Destaques

19 de maio de 2018

Trabalho e estilo alternativo: quando é opção própria e quando é imposição?

Um tempo atrás divulgamos nas redes sociais duas postagens antigas: "Sobre Esquadrão da Moda, Mude Meu Look e ser socialmente aceito" e "Leitores revelam qual profissão "escondem" por baixo de elaborados looks alternativos" mas só depois percebemos que, publicadas em sequência, aquelas postagens podem ter deixado confusas as cabeças de alguns leitores, talvez tenham soado contraditórias?



Afinal, qual é a diferença principal
entre os dois casos? 






A postagem "Sobre Esquadrão da Moda, Mude Meu Look e ser socialmente aceito", é uma das nossas recordistas de visualização, impressionante como o tema tem relevância! Como citado em alguns pontos do texto, a principal marca destes programas era:

- tirar da pessoa alternativa suas características alternativas pois aquilo era "inadequado";
- quem queria que as pessoas alternativas mudassem eram os amigos, pais, parentes, maridos e não a participante em si;
- a justificativa era que a pessoa não atraía "bons partidos". Muitas vezes a participante tinha ótimo emprego, mas seus colegas julgavam muito a sua aparência;
- o assédio emocional era muito forte, tanto dos parentes e amigos quanto dos apresentadores que usavam os traumas e fraquezas das alternativas para justificar seus atos. Fragilizadas e se sentindo culpadas, estas mulheres concordavam com a mudança;
- no início do programa, na apresentação das mulheres alternativas, elas se revelavam autênticas e felizes com seus estilos, se expressando exatamente como queriam.

Desta forma, o passo para a mudança não partia das alternativas, mas de outras pessoas que não gostavam que elas não se encaixassem nos padrões sociais pré-estabelecidos. O objetivo era retirar das participantes alternativas todos os seus traços de "desvio" de estilo e de comportamento tornando-as "novas" pessoas: pessoas padrão.





Já a postagem "Leitores revelam qual profissão "escondem" por baixo de elaborados looks alternativos" é o oposto.

Parte de um pressuposto histórico de que pessoas alternativas sempre trabalharam, muitas vindo da classe operária, assalariados e outras trabalhando por prazer ou por opção. Sendo comum que precisassem adaptar seus estilos ao trabalho. E aí que vem a diferença: não abandonar seu estilo de vida!

Diferente da postagem "Esquadrão da Moda/Mude Meu Look", no "Leitores Revelam...", a mudança parte do próprio alternativo, pelos mais diversos motivos: sobrevivência, independência financeira, paixão por uma profissão, realização pessoal... ninguém os obrigou a mudar de estilo, eles mantem seus visuais alternativos na vida privada. 

Lembro-me que na época de publicação do post "Esquadrão da Moda/Mude Meu Look", muitas pessoas comentaram que não era preciso mudar o look e o estilo de vida da participante, bastava adaptar o estilo alternativo ao mercado de trabalho. E eles estavam certos: um bom personal stylist não muda a personalidade de seu cliente, mas direciona, informa, adapta.

Os alternativos que participaram da postagem "Leitores Revelam..." fizeram a escolha de se adaptar por considerarem a melhor forma de se manter fiel a seus estilos ao serem inseridos no mercado de trabalho. E não são menos alternativos por isso, todos sabemos da necessidade de pagar contas, de sobreviver, sabemos como o mercado funciona, como o preconceito existe e como muitos padrões precisariam ser quebrados. 

Se estas pessoas "enganam" o sistema moldando-se por vontade própria, eles estão fazendo escolhas - ao contrario das participantes do "Esquadrão da Moda/Mude Meu Look" que não escolheram por vontade própria a mudança

E no sistema atual, a melhor forma de você se manter alternativo o resto da vida sem depender nada de ninguém é tendo independência financeira. Trabalhar e manter-se alternativo dá sim. Errado são os que pensam que precisam "consertar" quem é diferente. ;)



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Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. 
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6 de maio de 2018

Resenha: Gothic Station #3 - como se informar sobre moda e cultura gótica no Brasil

Primeiro, muito obrigada a todos que participaram do financiamento da revista Gothic Station, edição número 3. Dessa vez eu, Lauren, irei fazer a resenha da edição que trouxe na capa a Sana Skull, criadora do blog. A essa altura já devem ter recebido suas recompensas que chegaram um pouco atrasadas devido a imprevistos. No fim deu tudo certo e agora você tem uma edição histórica em suas mãos - sim! - pela primeira vez uma revista nacional trás uma matéria com abordagem profunda da relação entre Moda e Subculturas!


