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19 de abril de 2023

A estética futurista distópica do CYBERGOTH

 Os cybergoths borram a divisa futurista entre o artificial e o humano. O visual se utiliza de referências cyberpunks, ravers, rivetheads e fetichistas. Ao contrário dos góticos tradicionais que se inspiram na literatura de terror, eles buscam na ficção científica o cenário distópico do futuro da humanidade, arrasado por desastres nucleares, biológicos e vírus ameaçadores.




Em 1977 H. R. GIGER, um artista visual suíço, criou uma coleção de pinturas chamada Necronomicon, tais pinturas o inspiraram a criar em 1979 a criatura cinematográfica Alien. Suas pinturas e esculturas biomecânicas são consideradas por alguns como o primeiro conceito ‘cybergoth’.

Voltemos uma década antes quando o mundo vivia a guerra fria, as primeiras viagens espaciais e a ascensão do plástico. Em 1967 estreia o filme Barbarella com figurino futurista. Naquele momento roupas em plástico eram uma das maiores novidades da indústria do vestuário, uma verdadeira revolução.

Avancemos agora, até o ano de 1984 quando William Gibson, lança seu primeiro romance chamado ‘Neuromancer’, este estilo literário distópico passaria a ser conhecido como Cyberpunk. Confrontos sociais contra corporações ou governos; humanos com implantes robóticos marcam essa literatura. O cyberpunk como gênero literário acaba gerando uma subcultura homônima. O termo cybergoth é cunhado nessa época como título de um conto de Bruce Bethke escrito em 1980 e publicado em 1983, e só se torna conhecido após a publicação de Gibson.



É da década de 1980 também a popularização da música eletrônica e das raves. Os adeptos destas subculturas se vestiam com roupas estampadas e com cores vibrantes, se inspiravam em personagens de animes e usavam calçados com imensas plataformas.

Da música eletrônica surgirá também os Rivetheads, os ‘góticos industriais’ com seus trajes escuros e de influência militar. Já a cena Cybergoth se desenvolve na Europa conforme os DJs começaram a misturar rock gótico com música eletrônica. Gavin Baddeley em seu livro ‘Goth Chic – Um guia para a cultura dark’ (2002), diz que o surgimento do Cybergoth enquanto subcultura, não pode ter sido anterior a 1995, embora suas raízes possam ser traçadas no começo dos anos 1980. Desta forma, Cybergoth é uma subcultura que deriva do cyberpunk, raver, rivethead e gótico. Ouvem e dançam estilos musicais como eletro-goth, darkwave, synthpop/future pop, EBM, dark-electro e industrial.
 


No final dos anos 1990 são incorporadas as sonoridades trance, tecno e electro. Em termos culturais, filmes como Blade Runner, Metropólis e Matrix, os quadrinhos Tank Girl e os animes Ghost in The Shell e Akira, também os influenciam. Naquele período de final da década de 1990, os cybergoths contrastavam de forma extrema com os góticos românticos [veja este post em nosso Instagram].

Enquanto os góticos românticos se inspiravam no passado, romantizando o século 19, os cybergoths visavam o futuro e os resultados catastróficos dos avanços científicos para a humanidade, um futuro distópico pós apocalíptico, arrasado por desastres nucleares e biológicos através de vírus ameaçadores. A sociedade idealizada é militarizada, com ciborgues e androides e muitas máquinas. Tudo isso irá se refletir na escolha estética do vestuário da subcultura.

A Estética Cybergoth

Os góticos têm predomínio da cor preta no visual, já os cybergoths misturam o preto com cores fluorescentes por influência dos ravers e dos clubbers. A principal diferença entre os dois grupos é o marcante elemento futurista no cybergoth, com o uso de muito vinil (PVC) adornado com placas de circuito ou de aço, sugerindo que o indivíduo é parte de uma máquina. As roupas também podem sugerir que alguma cirurgia para implante de chip ou de circuitos foi implantada no corpo.




Outra marca estética é a presença de desenhos, faixas, cabelos e maquiagens em cores como rosa choque, laranja, roxo, verde e azul, sensíveis aos raios ultravioletas produzidos pelas blacklights dos clubes, que fazem todos esses elementos brilharem no escuro. Estas cores são usadas em detalhes, contornos e sobreposições com preto. O visual cybergoth é marcadamente tecnológico e artificializado. É o responsável por trazer cores – fortíssimas – à subcultura gótica. 




O Cybergoth não é um estilo menos feminilizado que o Romantic Goth ou menos sensual que o gótico fetichista devido aos elementos militarizados e rostos de mulheres ocultos por máscaras de gás ou respiradores as aproximando de androides, pelo contrário, a estética mantém as características estéticas de objetificação dos corpos femininos que existem em outros estilos góticos e alternativos. As roupas femininas possuem um grau de exibição corporal através do uso de saias curtas, acessórios de pelos e materiais brilhantes, característicos da moda fetichista presentes em espartilhos e lingeries, por exemplo. Nas imagens abaixo é possível observar como o traje masculino e o traje feminino mantêm os corpos masculinos cobertos e com peças confortáveis e os corpos femininos com peças mais restritivas e curtas, mantendo o padrão vigente na sociedade.



Uma das marcas de roupas que ajudou a lançar a estética cybergoth no mainstream foi a britânica Cyberdog fundada em 1994. Foi ela que ajudou a definir o visual quando produziu peças com listras reflexivas, detalhes em neon, bolsos secretos, vinil (PVC) em cores brilhantes e eletrônicos reais inseridos em camisetas.

