Destaques

20 de março de 2018

Punk e fetichismo inspiram nova coleção de marca alternativa (+ Cupom de Desconto)

Peças em vinil, xadrez, tule e transparência são muito associadas à subcultura Punk. Hoje todas estas estéticas já se tornaram clássicos que podem ser usados no dia a dia. Vem conhecer a nova coleção da loja Spookies que é inspirada em punk e fetichismo!


Mas antes anota aí o cupom de desconto que dá 10% de desconto nas compras da loja: SUBCULTURAS



A estética "punk bailarina" foi tema recente no blog, quando mostramos que as saias armadas são usadas há muitos anos no meio underground independente dos modismos do mainstream. Moda e ballet sempre possuíram forte ligação e foi com a chegada do punk na década de 1970, que houve uma significativa reinterpretação da peça. Jovens cansadas do conservadorismo e de seguir regras de vestimenta batem de frente com a visão castradora sobre o corpo e o comportamento da mulher, o uso da saia de tule como peça de roupa externa e diurna foi uma das escolhas de combate das punks da época.




DICA: Se você não curte saia de tule mas gosta do estilo retrô ou pin-up, experimente usar a peça como armação de saias e vestidos!

Talvez uma das mais conhecidas facetas da moda fetichista sejam as peças em vinil. É verdade que são peças marcantes e parecem não serem adequadas a certas situações devido a associação com a sensualidade. Mas a moda alternativa tem nos oferecido várias peças que quebram conceitos e fazem as peças fetichistas tenderem para um visual mais moderno do que sensual em si. Essa é uma das características das peças da coleção SENSUS da Spookies. Todos os modelos podem ser usados de dia e noite, o que vai complementar seu estilo serão os acessórios. As modelagens foram feitas pensando em valorizar o corpo e ao mesmo tempo deixar os movimentos livres, afinal não adianta ficar linda e se sentir desconfortável, certo?




Além dos já citados tule e vinil, o neoprene também foi o tecido escolhido para representar a coleção SENSUS. Todos são materiais fortes e marcantes visando simbolizar atitude e confiança. As criações autorais da Spookies passam por um processo de escolha e/ou desenvolvimento de estampas exclusivas, amostragem, confecção e produção em pequena escala. São poucas peças disponíveis de cada modelo, a loja apresenta peças em formato de semi exclusividade (os produtos que acabam não são repostos), quem gostou tem que comprar logo para não ficar sem!



Confere os detalhes da SENSUS na loja
e não esqueçam de usar o cupom de desconto! 





Esta é uma postagem publicitária. Significa que a loja apoia o trabalho do blog Moda de Subculturas contribuindo financeiramente para a manutenção e a criação de novas postagens. Patrocine uma postagem! E se você é fã do conteúdo pode doar qualquer valor clicando no ícone do PagSeguro na lateral direita do blog (versão web).





Acompanhe nossas mídias sociais: 

Instagram ☠ Facebook ☠ Twitter  Tumblr ☠ Pinterest  ☠ Google +  ☠ Bloglovin´


Pedimos que leiam e fiquem cientes dos direitos autorais abaixo:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas. 
É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer  nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.

27 de fevereiro de 2018

Estilo: Nancy Laura Spungen

Nancy Spungen é com certeza um dos nomes mais enigmáticos da cena Punk. Todos sabem quem é, mas pouco se sabe quem ela era de verdade. O que se sobressai sobre sua pessoa são só coisas ruins, tão ruins que a tornaram emblemáticas, a verdadeira personificação da bad girl, do "live fast die young", do "love kills". Ninguém pode negar que ela era uma força da natureza, não havia chuva e sim tempestade. Não era uma simples ventania, era um furacão!

sid-vicious-e-nancy-spungen-estampa-de-onça

Nancy foi uma garota interrompida pelos transtornos mentais, sua vida foi moldada pelas doenças psíquicas, já que segundo sua mãe, seu problema decorria do parto prematuro e ser diagnosticada com a síndrome do bebê azul. Deborah Spungen acredita que seus problemas neurológicos eram pelo fato de ter nascido cianótica, o que afetaria a personalidade de sua filha.

