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17 de junho de 2015

As Sufragistas e a Moda como ferramenta política

No post anterior, falamos sobre a “Moda Alternativa” usada por mulheres que rompiam padrões sociais no século XIX. E tanto essas mulheres quanto a roupa que elas usavam foram precursoras do que viria a ser um novo comportamento feminino frente à sociedade no século seguinte. O acesso ao trabalho quanto a educação deram à elas a necessidade de se sentirem representadas politicamente e o voto era o meio delas conseguirem essa representação. Uma luta que se travou por quase um século, através de movimentos feministas que foram, no fim do século XIX, chamados de Movimento das Sufragistas.


Tem sido dito que a forma como você se veste diz muito sobre o que você acredita. Os exemplos a seguir mostram a Moda como poderosa ferramenta política que interage com questões importantes da sociedade.


As Sufragistas

A luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres sempre existiu, pelo menos desde a antiguidade clássica. Mas as mulheres sempre foram de alguma forma caladas, queimadas ou decapitadas. No começo do século XIX, à medida que mais mulheres eram alfabetizadas e frequentavam universidades, passaram querer intervir na esfera pública.

A lei dizia que "pessoas do sexo masculino" podiam votar, o que excluía mulheres de sua cidadania. Muitas delas já tinham cursos superiores e a educação as fazia conscientes de um desejo de lutar por seus direitos políticos e sociais, assim, em 1848, foi criado em Nova Iorque o National Woman Suffrage Association (NWSA), primeiro movimento feminista organizado pelo direito ao voto feminino. A consciência "feminista" sobre cidadania política plena para as mulheres, tinha uma de suas raízes na Reivindicação dos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft, publicado em 1792. 



Os homens que eram contra o direito da mulher ao voto, diziam que o lugar delas era em casa, que elas eram ignorantes e não saberiam votar ou que a presença delas no parlamento seria a ruína da nação, já que elas não eram capazes de entender sobre política.
Em 1906, o jornal Daily Mail, cunha o termo “suffragette” como uma maneira depreciativa de descrever as mulheres mais militantes.

Como citamos no
post anterior, as mulheres queriam o direito de usar calças, tinham o desejo de trabalhar fora, e a ideia masculina de que feministas eram mulheres feias ou solteironas, são observados nos cartoons abaixo, como uma forma de zombar das Sufragistas.

"Ninguém me ama, acho que serei uma suffragette" - a garotinha veste calças.
"O lugar da mulher é na casa dela" - aponta um rapaz à garota.
"Origem e desenvolvimento de uma Suffragette. Aos 15 uma mimadinha; aos 20 uma coquete; aos 40 ainda não se casou! E aos 50, uma suffragette."

Male tears já existiam na virada do século passado...

"O que eu faria com as sufragistas" - uma mulher presa na cadeira
"A mulher masculina" - critica a moda alternativa da época, que era o uso de camisa e paletó.
A sufragista no palanque é desenhada como uma mulher muito feia.
Abaixo, um homem se torna "mãe"; "Todo mundo trabalha menos a mãe: ela é uma suffragette. Quero votar mas minha esposa não deixa." e por fim, um cartoon escrito: "Dia da eleição" - a mulher sai de casa e o homem cuida de duas crianças ao mesmo tempo.

Sufragistas nas ruas panfletando ou fazendo campanha pelo voto feminino, elas acreditavam que a política precisava levar em conta os direitos das mulheres na sociedade.

A Moda como ferramenta política
Durante todo o século XIX, as feministas lutaram por roupas mais práticas, leves e funcionais. Por terem ousado vestir calças, eram agredidas na rua, chamadas de lésbicas e feias. Mas chegou um ponto que a geração feminista seguinte percebeu que eram julgadas demais pelo visual. Assim, resolveram mudar as regras do jogo: iriam vestir roupas elegantes justamente pra chocar e mostrar que elas não eram nada do que eles diziam e eram sim, também, mulheres muito bem vestidas!

