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30 de abril de 2010

Cultura de Moda

Tenho ouvido muito por aí que brasileiro não tem cultura de moda. Eu concordo que uma boa parcela da população não tem mesmo.

Entender o que é cultura de moda é simples.
Quem não tem cultura de moda não consegue ver a moda além da futilidade. Não consegue ver a moda em aspecto mais amplo,sociológico, simbológico e cultural. É aquele tipo de pessoa que não entende que a moda é história, característica de um povo, religião, identificação de grupos e que se modela e se adequa à época em que se vive.

Há uma falsa idéia disseminada, que a moda é sinônimo de futilidade. Essas pessoas enxergam a roupa apenas como aparência, não percebem que a roupa é um reflexo do que acontece ao nosso redor.

A moda faz parte da cultura de um povo assim como a cultura também se mostra através da moda. Observem a cultura indiana e seus milhares de adereços, o uso da burca e véus nos países árabes, os índios que usam peles, penas ou pinturas corporais como forma de vestimenta e identificação de suas tribo, os kimonos japoneses e tantas outras vestimentas características mundo afora.

Lembram quando as mulheres usavam corsets? Uma peça rígida que fazia as mulheres terem poucos e deliberados movimentos fazendo-as ser um espelho da riqueza de seus maridos. Afinal, não precisavam se locomover pra lá e pra cá, não trabalhavam, não cuidavam de seus filhos... Com as grandes guerras levando os homens para os campos de batalha as mulheres se viram obrigadas a trabalhar para sobreviver e os trajes tiveram que se adaptar. A partir do momento que a mulher passou a trabalhar, a se livrar da dependência de seus homens o corset foi abandonado, as mulheres passaram a usar calças e saias calças para ir de bicicleta até o trabalho.

Observem o vestuário pós guerra: anos 1910 (a primeira guerra foi em 1914), reparem como as roupas da segunda metade dessa década tinha menos tecidos, comparado há alguns anos antes. Com o fim da guerra, os anos 1920 trouxeram revoluções modernistas, mulheres encurtando vestidos e cortando cabelos curtíssimos, tudo era muito alegre e revolucionário.
Nos anos 1940, a guerra volta, os homens partem para o campo de batalha novamente e as mulheres vão para as fábricas. Enquanto as guerras acontecem, as fábricas quase não fazem tecidos, que se tornam caros e raros, as roupas se tornam mais simples e de cores sombrias e pesadas, cinza, pretos, azul marinho, são cores que predominam. Quando guerras acabam, as fábricas voltam a fazer tecidos, as roupas ficam alegres, coloridas , volumosas e de formas confortáveis e a mulher, deveria voltar ao lar, cuidar dos filhos e maridos, comportamento típico de 1950!
Quando da entrada feminina no mercado de trabalho os traços andróginos foram muito valorizados. A mulher usou tailler nos anos 1930 e 1940, e observem a mulher dos anos 1980 com seus ternos e ombreiras imensas.

Nas épocas de escassez de comida as mulheres gordinhas eram as mais admiradas pois significava não serem miseráveis. Hoje em dia, com a abundância e desperdício de comida, as mais magras são o ideal de beleza, indicação de que, ao invés de ficar comendo sem parar, ela se cuida, vai a academia, clínicas de estética, come comida light, faz coisas que são mais caras e que quem é pobre não pode fazer.
O mesmo com o bronzeado. Antigamente relacionado à pobres, pessoas que precisavam trabalhar para sobreviver. Atualmente, como todo mundo trabalha, o bronzeado virou símbolo de lazer, significando que a pessoa tem tempo para se divertir.

Voltando ao tema das guerras, logo após o 11 de setembro de 2001, houve um revival da moda gótica – romântica - vitoriana, o que refletia o momento de tristeza e apreensão de como estava o mundo pós-terror.
Quando a situação melhorou um pouco e os anos de ouro (1940 e 1950) foram resgatados, buscando o romantismo e a suavidade de tempos passados.
Com a igualdade de sexos e o fim do cavalheirismo, as mulheres inconscientemente retornam à estas épocas onde a mulher era tratada com mais gentileza e delicadeza, vide como o revival dos anos 1950 rendeu pa moda nestes últimos anos, a mulher está muito mais feminina do que 8 anos atrás!

Tá vendo? Saber tudo isso é ter cultura de moda!
Não apenas cultura, são signos da moda, mostram como a moda reflete nossa cultura. E é através de mudanças na moda que percebemos as mudanças do tempo, na história.
Assim, como a cultura, a moda é viva e está em constante mudança e desenvolvimento, não é fútil e nem supérflua, é apenas o espelho de como vivemos.

Aos brasileiros, falta ver a moda como algo importante na nossa sociedade.
Respeitar a moda como profissão séria e não pensamentos do tipo “eu sei costurar então também sou estilista” como se fosse possível uma pessoa apenas por entender de psicologia pudesse abrir seu próprio consultório. Moda não é só fazer um desenho, comprar um tecido, costurar e depois vender. Ser um estilista, um consultor de moda, um produtor de moda etc, é mais do que isso, os profissionais da moda aprendem a conhecer signos, aspectos sociológicos, históricos e assim fazem o seu trabalho. Precisamos estar sempre informados sobre o que acontece no mundo porque sim, tudo ainda vem de lá, dos países que “mandam” no nosso planeta que estão mais avançados que nós.

Mas uma dica que deixo é: precisamos ficar ligados no que acontece lá fora e trabalhar com o que temos aqui. Quando nos aceitarmos, teremos uma moda 100% nacional, completamente adaptadas à nossa cultura. Porque há 510 anos, tudo que fazemos aqui é cópia ou herança dos povos que nos colonizaram. Quando aceitarmos e descobrirmos nossa própria cara, aí, quem sabe, nossa cultura de moda é que seja imitada lá fora e não, nós que imitaremos a deles.

Este texto continua na próxima postagem, que falarei sobre a cultura de moda nas subculturas.

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2 comentários:

  1. Adorei o post Sana!
    É bom saber um pouco mais sobre a moda e seu papel na cultura e história mundial.
    Tinha coisa aí que não tinha nem idéia hehe, por exemplo a moda depois do 11 de setembro, eu nem tinha reparado, e realmente é verdade.
    E realmente tem muito disso que você comentou, mesmo entre as subculturas, de quem moda é algo "fútil" e não darem à moda de subculturas o devido valor que ela merece dentro da subcultura.

    Beijos

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  2. Realmente muito interessante.
    As vezes as pessoas ficam mais preocupadas em saber fazer combinações de roupas,saber do design mas não se preocupam tanto com o valor filosófico e sociológico da moda.Talvez com valor sociológico maior que o filosófico,mas é preciso ver muito mais além do que um look todo trabalhado e observar se há realmente nossa essência e nossa expressão nas roupas que usamos.

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