young-nancy-spungen

Nascida em 27 de Fevereiro de 1958, na Pensilvânia, Filadélfia, de uma família classe média judaica, Nancy sempre foi precoce. Aos dez anos era hippie, curtia Beatles e participava de passeatas contra a Guerra do Vietnã. Aos onze seus demônios começam a aflorar pela depressão extrema e as primeiras tentativas de suicídio seguido da expulsão na escola e o diagnóstico de esquizofrenia. O convívio com a família era insuportável, não conseguia controlar o impulso violento, batendo em seus irmãos menores Susan e David. Com dezessete morava em Nova Iorque, namorava músicos e às vezes trabalhava como stripper e na prostituição, sendo o dinheiro gasto curtindo rock e no vício em heroína. Legs McNeil, criador da revista Punk, revelaria que era uma ávida conhecedora de música: "Nancy teve uma dessas paixões pelo rock n' roll que muito poucas pessoas têm. Ela sabia tudo sobre cada álbum"

debbie-harry-e-nancy-spungen-anos-70
Acompanhada de Debbie Harry. 

O estilo da bad girl é uma marca registrada na moda das garotas punks. McNeil disse que Nancy fugia do padrão por não ser muito magra e que não tinha vergonha de assumir que trabalhava como prostituta. Suas roupas continham o visual de: estampa de onça, meia arrastão, jaqueta e minissaia, bota de cano curto e bico fino. Os acessórios eram referência: pulseiras tachadas, colar com pingente de arma, corrente com cadeado, cinto em forma de algema. Nancy trazia também elementos do fetiche, usou muito látex em seus looks.


nancy-spungen-por-steve-emberton-pulseira-de-tacha-colar-de-arma
nancy-spungen-estilo-moda-punk-cinto-de-algema-colar-de-cadeado
nancy-spungen-estilo-moda-punk-colar-corrente-com-cadeado

A maquiagem era superforte, sempre com batom vermelhão, bochechas marcadas de rosa, o olho delineado de preto com sombra prata e preta esfumada na pálpebra. As unhas eram compridas e ovais esmaltadas de vermelho. Era uma Vamp pré-oitentista. O cabelo cacheado loiro oxigenado com a raiz escura seria influência às futuras kinderwhores

nancy-spungen-maquiagem-vamp-lábios-vermelhos-olho-delineado-de-preto
nancy-spungen-estampa-de-onça-meia-arrastão-com-sandália

Frequentadora da cena Punk, chegaria a trabalhar na porta do CBGB, mas as pessoas só ficariam perto de Nancy para comprar droga. Não era alguém querida no meio, na verdade sua fama era péssima, sendo chamada de "Nauseating Nancy" e isso se perpetuaria em Londres, quando se muda na primavera de 1977, atrás dos The Heartbreakers Johnny Thunders e Jerry Nolan. Na cidade faz amizade com Linda Ashby e se hospeda em seu apartamento. Linda trabalhava como dominatrix, inclusive Nancy chegaria a ajudá-la nos atendimentos, e toda turma punk ia se divertir em sua casa depois das noitadas. Foi assim que acabou conhecendo Sid Vicious.

nancy-spungen-com linda-ashby
Nancy com Linda Ashby.

sid-vicious-e-nancy-spungen-e-lemmy-kilmister
Nancy e Sid com Lemmy Kilmister.

Linda Clark, Leee Black Childers, Nancy, Sid e Dee Dee Ramone.

Na verdade Nancy tentou primeiro ter relação com outros membros dos Sex Pistols, porém nenhum deles ia com sua cara, eles realmente a desprezavam, em documentários a retratavam com palavras de baixo calão. Sid acabou se apaixonando, era tímido e teria perdido sua virgindade com Nancy. O namoro duraria um pouco mais de um ano, só que com toda a intensidade da Era Punk. Eles brigavam de forma violenta em público, eram capas de tablóides, iam e voltavam em meio ao extremo consumo em drogas, alguns dizem que Nancy teria apresentado heroína ao Sid. Foi um relacionamento extremamente abusivo de ambos os lados e que acabou marcando a história do rock.

sid-vicious-e-nancy-spungen-entrevista
Uma garota de família tradicional judaica namorando um cara com suástica estampada na camiseta. Só mesmo no Punk!