Como muitos já sabem, mas é sempre bom reiterar, esse é um projeto independente, realizado por pessoas do meio alternativo e que possuem o comprometimento de trazer um conteúdo mais profundo e diversificado sobre o tema. Nessa última, o foco foi Moda, Arte e Cultura. Assim que abrem a publicação vão encontrar uma matéria de comportamento, onde o foco é a diversidade de estilos. São depoimentos de góticos de diferentes Estados, ocupações, oferecendo uma visão bem interessante, onde ao mesmo tempo que descobrimos suas particularidades também há muitos pontos em comum. Daria a dica de acompanharem as redes do Henrique Kipper, no futuro seu estilo de vida pode fazer parte dos artigos.


Em seguida a entrevista com Chris Pohl da Blutengel e na sequência texto da Sana sobre os Blitz Kids, quem ler vai entender a ligação deles com o visual gótico. E mais: como essa influência também chegou no Brasil, com depoimentos dos artistas Alisson Gothz e da nova geração, Ivana Wonder. Essa é uma matéria que deixa bem desenhada - e costurada! - àqueles que dentro de uma subcultura tentam diminuir a importância da moda e estética perante a música. Os Blitz Kids são uma prova de que uma subcultura pode ser iniciada através da 'linha e costura' e não necessariamente da música, e que pode ter o mesmo efeito transformador e transgressor!



Não é exagero dizer que quem tem a revista tem uma preciosidade nas mãos, as fotos que ilustram a matéria são icônicas, registros de fotógrafos que participaram da cena e pela primeira vez estão sendo publicadas no Brasil oficialmente num veículo impresso alternativo. Isso é um momento histórico na cena alternativa nacional. Até então estas fotografias só haviam sido publicadas em livros estrangeiros e revistas mainstream. Sana e Kipper fazem um esforço tremendo para que vocês tenham sempre o melhor material possível.



Um adendo: No texto Blitz Kids quando Sana comenta da coleção "Neon Gothic" de Steve Linard, na revisão foi mudada para "Neo Gothic", fato que só viu quando a revista já estava impressa. O nome da coleção de Stephen Linard era "Neon Gothic", uma brincadeira com a sonoridade de "Neo Gothic". A editora do MdS pede desculpas pela alteração.

Nessa bomba já vem a entrevista da Sana com oito páginas. Foi uma grande oportunidade e espaço dado na abordagem sobre o estudo de moda e subculturas, numa entrevista maravilhosa onde Sana pode expôr e esclarecer bastante dúvidas dessa área. Quem dera pudesse ter lido essa entrevista na faculdade, não teria perdido tanto tempo, não me sentiria tão perdida e frustrada.

Como surgiu o blog e o porquê do nome; o que são subculturas e moda alternativa; qual a importância da estética das subculturas para a formação da individualidade; por que várias pessoas não se interessam em ser parte de grupos alternativos; a moda e a subcultura gótica; o visual alternativo hoje... tudo isso são temas dissecados na entrevista.

Letras sem foco propositalmente. Fotos: Chronos Imagens

A moda no Brasil ainda não dá valor ao estudo de culturas alternativas e algumas destas também não entendem o valor da moda e suas engrenagens. Haja visto que em pleno 2018, recebemos mensagens de estudantes pedindo ajuda com trabalhos e relatando a dificuldade de impôr seus temas. Tentamos ao máximo elucidar as questões, oferecer ideias e abordagens, tudo isso porque sabemos o que é quebrar a cabeça com informação escassa ou inacessível. Portanto a troca de conteúdo torna-se de uma importância absurda, perguntar nessas horas não é ser folgada (como já nos disseram por aí!), é a busca pelo conhecimento e a troca por outros, já que todos nós possuímos alguma informação da qual o outro não deve saber.


