Destaques

15 de dezembro de 2015

Stooge: Nova Coleção Captain of My Soul + Resenha

Recentemente a marca paranaense Stooge lançou mais uma coleção, a Captain of my Soul. Esta é a terceira coleção do ano na marca e é muito legal acompanhar este trabalho de criação e desenvolvimento de uma empresa alternativa nacional.


Num trecho de poema do escritor britânico William Ernest Henley publicado no site, o porquê do nome da coleção é explicado: "Por ser estreita a senda - eu não declino, Nem por pesada a mão que o mundo espalma; Eu sou dono e senhor de meu destino; Eu sou o comandante de minha alma."
Eu entendo que "sou o comandante de minha alma" (Captain of my Soul) tem tudo a ver com o que a gente acredita enquanto pessoas que tem controle sobre suas vidas através de nossas decisões ("Eu sou dono e senhor de meu destino"). E uma das decisões que muitos de nós fizemos foi: assumir nosso lado alternativo apesar de críticas, doa a quem doer ("Por ser estreita a senda - eu não declino").


Desta vez, as estampas foram desenvolvidas pelo designer e tatuador Ricardo Garcia, numa mistura entre o mar, suas formas e texturas. De caveira, à caravelas e sereias... uma coisa legal é que agora a marca está vendendo  prints das estampas. É bom que mais lojas nacionais estejam investindo em decoração, ao mesmo tempo que nossas casas ficam ao nosso gosto, o artista vende seu trabalho.


De toda a coleção, separei algumas que me chamaram a atenção. Desta vez a Stooge aumentou a porcentagem de peças unissex que era algo que ela já vinha investindo nas coleções anteriores. Começo com meus destaques da coleção masculina: eu já tinha chamado atenção aqui no blog para as camisetas longline como uma micro tendência alternativa pra moda masculina, na Captain of my Soul, tem a scaled anchor  e my single thought entre outros modelos. Destaco também a básica on your face  e o  colete unissex basic black.


Já nas peças femininas meus destaques são o vestido fingers crossed, o crop top geometric, o macaquinho black que imagino como uma peça mais férias na praia/de verão, relax e tal... e a regata girls lil fish


A marca tá fazendo tamanho GG de várias peças como as camisetas, então fiquem ligadas nas medidas, porque como várias são oversized e elas podem caber em corpos um pouquinho maiores. As calças e os shorts vão até o tamanho 46.

Nas coleções anteriores da Stooge, eu acabava resenhando umas três peças. Desta vez, decidi resenhar só uma peça. Por mais que a Patti (dona da loja) seja super generosa, eu já conheço a qualidade dos produtos da Stooge e SEI que são bons! Segundo porque loja tem mais é que vender né? E foi assim que escolhi o crop top on your face.


Top, pins, adesivos e folder da coleção!

Usei muito os cropped tops na década de 90 quando era novinha, e agora, quando voltou à moda, eu sempre pensava... "ah eu já usei muito isso, vão ter que me convencer a usar de novo", ou então "pôxa esse cropped tá legal mas essa estampa não tem nada a ver comigo". E quando eu vi o on your face que o print meio que forma uma caveira misturada com um besouro... aí  eu tive certeza que seria essa peça que iria me fazer voltar a usar cropped com gosto!



É interessante analisar a simbologia do besouro (Eu SEMPRE lembro do livro "O escaravelho do diabo" da coleção Vaga Lume!). O besouro preto já era um amuleto sagrado no antigo Egito, e era um símbolo do renascimento diário do sol, ou seja, um símbolo de ressurreição da morte - que no ciclo solar seria a noite... um dia o besouro percebe que tem asas e começa a voar. Porque todos nós renascemos de nossa escuridão quando decidimos bater nossas asas pra ir atrás do que queremos. 
O legal da estampa da Stooge, foi essa sacada de linkar a caveira - um símbolo da morte - fazendo essa analogia morte x ressurreição. Então quando eu digo que uma estampa precisa me convencer a usá-la, é sobre isso de eu me identificar com a mensagem.