Peça da marca Tripp NYC


No Canadá, a loja Plastik Wrap desenvolveu tecidos de alta tecnologia feitos para serem usados nas pistas. Outra loja que contribuiu para o visual foi a americana Manic Panic que produz ainda hoje tinturas de cabelo em cores neons e maquiagem que brilha no escuro. Também na América, a marca Tripp NYC oferecia calças bondage e/ou de pernas largas com detalhes neon para os homens. A cor preta predomina como base para as cores brilhantes, bastante evidente nas camisetas pretas com estampas fluorescentes de símbolos de desastres químicos e biológicos. O preto também  remete ao militarismo, é a cor dos governos totalitários fascistas de meados do século 20.

Macacão da loja Cyberdog, desenhada pelo proprietário da marca,
explora referencias de ficções científicas intergalácticas.


Sobre os acessórios, eles são bastante exagerados tendo referência em animes ou romances de ficção científica. Ambos os sexos fazem uso dos mesmos acessórios: gargantilhas, correntes, algemas, adornos de cabelo sintéticos - que são uma característica marcante. Assim como as ‘furry leg warmers’ polainas peludas. Equipamento militar falso, botas de plataformas altíssimas, goggles (óculos de proteção) e máscaras de gás ou médicas: tudo pode ser adornado com grandes spikes, remetendo à agressividade e distanciamento social.


As botas cybergoth costumam ter saltos altos e plataformas;
canos altos e placas personalizáveis. Esta da marca Demonia 
possui detalhes refletivos na cor rosa.


Principais Elementos da Moda Cybergoth

CYBERLOX, também conhecido como “tubular crin”, é uma extensão de cabelo artificial que remente à animes e personagens de ficção científica. Fitas são costuradas em formatos tubulares disponíveis em diversas cores e tamanhos. Podem ser costuradas nos falls.

FALLS, também chamados de ‘dread falls’ ou ‘synthetic falls’. São a característica mais marcante do estilo Cybergoth. Recebem esse nome pela forma que ‘caem’ da cabeça. São extensões aplicadas ao cabelo, sendo cabelos naturais, sintéticos ou materiais como lã ou tubos de plástico em cores neon ou sensíveis à luz ultravioleta (UV). Podem ser embaraçados como os dreads.

DREADS ou ‘dreadlocks’ é o processo de emaranhar o cabelo de forma que eles pareçam cordas. Vistos comumente em adeptos do Rastafari. Os Cybergoths o usam em material sintético e em cores brilhantes.




SYNTHDREADS ou ‘dreadlocks sintéticos’, são extensões de rabo de cavalo em cores brilhantes.

MEIAS CALÇAS, se os góticos asusam na cor preta, os Cybergoths as preferem em tons neon.



ÓCULOS DE PROTEÇÃO mais conhecidos pelo nome de GOGGLES, não são usados nos olhos mas na testa. Vários modelos são estampados com símbolos de desastres nucleares ou biológicos e podem receber adesivos ou spikes através da customização.




MÁSCARAS possuem influência de anime e mangá. Podem ser customizadas com spikes, pinturas e símbolos. De acordo com o site Gothic Fest as máscaras de gás são uma simbologia a um futuro apocalíptico, de fim dos tempos alinhado à perigos de radioatividade e risco biológico. A imagem cyber com máscaras foi bastante comentada durante os anos de pandemia de Covid-19, tendo virado até meme.



Meme surgido em março de 2020.


LENTES DE CONTATO em tons de olhos artificiais (como branco) ou com desenhos (símbolo de risco biológico, caveiras, estrelas, círculos), oferecem um visual robótico e artificial.


POLAINAS DE PELOS: chamadas em inglês de FURRY LEG WARMERS, são feitas de pelos sintéticos coloridos ou estampados (por exemplo em listras) vestidos por cima das botas e tem sua origem na cena raver europeia.



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12 de março de 2023

A história da subcultura Blitz Kids/New Romantics (subcultura Gótica)

 Em 1978, os primeiros punks começam a perder o interesse na cena na medida em que a subcultura ia tomando novas formas com a chegada dos adeptos da classe trabalhadora...


... Isto abre caminho para que surja outro movimento jovem, posteriormente conhecido mundialmente como "New Romantics". Estes jovens tinham background punk, apreciavam exibicionismo e deram início a um movimento alternativo com foco no vestuário.



Toda terça à noite num bar chamado Billy´s, localizado no porão de um clube chamado Gossips, um grupo de estudantes da Central Saint Martins College of Art, incluindo punks da primeira geração e fãs de soul, se uniam para a chamada “Bowie Night”, organizada pelo ex-punk, cantor e hostess Steve Strange e o DJ Rusty Eagan. A noite acontecia sem muita divulgação, atraindo cerca de 50 jovens excêntricos obcecados por glamour, num momento em que Londres vivia uma época de vacas magras e descontentamento econômico.