Cansadas de não serem levadas à serio, as feministas dão um golpe (de estilo), passam a usar roupas elegantes pra bater de frente com os críticos que diziam que elas eram mulheres feias e mal vestidas.



Mas a roupa delas não era como a roupa das outras mulheres, elas fizeram escolhas deliberadas. A frase/slogan “Give Women Votes” (dê às mulheres o voto), foi a referência. Elas usaram as iniciais da frase associadas com cores: G (green), W (white) e V (violet). Assim, verde, branco e violeta seriam as cores da luta!

Roxo além de uma cor real, “o sangue real que corre nas veias de cada sufragista” era liberdade e dignidade; branco era a pureza na vida privada e pública; e verde, a esperança.

Usavam broches com estas cores ou jóias com pedras preciosas como ametista, pedra da lua ou esmeralda. A faixa que elas ostentavam no corpo também era tricolor. Assim, uma mulher reconhecia a outra na rua como parceira quando ambas ostentassem acessórios nos tons especificados.
As cores escuras nos trajes, quando usados, era pra simbolizar a sua seriedade de seus propósitos.


Exemplos de broches e jóias com as cores da luta pelo sufrágio.

Lojas de departamentos
Com seus trajes “alternativos” de luta, que identificavam umas às outras na rua, as sufragistas precisavam de um lugar para conversar sobre feminismo e debater suas ideias sobre seus direitos políticos. É aqui que entram as lojas de departamento.

Gordon Selfridge, proprietário da Selfridges, fundou sua loja em 1909 quando o movimento sufragista estava se tornando sucesso em Londres e o metrô trazia senhoras respeitáveis à cidade. Fazer compras era uma das poucas atividades que as mulheres podiam fazer fora de casa, percebendo isso, Selfridges abriu um café no topo do prédio da loja e instalou banheiros. Assim, as mulheres podiam passar o dia reunidas lá, conversando (e comprando).

O Sr. Selfridge era um importante apoiador do movimento feminista. Ele sabia que mulheres independentes seriam suas melhores clientes! As sufragistas se reuniam na loja e esta oferecia à elas as roupas necessárias para luta. Tudo a preços moderados.


Anúncios: "Selfridges apóia as Suffragettes". No texto é dito que já está à venda "o mais poderoso símbolo da emancipação feminina: o batom vermelho!" Ops!! Tá explicado porque muita gente se sente insegura ou se incomoda quando usamos essa cor de batom, era rebelde demais!  ;D
À direita: "Itens interessantes de várias sessões e algumas nas Cores do Movimento."


O ano de 1912 foi o momento de virada para as Sufragistas britânicas: elas adotaram práticas mais violentas como se acorrentarem em grades, quebrarem vidraças de lojas que não apoiavam a causa, colocarem fogo em caixas de correio e até mesmo detonar bombas. O governo as espionava. Muitas foram presas. Na cadeia, algumas chegaram a fazer greve de fome.

Clique para aumentar a imagem.

Organizadas por Alice Paul, em 1913, mais de 5 mil sufragistas marcharam em apoio ao voto feminino na capital americana. A marcha foi liderada por Inez Milholland Boissevain montada num cavalo branco. Grupos anti-feministas, irritados, tentaram perturbar o desfile em vários lugares.


Multidão hostil querendo parar o desfile. Mais de mil sufragistas foram hospitalizadas. Isso deu muita mídia e o governo precisou repensar a questão dos direitos femininos.


As marchas feministas continuaram mensalmente em cidades dos EUA e no Reino Unido nos anos seguintes.



Quando a Primeira Guerra Mundial estourou em 1914, o movimento do sufrágio diminuiu e a guerra acabou sendo uma grande oportunidade para que as mulheres assumissem empregos masculinos tradicionais nas mais diversas áreas.
Num protesto em 1918, Alice Paul foi presa, fez greve de fome e foi alimentada na cadeia de forma forçada com ovos enfiados pelo seu nariz até ela vomitar sangue. Ela foi colocada no sanatório e queriam declará-la como insana. Seu médico declarou: “Coragem nas mulheres é constantemente confundida com insanidade”.