Detalhe da estampa

Detalhes... etiqueta na barra da blusa e tag

Na foto da direita estou usando o pin de caveirinha que a loja sempre manda pros clientes!
(foto do Instagram  do blog) Luvas: Queen of Darkness

Em breve a gente vai falar mais dessa coleção aqui no blog.
Se você quiser ganhar 10% de desconto basta assinar a newsletter lá no site. A loja parcela em até 6x sem juros e tem frete grátis em todas as compras nos pedidos enviados via PAC.

Vocês podem ver fotos do desfile da nova coleção, na galeria presente neste link.



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14 de dezembro de 2015

SORTEIO: blusa 2025 da Dark Fashion!

Chegou a hora de nosso segundo sorteio em comemoração ao aniversário de 8 anos da loja parceira Dark Fashion!! :D




Como participar?
- Curtir a fanpage do MdS
Se você não tiver Facebook (ou preferir Instagram), basta:
- Seguir o Instagram do blog
- Seguir o Instagram da Dark Fashion
- Responder abaixo, nos comentários do blog: Qual sua peça favorita da Dark Fashion? (link da loja aqui)./


SÓ ISSO! Tá FACINHO de participar né??


O sorteio será dia 18/12 - através de número aleatório do site Sorteador. O número será o número do comentário, sendo primeiramente numerado os comentários do blog, em seguida inicia-se a numeração dos comentários via facebook. Poderão comentar até às 20h do dia 18, após esse horário será feito o sorteio e a averiguação se a vencedora seguiu as regras.
 
Boa Sorteee/!!




Atualização 18/12 - Inscrições foram encerradas às 20h.

Atualização 19/12: o número sorteado foi 49. Contagem numérica começou com os comentários do blog, sendo 2 eliminados. Continuou-se então com os comentários do face e a sorteada foi Amandha Bathory! Parabéns!! 

 

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13 de dezembro de 2015

Subculturas e o conceito de individualidade (parte 3): O revivalismo nostálgico

Este post finaliza a análise sobre Subculturas e Individualismo. A primeira e segunda partes vocês podem ler clicando nos links abaixo:




O revivalismo nostálgico
Existem mais góticos atualmente do que na década de 1980.
Hoje, um jovem de 20 anos pode saber tanto sobre subcultura gótica como se tivesse vivido em 1983. E como ele consegue? Com a ajuda da tecnologia.

Chegamos agora na análise sobre a geração Y, geração jovem atual que nasceu cercada de mídia e tecnologia num mundo pós moderno. Além de conhecerem as subculturas através da mídia e da internet, já as receberam (ideologia e estética) pulverizadas da Geração X - que podem ser seus tios, pais ou irmãos mais velhos. As informações sobre subculturas nunca estiveram tão acessíveis quanto agora.

uma versão atual do pós punk

Hoje, na pós modernidade focada no ciclo de produção e consumo, os gostos dos jovens mudam tão rápido que eles não ficam num estilo de moda por muito tempo. É uma geração que não quer ser rotulada nem categorizada, porque o passado e o futuro são tão fluidos que o que importa é o "agora".

Fazer parte de um grupo não é importante porque eles se sentem presos, já que nasceram numa sociedade onde nada é fixo e tudo é mutável. Enquanto que para a geração Baby Boomer e para a X, as subculturas eram um meio de encontrar semelhantes, dividir opiniões em comum e mostrar para a sociedade através das roupas que eram diferentes, a geração Y não faz tanta questão de se descolar da sociedade, pois o sistema individualista serve à eles em tudo que eles necessitam em termos de consumo e bem estar. Eles releem a moda das subculturas de uma forma revivalista e nostálgica, mantendo distância das ideologias. 

Fernanda Lira, da banda Nervosa, num exemplo do retrô no Heavy Metal: ela usa um look que é releitura do que headbangers usavam na década de 1980.
 

Blade Runner, um filme pós-moderno parece ter tudo a ver com o "revivalismo nostálgico". Na obra, lançada em 1982, apenas 3 anos após "o fim" dos primeiros punks (com a morte de Sid Vicious), o futuro foi retratado em modas do passado. Replicantes e humanos vestiam trajes que lembravam tanto a glamourosa década de 1930 quanto os punks de 1970. Pessoas diferentes dividem o mesmo espaço, não dá pra saber quem é humano e quem é replicante. As aparências enganam, assim como hoje, não sabemos quem é alternativo e quem é fashionista ao fazer uma observação superficial de seus looks.