sid-vicious-e-nancy-spungen-colar-de-arma
sid-vicious-e-nancy-spungen-estampa-de-onça-meia-arrastão-látex
sid-vicious-e-nancy-spungen-estilo-look-moda-androgenia

O relacionamento abusivo acabou sendo romantizado no Rock. Em cada cena que surgia, era esperado o novo "Sid e Nancy", como ocorreu com Kurt Cobain e Courtney Love nos anos 1990, a qual teve forte influência estética e comportamental. Nos últimos anos, apesar de não ter visto uma citação direta, as semelhanças entre Amy Winehouse e Blake Civil Fielder são bem destacadas. Não seria espantoso se ambos tivessem se inspirado no "love kills" do casal punk, ainda mais pela enorme fama que possuem na Inglaterra.

sid-vicious-e-nancy-spungen-courtney-love-e-kurt-cobain
sid-vicious-e-nancy-spungen-amy-winehouse-e-blake-fielder-civil

A parceria na campanha de maquiagem de Kat von D com Billie Armstrong mostra que até hoje o casal é referência de imagem.
sid-vicious-e-nancy-spungen-kat-von-d-billie-armstrong-green-day

Em 1978, quando os Sex Pistols terminam após o fracasso da turnê americana, mudam-se para o Hotel Chelsea em Nova Iorque. A relação continua tumultuada devido a falta de dinheiro e consequentemente sem verba para financiar a compra de drogas. Nancy vira empresária de Sid tentando alavancar sua carreira, mas ele não era grande músico e os dois estavam descontrolados pelo vício. Até que no dia 12 de Outubro, no quarto número 100, Nancy é encontrada morta com uma facada no abdômen tendo apenas 20 anos, mesma idade que sua mãe a teve. Vicious é preso acusado de seu assassinato e apesar de não lembrar do momento devido ao efeito das drogas, sempre negaria o feito. Em 2 de Fevereiro de 1979, é encontrado morto por overdose.

sid-e-nancy-filme-livro-deborah-spungen
Livro de Deborah Spungen que inspirou o filme Sid and Nancy.

sid-e-nancy-filme-courtney-love-gretchen-gary-oldman-chloe-webb
Courtney Love participou com a personagem Gretchen ao lado de Gary Oldman e Chloe Webb.

"Eu já tenho 80, sou uma mulher velha", uma vez disse à sua mãe. Ambas sabiam que Nancy não iria viver por muito tempo. Só que Deborah não imaginava que a filha seria assassinada, muito menos por Sid. Depois do ocorrido se tornaria uma ativista, apoiando famílias que tiveram parentes assassinados, criando a ONG "Families of Murder Victims" na Filadélfia. Em 1983, Deborah lança a biografia, "And I Don't Want to Live This Life", foi uma forma de desabafar e contar a verdadeira história de Nancy, depois do cruel processo que passou com a imprensa e todo o circo que armaram na época de seu luto. Três anos depois surge o filme "Sid and Nancy" baseado no livro de Deborah, mas sem autorização da mesma, que inclusive enfatizou não retratar a realidade entre mãe e filha. Nancy foi enterrada no cemitério judaico King David Memorial Park e entre as teorias de sua morte, a mais forte é que foi assassinada por um traficante. Esse ano completaria 60 anos, mas sendo 40 de seu falecimento.



E vocês? 
Alguma vez já se inspiraram no estilo da Nancy?




Acompanhe nossas mídias sociais: 
Instagram Facebook Twitter - Tumblr - Pinterest - Google +  Bloglovin´


Texto e seleção de imagens: Lauren Scheffel

Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o texto do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.