Em fevereiro de 1979, a “Bowie Night” se muda para um local chamado Blitz, em Covent Garden, num bar decorado com pôsteres da segunda guerra mundial onde os frequentadores gostavam de imaginar que o local reproduziria a Berlin da república Weimar (período anterior ao regime nazista) mostrada nos filmes Cabaret e O anjo Azul. A festa se mantém nas terças-feiras, o som era eletrônico com Kraftwerk e Giorgio Moroder além de muito Bowie na trilha sonora, que deu à festa o apelido do cantor. Steve Strange, vestido como pierrô ou com um casaco imitando a Gestapo, controlava a porta. Só entrava quem estava extravagante e pavoneamente vestido, caracterizando a partir daí, o que se tornaria uma subcultura focada em estética - mais do que outra coisa - os clientes do Blitz não queriam apenas dançar e sim, exibir seus visuais.


Havia atração por trajes exóticos, um ecletismo sem regras que ia desde a inspiração nos revolucionários franceses do século 18, passando pelo romantismo e indo até o Glam de David Bowie, só que tudo isso misturado. Esse era uma aspecto interessante no grupo: o interesse por moda histórica, buscando referencias ora barrocas ora vitorianas, mas sempre atualizados para a época em que vivam. Além disso, outra característica marcante eram as estéticas com androginia e cross-dressing, realçados através de maquiagem.

Com a exigência de um visual chamativo, os jovens se viravam em criar seus próprios trajes, fossem eles vindo de bazares de caridade, desmontados, customizados, costurados e recriados pelos estudantes de moda que frequentavam o local. Além de estilistas, os frequentadores do clube queriam ser cantores pop, escritores, fotógrafos, maquiadores, cineastas... Por isso a escolha de andar como obras de arte ambulantes. Para eles a palavra "poser" não era um xingamento, era um orgulho, ser um dândi, ter a preocupação com a aparência acima de todas as coisas era a lei, fosse num visual vitoriano, num retrô de 1930 ou no simples uso de tecidos extravagantes.



Alguns de seus frequentadores eram o DJ Jeremy Healey, a cantora Sade; Karen Woodward do grupo Bananarama; a modelo e DJ Princess Julia. Gery Kamp e Tony Hadley músicos da banda Spandau Ballet; Martin Degville e Tony James da Sigue Sigue Sputnik; Jeremy Healy da Haysi Fantayzee; os cantores Billy Idol e Peter “Marilyn” Robinson, Theresa Thurmer, Melissa Kaplan, Isabella Blow. Estilistas que se tornariam famosos como o chapeleiro Stephen Jones e o professor universitário Iain R. Webb. Mas talvez um dos mais famosos seja Boy George, personagem marcante pela adoção de estereótipos estéticos de feminilidade.


O grupo se autoproclamava o “cult with no name” ou “o culto sem nome”, embora tenham recebido nomenclaturas como New Dandies, Romantic Rebels e Blitz Kids, uma matéria na revista Sound os chamou de New Romantics - associando-os ao new wave e o culto a poetas românticos, este foi nome que pegou popularmente. Com a atração midiática, o próprio David Bowie visita o clube e seleciona parte dos frequentadores para participar da filmagem do clipe da música “Ashes to Ashes” lançada em agosto de 1980. Na época, os Blitz Kids procuram um novo som para representá-los e adotam sintetizadores, isso pode ser ouvido nas bandas Visage, de Steve Strange, na Spanadu Ballet e na Ultravox.



O movimento acabou tornando-se vítima do próprio sucesso, o clube fecha em outubro de 1980 quando as bandas Spandau Ballet e Visage lançam seu primeiros singles, "To cut a long story” e “Fade to Gray”. Logo, as bandas synth pop associadas ao new wave como Bananarama, Yazoo, Blancmange, Thompson Twins, Frankie Goes to Hollywood e o Culture Club de Boy George entraram nas paradas de sucesso do Reino Unido e do mundo.


Em 1981 Steve Strange abre outro clube, o Club for Heroes hospedando festas nas terças e quintas. Naquele mesmo ano, a estilista Vivenne Westwood lança sua The Pirate Collection – Clothes For Heroes, de atitude rock e inspirada nos revolucionários do século 18. Trazia peças que lembrava uma espécie de “pirata romântico” sendo um dos modelos o cantor Adam da banda Adam and the Ants que fazia um som mais guitarra do que sintetizador, tendo a música “Prince Charming” se tornado o mantra do movimento que naquele ponto que já havia se tornado uma festa a fantasia onde todos estavam convidados. Steve Strange ainda abriria o clube Hell, com festas nas noites de quinta-feira no Mandy's Club, na Rua Henrietta em Covent Garden, trabalhando com Boy George.



Pelo estudo em arte, os Blitz Kids possuíam a atitude de quebrar barreiras estéticas e comportamentais, colocando o visual conceitual típico de passarela nas ruas. Estilo era a substância e ser poser significava ser verdadeiro ao movimento. A subcultura começa a desaparecer em 1981, mas deixa de herança além do Synth Pop, o poder da moda, da estética como autoafirmação da criatividade.

Os trajes influenciados por períodos históricos, especialmente a moda romântica do século 18 e 19 com a imagem do dândi decadente, as camisas de poeta (com gola V, babados e rendas), ombros marcados, peças soltas, longas saias e maquiagem de forma livre, se refletiram num desfile realizado por Stephen Linard sob o tema "Neon Gothic". Os amigos de clube posavam como modelos mortalmente pálidos, com roupas de inspiração vampiresca e acessórios religiosos.