Personagem Pris, Blade Runner: referência punk num filme ícone do pós modernismo

As tendências alternativas da geração Y nascem e se proliferam no meio virtual. Os visuais atuais não são controversos, ao contrário, são bem "redondinhos". Se anos atrás Londres e Tóquio ditavam moda, hoje é o meio virtual. O Pastel Goth, o Seapunk, a trend Witchy, a boho, o Strega e a trend ocultista não nasceram num lugar físico, mas no virtual. Assim como a recente onda de meninas com cabelo escuro, franjinha pin-up, fãs de Mortícia, Vampira, fetichismo e de filmes de terror antigos. Esse tipo de comportamento é compreendido pelo modo que vivemos hoje, onde a imagem impactante é uma moeda valorizada. Assim, criar para si uma imagem rebelde, diferente ou absolutamente cool adquirida por pesquisas na internet e não mais por convivência ou troca de informações com outras pessoas, se torna o símbolo dessa geração tecnológica. 

Jovens que não são parte de uma subcultura, mas reproduzem estéticas subculturais variadas, esforçando-se para desfazer estereótipos da mídia em visuais que são sombras do passado, é um fato bocado complexo, por vezes contraditório e ao mesmo tempo fascinante de estudar.

"Releitura" Deathrock

E isso parece confundir alguns jovens também, "Não me identifico com nenhuma subcultura, tem algo errado comigo?"
A minha resposta seria: você é um jovem pós moderno que não viveu a era das subculturas em sua forma mais "pura" e portanto elas não fazem tanto sentido pra você, já que nosso contexto histórico atual é diferente de 30 anos atrás. Você também pegou a moda das subculturas já pasteurizadas pelo sistema. Amenizadas e massificadas. Você não precisa de um grupo ou de fazer amizade com pessoas pra adquirir conhecimento sobre um estilo, você sozinha em casa, pesquisa tudo no seu computador. Não precisa fazer DIY em suas roupas, você encontrará em lojas de departamento boa parte do que precisa. Ou quem sabe, importará da China. De alguma forma, aprendeu que é "normal" ver uma peça punk à venda na Renner. Ou peça fetichista na Zara. Para a geração baby boomer isso seria inconcebível. E para a geração X, "estranho". Para a geração Y, além de normal, é banal e aceitável, para alguns até desejável que mais e mais peças alternativas estejam em lojas mainstream. Essa mudança de mentalidade do jovem, ilustra bem como nosso conceito de individualismo atual é mais focado no consumo e na importância de formar uma autenticidade a qualquer preço.

Alguns antropólogos* estudiosos de culturas juvenis, chamam esse ato de  mudar de estética várias vezes de "promiscuidade subcultural e estilística". Punks num dia, hippies no outro, góticos no seguinte. Estilos contraditórios que vão de cyberpunk à pin-up na mesma semana. Não à toa, pastel goths e até mesmo os hipsters já estão desaparecendo. É hora de migrar pra outro estilo ainda não popularizado. 

Geração Y: mistura de estilos

Sombras dos estilos das subculturas do passado são vistas hoje nas ruas,
mas o que foi criado como nova estética alternativa?

 

Nossos pais e até avós estão vivendo mais, prolongando suas "juventudes". É comum que pais e filhos tenham o mesmo gosto musical. Então, por que os jovens atuais sentiriam necessidade de se rebelar se o sistema serve à eles? Se não há conflito com seus pais, se podem estudar, ter acesso ao que querem com o poder do consumo; se num celular eles conseguem se manter ocupados (lembrem que no passado era comum os jovens não terem o que fazer e sofriam de tédio)?
As subculturas então, viraram herança cultural, afinal, que tipo de rebeldia pode um adolescente ter hoje se seus pais foram punks?



Por que alguém optaria por adentrar num grupo?
Ser parte de uma tribo é uma das origens da natureza humana, assim evoluímos, os mais fortes sobrevivendo. Como nossos ancestrais, ser parte de um grupo, trás a sensação de pertencimento.
Enquanto a maioria dos adeptos de uma determinada subcultura se conhecem e interagem, a geração Y e seu estilo mutante é unida pela mídia, música, internet e referências imagéticas de estilo,
interagir fisicamente entre si não é o foco.