Panfleto faz alusão ao que Alice Paul (à direita) passou na cadeia

Após esse acontecimento com Alice Paul, ao fim da guerra, ainda em 1918, as mulheres ganharam os mesmos direitos políticos que os homens na Inglaterra e as americanas conseguiram o direito em 1920.


As ousadas! 
Em 1916, uma sufragista americana usa calças super justas e saia com fenda num dos desfiles de protesto.


No mesmo ano, Lady Florence Norman, anda na sua scooter.

Mas é importante lembrar que, após mais de um século de luta para garantir direitos políticos, as Sufragistas também lutavam pelo direito ao divórcio, ao direito à educação e à ter empregos que eram “masculinos” como o exercício da Medicina e Direito. O voto é de importância vital para alcançar amplos direitos das mulheres na esfera social.


Devido à violência racial e de gênero, haviam muitos linchamentos de pessoas negras. Assim, sufragistas como Ida Wells-Barnett (à esquerda), eram uma das feministas que acreditava que o direito ao voto era uma forma de lutar por uma representação política dos negros.

Acho que podemos aprender muito com as sufragistas e quem sabe a partir de agora, olharmos o voto, a política com outros olhos, pois diz respeito também à nossa posição como mulheres na sociedade. A luta delas não foi à toa, afinal, abriram tantas portas para nós no século XX...


E você lê este post e se pergunta, por que esse assunto está num blog de moda alternativa? Pra nós a resposta é simples: somos mulheres e justamente por sermos alternativas, questionamos a sociedade. Essas mulheres do passado, como muitas subculturas, usaram as roupas como protesto político e como representação de suas ideologias. Seus trajes contrastavam com os trajes que eram a moda mainstream da época. Seus comportamentos desafiavam a forma que era esperada que uma mulher agisse.
E outra coisa importante também é que as mulheres em algumas subculturas e até mesmo na cena alternativa sempre precisaram "provar" serem capaz de estarem lá e ainda hoje são objetificadas e menosprezadas. Então, achamos super justos mostrar que muito do que conquistamos hoje partiu de mulheres que, em suas épocas, ousaram romper padrões sociais, pensar diferente do sistema e ir à luta sofrendo as consequências. Por que não usá-las como inspiração de persistência para as nossas lutas atuais?? 


Mais sobre:
Aqui no Brasil, ano passado, uma participante do evento alternativo histórico Picnic Vitoriano São Paulo, foi vestida de sufragista.

E para ver como as mulheres não são incentivadas a terem carreiras políticas e como são representadas na mídia, recomendamos o documentário Miss Representation (Falta de Representação)

Para saber sobre as sufragistas no Brasil, recomendo [este artigo].

Filme a ser lançado:
Sufragette. Com Carey Mulligan, Meryl Streep e Helena Bonham Carter.




No filme Histeria, a personagem de Maggie Gyllenhaal é uma feminista, dá pra notar bastante o contraste do comportamento dela com as outras personagens femininas da trama. Naquela época, pensavam que o desejo sexual e o orgasmo feminino eram uma doença chamada histeria e o filme conta a história da invenção do vibrador que era o "remédio" pra essa doença.

Em 2014, o filme Mary Poppins fez 50 anos! E não é que a mãe das crianças era uma suffragette? 



Falando em Mary Poppins, Lady Gaga fez uma homenagem ao filme no Oscar e existe até uma paródia de Bad Romance em versão sufragista que é uma referência à Alice Paul [letra].