13 de fevereiro de 2018

Cabelo Cor de Fogo (Fire Hair, Red Flame Hair)

Parece que os cabelos cor de fogo viraram a moda capilar do momento, ao menos aqui no Brasil. Nos últimos meses diversas pessoas de diferentes segmentos apareceram com seus fios coloridos com tais tonalidades. Mas vocês sabem de onde surgiu essa combinação de amarelo e vermelho???

megan-massacre-cabelo-cor-de-fogo-amarelo-laranja

Dele mesmo, David BowieO músico adota o visual quando assume sua última persona, The Thin White Duke, em meados de 1974. Bowie surge com o cabelo descolorido em toda parte da frente, puxando o restante num tom avermelhado que depois desbotava para o laranja. Nos discos Young Americans, Station to Station e Low, o primeiro da trilogia de Berlim, pode ser visto a coloração. Nessa fase, passava por transições decisivas tanto na vida profissional quanto privada, entre elas o divórcio com Angela e a luta contra o vício em cocaína.

david-bowie-interview-fire-hair
Entrevista para Dick Cavett em 1974.

david-bowie-smoking-redhair-fire-hair
david-bowie-redhair-fire-hair
david-bowie-flame-hair-redhair-fire-hair-blue-shirt
Bowie por Steve Shapiro.

David-Bowie-cabelo-vermelho-e-amarelo-cor-de-fogo
Concerto em Londres, 1976.

David-Bowie-cabelo-vermelho-e-amarelo-cor-de-fogo
Discos: Young Americans, Station To Station e Low.

Em 1976 é lançado o filme "O Homem que caiu na Terra" (The Man Who Fell to Earth) baseado no livro homônimo de Walter Tevis, da qual o músico estreia como ator protagonizando um alienígena que faz fortuna para tentar salvar seu mundo, porém havendo imprevistos nos seus planos. Esse é um dos momentos mais icônicos quando se relembra o cabelo cor de fogo.



De lá para cá, a forma de pintar foi-se desenvolvendo em artistas de diferentes gerações, acompanhando a moda da época. Atualmente, encontra-se o tanto estilo original de Bowie, como outras versões, trocando a cor vermelha pelo laranja, fazendo a pintura em mechas e o mais recente "fire ombré hair", onde a raiz é pintada de vermelho, o comprimento de laranja e a ponta de amarelo.


cyndi-lauper-cabelo-vermelho-laranja-cor-de-fogo
Cyndi Lauper em 1985.

garotas-grunges-cabelo-vermelho-cor-de-fogo-miki-berenyi-jennifer-finch
Grunge Girls: Miki Berenyi e Jennifer Finch.

shirley-manson-cabelo-vermelho-laranja-cor-de-fogo
Shirley Manson em 1994.

spice-girl-geri-halliwell-cabelo-cor-vermelho-de-fogo
spice-girl-geri-halliwell-cabelo-cor-vermelho-de-fogo
Geri Halliwell nas Spice Girls com versão mechas, típico dos anos 90.

o-quinto-elemento-filme-milla-jojovich-cabelo-vermelho-laranja-cor-de-fogo-leloo
Milla Jojovich em O Quinto Elemento de 1997. No filme o laranja é usado no comprimento.

guinevere-van-seenus-vidal-sassoon-cabelo-vermelho-cor-de-fogo-propaganda
Propaganda Vidal Sassoon de 2001.

Hayley-Williams-cantora-cabelo-vermelho-laranja-cor-de-fogo
Hayley-Williams-cantora-cabelo-vermelho-laranja-cor-de-fogo
Nos anos 2000, Hayley Williams adotou os tons de fogo com força.

megan-massacre-cabelo-cor-de-fogo-amarelo-e-laranja
megan-massacre-cabelo-cor-de-fogo-amarelo-e-laranja
Essa também é a coloração favorita de Megan Massacre, que chegou a vir assim ao Brasil.

megan-massacre-cabelo-cor-de-fogo-amarelo-e-laranja
Lindo penteado retrô quando Megan posou para Pretty Attitude.

punk-moicano-cabelo-vermelho-laranja-amarelo-cor-de-fogo
Punk e sua versão moicano. Belíssimo!

brazilian-instagrammer-thais-maia-red-fire-hair
O lindo neon da brasileira @maia_thais_

cabelo-vermelho-cor-de-fogo-cantora-cody-frost-xotiinaxox
Corte skinhead de @codyfrostmusic@xotiinaxox.

cabelo-ombré-cor-vermelho-de-fogo-guy-tang-cabeleireiro
Fire Ombré Balayage Phoenix Hair do cabeleireiro Guy Tang.