Quando os Blitz Kids foram absorvidos pela cultura jovem mainstream, surge a necessidade de um novo movimento underground. Assim, em 1982, no mesmo prédio onde dois anos antes ocorriam as festas “Bowie Nights”, surge o Batcave nas noites de terça-feira, hospedado pela banda Specimen e que receberia a transformação destes jovens apreciadores de androginia, maquiagem e teatralidade histórica que foi grande influência para artistas de bandas como Siouxsie & The Banshees, The Cure e The Damned, que herdaram dos Blitz Kids a liberdade de expressar suas individualidades de forma única e através da música que produziam. Os Blitz Kids trouxeram o vestuário exuberante, o Punk trouxe o niilismo, o Glam a recusa em aceitar as regras tradicionais, estes três elementos unidos ao interesse no “lado negro” convergiram no Batcave nos primórdios do que viria a ser a cena gótica musical que se tornava mais orientada para a estética, começando ali o diálogo entre gótico e moda que persiste fortemente ainda hoje.



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15 de novembro de 2014

O que é Moda Alternativa? O que são pessoas Alternativas?

Nunca se viu tanto as palavras "Moda Alternativa" ou "Alternative Fashion" na internet, popularizado e espalhado pelas redes sociais (tumblr, facebook, pinterest, etc)... e este blog escreve sobre isso o tempo todo. Mas afinal, o que é moda alternativa?*

"Moda Alternativa" é um termo genérico que representa multiplicidade de estilos em que, ao menos uma vez, este(s) estilo(s) se destacou da moda comercial mainstream.
 
A Moda Alternativa, como roupa: não é funcional, não é prática, não segue tendências, não é modismo. Costuma vir de pequenos empresários independentes, artesãos ou feitas em pequena escala. O fator artístico/criativo é muito importante, assim como a roupa ser usada como uma forma de auto expressão, fora do que é considerado apropriado ou elegante e desafia a concepção do que é considerado belo.


Toda moda de subcultura é moda alternativa 
MAS nem toda moda alternativa é moda de subcultura.
  

Complicado? Vamos tentar explicar:

Nas subculturas:
1. O termo "moda alternativa" é comumente associado à subculturas (punk, gótica, metal etc). Existe uma linguagem estética visual de comunicação que é parte do código dos grupos subculturas. Esses códigos estéticos rompem com os costumes da cultura popular. As subculturas costumam ser associadas à rebelião, juventude e idealismo. O visual "certo" é muito importante para ser aceito nestes grupos, pois carrega os tais elementos simbólicos. 
Mas não se limita à isso. Moda alternativa também pode ser uma anti-moda (punk) ou uma não-moda (grunge). A música é algo que define as subculturas, assim, a cópia ou a influência do estilo pessoal de artistas, moldam a forma como fãs se vestem, como por exemplo, Marilyn Manson, cujos fãs são chamados de Spooky Kids por se vestirem como o ídolo, gerando uma estética característica.


Fãs do Marilyn Manson (página do livro The Disciples)

Exemplo 2: Moda Alternativa Gótica
 
 A garota da imagem apresenta um código de comunicação das vestimentas 
que num julgamento à primeira vista a caracteriza como sendo parte da subcultura gótica. 
roupas pretas + acessórios + maquiagem + calçado que são símbolos da subcultura em questão.



Sendo assim, uma pessoa pode usar moda alternativa e SER parte de uma subcultura.


Moda Alternativa fora das Subculturas: 
2. Há um outro tipo de moda alternativa, que segue a mesma definição dada acima (3º parágrafo) e não precisa ser associada com subculturas.

Como pode uma pessoa usar moda alternativa e não ser parte de uma subcultura?
Simples:
Pessoas com grande interesse artístico ou por moda, tendem a usar looks alternativos à moda dominante. Pessoas com grande senso estético e artístico, que sabem o que gostam e não se importam com a opinião alheia. Normalmente trabalham em áreas artísticas ou de design, mas há exceções.

As senhoras da imagem a seguir, podem ser consideradas adeptas de moda alternativa mesmo que elas não pertençam à subculturas. 
Suas roupas apresentam elementos artísticos, usam peças não-funcionais (por ex. chapéu sem a função de proteger do sol, apenas como adorno) e seus looks demonstram um grande senso estético particular baseado em seus gostos pessoais.

 
Moda Alternativa é limitadora?
 NUNCA!
Se uma moda é limitadora ou impõe padrões, ela não é alternativa. 
É mainstream. Simples assim. 


Não confundir moda alternativa com roupas "alternative-inspired"
vendidas em lojas e grifes mainstream.
(moda alternativa de fato, é feita em pequena escala)



Quem pode ser chamado de "Pessoas Alternativas"? 
Muito difícil de explicar sem generalizar! Apelarei para a generalização mas quem se interessar em detalhar o assunto, pode fazê-lo nos comentários.
Mas vamos esquecer a moda por um momento e focar apenas nas pessoas em si. 

Assim como acontece com a moda, pessoas alternativas não vivem o padrão de pensamento/hábitos da cultura dominante em alguma das áreas de suas vidas. 

Pessoas Alternativas:
- Membros de uma subcultura como já citado acima (pode durar uma fase ou a vida toda).
- Pessoas que são parte de uma minoria com hábitos diferenciados (pessoas que praticam nudismo, medicina natural, veganos, poligâmicos, pessoas que moram em eco-villages etc).
- Pessoas que tem uma filosofia de vida diferenciada do padrão cultural vigente (religiões como amish, indus, hare-krishna, paganismo, etc).
- No geral: pessoas que vivem (vivem mesmo, literalmente!) seus pensamentos e questionamentos fora do padrão: pessoas que não vivem o paradigma tradicional.