Post imenso, pesquisa intensa, espero que tenham gostado e que se inspirem! ;D


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Artigo do Moda de Subculturas. Para usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, linke o artigo do blog como respeito ao direito autoral do nosso trabalho. Tentamos trazer o máximo de informações inéditas em português para os leitores até a presente data da publicação. Fotos: Google, Pinterest. Todas as montagens de imagens foram feitas por nós

15 de junho de 2015

"Moda Alternativa" Feminina no século XIX

Pouco se fala, mas no século XIX houve uma espécie de “Moda Alternativa” usada por mulheres que rompiam padrões sociais. 
Decidi falar desse assunto aqui no blog porque ele tem muito a ver com post que publicarei logo a seguir, e é importante para que se entenda o contexto histórico da época. Tanto essas mulheres quanto a roupa que elas usavam foram precursoras do que viria a ser um novo comportamento feminino frente à sociedade no século XX.

Você com certeza já ouviu a frase "feministas são mulheres feias, lésbicas ou solteironas”. Ela tem sido usada há pelo menos 150 anos para “estereotipar” as mulheres que lutavam por seus direitos e que usavam roupas que fugiam do padrão social, ou seja, roupas alternativas à moda vigente na época. 
Já passou da hora de conhecer um pouco da história pra poder superar isso, certo?


Histórico
Durante alguns milênios, a participação da mulher na sociedade foi relegada ao princípio da procriação e de coadjuvante do homem. Por séculos não lhes era permitido sequer o aprendizado (nos faz também lembrar da luta da paquistanesa Malala para que mulheres também sejam alfabetizadas). A ideologia do século XIX, era altamente patriarcal e esta estipula identidades de gênero fixas, onde os trajes femininos e masculinos tendem a ser claramente diferenciados, e quem adotar em público a roupa do sexo oposto será considerado revoltante e repugnante. Só que com o advento da industrialização, resultado da Revolução Industrial, a mulher foi obrigada aos poucos a se lançar no mercado de trabalho...

As mulheres que no século XIX resolveram se lançar no mercado de trabalho eram de classe operária (pobres) ou mulheres (de qualquer classe social) que optaram por ficar solteiras - significando serem independentes de um homem pra pagar suas contas, o que na época era algo tão desafiador que elas eram relegadas à cidadãs de segunda classe (entendem porque "ficar pra titia" é um termo que sugere que ser solteira é algo negativo?).


Os Trajes
Por trabalharem, essas mulheres decidiram vestir calças, subvertendo a moda da época, que a gente sabe, eram roupas super volumosas, cheias de anáguas e corset. Roupas lindas, mas que limitavam os movimentos femininos e simbolizavam o ócio aristocrático, que era a atividade apropriada para as esposas e filhas da classe média e alta.


Comparação de trajes de meados do século XIX: 
à esquerda, o traje "alternativo" com calças e saia mais curta 
e à direita, o traje da Moda com saias longas e mais pesadas.


As calças também foram usadas como rebeldia (siiiim, mulheres rebeldes sempre estiveram por aí!). E como as questões de gênero eram muito definidas na época, e calças eram associadas à homens, essas mulheres, corajosas e pioneiras, foram assediadas socialmente, algumas vezes de forma violenta. E passaram a usar a peça somente nos ambientes domésticos, em círculos fechados ou na área rural. 

Uma mulher usa calças em casa, local que não seria hostilizada.
E uma jovem usa vestuário alternativo, com elementos da moda masculina
(paletó,colete, camisa, gravata, chapéu de palha).


Algumas eram feministas que exigiam uma participação maior das mulheres na sociedade. E daí vem a frase que citei acima: é claro que numa sociedade tão patriarcal como a do século XIX, mulheres de calças, só podiam ser "lésbicas, feias ou mal amadas! E querem roubar o lugar dos homens!".
Mas as mulheres que decidiam trabalhar, serem solteiras, usarem calças, não estavam querendo ser homens, queriam apenas uma opção de roupa mais leve e que as permitisse mais liberdade de movimentos.

Quer dizer... essas mulheres sugeriram opções alternativas, mas tinham sua estética ridicularizada até não poder mais. Em 1850, Amelia Bloomer apresentou um traje que consistia de uma saia curta sobre uma calça turca volumosa. Amelia e outras mulheres, usavam-no por ser confortável, prático e seguro - sem a intenção de lançar moda. Mas a peça chamava muita atenção, atraia multidões de homens agressivos e tamanho era o assédio, que elas precisaram parar de usar a roupa poucos meses depois pra evitar mais violência. 