Em 2016, data de falecimento do Bowie, pode ter ocorrido o contexto que ajudou a impulsionar a moda vigente. Na verdade, demorou para ganhar força esse retorno. O interessante é que uma coloração feita há mais de quarenta anos mostra o quanto estava a frente de seu tempo ao permanecer moderno ainda hoje. 

E aí, já sabe qual estilo vai adotar?



Autoria: Idealização, texto e curadoria de imagens: Lauren Scheffel


Acompanhe nossas mídias sociais: 
Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o texto do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.

31 de dezembro de 2017

A História de Bettie Page: A Rainha das Pin-ups

Ícone para várias subculturas, a modelo Bettie Page teve uma carreira curta, de apenas sete anos. Neste período se tornou a mais importante modelo pin-up da década de 1950 posando em fotos sensuais e de fetiche. Até hoje é difícil separar quem ela era da personagem que interpretava nas fotos. Sua vida pessoal foi cheia de tragédias, chegando a ser presa por esfaquear uma mulher. Fique agora com nosso artigo - e também uma homenagem - a uma das  pioneiras da revolução sexual feminina.

Em sete anos de carreira o visual de Bettie Page nunca mudou, 
isso deixou sua imagem atemporal.
bettie-page-pinup-queen

Bettie Mae Page nasceu em 22 de abril de 1923 em Nashville, Tennessee (EUA) em uma família de baixa renda que se alimentava somente de feijão, macarrão e batatas fritas. O pai abusava sexualmente das irmãs de Bettie, ela, se negando a ceder, o deixava acariciar suas pernas em troca de 10 cents. A mãe, analfabeta, fugiu com os filhos mandando as garotas para um orfanato. Lá, Bettie e sua irmã eram maltratadas, passavam o tempo sonhando com Hollywood e imitando as poses das atrizes. Logo Bettie se casaria com o namorado Billy Neale e em 1944 começa a fazer testes para o cinema. O casamento duraria pouco, após retornar da segunda guerra, com ciúme, Neale a ameaça com uma faca; ela decide se divorciar.


A jovem Bettie Page.
young-bettie-page-before-fame

Bettie era apaixonada por dança e ia aos bailes sozinha, este hábito permanece até mesmo quando se muda para Nova Iorque em 1947, onde passa a trabalhar como secretária e conhece o homem que ela chama de "amor de sua vida",  o peruano Carlos Garcia Arrese, exímio dançarino que a ensinou mambo, tcha tcha tcha e até samba! O romance acaba quando Page descobre que ele já era casado. A partir daí ela decide correr atrás de ser modelo, mas não era magra o suficiente para a agência Ford Models. Ao passear por Coney Island em outubro de 1950, é abordada pelo policial e fotógrafo amador Jerry Tibbs que a convida para modelar como pin-up. É ele quem sugere que ela corte uma franja pois sua testa seria "muito grande". E assim, aos 27 anos começa a carreira de modelo de Bettie. Para conseguir trabalho, ela alterava sua idade para 22 anos.


Num de seus primeiros trabalhos como modelo.
bettie-page-first-modelling-work


A franja curta historicamente sempre existiu, sendo inclusive moda na década de 1950 para adolescentes. Foi com Bettie que o penteado ganhou um status mais significativo culturalmente por ser uma franja "cheia" e curvada em direção à testa.
franja-bettie-page

Na década de 1950, existiam os Clubes de Fotografia, onde fotógrafos amadores e profissionais poderiam treinar técnicas em modelos que se ofereciam gratuitamente ou por um valor irrisório para posar. No Clube que Bettie posava, haviam 40 fotógrafos, além de outras quatro modelos.


photography-clubs-bettie-page-pinup-model

Mas Bettie se destaca pelo carisma e possuía pose, traje e expressão, fatores que definem ser uma pin-up. O que a tornou um destaque entre todas as outras modelos era a combinação de safadeza e boa moça. Bettie sempre sorri em todas as fotos e vídeos enquanto seu corpo sensualiza ou rebola incansavelmente.


