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25 de fevereiro de 2016

Resenha: livro Kim Gordon, A Garota da Banda


"Eu sempre quis me rebelar" 

Lançado em 2015, Kim Gordon, Girl in a Band: a Memoir, conta a trajetória da baixista do Sonic Youth em detalhes e sem romantismos pela própria, transparecendo o ser humano que há por trás da máscara de um ídolo. Com mais de trinta anos de estrada, seu nome surge como um dos principais divulgadores do feminismo na cena indie americana, transformando ativismo em música e também na força para continuar num meio onde o seu gênero era visto com dúvidas.


Kim expõe com franqueza os momentos de felicidades e raiva, emite opiniões com a mesma sinceridade de uma punk quem não tem medo de errar, talvez um cutuque na sociedade atual. Com atitude vanguardista, tendo como referência a banda The Slits, em especial Viv Abertine, sua figura foi fundamental para que as Riot Grrrls deslanchasse no anos 90. Tudo se interliga, né?

Enquanto eu deixava sua biografia em estado crítico (sente o resultado), Kim estava indo ler Clarice Lispector! Via Instagram
kim gordon

O livro ganhou tradução e está sendo vendido no Brasil pela editora Rocco, da qual fizemos essa parceria. Trechos saíram na mídia internacional alguns gerando até polêmica. No clipe da marca Wildfang, há participação dela fazendo leitura e contracenando com Evan Rachel Wood. Nessa resenha, destacarei pontos tentando evitar o máximo de spoiler.

Rock e Feminismo

Escolher trabalhar com arte não foi uma tarefa simples para Kim. Ela passou pelas mesmas resistências de quem tem interesse na profissão sendo até questionada de como iria sobreviver. Primeiro se envolveu com artes plásticas e depois veio a música, da qual ocorreu de forma punk, aprendendo a tocar no do it yourself. Um detalhe que chama a atenção é a idade que Gordon inicia o Sonic Youth, aos 28 anos, o que é um chute nessa pressão bizarra de estar com a vida feita antes dos 30. Essa não seria a única barreira a ser quebrada, logo teria que passar pela interrogação de "como é ser a garota da banda?".  


“Foi então que soubemos que, para as grandes gravadoras, a música importa, mas muito se resume ao visual da garota. A garota ancora o palco, suga o olhar masculino, e, dependendo de quem ela é, lança seu próprio olhar de volta para a plateia". Págs. 11 e 12. 


Kim representa uma geração de meninas que não seguiam os padrões de pensamento e comportamento "idealizados" às mulheres (ser comportada, direita, bonita, educada, etc...). Muitas se identificaram com o rock pois este oferecia a liberdade de serem como quisessem, podiam exercer funções que rompiam com padrões sociais, mesmo com o machismo dentro da cena. 

"Essa música é para todas as garotas que não querem ser mães, ou amantes, ou putas"

O rock de certa forma empoderava as mulheres dando-lhes o poder da "atitude", palavra muito comum na cena rock feminina dos anos 90 que atualmente pode ser explicada como sendo um mix de "autoconfiança/opinião/pró-atividade". Foi assim que o Feminismo se desenvolveu no meio, de forma orgânica, de vivência e não de "teorias". Mas de uns anos para cá, essa atitude decaiu e uma certa passividade se tornou mais presente. Só há pouco tempo, meninas do rock têm resgatado o movimento, porém percebe-se ainda uma timidez, como se existisse um receio de se autointitularem feministas. A questão de peitar os dogmas sociais é algo que muito não se vê entre as artistas atuais, tirando exceções. 

Ouça Free Kitten, trabalho paralelo que formou com Julie Cafritz em 1992.


Influencia na Moda

A ligação de Kim com a moda é mais profunda do que se imagina. A mãe era costureira, o que despertou desde pequena o interesse pelo tema. Há passagens no livro com observações bem legais durante a moradia em Nova Iorque, ela captou muita coisa que serve de registro. Na verdade, como uma boa artista, suas observações se aprofundam ao comportamento humano e de forma inteligente soube compreender como a roupa faz parte dessa análise complexa.

A conexão foi tão forte que nos anos 90, formou parceria com Daisy Cafritz (sim, irmã da Julie) e lançou a marca X-Girl que hoje mudou de conceito após ser vendida a uma empresa japonesa. Kim deu uma sorte imensa pois antes do lançamento da loja, no clipe "Sugar Kane", conseguiu fazer um desfile no showroom de Marc Jacobs com peças da sua coleção Grunge para Perry Ellis, reunindo uma jovem modelo que estagiava na revista Sassy, a atriz Chloë Sevigny. Mais tarde, no primeiro desfile da X-Girl, ambos participariam do evento. 




A parceria lhe rendeu uma amizade com o estilista. Aqui, Gordon estrelando com Coco a campanha Inverno 2015 de Marc Jacobs.

Kim também posou para Saint Laurent a convite de Hedi Slimane. Muitos a consideram um ícone de moda, mas rejeita o título.


Nova Geração

É interessante vê-la citando seus ídolos e influencias, sendo que ela é o mesmo para muita gente. Não bastasse estimular garotas a montarem suas bandas de rock, acabou criando uma dentro de casa: sua filha Coco Gordon Moore criou a Big Nils em 2010, com influencias que vão de punk ao pop e já fez homenagem a Kathleen Hanna cantando "Rebel Girl" da Bikini Kill. Coco, que completa 22 anos em Primeiro de Julho, foi capa da revista britânica Dazed and Confused em 2015, onde revela a paixão pela arte e gostar de levar uma vida mais reservada.

"Estou grávida de uma menina, espero que ela seja uma Riot Grrrl"

Big Nils com Coco nos vocais

Mãe e filha

Quase não temos biografia de mulheres no rock disponíveis no país, portanto super recomendo a leitura, principalmente aos que querem conhecer a cena pelo olhar de quem faz parte dos bastidores. O livro termina, mas Kim Gordon continua produzindo e jajá vem projeto novo sendo lançado por aí, fãs fiquem ligados!

Onde Comprar o livro: 



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