Sobre como surgiu o convite da entrevista, Sana me contou:


"Recebi um convite de Henrique Kipper para ser entrevistada e ser a capa da edição #3. Fiquei muitíssimo surpresa pois nestes quase 10 anos de blog e de influência do mesmo na formação das mentes e no cenário da moda alternativa, poucos foram os que me convidaram para algum projeto. Não tenho um perfil badalado na web, não exponho tudo que faço e pensei que estar numa capa de revista fosse um sonho muito distante. É muito gratificante quando alguém reconhece a importância de meu trabalho, que entende que o que eu faço não é para favorecer a mim mesma e sim informar o maior número de pessoas. Num país em que praticamente não há informação sobre história da moda alternativa, meu ideal com o blog não é individual, é coletivo! Pessoas informadas mudam suas vidas e podem mudar o mundo. O convite de Kipper fez valer a pena tudo que fiz até então no blog, todas as horas que dediquei não a mim, mas aos outros, aos leitores, à informação. Sei que alguns podem não ter curtido a escolha de capa, mas lembrei-me que quando o blog surgiu incomodou algumas pessoas. E se este espaço ainda incomoda, é porque tem relevância, não estou fazendo o óbvio, não estou seguindo regras impostas por alguém e é isso mesmo que continuarei fazendo: quebrando conceitos que pareciam estabelecidos, estudando, pesquisando a moda alternativa  e toda a sua importância cultural! Já são quase 10 anos fazendo esse trabalho, as gerações de leitores mudam e o blog continua. Só tenho a agradecer a todos os leitores que fizeram o blog ser o que é hoje, e ao Kipper que sempre manteve seu apoio ao MDS."


Quer saber como comprar a revista? Clica aqui!


No restante da publicação, ainda tem uma entrevista com Franck Lopes da Opera Multi Steel, uma belíssima reportagem sobre o Butoh, a Dança das Trevas onde conta a história de sua criação no Japão até a chegada no Brasil. Fiquei pensando em como seria lindo uma apresentação do João Butoh no festival "Yes, Nós Temos Burlesco" que se realiza anualmente no Rio de Janeiro. Penso que o público iria amar e prestigiar a interação dessas artes!



Para terminar, as colunas de cinema abordando três leituras de Nosferatu, uma entrevista com a banda brasileira The Knutz e por fim literatura gótica, dessa vez com ênfase Dr. Frankenstein e o vampiro moderno.




Realmente tem sido uma jornada e tanta pela valorização desse tema no Brasil, queria deixar bem claro o quanto essa edição é importante para gente, pois dificilmente encontrará um artigo sobre moda e subcultura com um conteúdo leal a sua história numa revista mainstream, mesmo com os muitos alternativos que trabalham na área, o que é uma pena. 



Ainda tem como adquirir a Revista, é só acessar a loja. Agradecemos também a Nayara Soares da Eccentric Beauty e Thexuga do Calabouço da Thexuga por fazerem resenhas em seus canais do youtube. 
Até a próxima edição!


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1 de abril de 2018

Punk, Gótica, Pin-up, Fetichista: conheça os calçados das subculturas

Cada subcultura e estilo alternativo tem seus calçados característicos. Você já reparou como a coleção de calçados da loja Reversa abrange o estilo de várias culturas juvenis? Andei reparando nisso e resolvi fazer esta postagem relacionando os modelos de calçados das subculturas com as peças da loja.

Mas antes anota aí nosso cupom de desconto na loja!
MODASUB5


Fetichista: este sapato é para as fetish girls 
e pras praticantes de pole dance.


Hard Rock oitentista


PUNK!


Gótica anos 2000


Gótica moderna


Mod Girls (anos 1960)


Retrô


Pin-up!


Teddy Girl


Grunge


Kinderwhore


Headbanger 


Skatista


Skinhead (adorei ver um sapatinho skin na Reversa!)