Bettie sempre estava sorrindo, ela se tornou a rainha das Pin-ups.
bettie-page-smiling-photos

Embora no Brasil cabelos escuros sejam um padrão de beleza admirado pela cultura de massa, na América da década de 1950 era algo exótico.
bettie-page-hair-brushing

Inteligente, não fumava nem bebia e fazia suas próprias roupas de fotografia. Todas as lingeries e biquínis era ela mesma quem desenhava, adorava costurar! É por isso que vemos somente Bettie usando determinadas peças e não vemos outras mulheres da época, já que seus figurinos dizem respeito a si mesma e não à moda do período.

Bettie vestindo biquinis feitos por ela:
uma das primeiras mulheres a usar a peça.
bettie-page-on-the-beach-bikini
Bettie-Page-Pinup-Model-posing

À direita Bettie num maiô, traje de praia padrão habitual para as mulheres da década de 1950; à direita, numa de suas lingeries. 

Sendo uma das poucas a usar biquíni, a marca Charmands a chama para tirar fotos com seus biquínis, mas a empresa copiou todas as suas peças e as vendeu em um catálogo. Page nunca recebeu um centavo pelo roubo de suas criações.

bettie-page-charmands-catalogue

Sua fama como pin-up a fez modelar para as principais revistas sensuais e de fetiche da época: Beauty Parade, Wink, Titter, Flirt e até fotonovelas de Robert Harrisson. Fez fotos com outras pin-ups e dançarinas burlescas da época, como Tempest Storm.

Bettie com Tempest Storm no filme Teaserama

No entanto, era década de 1950, e a moralidade imperava. A sociedade da época vivia um medo da pornografia e da delinquência. Sexo era tabu, nudez era algo obsceno.Todas as revistas de nudez e fetichismo circulavam em segredo. Bettie percebeu a oportunidade de ganhar mais dinheiro quando passou a posar nua por até 20 minutos em sessões de fotos. Numa das vezes chegou a ser denunciada, indo parar na delegacia acusada de obscenidade e desordem. 


As medidas corporais de Bettie eram: 91 cm de busto, 60 de cintura e 94 de quadril. Ia a academia 3x por semana.
bettie-page-measurements-lingerie-posing

Em janeiro de 1955 esteve nas páginas da revista Playboy em uma de suas mais conhecidas fotos: ao lado de uma árvore de natal. O acontecimento levou Bettie aos olhos de um público maior e Hugh Hefner a intitulou a "The Miss Pin-Up Girl of the World". 
_


Foi através do editor Robert Harrisson que ela conheceu o fotógrafo Irving Klaw e se tornaria sua modelo mais famosa. Klaw tirou pelo menos 1500 fotos de Page e as vendia para soldados. Criava também filmes 16 mm sob temática fetichista onde Bettie ganhava cerca de $150 por filme. A irmã de Klaw, Paula, se torna amiga e admiradora de Bettie e dá à modelo um par de calçados altíssimos para ser usado exclusivamente por ela nas sessões de fotos. Através da dupla, Bettie se torna a rainha do Bondage, suas fotos e vídeos eram enviadas pelo correio aos interessados.


Com Irving e Paula Klaw.

Segundo Bettie, todas as fotos bondage que fez eram atuação, seguia as instruções de Irving e Paula para interpretar uma personagem. Nas fotos abaixo ela usa o sapato de saltos altíssimos que Paula dava à ela nas sessões fotográficas. As fotos S&M eram as mais vendidas de Klaw.
_

Em 1955, o FBI bate à porta e Klaw vai a julgamento por pornografia onde é sentenciado a destruir todas as suas fotografias, mas sua irmã esconde os negativos com as fotos de Bettie, ela já sabia que aquelas fotos seriam históricas. Assim salvou-se as fotos de não serem destruídas, no entanto, o acontecimento destrói a carreira de Klaw que opta por não mais trabalhar no segmento.

Uma pin-up foi muito importante na carreira de Bettie, a também fotógrafa Bunny Yeager, que fez fotos de Page em 1954 quando a modelo estava com 32 anos (e dizia ter 24). É dela boa parte dos ensaios externos mais famosos da carreira da modelo: em praias, parques e com animais. Yeager foi autora da foto com temática natalina que foi parar na Playboy de janeiro de 1955.

Com Bunny as fotos de fetichismo visando o público masculino ficam em segundo plano. Yeager faz as fotos de Bettie ganharem um ar mais sofisticado, exótico e numa variedade de temas.