Comparação interessante entre tribo primitiva e a "tribo" punk. 
Em comum: a convivência em grupo.
 
Quando você tem uma sociedade ultra individualista, submissão não é algo facilmente aceitável, por isso existe a negação de rótulos, categorias e classificações. As pessoas não querem ser colocadas em "caixas".


E talvez, com o extremo individualismo da pós modernidade, por não interagir tanto mais com as pessoas, não aprender com outras pessoas (aprender sozinhos via web) estejamos carentes de pertencimento e por isso estejamos ficando infelizes e com uma sensação de solidão?

Curiosamente, uma das tendências atuais é o consumo compartilhado. Estilistas têm falado em seus desfiles sobre ser parte de um grupo. Na Europa nunca teve tanta exposição sobre subculturas, como se, de repente, elas estivessem finalmente sendo reconhecidas por sua importância. Por que estas pessoas importantes, museus e galerias estão voltando seus interesses às subculturas? Será que perceberam que elas têm muito mais a nos ensinar?

Jordan em '77.
E esse brinco de cruz invertida, super trendy hoje, né?


Política se trata de coletivo
Precisamos do grupo para podermos mudar as coisas que nos incomodam na sociedade. Quando se trata de política, é importante lembrar que muitas vezes temos que passar por cima das nossas opiniões pessoais, porque mudança social não envolve uma pessoa só, envolve o coletivo. Viver em sociedade significa cada um fazer sua parte para o bem comum e isso às vezes significa perda de privilégios em troca de ganho social (comum em países com mais qualidade de vida). 

Será que no fundo todos queremos união na cena alternativa mas não sabemos como "neutralizar" nossa individualidade em prol do bem comum? Como se tornar menos consumista numa sociedade em que tudo é comprável? Como manter a individualidade sem se tornar egocêntrico ou egoísta? Pessoas estão tomando um caminho narcisista sobre o individualismo, só dão atenção àqueles que os idolatram e que possuem algum interesse. Se você não tem nada a acrescentar - no sentido material ou de alimentar o ego e o status do narcisista, sua amizade não interessa à ele. Onde vamos parar com cada um no seu canto, reclamando da vida, esperando um like e ficando deprimido quando seu ego não é alimentado? O que estamos fazendo com o riquíssimo legado das subculturas sobre amizade e companheirismo?
 

No passado, a moda de rua e as subculturas uniam as pessoas que se sentiam diferentes.
Ainda dá tempo de nos vermos como seres ativos, que mesmo diferentes, unidos seremos capazes das mudanças sociais que queremos. A gente só precisa pensar se o sistema atual é o que desejamos pro resto de nossas vidas. Como o mundo virtual pode ser usado pra reunir as pessoas e não afastá-las e como podemos usar nossa individualidade de uma forma que não seja nociva.

 Punxs felizes (década de 80)




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* Muggleton-Polhemus

Direitos autorais:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas.
É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos. 

12 de dezembro de 2015

Subculturas e o conceito de individualidade (parte 2): A autenticidade é uma moeda poderosa.

Essa é a segunda parte de nossa análise sobre Subculturas e Individualismo. A primeira parte vocês podem ler clicando no link abaixo:





Quando estudamos subculturas precisamos de distanciamento pra compreender o contexto social de outras épocas sem levar em conta julgamentos pessoais. Essa neutralidade é fundamental pra estudar gerações do passado e seus grupos. E é impossível estudar subculturas sem estudar os jovens. Jovens costumam ser os seres que praticam mudanças sociais e por isso, temos que estudar um pouco de sociologia e antropologia também.

Muitos acadêmicos dizem que existe certo conformismo em ser parte de um grupo, MAS o individualismo que as subculturas pregaram não pode ser confundido com egoísmo e egocentrismo tão presentes na atualidade. Individualismo tem a ver com liberdade. Liberdade de escolher quem e como você quer ser como indivíduo.