Moda Alternativa e "pessoas alternativas" tem em comum serem uma minoria dentro de um todo.
Mas esse assunto é muito amplo, cada tópico pode ser destrinchado em vários outros fatos e questionamentos. Na medida do possível apresentaremos eles aqui no blog.


* Neste post, consideramos os conceitos tradicionais dos termos, suas mudanças e variedades deixaremos para outro post.
** Artigo do Moda de Subculturas, postado originalmente no blog Diva Alternativa dia 19/08/2014. Se quiser usar trechos do texto como referência em seus sites ou artigos, achamos gentil linkar o artigo do blog como respeito ao nosso trabalho.

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Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
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27 de março de 2013

Heavy Metal: Moda Feminina

Não existe uma genuína moda Heavy Metal feminina. A moda feminina desta subcultura é surgida de um código masculinista, da moda masculina ou da fantasia masculina sobre uma mulher. Portanto, a moda feminina heavy metal buscou referências em outras subculturas ou na moda vigente de cada época para se construir.

Nós temos (ou tínhamos originalmente):
- Versões Femininas do look masculino (e não look feminino independente do dos homens - como na subcultura gótica por exemplo, onde há a moda gótica masculina e a feminina, cada uma à seu modo), a mesma roupa usada pelos homens da subcultura é adaptada para as mulheres (calças, camisetas, jaquetas, cintos).
- Uma moda feminina da mulher idealizada pelos homens da subcultura ou seja, roupas femininas que são sexies para o olhar dos homens (traduz-se em mini saias, saltos altos etc..).

Outro ponto é que não há um estilo de moda Metal que as mulheres podem usar da maneira que seus colegas do sexo masculino podem. O mesmo item, seja ele uma jaqueta de couro preta ou cabelo muito longo, é lido de forma diferente, não têm o mesmo significado, quando o portador é a fêmea. Calças de couro justas num homem não significam a mesma coisa que calças de couro justas numa mulher da subcultura.

Vimos nas postagens anteriores que a moda masculina heavy metal é baseada na estética dos Rockers/Bikers dos anos 1950. Estilo este que é associado à estética fetichista S&M. Jeans e cabelos longos vem dos hippies e os patches, correntes e alfinetes dos punks. Isto existe até hoje, porém a partir dos anos 1990, as opções de trajes para as mulheres se ampliaram (influenciadas pela moda feminina de outras subculturas) e depois dos anos 2000 ficou mais abrangente ainda. Como em qualquer subcultura, o mundo do heavy metal tem regras de vestimentas e desafiá-las é por sua conta e risco, porque críticas vão surgir. 

Anos 1970 - Começo de 1980
Havia um número relativamente pequeno fãs femininas que se vestiam de forma muito semelhante aos homens: calças jeans/rasgadas, camisetas, coturnos, cintos de tachas/bala, jaquetas (couro, jeans) e coletes. Na falta de uma moda feminina específica para elas, as mulheres acabavam por "roubar" elementos da subcultura punk como a maquiagem, piercings e acessórios.

Rock Goddess e Girlschool: os primórdios da moda heavy metal feminina mostram que as roupas eram versões das roupas masculinas: calças, camisetas, jaquetas de couro, cintos com studs, correntes. A maquiagem preta nos olhos é copiada das punks.




Anos 1980
Na década de 80, entra em cena a lycra® em calças que davam mais liberdade de movimentos no palco e mostravam o corpo atlético dos músicos promovendo uma imagem de poder.
Embora tenham sido populares no HM, foi no Hard Rock e no Glam Metal que a lycra® era mais usada, especialmente em leggings que vinham de todo o estilo: lisas, metálicas, estampadas, zebradas... também era parte do estilo: mini-saias justas e curtas de couro ou bondage/malha; camisetas que eram frequentemente cortadas as golas, mangas ou barras e usadas sob um top curto. Botas dos mais diversos modelos, incluindo botas de cano super longo, coturnos, saltos altos ao estilo scarpin, tênis esportivos com meias brancas grossas. Cintos grandes na cintura, bastante maquiagem e cabelos longos ou armados e comumente claros com as raízes mais escuras. Acessórios prateados ou com couro e spike em grande quantidade.

Leather Leone com cropped top (cortou curto uma camiseta) e Lita Ford com um bustier. Ambas com calças com cós na altura do umbigo. Leather usa cabelo de duas cores e Lita uma cruz como pingente do colar e tem caveiras no cinto. 


Doro e as garotas da Vixen com calças de lycra® cirrê adornadas com studs. Doro usa corselet de amarração frontal e na foto da Vixen, Roxy Petrucci usa sutiã com spikes em cima de uma blusa de renda, legging preta e uma mecha cor de rosa no cabelo. Destaque também para o look de Share (à direita): o cabelo dela é de listras (foi revivido pelos scene), reparem que todas usam luvas de renda e/ou de couro. E os cabelos eram repicados, armados, com franjas ou ao estilo "poodle"/mullet.


Outro look comum nos anos 80 era usar algum tipo de top, seja regata, corselet ou bustier com mini-saia reta de malha, bondage ou de couro com cós alto. Lee Aaron usa cinto e luvas de renda e as garotas do Oral meia calça fumê e scarpins (calçados brancos eram comum na época).