E você, tem algum calçado da marca que você logo associa com alguma subcultura? Conta pra gente! Espero que tenham curtido essa seleçãozinha e não deixem de comentar dizendo se vocês tem algum deles! 

Se você pensa em comprar algo na loja Reversa não esquece de usar nosso cupom MODASUB5.


No dia 02/04, acompanhe nos stories do nosso Instagram a resenha que fiz da sandália boneca T Spikes verniz!



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25 de março de 2018

Roller Derby: conheça o esporte que atrai garotas alternativas!

O Roller Derby ficou conhecido por ser um esporte onde não há limitação estética e corporal para sua prática, chamando a atenção pela quantidade de jogadoras alternativas que participam da modalidade. Haveria algum motivo específico para essa forte ligação entre o esporte e a cultura alternativa? É isso que vamos mostrar nesta matéria.

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ReAnimate-Her

Um pouco da história

Roller Derby é um esporte de contato completo oficializado em 14 de Julho de 1935, na cidade de Chicago. Após ler uma matéria na revista Literary Digest informando que 97% dos americanos já haviam patinado, o empresário Leo Seltzer começa a desenvolver uma nova forma de entretenimento. Oriundo do ramo do cinema, Seltzer produzia eventos de walkathons (maratonas de dança) que faziam muito sucesso no início do século 20, crescendo principalmente depois da Grande Depressão. Tentando unir sua experiência a uma nova atração para o público, no dia 13 de Agosto de 1935 é inaugurado o The Transcontinental Roller Derby, a primeira maratona de roller skating, a qual atraiu cerca de vinte mil espectadores para o Chicago Coliseum.


Desde o início, as equipes eram compostas por ambos os sexos. "Naqueles dias as mulheres não podiam fazer nada", diria Ann Calvello. Estranhamente, o meio esportivo sempre deslegitimou a prática como esporte. Mesmo assim, Seltzer persistiu criando e desenvolvendo a Associação Transcontinental de Roller Derby com cerca de três mil membros. O banked track, que é a famosa pista inclinada oferecendo maior velocidade aos atletas, seria ideia sua. O contato era ilegal até 1937, quando propôs aos árbitros a pararem de penalizar os empurrões e batidas para ver o que ocorria. Os nomes diferentes e apelidos das Ligas e atletas também já vinham dessa época. Seltzer ia adaptando o esporte com intenção de torná-lo grande no país e aos poucos ia conseguindo.

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Jogue Junto, Esteja Junto.
Um dado interessante é que durante a tensão racial da década de 1960, 
os times eram formados por brancos e negros, tanto homens quanto mulheres. Todos juntos.


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Alguns nomes do Roller Derby Hall of Fame.


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Houve altos e baixos, como o desastre que quase matou todos os atletas em 1937, e depois com a Segunda Guerra onde muitos homens se alistaram. No retorno em 1948, seria dado um grande passo com a estreia na televisão em Nova Iorque. Seltzer ia ampliando cada vez mais e cria o National Roller Derby League. Em 1953, muda-se para Los Angeles onde cria a primeira equipe internacional que chega ir à Europa, o LA Braves.

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Filme The Fireball de 1950.

Em 1958, Jerry Seltzer, filho de Leo, passa a gerir o negócio levando a organização para o Sul da Califórnia. Ajuda a mudar regras, como obrigar os patinadores a usarem capacetes. A década de 1960 é um período onde o esporte ganha bastante popularidade de público e imprensa mainstream. É criado em 1961, o Roller Games, uma versão teatral que rivalizava com o Derby dos Seltzer, mas nada que tirasse o brilho dos Bay Bombers, a equipe mais lendária da história do esporte, atingindo seu ápice entre 1969 e 1971. Em 1973, Jerry fecha o negócio da família por problemas de despesas e a falta de gás com a crise do petróleo, ocasionando uma queda no Roller Derby original. Nos anos seguintes houve diversas tentativas para ressurgir o esporte, porém nenhuma bem sucedida.

San Francisco Bay Bombers foi uma equipe histórica e que possuiu as mais lendárias estrelas: Charlie O'Connell, Joanie Weston e Ann Calvello.
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Roller Queens: Ann Calvello e Joan Weston em pleno combate!