Bettie Page com Bunny Yeager na famosa sessão de fotos.

A variedade e o exotismo entram em cena.

Yeager faz fotos sofisticadas de Bettie.


O começo do fim
Sem Irving Klaw, Bettie continua a trabalhar com os clubes de fotografia. Numa ocasião é embebedada e durante uma sessão de fotos nuas, é fotografada de pernas abertas. As fotos são vendidas. Arrasada, Bettie decide sair de Nova Iorque. Aos 34 anos passa a se achar velha para ser modelo. Desaparece e deixa tudo para trás.

O desaparecimento
Bettie optou por se esconder, não queria ser encontrada. A modelo sempre foi religiosa, mas não via a nudez como pecado. Em 1958 chora em frente à uma igreja acreditando que Deus a estava castigando, se compromete com a religião recebendo Jesus como seu salvador. Joga fora todas as suas meias, lingeries, biquínis e vai para a Faculdade Bíblica com o intuito de se tornar missionária. Em 1966 viaja para Miami e conhece Harry Lear, com quem viria se casar em 1967, é nesta época que o fanatismo religioso toma seu auge, já que passa a alegar ouvir vozes o tempo todo. Enlouquece ameaçando Lear e os filhos dele com uma faca caso parassem de olhar a imagem de Jesus pendurada na parede. Lear consegue escapar, chama a polícia e Bettie é internada na ala psiquiátrica do hospital Jackson Memorial onde fez tratamento de choque. Ao sair da instituição em 1978, num surto psicótico dá de 20 a 30 facadas na proprietária do apartamento que alugava. Alega insanidade, recebe pena de 10 anos na cadeia Estadual além de ter que ir três vezes por semana ao psiquiatra sob o diagnóstico de esquizofrênica paranoide.

bettie-page-police
Foto do fichamento de Bettie Page em 1972.

Após esse período, Page retorna à Los Angeles e passa a viver na pobreza com ajuda do seguro social do governo, pois nunca recebeu dinheiro pelos direitos de suas fotos.

Enquanto o mundo vivia a revolução sexual da década de 1960 com Hippies, minissaia, moda unissex, pílula anticoncepcional, Bettie Page, pioneira da liberdade sexual feminina estava escondida. É aí que começam os primeiros indícios que ela se tornaria um ícone cult. Como ninguém sabia de seu paradeiro, começou-se a espalhar a ideia de que a ex-modelo havia se suicidado.

Na década de 1970, a década da nudez, a pornografia deixa de ser crime, as leis são revisitadas, a década de 1950 passa a ser romantizada, filmes como "Grease" são lançados, surge uma nova onda Rockabilly e a geração jovem da época redescobre Bettie. A imagem de Page começa a surgir em diversos produtos de consumo.

Bettie era chamada de Dark Angel pelos fãs que julgavam ela ter se suicidado.
Na década de 1960 se tornou símbolo da liberdade sexual feminina.


Na década de 1980, a imagem de Page domina a cultura pop, ela influencia fortemente as garotas de diversas subculturas que redescobrem suas fotos e passam a imitar seu visual. Aumenta a presença de sua imagem em souvenirs e objetos de consumo.  


Olivia de Berardinis pinta quadros de Bettie para meninas que admiravam a modelo.


Após 30 anos sem ter sua imagem impressa, Dave Stevens publica a The Rocketeer Magazine. 

Nos anos 1980 e 90 a imagem de Bettie Page abre caminho para fotógrafos e estilistas de Moda influenciando nomes como Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler e artistas como Madonna, inspirada por Page no clipe da música "Human Nature".

Tudo começa a mudar em 1992 quando Steve Brewster cria um fã clube dela, o Bettie Scouts Club e decide por si mesmo encontrar Bettie viva ou morta. Passa a viajar pela América procurando-a e coloca anúncios em diversas publicações até descobrir o seu irmão, que faz a intermediação de uma carta que Brewster escreve para ela em abril de 1992. A resposta vem em dezembro do mesmo ano. Bettie estava viva!


bettie-page-red-clothes-holding-a-cat

Finalmente encontrada, estava lisonjeada por ter um fã clube, mas prefere se manter fora dos holofotes. Dave Stevens é quem passa a ajudá-la neste momento, quando leva-a a uma loja onde haviam diversos produtos sobre ela. Espantada, se impressiona pelas pessoas admirarem seus trabalhos tanto tempo depois. Stevens a coloca em contato com Hugh Refner que faz uma festa privada em sua homenagem na mansão Playboy, o que rendeu uma das raras fotos da ex-modelo já idosa.