Anos 1990
No começo dos anos 1990, a moda metalhead mudou, aparentemente devido ao aumento de formas musicais diversas e extremas dentro da cena. O início da década ainda tinha um pouco do excesso dos anos 80 mas depois os visuais foram ficando mais simples, minimalistas, com cores mais neutras e poucas estampas.
A calça jeans dá lugar à calça de brim preta e as jaquetas com patches são deixadas de lado em troca de camisetas baby look e cropped tops. A versão feminina do headbanger masculino se manteve nas cenas mais extremas.

Nesta década os elementos estéticos da moda gótica e fetichista ficaram mais evidentes, mas combinados com o minimalismo característico da década. O vinil começa a aparecer mais no lugar do couro por causa da ascencão do cyber e de sons industriais e eletrônicos.
A década de 90 viu o nascimento do grunge - feminilidade em vestidos camisola, transparências e um pouco de infantilidade. Vestidos tubinhos, saias de pregas lisas ou com estampas xadrez eram populares.
Devido a popularização do skate e da patinação in line, moletons ou calças mais largas aparecem especialmente na cena onde os estilos musicais tinham referencia ao hardcore punk.
Na maquiagem também houve diversificação, desde influência gótica; maquiagem leve; até apenas olhos pintados ou apenas batom vermelho ou ainda nenhuma maquiagem. Os acessórios diminuem de quandidade se comparados à década anterior. Coleiras de spike se popularizam bastante e os cabelos agora menos armados, assumem cortes curtos e desfiados, tingidos em cores como preto ou vermelho. Raramente cores fantasia eram exploradas.

A guitarrista Syang no começo da década num clássico look da cena mais extrema: calça justa, botas e jaqueta. A influência da moda fetichista se tona mais forte nesta como podemos ver na roupa de Queen Vixen da Clicle Sluts from Hell.


As roupas de Doro mostram tendências dos anos 80 que permaneceram no começo dos 90: camisetas cortadas e shortinhos e na foto seguinte bustier com jaqueta e calça de cós alto. Porém os acessórios e os cabelos diminuiram tanto no tamanho quanto no volume.

 

Esta foto da Phantom Blue mostra a influência grunge: cabelos menos armados e mais naturais, pouquíssmos acessórios, estampa xadrez e shorts curtos, um deles com barra desfiada - pode ter sido uma calça.


A ex-baixistas da Coal Chamber, Rayna Foss ilustra muito bem a moda gótica começando a ter um pouco mais de espaço na estética Metal em meados da década. Ela usava muitos corsets e vestidos com renda. Aparentemente ela era uma moça atualizada com a moda do momento como vemos nas imagens: vestido e mangas de renda na primeira foto; vestido tubinho preto de alcinha, típico da época usado come meia fumê preta e sapato de boneca, uma das raras moças da cena Metal a usar corsets e look mais casual comum nas meninas de meados dos anos 90: blusinha baby look (terminavam na altura do umbigo) com saia xadrez ou mini-saia reta com meias esportivas e botas.


Nadja Peulen, também ilustra a influência punk e gótica: blusa de tela com sutiã aparente e corselet de vinil - material que ficou muito popular na subcultura; cabelos vermelho cereja.


Talena, ex-baixista da banda Kittie era a encarnação perfeita da fortíssima influência gótica na estética HM no fim dos anos 90 (até na moda masculina aconteceu isso como devem lembrar deste post): cabelos vermelhos ou pretos, maquiagem escura nos olhos e boca, o lado Metal fica com os spikes e o vestido preto curto. Os cabelos curtos já ficam mais populares no fim da década.

Foto da banda Kittie ilustrando bem a variedade de estilos do fim dos anos 90 na moda feminina HM. Comparando com os anos 80, os cabelos são bem mais curtos e tingidos ou de preto ou de vermelho. Morgan Lander está com os cabelos curtinhos como ela comentou neste post; camisetas são baby looks de cores mínimas ou estampas discretas, o vinil substitui o couro em tops, calças e saias; os acessórios são agressivos, com spikes embora pulseiras de plástico ou metal também fossem usadas e a maquiagem é pesada e pálida. A foto ao lado, de Morgan cantando, representa um período do fim da década em que tecidos metalizados estavam em voga. Se observarem, ela usa cílios postiços, algo ousado e incomum na época já que os cílios postiços eram considerados acessórios de vagabundas e prostitutas.




Finalizando com quem começou: Syang no fim da década já usava um look bem diferente do que ela usava no começo mostrando como a moda diversificou e se feminilizou. Loira com mechas pretas, olhos e batom escuro, vestido tubinho estampado preto e branco tie-dye, guitarra forrada com pelúcia rosa (influencia clubber) e tatuagem tribal. No editorial que tem dentro da revista ela usa mini-short com meia calça rendada, blusa de tela, botas com imensas plataformas e bustier.