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Weston em ação.

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Barbara Mateer.

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Os cabelos coloridos de Ann Calvello.

O filme Kansas City Bomber de 1972. A personagem de Raquel Welch
 seria baseada na história de Joanie Weston, a Golden Girl.


O Roller Derby Moderno

Em 2001, o músico Daniel Eduardo Policarpo (aka Devil Dan) se muda para Austin, Texas, com a vontade de remontar o Roller Derby. Dessa vez, queria nas equipes só mulheres e que estivessem dentro do perfil "tatuagens, coragem e cortes de cabelos a la Bettie Page". Como era novo na cidade e não conhecia ninguém, a estratégia foi caminhar pelas ruas de bares de rock abordando as frequentadoras com seus flyers e a ideia de iniciar o esporte. A primeira reunião ocorre no Casino El Camino, com Heather Burdick, April Hermann, Anya Jack e Nancy Haggerty, as futuras líderes de equipes. O encontro rende e acabam conseguindo vinte garotas e assim criando quatro times: Hell Cats, Rhinestone Cowgirls, Putas Del Fuego e Holy Rollers.

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Hell on Wheels.

Logo os problemas começam a surgir. Cansadas da falta de comprometimento de Daniel e já que estavam cuidando de todo o processo enquanto ele levava uma vida de junkie sem dar conta de nada, dispensam o músico e assumem por completo o projeto. Para colocar a ideia em prática e ser a mais democrática possível, formam o conselho Bad Girl, Good Woman Productions, onde num sorteio Anya assume como SheEOs (uma versão girl power de "CEO"), Nancy como Presidente, April no lugar do Vice-Presidente e Heather sendo a secretária. O grupo começa do zero organizando toda a estrutura, desde a parte financeira até o recrutamento e ensino de futuras jogadoras, criando a primeira Liga totalmente DIY de Roller Derby.

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Nancy Haggerty, Anya Jack, April Hermann e Heather Burdick.
Photo: Bob Sherman Art.

Não é um projeto fácil e as ambições são enormes sobre o esporte. O crescimento vem aos poucos e em 2002, a Bad Girl Good Woman Productions se divide em dois times: Texas Rollergirls e TXRD Lonestar Rollergirls. Com o tempo conseguem sair do Estado influenciando a criação de novas Ligas pelo país. O documentário Hell on Wheels mostra toda essa saga inicial até o reconhecimento. Há muitas perdas, desistências, mudanças repentinas a serem superadas. Mas a cena pioneira rendeu frutos, sendo usada como referência de método de jogo e estrutura de negócio até hoje. A segunda Liga criada foi Arizona Roller Derby, fundada em 2003, por Denise Grimes (aka Ivanna S. Pankin) da cena punk de Phoenix. Dali em diante o Roller Derby se tornaria fenômeno se espalhando pelos Estados Unidos e depois o mundo.


Curiosidades

- Roller Derby é um esporte de alto impacto, extremamente físico e competitivo. Em todas as reportagens as atletas dão ênfase aos machucados que possuem, muitas tiveram seus primeiros ossos quebrados em treinos ou jogos. Uma das vantagens da prática é a produção de estamina no corpo, substância que combate o estresse causado pelas frustrações do dia a dia. Muitas jogadoras relatam sobre como se encontraram no esporte, sentindo pela primeira vez vontade de praticar exercício e assim saindo da vida sedentária. Inclusive para algumas, foi um escape na recuperação do vício em drogas e na melhora de transtornos mentais.

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- No documentário 'Hell on Wheels', num encontro de recrutamento a técnica deixa bem claro que para ser uma roller precisa ser uma atleta. "As pessoas dizem que irão patinar, irão ter apelidos...não! Você irá se exercitar, você irá trabalhar duro, você será uma atleta!", enfatiza Laurie Bourke. 


- A primeira Liga fora dos Estados Unidos foi a London RollerGirls, formada em 2006, também pioneira no Reino Unido e na Europa. Particularmente a minha preferida, pois foi numa entrevista concedida à Didi Wagner no programa Lugar Incomum que conheci o esporte. O visual do grupo é incrível, acredito que tenham ajudado a solidificar ainda mais a ligação entre a prática de roller com a cena Punk. Antes do time entrar em campo gritam bem alto: "Anarchy in the UK!"