Trajes com bloomers (calças bufantes)

Lá por 1880 apareceu uma turma da nova geração, uma espécie de "contracultura" (no sentido anacrônico da palavra) de artistas e escritores, que eram contra o que eles viam como a desumanização provocada pela era Industrial. Eles foram chamados de Pré Rafaelitas. Para eles, a rigidez das roupas e espartilhos vitorianos eram desinteressantes e artificiais.

Através do revivalismo romântico eles produziam arte de vanguarda. Desenhavam vestidos
inspiradas na Era Medieval que foram gradualmente adotados por suas esposas, filhas e pessoas ligadas ao círculo de amizade. A moda mainstream se opunha à esta moda alternativa e zombava dos pré-rafaelitas na mídia.
Eles acreditavam que a sociedade era obcecada por uma falsa aparência de respeitabilidade. Defendiam uma cultura que dependia de bens artesanais e roupas com base nos estilos do final da Idade Média, pois as roupas medievais eram simples, elegantes e bonitas. Muitos deles eram vegetarianos ou defensores dos direitos animais.



Comparação entre o traje mais leve da turma alternativa (pré rafaelitas) e o traje da Moda do período, mais rígido, austero e elaborado.

 
O vestido estético oferecia mais liberdade de movimento do que a moda em vigor na Inglaterra Vitoriana. Estas mulheres não usavam espartilhos e sim corpetes, vestidos fluidos, com pregas suaves. A cava das mangas era no lugar “normal” contrastando com o ombro caído da moda vitoriana que restringia os movimentos dos braços.


O vestuário alternativo dos pré-rafaelitas
tinha peças mais soltas e inspiradas na era medieval.

Oscar Wilde e
Charles Dodgson, também conhecido como Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, eram defensores e adeptos desta moda alternativa. O estilo de Wilde é amplamente reconhecido como  a moda masculina (alternativa) do movimento estético. Cabelos lânguidos, jaqueta e calções de veludo, chapéu de abas abertas, calças ao estilo turco, gravatas com o nó solto. Wilde era uma das figuras centrais do Movimento e foi muito ridicularizado, mas entendia sobre o poder de se comunicar através da aparência.

Oscar Wilde e Lewis Carroll, defensores de uma moda alternativa


Enquanto as mulheres de calça as usavam somente em casa e os Pré-Rafaelitas desfilavam nas ruas suas roupas de inspiração medieval causando rebuliço, em 1890 apareceu um esporte novo, chamado Ciclismo.
As mulheres da elite ficaram encantadas com as bicicletas! Caras demais para a classe baixa comprar... E a bicicleta exigia trajes mais soltos para poder pedalar. Assim, quando a classe média e alta passa a sentir a necessidade de "usar calças" e peças mais leves, acontece uma mudança definitiva sobre as roupas que as mulheres usavam. É inegável que era impossível andar de bike com os trajes vitorianos elegantes!


Elite vitoriana adota elementos da moda alternativa, calças
e roupas mais leves para poder pedalar

Com o tempo, o traje "alternativo" acabou sendo utilizado por uma parcela maior das mulheres, como as atrevidas gibson girls que foram as precursoras das pin-ups!

O ciclismo é um símbolo de empoderamento e emancipação que mudou em definitivo a forma como as roupas eram vistas, dando liberdade ao corpo feminino. E as roupas alternativas, tiveram sua parcela de responsabilidade ao colocar novos elementos na moda dominante.

