fazer edições em locais maiores, como a Fundição Progresso, por exemplo, com expositores do Brasil inteiro, vários shows,
djs...se tudo der certo, em breve estaremos grandes assim!
Finalizando, que conselhos daria para quem quer investir nesta área e criar a sua própria marca?
R: Procure ter um diferencial, algo que só você tenha e que chame a atenção do consumidor. Não seja muito ganancioso no começo, tanto em se tratando de evento quanto de uma marca. Cobre um preço legal a princípio para conquistar o seu público e o principal é não desistir. Pode demorar anos, mas se você acreditar e for profissional seu projeto vai dar certo!"
Por Lauren Scheffel
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