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Logo da London RollerGirls remete ao Anarchy in the UK dos Sex Pistols.

Primeiro time em Beirut, Líbano. Formado por garotas 
de diversos países: Iêmen, Egito, Barein e Tunísia.


- Em 2005, é criada a federação do esporte, a Women's Flat Track Derby Association (WFTDA);

Gothan Girls Roller Derby de Nova Iorque, é a Liga que mais venceu e conta entre suas atletas a brasileira Fernanda Corrêa;

- O primeiro Roller Derby World Cup ocorreu em Toronto, no Canadá, em 2011.

- Por que é comum mulheres e garotas alternativas se sentirem atraídas pelo roller derby? Isso se dá pela cultura punk que foi inserida no esporte em grande parte com o lema faça-você-mesma, esse espírito de fazer e acontecer apenas com a vontade e o comprometimento das pessoas. Além disso, o derby moderno foi iniciado com mulheres que frequentavam bares de rock, dando abertura na estética das atletas que possuíam tatuagens e cabelos coloridos. 

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Maquiagem do Kiss (não identificada e ReAnimate-Her).
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Franja Pin Up: usada pela jogadora Barbara Mateer,
hoje vemos o mesmo corte na nova geração (MothMouth e não identificada).

Anúncio da London RollerGirls: "Qualquer senhora que dê 'chute na bunda' e tenha entusiasmado senso de humor, espírito competitivo e não tenha medo de cair (e muito!) deve nos procurar! Viemos de todas as formas e tamanhos, de locais diferentes, tatuadas ou não, mais velhas ou mais novas (18 para patinar, qualquer outra idade para nos animar!). O que você está esperando?".

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- Repare que as logos dos times e os panfletos de eventos constantemente trazem ilustrações de garotas alternativas ou Pin-Ups e referências ao rock. As jogadoras adotam pseudônimos criativos que revelam sua personalidade ou estilo de jogo, sendo uma oportunidade de colocarem em prática seu perfil alternativo e marcando a individualidade dentro de um esporte coletivo.

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Flyers dos eventos.



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Logos.

- Estética: short, saias, tutus, meia-arrastão, meia 3\4, asas. No dia a dia de treinos as atletas usam roupas confortáveis, apropriadas para exercício físico e acompanhadas de proteções para o patins quad, como capacete, joelheira e cotoveleira. Nas competições, dependendo da Liga e do evento, algumas elaboram o visual por puro entretenimento. Essa era uma das ideias na criação do roller derby moderno, um misto de esporte e espetáculo teatral para entreter e chamar público, já que não tinham patrocínio e precisavam angariar dinheiro para financiar o projeto independente. Hoje isso não é regra.



Com o tempo foram surgindo marcas especializadas, 
é o caso da americana Derby Kiss criada pelo casal Emily e Dan.
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- Feminismo: um dos assuntos que mais puxam o tema em matérias nas grandes mídias. De fato há fortes ligações: a versão moderna foi construída do zero por e para mulheres, tanto que hoje dominam a modalidade. Um fator importante é que o esporte não discrimina a idade e o corpo da atleta, qualquer uma pode praticar, basta ter comprometimento. A forma agressiva de jogar dá liberdade de fazerem movimentos e terem uma estética consideradas 'não femininas' na sociedade. Outra questão é que a prática em equipe favorece a irmandade entre as integrantes. Como muitas Ligas funcionam no faça-você-mesma é necessário apoio mútuo para que o projeto seja realizado, isso mantém a amizade estreita fora das quadras. Porém, o discurso feminista que vemos hoje foi inserido com o tempo, já que no documentário "Hell on Wheels" há pouquíssimas citações - para não dizer quase nada - de Feminismo. Ao mesmo tempo que era exaltado o envolvimento de mulheres na construção do projeto independente, consideravam que o movimento já havia dado liberdade de fazer o que quisessem. Talvez por serem adultas em 2000, o que significa que viveram o período Grunge e Riot Grrrl, tivessem a sensação de maior abertura nas condições das mulheres, esse pensamento é citado no post As Mulheres no Heavy Metal. Seria interessante saber se essa visão continua presente na primeira geração ou se mudou devido a entrada das novas.