Concluindo
Vale olhar com outros olhos para as frases machistas citadas, olhar as bicicletas com outros olhos... quem insiste em dizer que Moda Alternativa não tem importância social, que não muda o mundo, olhe os exemplos acima... Tanto o trabalho, quanto a educação passaram a dar às mulheres a necessidade de se sentirem mais representadas politicamente na sociedade. Leitura, estudo, trabalho, usar calças, saias curtas e biquínis, hoje coisas corriqueiras, vieram de longas batalhas femininas... Uma luta que se travou por quase um século, inclusive através de um movimento que será assunto do post a seguir. ;)


Para saber um pouquinho mais:
Vocês podem ler textos mais detalhados sobre esses assuntos no meu outro blog, o História da Moda:
- Moda Alternativa no Século XIX
- A Roupa Estética e da Reforma


Curiosidade: ainda hoje em alguns países árabes, mulheres são proibidas de pedalar. E aí, aproveito pra indicar pra vocês um filme que fala sobre isso: "O Sonho de Wadjda", sobre uma garotinha árabe que sonha ter uma bicicleta, ouve rock e usa all star e é meio fora do padrão. É o primeiro filme escrito e dirigido por uma mulher saudita e questiona de forma muito sutil a posição das mulheres na sociedade árabe.


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10 de junho de 2013

Corpos de Subversão: Mulheres Tatuadas da Era Vitoriana aos Dias de Hoje

O livro Bodies of Subversion - A Secret History of Women and Tattoos, publicado originalmente em 1997 teve agora reedição em versão ampliada. A autora é Margot Mifflin, uma professora de arte e cultura interessada na importância das tatuagens nas artes visuais. O livro é considerado a bíblia da história das tatuagens femininas e aborda o tema sob uma perspectiva feminista. Esta edição tem 100 fotografias inéditas a mais do que quando foi publicado pela primeira vez. A necessidade de atualização do livro surgiu porque na última década mais mulheres estão tatuadas, exercendo trabalho como tatuadoras e, pela primeira vez na história, há mais mulheres tatuadas nos EUA do que homens.

A maioria das pessoas pensa em tatuagens como um fenômeno moderno. Mas é uma subcultura que existe e tem uma história muito mais longa do que se imagina. Margot Mifflin aponta o início da tatuagem ocidental com a descoberta do Capitão Cook de nativos Maori tatuados na década de 1760. No início, as tatuagens eram "picadas com a mão" já que a agulha elétrica só foi inventada em 1891.

Você ficaria surpreso ao saber que as tatuagens eram consideradas uma tendência de moda dentre a classe alta da era vitoriana?

 
Os exploradores do século XIX, ao voltar para o Reino Unido cheios de contos sobre as estranhas e maravilhosas mulheres tatuadas que viam em suas viagens, fizeram com que rapidamente estas se tornarem uma tendência de moda entre as mulheres da classe alta da sociedade vitoriana. Posteriormente, a tendência chegou nos EUA. 
As mulheres tinham pernas ou braços tatuados com os nomes de seus maridos ou com desenhos decorativos que funcionavam como jóias. A tendência diminuiu por volta da virada do século, em parte porque as mulheres de circo começaram a aparecer na década de 1880, e a prática rapidamente tornou-se associada com as mulheres das classes mais baixas. Essa idéia de associar tatuagem com classes baixas permaneceu por um bom século, agravada por outros fatores. Algumas mulheres vitorianas foram tatuadas contra a sua vontade para virarem atrações circenses já ser uma atração "bizarra" gerava renda aos proprietários de circos.
"Mulheres da classe alta vitoriana estavam fazendo um gesto feminista. Elas estavam tomando o controle de seus corpos quando eles tinham pouco poder em outro lugar", explica Mifflin. 

Em 1892, o futuro rei George V da Inglaterra, teve uma Cruz de Jerusalém tatuada durante uma visita ao Oriente Médio e dita uma tendência nas cortes européias, tanto que em 1898, Edward VII também fez uma tatuagem assim como o rei Frederico IX da Dinamarca; o Rei da Romênia, o Kaiser Wilhelm II; o rei Alexandre da Iugoslávia e o czar Nicolau II da Rússia. E houve boatos de que a Rainha Victoria também tinha uma. Em 1900, a primeira exposição tatuagem é realizada em Londres, o que popularizou a idéia de tatuados virarem atrações circenses.