Bettie Page, à direita, em festa em sua homenagem na mansão Playboy.

Com Anna Nicole Smith e Pamela Anderson na festa de 50 anos da Playboy em 2003.

Hugh Hefner, que fez seus milhões em cima da objetificação do corpo feminino*, oferece a ela um agente para cuidar dos direitos autorais**, para que a partir de então Page receba dinheiro do uso de sua imagem. A partir daí, cada produto com a imagem de Page precisa ser autorizado por ela mesma. Em 1996, é lançada sua única biografia autorizada. Finalmente a ex-modelo passa a ganhar dinheiro devidamente.

Desde que foi encontrada Bettie se negou a ser fotografada e filmada, ela morava na periferia de Los Angeles. Nas palavras dela: "preferia estar escondida."
bettie-page-red-peignoir

Bettie falece em 11 de dezembro de 2008 aos 85 anos após um ataque cardíaco que havia a deixado em coma. Um fato curioso é ela ter falecido no mesmo ano em que Maila Nurmi e no mesmo dia do aniversário da intérprete de Vampira. Fica aquela questão: elas foram contemporâneas, será que conheceram o trabalho uma da outra? A curiosa ligação de vida e morte não é só o que as une já que ambas tiveram um vida difícil e foram resgatadas por subculturas.


Na cultura pop: Madonna, Beyonce, Christina Aguilera e Katy Perry foram algumas das que se inspiraram no visual da pin-up.


Dita von Teese revelou: Eu a admiro e a estudei muito de perto. Quando comecei em 1990 queria ser sósia de Bettie Page. Queria ser uma fetish star famosa como ela. Não era o cabelo preto e a franja que a faziam memorável, pra mim era o senso de humor brincalhão, era o jeito aventureiro.



Bernie Dexter é uma pioneira modelo pin-up da contemporaneidade. Se tornou conhecida na década de 2000 por sua semelhança com Page.
À direita, caminha ao lado de Tempest Storm no funeral de Bettie.




Bettie é amada e serve de inspiração para muitas de nós brasileiras, especialmente no estilo de cabelo e também por ser a primeira referência visual para ensaios fetichistas.  

Rosana (Bettie From Hell) tem fisionomia que lembra a Bettie Page, Sarah Amethyst e Larissa (Murder Queen) em ensaios fetichistas.


Desde os anos 1990 até hoje, Bettie Page cresceu sua influência na cultura pop, com inúmeros exemplos de artistas e modelos se inspirando em sua imagem. Sem contar sua importância em diversas subculturas como a gótica, punk, rockabilly e pin-up. Sua figura ganhou novo fôlego na última década com a popularização da internet. Mas a relação de Bettie e as subculturas é um assunto tão vasto que prefiro abordar em detalhes num futuro post. A imagem de mulher livre em plena década de 1950, revolucionária a seu modo, se tornou e permanece icônica para várias gerações.


"Quero que as pessoas se lembrem de mim como eu era nas fotos".
Com certeza é assim que Bettie Page repousa em nossa memória. 


bettie-page-glamour-pin-up


Texto escrito por Sana Skull, proibida a utilização de trechos sem autorização prévia da autora, cite o link em caso de referência.

*Há controvérsias se Hugh Hefner a ajudou ou a explorou.
** Direitos de Imagem

Fonte: entrevistas documentadas em primeira pessoa com Bettie Page. 
Autoria: Idealização, texto e seleção de imagens de Sana Skull.


Acompanhe nossas mídias sociais: 


Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o texto do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
Clique aqui e leia o tópico "Sobre o Conteúdo" nos Termos de Uso do blog para ficar ciente do uso correto deste site. 

© .Moda de Subculturas - Moda e Cultura Alternativa. – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in