- A não discriminação do biotipo físico fez com que pessoas queer se sentissem confortáveis a praticar o esporte. Segundo Margot Atwell, atleta da Gothan Girls e que publicou os livros Derby Life e Color Jam, em entrevista ao Huffington Post: "a comunidade roller derby é um enorme local positivo e saudável para mulheres - especialmente mulheres queer. Roller Derby ensina às mulheres e garotas a valorizar seus corpos por aquilo que conseguem fazer, não em como aparenta. Skaters apoiam outras com diferentes sensos de estilo, apresentações de gênero e sexualidades. Contando que você seja uma boa parceira de time e trabalhe pesado, você é parte da família. Eu queria criar um livro que estivesse embutido esse espírito".

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- Homens também praticam o esporte, apesar de serem minoria. Na versão moderna as equipes são separadas, ao contrário do início quando competiam juntos. Eles sempre puderam frequentar os eventos desde que não desrespeitassem alguma mina, senão eram expulsos do local.

- O filme Garota Fantástica (Whip It) lançado em 2009, é o que mais propagou pelo mundo o Roller Derby, inclusive no Brasil. O longa é baseado no livro Derby Girl, que conta uma fase da autora Shauna Cross, da qual era obrigada pela mãe a competir em concursos de beleza ao mesmo tempo em que era atleta na LA Derby Dolls, sob o codinome de Maggie Mayhem. Shauna revelou em entrevista que o esporte foi o empoderamento feminino mais forte que experimentou. "Era a plástica-sexy versus real-sexy", definindo a diferença entre os concursos e o roller derby.

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Roller Derby no Brasil

Ladies of Helltown é a primeira liga brasileira, fundada no dia 28 de Abril de 2009, em São Paulo. A segunda é a Sugar Loathe Roller Derby, criada em Maio de 2010, no Rio de Janeiro.

- A Seleção Brasileira de Roller Derby foi criada em 2011, para a Copa do Mundo. Hoje há 11 Ligas em todo o país. Acompanhe a jornada do time em suas mídias sociais e, se puder, participe das campanhas de financiamento para ajudar nas futuras competições.

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- Caso queira ter uma noção das regras e funcionamento, um ótimo vídeo de introdução ao esporte feito pela Seleção Brasileira de Roller Derby.



Para saber um pouco mais sobre a situação no Brasil, troquei uma rápida conversa com Fernanda Bauer (aka Bauer #28) da Sugar Loathe Roller Derby. Apesar do tema ter sido matéria de várias mídias de massa, fica evidente a falta de conscientização sobre o esporte como profissão, implicando na dificuldade de arranjar patrocínio e no recrutamento de novas atletas. "Vivemos para liga quase todo o nosso tempo livre, pesquisando treinos na internet, discutindo jogos, mudanças de regras, organizando treinamentos...". A característica do faça-você-mesma continua sendo muito forte, são elas que lidam com toda organização de eventos e gastos de divulgação e manutenção. Outro fator importante é fazer as iniciantes se enxergarem como atletas, ou seja, é necessário comprometimento com treinos, exercícios físicos, gastos com aulas e na compra de equipamentos, este último sendo bem caro. Sobre Feminismo, Bauer enxerga a forte ligação do esporte como forma de empoderamento: "nos 'obriga' a estar sempre buscando o nosso melhor, tanto fisicamente como mentalmente. Fora que para alguma de nós, o esporte se tornou um grupo de ajuda mútua e um porto seguro". Para finalizar, Fernanda apresenta uma visão que a interliga com muitas rollers ao redor do mundo: "o que posso acrescentar da minha experiência pessoal: mostrou que sim, existe um esporte para mim".


Espero que tenham gostado e quem sabe
você seja uma nova freshie! 😉



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Autoria: Idealização, texto e curadoria de imagens: Lauren Scheffel
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