Na década de 1920, a popularidade das tatuagens diminuiu devido à Grande Depressão e da II Guerra Mundial. Em 1945, se você queria uma tatuagem, teria de se dirigir para a parte mais obscura da cidade, onde haviam bares e shows burlescos e chegar em uma pequena loja que oferecia poucas idéias em três ou quatro cores. A tatuagem só retorna nos corpos femininos em 1970, quando foram reivindicadas pelo movimento feminista nascente. Questões do direito ao aborto, contracepção e regulação do governo dos corpos das mulheres chamou a atenção para a questão de quem está controlando o corpo das mulheres e porquê. No livro, Mifflin aponta que a partir da década de 1980, com a popularização das cirurgias estéticas, as mulheres tomam mais consciência de seus corpos; revistas de tatuagem e convenções surgem e artistas na MTV diziam que ter tatuagens era algo legal. Assim, elas se popularizam até se tornarem parte da cultura dominante na década de 1990 como uma declaração "rebelde fashion".
Nos dias de hoje, você pode encontrar um famoso estúdio de tatuagem e tatuadores celebridades e marcar uma consulta, haverão equipamentos higienizados, poderá escolher entre dezenas de cores de tinta vegan-friendly e desembolsará alguns mil reais por uma peça personalizada de arte.
 
Algumas mulheres ilustradas (literalmente) no livro:
Olivia Oatman: no início do século XIX, Olivia Oatman teve sua familia morta por índios yavapis no oeste dos Estados Unidos. A tribo a raptou e fez nela a primeira tatuagem em uma mulher branca que se tem notícia. Aos 19 anos foi resgatada e virou celebridade local por sua tatuagem tribal no rosto. Embora tenha se casado com o pecuarista John B. Fairchild, ela nunca teve filhos e adotou uma filha, Marnie, em 1877. Depois que ela morreu com 65 anos em 1903, surgiram rumores de um casamento anterior com um chefe  Mojave, que ela teria tido dois filhos, mas isto nunca foi comprovado.


Nora Hildebrandt foi a primeira mulher a ser tatuada para ser uma atração de circo. Ela fez sua estréia em março de 1882. Nora foi tatuada por seu pai, o alemão Martin Hildebrandt, um dos primeiros homens ter uma loja de tatuagem nos Estados Unidos, mais especificamente em 1846. Ela era a tela de seu pai quando ele não estava tatuando marinheiros ou soldados da Guerra Civil. Estima-se que ela teria tido 365 tatuagens do pescoço aos aos pés. Ela viajou com o Barnum and Bailey Circus durante a década de 1890 e é considerada "a mãe de todas as mulheres tatuadas de circo".

 
Irene Woodward, também conhecida como La Belle Irene, começou a realizar performances como mulher tatuada na década de 1880. Fez sua estréia em grande estilo em Nova York, poucas semanas depois de Nora Hildebrandt. Trabalhou em museus e fez viagens por toda a Europa com grande sucesso. No palco, alegou ter sido tatuada por seu pai, mas na verdade foi tatuada por Samuel O'Reilly, então aprendiz de Charles Wagner. Irene passou 15 anos trabalhando em circo.


Maud Wagner, é considerada a primeira tatuadora americana. Teve encontros amorosos antes do casamento (com seu futuro marido Gus) em troca de aulas de tatuagens. Ela também era trapezista e contorcionista. Seu marido Gus, foi o primeiro a utilizar uma máquina de tatuagem elétrica. Sua filha Lovetta Wagner também tornou-se uma artista reconhecida, apesar de não ter tatuagens.

 
Mildred Hull, "A Rainha Bowery", nasceu em 1897. Era uma mulher tatuada e uma tatuadora. Mildred começou a sua carreira no circo como dançarina exótica e depois virou tatuadora sendo uma das primeiras a aprender tatuagem sem a ajuda de um namorado ou marido. Em 1939, ela tinha seu estúdio chamado Tattoo Emporium, que compartilhava com um barbeiro. Tatuou muitas mulheres ao longo de sua carreira.