Partindo do princípio que subculturas uniam jovens com interesses em comum, os interesses eram compartilhados. Dentro das subculturas (dentro de um grupo), cada pessoa exercia sua individualidade. Uma punk pode gostar de estampa de onça e ter cabelo verde; outra, cabelos loiros, jeans e camiseta rasgada. Uma roqueira, pode gostar de beber cerveja; outra é natureba. Uma gótica pode gostar de rendas e estética vitoriana; outra, prefere usar corset de vinil e mini saia. O que as une dentro da mesma subcultura, é a música, cultura, valores ou ideologias em comum. Existem leves diferenças de estilo, mas são as semelhanças que as unem. Assim, nas subculturas, o individualismo é sua expressão pessoal sobre um determinado assunto em comum com outras pessoas. E isso é talvez, um pouco complicado de entender pra quem nunca conviveu ou testemunhou.


Quando um punk cortava o cabelo moicano e pintava de verde, suas chances de arranjar um emprego diminuíam e o preconceito aumentava. Em solidariedade, outros punks tinham atitudes semelhantes pra um apoiar o outro e não se sentirem sozinhos. Neste sentido, o que me veio à mente foi: num mundo tão individualista como o de hoje, onde cada um quer exercer ao máximo sua liberdade individual, faz sentido esperar união na cena alternativa? No passado, pessoas diferentes se uniriam à subculturas pois o sistema tradicional não as abraçaria. Hoje que a sociedade não tem mais tanta resistência ao diferente e os jovens podem viver bem sem se unir a um grupo, será que essa possibilidade também os afasta da vivência em grupo nas subculturas? E onde estes jovens encontram apoio? Na esfera virtual? Será que não é exatamente essa ausência de convivência física com pessoas com ideias em comum que, aliado ao estilo de vida pós-moderno, estão deixando-os com uma sensação maior de solidão?

Segundo Zygmunt Bauman, a vida pós moderna é fluida, nada é fixo, o hedonismo (prazer imediato) é o objetivo da existência, existem opções infinitas de possibilidades de tudo, mas todas as escolhas recaem sempre no circuito do consumo. Sempre. Essa é a característica da vida atual.

pézinhos punks

Quando partimos pra década de 1980, os jovens da chamada Geração X, já tinham uma liberdade de escolha bem maior que os Baby Boomers tiveram. Parte destes jovens adentraria subculturas, outra parte não. Essa geração aprendeu sobre subculturas pela mídia, ou seja, ela não necessariamente conviveu com hippies, punks e góticos originais, mas imitou o que viu na TV e revistas sobre eles e passou a se dizer parte destes grupos e formar suas turmas. Essa geração se identifica com tais subculturas um pouco pela ideologia, um pouco pela aparência e muito pela música. Existia uma palavra em voga nessa época: atitude. A pessoa precisava ter atitude pra poder sustentar um look ("atitude" seria uma mistura do que hoje a gente chama de "pró-atividade" aliado a questionamento, empoderamento, ousadia e personalidade forte). E essa geração, passará a misturar elementos das estéticas subculturais já existentes para criar o próprio estilo. A própria música grunge tem uma mistura de punk e metal. O Heavy Metal passa a incorporar o punk e o gótico. E a subcultura gótica, o eletrônico e o cyber. Surge também uma das subculturas mais individualistas que já existiu: os clubbers


Penso que uma das bandas que ilustra bem essa questão da mistura estética entre subculturas que rolava na década de 90, é a Kittie. Selecionei estas imagens que considero ótimas para análise: em sentido horário, na primeira foto, Mercedes Lander usa calça com "fogo" prateado (referência clubber) e plataformas góticas em roupa de couro (referência rock/metal). Já as outras meninas usam silhueta da moda mainstream da época misturado com elementos rock. Na pequena foto do meio, Talena e  Fallon Bowman estão com referência gótica em peças com vinil e no make dark anos 90. Na foto da ponta direita, a referência skate/streetwear é forte e na pequena foto abaixo, no meio, existe um mix que vai de gótico, punk até mainstream. E vale lembrar que elas eram consideradas uma banda de Heavy Metal. 

Clique na imagem para aumentá-la.