Anos 2000
Devido à estética das "Divas" do Metal, em fins da dos anos 90 e começo da década de 2000 houve muita influência gótica medieval. A feminilidade invade de vez o HM, praticamente desaparecem os resquícios da origem biker/rocker neste segmento da moda feminina. Saias longas, rendas, corselets com recortes e amarrações medievais, mangas longas e caídas. Uns dois anos depois o corset com recorte mais vitoriano entra em cena assim como uma presença mais forte do vinil. Os cabelos, quanto mais longos mais na moda. Normalmente em tons naturais mas preto e vermelho eram mais comuns. Acessórios são poucos mas normalmente góticos com cruzes, rendas e algum spike.
Além das saias longas, de praxe pra dar um ar histórico, Tarja e Sharon usam tops ao estilo medieval com amarração frontal e mangas caídas. Já Liv Kristine, misturou o medieval com um corset de corte vitoriano.



Uns dois anos após o começo da década, o vinil toma mais espaço entre as Divas e  as saias diminuem um pouco. Ambos os aspectos são um retorno às raízes da subcultura (fetiche e ousadia).


E voltamos ao que falei lá no primeiro post sobre as mulheres no Heavy Metalo impacto mainstream da vocalista do Evanescence, Amy Lee.
Evanescence é uma banda de rock/metal moderno mas que atingiu um público muito grande e diversificado inclusive dentro da cena Metal. A estética de Amy Lee era algo novo na cena rock daquela época embora ela trouxesse influência da estética gótica no rock do fim dos anos 90 (como Rayna Foss e a banda Kittie citadas acima), ela trouxe elementos novos: uma forte referência vitoriana em saias curtas e armadas, referências da moda de rua alternativa japonesa e muitos corsets e corselets. Outra coisa é que Amy usava muitas saias no palco, hábito incomum entre a maioria das meninas do rock/metal.
Não demorou muito para que muitas vocalistas de metal absorvessem esses elementos estéticos novos na cena rock. 

Amy trouxe uma nova silhueta ao rock e Heavy Metal: saias curtas e armadas (o Metal sempre foi das saias justas, curtas e sexies ou longas como das Divas) usadas com blusinhas ou corsets e corselets. Corselets foram usados desde o início do HM, já corsets eram usados ocasionalmente nos anos 90; após Amy Lee, os corsets foram incorporados à moda feminina HM.

Com o revival do Metal Tradicional, é resgatada a estética das origens do HM como o couro com studs, as calças justas pretas, agora com o adicional do corset.
Girlschool mostrando a estética HM tradicional na década de 2000: calças pretas, camisetas, jaquetas, cintos, mini-saias, tela, tachas e cabelos loiro, preto ou vermelhos.



Marta Gabriel está com um estilo tradicional na primeira foto (calça preta + corselet com studs). Kate French mostrando como o corset passou a fazer parte dos looks mais tradicionais. A banda brasileira Panndora mostrando o estilo Trad made in Brazil: leggings, tops, jaquetas, cintos de bala, tachas zíperes e botas. 


A moda feminina do metal extremo segue por duas linhas: uma mais tradicional como vemos em Melissa Hastings  do Adorior, que usa jaqueta com patches, luvas e bracelete de couro com studs, calça e camiseta de banda. Já as meninas do lado extremo mais melódico costumam ter o cabelo bem maior e usam corselets de couro ou vinil com calças e acessórios com studs e braceletes como vemos em Kitty e Nina Saile. As calças (peça originária do guarda roupas masculino) permanecem na cena mais tradicional e extrema, simbolizando a origem "masculina" da subcultura.




Década de 2010
Feminilidade! Essa é a palavra pra definir a moda feminina HM de fins da década de 2000 e começo da década de 2010! Além da óbvia variedade de estilos - praticamente tudo está sendo aceito dentro da cena -, outra coisa que se destaca a partir de então é a influencia da moda alternativa em geral dentro da moda feminina Heavy Metal, o aumento do uso de saias no palco e cabelos de todo o tipo, incluindo ruivos e cores fantasia (rosa, azul, roxo...). 
O fato de o Heavy Metal nunca ter tido uma moda feminina específica e delimitada - já que foi uma subcultura criada por homens e não por homens e mulheres - fez com que as meninas da cena buscassem referencias estéticas em outras subculturas e o que acaba por caracterizar mesmo o estilo HM é a constante presença do couro, seja em calças ou mini-saias e dos studs (rebites, spikes, tachas, ilhoses), de resto, tudo se tornou intercambiável.

A década de 2010 apenas confirmou que o estilo pessoal de Doro Pesch inspira muitos looks semelhantes aos redor do mundo, os corsets parecem que vão permanecer assim como elementos esportivos, a influência da moda japonesa alternativa está ganhando espaço e outra estética que se destaca é a retrô. Cada vez mais garotas headbangers estão se interessando por moda retrô e até tem franjinha pin-up.

Doro Pesch: seu estilo ainda é referência para lojas e garotas que querem criar visuais com bastante couro, vinil e tachas.



As saias curtas e armadas inseridas por Amy Lee, em looks de Lzzy Hale, Maria Brink e Charlotte Wessels. Vemos a influencia da moda alternativa japonesa no look de Lzzy.



Diversidade: Angela Gossow, tem um estilo muito próprio que deu nova cara ao Death Melódico. Na foto, as tradicionais calças pretas e camiseta estampada são valorizadas por um corset com estampa de fogo. Simone Simons também usa um corset, mais claro e com ar de delicadeza. Cabelos ruivos laranjas só foram aceitos na cena depois que ela apareceu. Grog, usa um look todo em tecido preto sintético e tem franja retrô. Lita mantém viva suas raízes oitentistas em vestido tubinho preto de couro com corselet, luvas de renda e braceletes.