Artoria Gibbons, cujo seu verdadeiro nome é Anna Mae Burlingston,  conheceu o tatuador Charles Gibbons, com quem se casou em 1912. Seu marido tatuou todo o seu corpo com motivos religiosos, já que Anna era devota da Igreja Episcopal. Junto com Charles, ela trabalhava como mulher tatuada na década de 1920 sob o nome artístico Artoria Gibbons. Entre suas tatuagens estavam a Anunciação de Sandro Botticelli e a Sagrada Família de Michelangelo. Artoria chegou a dizer que se tornou uma mulher tatuada devido à problemas econômicos já que o trabalho como mulher tatuada era uma boa maneira de sobreviver.

 
Lady Viola nasceu 27 de março de 1898, e seu nome verdadeiro era Ethel Martin Vangi. Foi tatuada em 1920 por Frank Graf e logo se tornou conhecida como "a mulher tatuada mais bonita do mundo". Ela trabalhou em museus e participou do circo Thomas Joyland até os 73 anos de idade.


La Bella Angora foi performer de um circo alemão do início do século XX, e alcançou grande fama. Também criou a história de palco de que suas tatuagens foram feitas quando ela foi sequestrada em terras distantes por selvagens.

 
Betty Broadbent teve  seu corpo tatuado por homens como Van Joe Hart, Charlie Wagner, Red Gibbons e Tony Rhineagear. Betty gostava de passar o dia na beira da praia e foi uma das circences mais fotografadas de sua época. Fez história ao aparecer no primeiro concurso televisivo de pessoas completamente tatuadas durante a Exposição Mundial de 1937. Ela disse que em sua pele havia mais de 350 tatuagens, incluindo várias celebridades de seu tempo, como a Rainha Victoria. Betty passou 40 anos viajando por toda a América do Norte, Austrália e Nova Zelândia além de ser tatuadora eventualmente. Em 1981 foi a primeira pessoa a entrar no Hall of Fame das tatuagens.


Elizabeth Weinzirl começou a se tatuar com  47 anos de idade na década de 1950,  porque segundo ela, seu marido queria ter uma mulher tatuada.



Cindy Ray: a primeira musa dos tatuados.


Outras imagens do livro:

 
 

A autora também fala da mãe de Winston Churchill (estadista britânico), Lady Randolph, que tinha uma cobra tatuada no punho. Sobre Janis Joplin, histórias curiosas: a tatuagem que tinha no peito, era um presente para os rapazes - a cereja no topo do bolo. Já a pulseira florentina que tinha no punho que virou símbolo do feminismo, foi feita para todos. O livro também fala das mulheres que usaram a tatuagem ao invés de próteses para esconder as marcas deixadas pelas mastectomias.

Sutiã tatuagem: a arte esconde marcas de mastectomia

Mufflin também discute sobre o fato de que muitas das publicação sobre o tema são escritas por homens. A autora discorre se as pin-ups tatuadas das capas destas revistas são boas ou más para o feminismo. Muitas mulheres tatuadas são retratadas por si mesmas ou pelos outros como objetos sexuais nas convenções de tatuagem.

As revistas de tatuagem ainda focam no público masculino, trazendo mulheres sensualizadas em suas capas:

Esta versão atualizada do livro tem uma seção sobre ​​celebridades como a tatuadora Kat Von D, a mais famosa tatuadora do mundo atualmente e assim como aborda o impacto de reality shows de tatuagens na cultura mainstream (aqui)..


As mulheres tatuadas de hoje ainda vivem à margem da sociedade se tatuadas em locais bem visíveis? Apesar de toda a popularização, se você faz uma escolha para ser tatuada num local visível, você corre o risco de ser  inelegível para certos tipos de trabalho. É interessante levantar o questionamento se tatuagens ainda são muito estigmatizadas na nossa sociedade. ;)



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