Como novos sons musicais são criados, novas vestimentas surgem pra refletir o tipo de som que eles ouvem. É possível que o vestuário destes jovens, especialmente de meados da década de 1990 pra frente, seja mutável. Assim, aos poucos, interesses ideológicos e musicais podiam ficar em segundo plano e isso explica-se assim:
Na década de 90, por vários fatores, o consumismo e consequentemente o capitalismo, aumentaram. Fazer dinheiro a todo custo tornou tudo vendável. Até a autenticidade. Então, a moda alternativa passa a ser sondada pelos cool hunters, profissionais que já foram apelidados de "parasitas", porque captam estilos de pessoas ou grupos e os transformam em produtos vendáveis na moda mainstream.
Quem nasceu ou foi adolescente de 1994 pra cá, recebeu da sociedade essa mensagem de que "moda alternativa é comprável em loja mainstream". Assim, como tudo que nos é ensinado, você se habitua, passa a achar aquilo "normal" e não questiona. Pelo fácil acesso, acaba misturando estilos pra criar "sua identidade" e expressar sua individualidade.

O grunge é conhecido como a última subcultura de rebeldia, depois dela, todas as outras já nasceram influenciadas pelo mainstream, pela mistura, cooptação e venda de estilos subculturais - e estes, se tornaram mais facilmente descartáveis.


Por que os cool hunters e o mainstream prestam tanta atenção nas subculturas e na moda alternativa?
Porque a autenticidade é uma moeda poderosa.
A moda vive do novo. Ou do "fingir" que vende algo novo: a calça boca de sino virou flaire, a alpargatas vira espadrille. Um novo nome pra moda não parecer velha. O jovem adora e consome o novo. O jovem é o foco da moda atual.
Vender autenticidade para as massas se tornou um hábito em uma sociedade pós-moderna disposta a comprar tudo que valoriza a diferenciação e a individualidade. 


O que diferencia a moda alternativa e a mainstream não é apenas o preço, é o contexto.
Enquanto os fashionistas vestem jaqueta de couro compradas pela etiqueta e vazias de ideologias, na moda alternativa veste-se um código iconográfico que transmite a ideia do que você/gosta é ou qual subcultura é sua referência. Aquela jaqueta de couro preta que fez jovens serem expulsos de casa na década de 1950, hoje é fashion e desejada, quem não a tem está "fora de moda", quem a usa, não mais será expulso de seu lar, mas sim admirado pelo estilo "cool". E outros desejarão comprá-la para se tornarem cool também. 

Jaqueta de couro com spikes, década de 1980.

A partir da década de 1990, toda a história e estética das subculturas viraram  mercadorias num  "supermercado de estilo" onde você poderia comprar cada dia uma peça diferente inspirada em várias subculturas, criando um estilo "sampleado". Assim, as subculturas mais significativas começam a declinar pela perda de adeptos. Para se ter a tal autenticidade, vale experimentar tudo.


A era de ouro das subculturas acabou?
Elas não vivem mais seu ápice criativo, mas mantém vivas o desejo de preservar a memória do passado. Mas não diria de forma alguma que acabaram.
Que vira adeptos de uma subcultura hoje acaba sendo ousado por optar a ter visuais fixos indo em oposição à uma moda alternativa super mutante. Podem ser uma cópia dos que foram originais no passado. Ser uma cópia, nesse sentido, não é todo ruim, existe até certo romantismo querer que todos sejamos iguais de novo, unidos por um ideal em comum, compartilhando vidas, opiniões e amizades. Uma espécie de nostalgia de uma época em que não viveram.

Usar arreio não é novidade (Peter Murphy).
Os alternativos atuais copiam o passado.

Penso também que há o lado positivo a ser celebrado na mistura de estilos subculturais: à nosso próprio modo, carregamos e espalhamos a herança dos punks. Porque de certa forma, foram os punks que inventaram a mistura de estilos quando diziam: vamos fazer por nós mesmos (do it yourself)! E foram eles os primeiros a usar uma moda eclética, desconstruída e reconstruída. Maquiagem caricata, cabelos malucos, acessórios inusitados... Peças tão diferentes usadas juntas resultando num visual único. Individualista. E cheio de atitude.


"Punks não morreram." (Nina Hagen)

Na terceira e última parte, a seguir, falo do começo do século 21!


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