As Crucified Barbara mantém as tradicionais blusas pretas mas cada uma a seu estilo, até estampa retrô de bolinha tá valendo misturado com caveira, tela, tachas e couro. Já Agnete da Djerv usa muitos leggings e calças justas com vestidos tubinho.
 

As estéticas retrô e pin-up estão ganhando espaço mesmo que ainda com poucas adeptas. Marta do Bleeding Through se dá bem com esta estética (tive que colocar uma foto dela com a banda pra mostrar o contraste com os meninos). Às vezes ela lembra um pouco Dita von Teese...




Uma prova de que não há mais uma limitação estética para as mulheres do HM são os exemplos que darei a seguir:

Liv Kristine: começou como uma das "divas" em saias longas, discrição e mistério. Embora ainda use o estilo medieval em shows, depois de um tempo assumiu sua sensualidade usando vestidos mais justos e curtos e recentemente começou a usar um estilo mais retrô.


Lembram da Morgan Lander da Kittie falando sobre a negação de sua feminilidade para ser levada à serio como profissional de música? Pois é, parece que nesta década ela e suas colegas de bandas decidiram assumir serem mulheres com orgulho, ao menos é o que diz as fotos abaixo.


No metal tradicional, onde as mulheres sempre usaram calças (uma peça originada no guarda roupa masculino), olha só a Liv do Sister Sin usando uma saia de babados - mudança na estética agressiva desta categoria.



Candace Kucsulain do Walls of Jericho usa e abusa de elementos esportivos e também fica muito bem quando investe no retrô.


Sabina Classen, do Thrash old-school para mini saia no palco!! Que avanço! Uma mulher thrasher de mini-saia no palco!



Finalizando com a super moleca Shamaya Otep (dificil encontrar uma foto em que ela não esteja fazendo traquinagem), que ultimamente também tem investido em seu lado mais feminino.


Patty Metal: um termo preconceituoso do HM?
Já ouvi e li muito por aí o termo "patty metal" que remete que feminilidade não é algo bem visto aos olhos tradicionais de uma subcultura tão "masculina"(no sentido de subcultura "agressiva").

Se antes as garotas do metal tinham estéticas em "versões masculinas" dos homens ou usavam roupas sexies que simbolizavam a mulher idealizada pelos homens da subcultura, atualmente, com o aumento de mulheres na cena tanto no palco como na platéia, elementos mais feminilizados ao gosto delas (e não dos homens) invadiram a moda feminina HM.

Uma nova geração de garotas, que não viveu a fase mais "masculina"/agressiva da estética HM e cresceu com a variedade de estilos proposta a partir dos anos 2000, sente-se super à vontade pra expressar feminilidade ao modo tradicional estabelecido às mulheres. 

Chamar alguém de patty metal é praticamente dizer: "hey, você não é headbanger de verdade, headbanger usa roupas mais agressivas. Você está aqui pra caçar homem, pra se exibir, você é fútil. Seu lugar é no shopping e não num show de metal.", podando que a garota se expresse livremente através das roupas. 

É esperado que uma mulher dentro da subcultura, para ser aceita, não haja de forma tão feminina fora dos padrões de feminilidade estabelecidos pelos homens da subcultura. Porém é esperado e até normal que muitos headbangers tenham namoradas que não ouvem heavy metal e estas tem o direito de serem super femininas quando os acompanham. Portanto, uma dupla medida. E contraditória.

Antes, ser feminina na cena só era permitido para as groupies, e para namoradas, talvez por isso essas garotas, que não são groupies e amam HM de verdade, tenham que lutar o dobro para serem tratadas com respeito = porque os homens são incapazes de identificar quem é a "santa" (a real headbanger) e quem é a "p*ta" - conceitos que eles mesmos estabeleceram para julgar mulheres. Eles perderam esse controle. 

Concluindo
Como vimos, a moda feminina headbanger começou super limitada e como uma versão da moda masculina. Com o tempo ela adaptou as tendências de cada época e se diversificou. O curioso é que são todos estilos advindo de outras subculturas (punk, gótica, fetichista, skate, retrô) e ainda não existe uma moda feminina heavy metal delimitada/específica. 

Uma garota heavy metal dos dias de hoje tanto pode ser aquela vestida como nos anos 80 quanto uma pin-up de saia lápis. E, pelo que pudemos acompanhar, a moda feminina HM também está acompanhando as tendências da moda alternativa.

Até a aparência das groupies mudou; se antes elas eram facilmente identificadas como aquelas que usavam mini-saias, arrastão e salto alto = super feminilizadas, hoje este look feminilizado é uma opção normal às headbangers. As groupies de agora se vestem mais como fashionistas e nem sempre com estética subcultural.

Os limites estéticos se expandiram mas não significa que o sexismo esteja desaparecido. A questão da feminilidade está aí pra comprovar. Mas com tantas mulheres invadindo a cena, é inevitável que o questionamento ao sexismo tome mais espaço.





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Artigo original do blog Moda de Subculturas. 
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Este artigo foi escrito de acordo com análises de fotos de bandas em comparação com a história do Heavy Metal e a História da Moda feita pela autora do blog. Se desejam reproduzir o texto ou as opiniões ou usar como fonte em alguma pesquisa entrem em contato para pedir autorização e citem o link do blog como fonte. 
Livro consultado sobre a subcultura HM: Heavy Metal The Music and Its Culture de Deena Weinstein.

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